"As dunas litorais portuguesas possuem uma notável riqueza florística no contexto europeu"
As glaciações do Quaternário, menos severas
em Portugal do que noutros locais da Europa, permitiram a sobrevivência de um
grande número de espécies do Cenozóico que se extinguiram no resto do
continente europeu" (Jansen, 2002).
Vista panorâmica do sistema dunar do Areal Sul, desde o topo da duna secundária até à foz do rio Grande, na Praia da Areia Branca. |
Muitos dos sistemas dunares do
litoral português formaram-se junto à desembocadura dos rios. Os sedimentos transportados pelas águas
fluviais, as correntes marítimas e o vento, associados a certas características
geológicas fluviais, nomeadamente vales largos e plataformas em forma de rampa,
contribuíram para a deposição de grandes quantidades de areia. Foi assim que o
sistema dunar do Areal sul, na Areia Branca/Lourinhã, se formou no amplo espaço
proporcionado pelo declive acentuado, junto à foz do
chamado rio Grande.
Como se formam as dunas
Como se formam as dunas
As dunas do litoral começam a formar-se quando a
areia, empurrada pelo vento, encontra um pequeno obstáculo, uma pedra ou uma
planta, numa zona perto da orla do mar mas suficientemente longe da rebentação.
A duna cresce de barlavento (de onde sopra o vento) para sotavento (para onde sopra o vento) e avança na direção do vento predominante. |
Por ação contínua do vento dominante e
havendo suprimento suficiente de partículas arenosas, aquilo que começa por ser um montinho de areia vai
aumentando de tamanho e
movimentando-se no sentido do vento, podendo alcançar vários metros de altura.
Pelo mesmo processo de formação e evolução vão surgindo novas dunas, ou seja, atrás de
uma duna frontal existem outras cristas dunares, formadas em períodos
anteriores, progressivamente mais antigas à medida que nos afastamos do mar. É assim que se formam os sistemas dunares, alguns simples, outros bastantes complexos.
Para que se mantenha o equilíbrio no desenvolvimento dos sistemas dunares costeiros é necessário que se mantenham as deposições regulares de partículas arenosas. É também fundamental que se estabeleça uma relação de complementaridade entre as praias e as dunas mais próximas do mar. Isto é, durante o verão é expectável que se registe uma acumulação regular de areia nas dunas frontais. Esta é uma reserva necessária tendo em conta que muita areia é arrastada para o mar durante as tempestades de inverno. Caso o sistema dunar esteja em equilíbrio essas partículas arenosas serão novamente lançadas na praia durante a época do bom tempo e em seguida, transportadas pelo vento até às dunas.
Tipologia dunar
As dunas tomam
formas e disposição diversas em função da intensidade e orientação dos ventos
dominantes. Na costa oeste de
Portugal o vento sopra predominantemente de Noroeste, pelo que geralmente
as dunas crescem do litoral para o interior, formando dunas secundárias
paralelas entre si mas transversais ao sentido do vento dominante.
Para que se mantenha o equilíbrio no desenvolvimento dos sistemas dunares costeiros é necessário que se mantenham as deposições regulares de partículas arenosas. É também fundamental que se estabeleça uma relação de complementaridade entre as praias e as dunas mais próximas do mar. Isto é, durante o verão é expectável que se registe uma acumulação regular de areia nas dunas frontais. Esta é uma reserva necessária tendo em conta que muita areia é arrastada para o mar durante as tempestades de inverno. Caso o sistema dunar esteja em equilíbrio essas partículas arenosas serão novamente lançadas na praia durante a época do bom tempo e em seguida, transportadas pelo vento até às dunas.
Tipologia dunar
“As dunas transversais são representadas por
corpos arenosos de cristas rectas ou ligeiramente curvas, alinhadas perpendicularmente
à direcção dominante do vento. Apresentam uma forma simples decorrente de um
regime de vento unidireccional, possuindo uma única face de deslizamento, a
qual é direccionada para sotavento” (Branco et
al., 2003).
