Nome comum: Giesta-das-sebes
Por esta altura do ano
os campos são um festival de amarelo e dourado. Às pequenas florinhas rasteiras
juntam-se as giestas e os tojos, este ano particularmente viçosos e floridos.
Agrupando-se em manchas de tons dourados, enriquecem a paisagem com uma beleza
todos os anos repetida mas sempre surpreendente. E apesar da chuva e do frio
que voltaram para nos lembrar que o verão ainda vem longe, essa beleza vai
permanecer por mais algum tempo fazendo as delícias de abelhas, borboletas e
outros insetos polinizadores.
A espécie Cytisus grandiflorus subsp. grandiflorus foi a escolhida para o “post” de hoje. Esta é uma espécie autóctone, nativa da Península Ibérica, bastante comum em muitas regiões do norte e centro de Portugal Continental. Cresce de forma espontânea em situações de sol ou meia sombra em terrenos rochosos e abandonados mas sobretudo fazendo parte do coberto vegetal constituído por espécies arbustivas que ocorrem em pinhais, carrascais ou montados, tais como urzes, carquejas, sargaços e estevas. Também é muito usada na recuperação paisagística sendo comum em taludes e à beira das autoestradas.
Cytisus grandiflorus subsp. grandiflorus forma um
arbusto muito vistoso e de aspeto delicado. A floração não é tão densa como a de algumas outras espécies da mesma subfamília mas as flores são maiores (daí o nome da espécie, grandiflorus). Enquanto a floração se prolonga e novas flores vão surgindo, as mais velhas dão lugar aos frutos.
Os seus vários ramos
crescem eretos e longos, formando ângulos separados por nós. A superfície dos
ramos de 2º ano é esquinada, no sentido longitudinal, apresentando 5 arestas
salientes e bastante pronunciadas. Quando envelhecem os ramos tornam-se
roliços, perdem a cor verde e tornam-se cinzento-acastanhados e de aspeto
rugoso, deixando de produzir folhas e flores as quais nascem em ramos mais
jovens, geralmente do ano anterior.
As folhas, caducas,
são simples, apenas com alguns pelos nas margens e quase não têm pecíolo. Nos
ramos de entrenós mais compridos as folhas estão solitárias mas nos raminhos
laterais cujos entrenós são mais curtos, as folhas encavalitam-se formando
grupos de três a cinco.
As flores, providas de
um pequeno pedicelo, nascem nas axilas das folhas e surgem solitárias ou aos
pares. A corola, de cor amarela, é formada por cinco pétalas, uma maior e
situada na parte superior (o estandarte), duas laterais (as asas) e duas
situadas na parte inferior e que estão unidas (a quilha).
Esquema de uma flor papilionácea |
Este é um tipo de flor
a que se chama papilionácea por ser semelhante a uma borboleta e é característico da família a que pertence a Cytisus grandiflorus. A diferente morfologia das pétalas
corresponde a funções diferenciadas e complementares que resultam numa
estratégia altamente especializada no que diz respeito à polinização por
insetos, facilitando a polinização cruzada.
Os órgãos reprodutivos femininos e
masculinos da flor encontram-se encerrados na quilha.
A base das pétalas que formam as
asas e a quilha estão envoltas entre si formando um tubo do qual emergem 10
estames (5 curtos, 1 mediano e 4 compridos) e um estilo tão comprido que se
enrola sobre si mesmo, em espiral.
Esta espécie floresce
e frutifica de março a julho.
O fruto de Cytisus grandiflorus subsp. grandiflorus é uma vagem linear-oblonga, toda ela muito
peluda, ligeiramente curvada, fortemente comprimida. Começa por ser verde mas
com a maturação a vagem torna-se negra, com pelos brancos. Cada vagem pode conter de 2 a 9
sementes, ovóides e pardacentas.
Cytisus grandiflorus é nativa do oeste e sul da
Península Ibérica e noroeste de Marrocos e divide-se em duas subespécies, as
quais nem sempre são de fácil identificação. No entanto existem algumas
diferenças mais óbvias:
Cytisus
grandiflorus subsp. grandiflorus (Brot.) DC. (acima descrita):
- Em Portugal distribui-se pelo norte e centro de Portugal.
- A superfície dos ramos de 2º ano é esquinada, no sentido
longitudinal, apresentando 5 arestas salientes e bastante pronunciadas.
- As vagens estão densamente cobertas por pelos brancos e compridos,
em ambas as faces.
Cytisus
grandiflorus subsp. cabezudoi
Talavera
- Esta subespécie é endémica das regiões costeiras do sul da
Península Ibérica. Em Portugal foi assinalada no Algarve e no Alentejo litoral,
em solos arenosos e dunares.
- Os ramos de 2º ano são quase arredondados, estando as arestas
pouco marcadas.
- Ambas as faces das vagens são glabras apresentando pelos
apenas nas margens.
A Cytisus grandiflorus pertence ao género Cytisus, um dos 700 géneros em que se divide a família das Fabaceae, também denominada Leguminosae, cujas espécies estão
largamente distribuídas por todos os continentes, com exceção da Antártida. Compreendendo
18.000 espécies, esta é uma das maiores famílias botânicas, pelo que foi dividida
em três subfamílias (Faboideae ou Papilionoideae, Mimosoideae e Caesalpinioideae).
A Cytisus grandiflorus está colocada
na subfamília Faboideae ou Papilionoideae.
São plantas de hábitos
variados podendo ser herbáceas, trepadeiras, arbustos e árvores. Muitas delas
são utilizadas como ornamentais, outras têm grande valor comercial ou
industrial devido aos produtos que deles podem ser extraídos, nomeadamente o
tanino, substância usada na indústria do couro, já para não falar dos corantes,
tinturas, colas, vernizes etc. Mas, é sobretudo como alimentos básicos e
essenciais na dieta de todos os povos que as leguminosas são mais conhecidas
pois desta família fazem parte feijões, favas, ervilhas, soja, amendoim, apenas
para citar algumas espécies.
Conforme já aqui referido
em “posts” anteriores, as espécies da família Fabaceae são fixadoras do nitrogénio presente na atmosfera, tornando os solos mais férteis.
Tal acontece através da formação de nódulos nas raízes resultantes da simbiose
com bactérias do género Rhizobium as
quais absorvem o azoto, também chamado nitrogénio, diretamente da atmosfera
transformando-o em amoníaco, permitindo que este seja, de imediato, absorvido
pela planta. Mas, nem todo o azoto é utilizado pela própria planta pelo que
algum é libertado para o solo, para ser aproveitado por outras. O azoto é
essencial ao crescimento das plantas pelo que esta característica é de extrema
importância.
O efeito benéfico que
advém do plantio de plantas leguminosas é conhecido desde há muitos séculos mas
foi só em 1889 que foi identificada a primeira bactéria Rhizobium leguminosarum, comprovando o papel dos microrganismos na
fixação do azoto atmosférico consociados com as leguminosas.
A quantidade de azoto
fixado pelas bactérias que com elas vivem associadas depende, entre outros
fatores, da espécie de leguminosa e das condições do solo.
Na agricultura dos
nossos dias há quem prefira utilizar os chamados “adubos verdes” para
enriquecer o solo, em detrimento de produtos químicos. Isto consiste em
cultivar espécies de crescimento rápido, geralmente da família das leguminosas,
as quais são colhidas e enterradas no mesmo local antes de florescerem e
criarem sementes. Esta prática promove o enriquecimento do solo com azoto e
outros nutrientes, além de melhorar a estrutura dos terrenos, protegendo-os da
seca e limitando o desenvolvimento das ervas daninhas.
A Cytisus grandiflorus é uma espécie apreciada em jardins, destacando-se como exemplar isolado ou em maciços. Multiplica-se por semente
podendo tornar-se invasora em algumas situações pois as sementes germinam
facilmente. Aprecia os solos leves e arenosos com boa exposição solar. É uma
espécie rústica e tem a vantagem de não se incomodar muito com os ventos
marítimos. Apesar de resistente à seca deve ser regada periodicamente (sem
encharcar) e para manter uma forma compacta e evitar que a planta fique
demasiado nua nos ramos mais velhos, deve ser podada no inverno para estimular o desenvolvimento de ramos novos. Contudo há que
ter em conta que é uma espécie tóxica, o que aliás acontece com muitas plantas
de jardim.
Entretanto, muitas são as espécies arbustivas,
aparentemente semelhantes entre si, que florescem nesta época do ano. As suas
flores são muito idênticas, do tipo papilionáceo e quase sempre amarelas. As
espécies são muitas e nem sempre é fácil distingui-las pelo que popularmente costumamos
separa-las em dois grupos: as que têm picos e as que os não têm. Às espinhosas,
geralmente mais baixas e compactas habituamo-nos a chamar tojos e as outras,
altas e de ramos finos conhecemo-las por giestas. Tal "classificação" nem sempre corresponde à realidade. São todas da família
Fabaceae, subfamília Faboideae mas pertencem a géneros diferentes, não só
Cytisus mas também, Ulex, Genista e mais alguns, menos representativos. Veja as
fotos que lhe poderão mostrar as diferenças e semelhanças entre várias destas espécies, no portal da Flora-on, clicando AQUI, AQUI e AQUI.