As dunas que estão mais perto do mar
são móveis e instáveis devido à contínua movimentação de partículas arenosas por ação do vento; as que se
situam atrás das dunas móveis, numa posição mais recuada em relação ao mar e
portanto mais protegidas do vento, vão-se tornando mais fixas na medida em que
forem sendo estabilizadas pela vegetação; as dunas fósseis são as mais recuadas de
todas, tendo sido consolidadas pela aglutinação progressiva dos grãos de areia,
num processo que demorou milhares de anos.
À duna situada mais perto do mar
geralmente chama-se duna primária; as seguintes chamam-se respectivamente dunas
secundárias e terciárias segundo a sua maior ou menor proximidade do mar; o
espaço interdunar corresponde à depressão existente entre elas, provocada pelos turbilhões criados pela circulação de ar a sotavento de uma duna.
A importância da vegetação nas dunas
Apesar de ser uma
zona muito instável e sujeita a frequentes inundações pela água do mar, é
colonizada por plantas anuais pioneiras como é o caso da Cakile marítima, espécie
tolerante ao sal que, durante o verão, atua como obstáculo à passagem das areias
transportadas pelo vento.
A formação e estabilização de um sistema dunar do litoral é um processo constante e dinâmico no qual a vegetação desempenha um papel extremamente importante, contribuindo para capturar os grãos de areia e prevenindo a erosão provocada pelos ventos e pela chuva.
A vegetação dos ecossistemas dunares é constituída por plantas especialmente adaptadas a um meio precário que possui características micro-climáticas e edáficas especiais e onde sobreviver não é tarefa nada fácil. O substrato de que dispõem é pobre em nutrientes e instável, podendo ocorrer soterramento. Estão ainda sujeitas à pouca disponibilidade de água doce, a ventos fortes carregados de partículas de sal, luminosidade excessiva e calor no verão e frio no inverno.
A colonização destes habitats pelas comunidades vegetais não acontece de forma aleatória. De facto, as espécies distribuem-se por zonas conforme a sua especialização. Algumas tornaram-se mais aptas a viver nas areias móveis e instáveis da beira-mar enquanto outras, mais numerosas, preferem colonizar terrenos mais recuados, menos fustigadas pelos ventos fortes e salgados e beneficiando de um solo mais rico em nutrientes.
Para ultrapassarem todas estas limitações e sobreviver num ambiente tão adverso, as plantas tiveram de desenvolver diversas estratégias, através de adaptações de natureza morfológica, anatómica, fenológica e fisiológica (veja mais AQUI).
Interação das espécies vegetais com as dunas
O processo de formação do
sistema dunar inicia-se na parte mais recuada da praia, muitas vezes chamada de
pré-duna e onde se acumulam os detritos trazidos pela maré.
Neste declive são ainda visíveis outras espécies,
nomeadamente Calystegia
soldanella e Eryngium
maritimum.
Entre as especies que se podem encontrar na duna primária incluem-se a Euphorbia paralias, Otanthus maritimus, Medicago marina, Pancratium maritimum, Polygonum maritimum e Eryngium maritimum.
Nas dunas secundárias do Areal Sul podem
encontrar-se variadas espécies, entre elas Artemisia marítima, Helichrysum italicum, Sedum sediforme, Malcolmia littorea, Ononis ramosissima, Crucianella maritima, Anagallis monelli, e alguns endemismos como Iberis procumbens e Armeria welwitschii .
Fatores de ameaça
As dunas são importantes muralhas naturais contra
o avanço do mar, defendendo pessoas e bens, pelo que é nossa obrigação tomarmos consciência
da importância da sua preservação, antes que seja tarde demais. Mesmo quando parecem
estabilizadas as dunas são zonas sensíveis cujo equilíbrio pode ser perturbado por
vários fatores. À parte a erosão costeira provocada por fenómenos naturais, a intervenção
humana é a grande responsável pela degradação da maior parte dos sistemas dunares
europeus.
Fotos: Sistema dunar do Areal Sul / Lourinhã