Nomes comuns:
Erva-das-bugalhinhas;
erva-do-bicho; erva-dos-bugalhos; erva-moira; erva-moira-da-baga-preta;
erva-moira-mortal; erva-moira-negra; erva-moira-sem-pelos; erva-moura;
erva-nociva; erva-noiva; erva-santa; fona-de-porca; solano; tomateiro-bravo;
tomateiro-do-diabo
A um inverno frio e de
escassas chuvas seguiu-se um verão quente e completamente seco. Como
consequência, muitas plantas surpreendidas com uma tal estiagem, não tiveram
como se desenvolver por completo; digamos que entraram em “modo de espera”, aguardando
por condições mais favoráveis, previsivelmente na próxima primavera. Mas felizmente o
outono chegou cedo, muito chuvoso, ansioso por colmatar as deficiências
causadas pela ausência de água. Às chuvas regulares e intensas aliaram-se as
suaves temperaturas que por norma se registam nesta região e se prolongam até
bastante tarde na estação, criando-se assim condições para que algumas plantas,
como por exemplo indivíduos da espécie Solanum
nigrum, ainda fossem a tempo de
produzir flores, frutos e sementes antes da chegada dos frios de janeiro.
A Solanum nigrum pertence à família Solanaceae e ao género Solanum.
Esta família botânica é um grupo bastante alargado com cerca de 2000 espécies
organizadas em quase 100 géneros, sendo que mais de metade pertence ao género Solanum. Solanaceae agrupa espécies de
grande importância económica, não só plantas ornamentais (as populares petúnias!!!)
mas também várias espécies comestíveis e essenciais na alimentação humana
nomeadamente as pimentas e os pimentões, a dispendiosa frutinha physalis, e
ainda, (incluídas no género Solanum) as
beringelas, o tomate, e a indispensável batata.
Também a planta do tabaco
se inclui na família Solanaceae assim
como varias espécies sobejamente conhecidas pelos seus componentes tóxicos ou
alucinogénios como a Datura
a Mandragora, e a Atropa belladonna, entre outras.
A maioria das espécies
do género Solanum são originárias da
América do Sul. No entanto, das cerca de 1500 espécies que fazem parte deste
género, 15 espécies são nativas da flora europeia. A Solanum nigrum é nativa da Eurásia tendo sido introduzida noutras
partes do globo, estendendo-se, hoje em dia, também pelo continente americano,
Africa do Sul e Austrália. Tão bem se tem dado por terras alheias que é
considerada uma das ervas infestantes mais cosmopolitas. Em Portugal pode
encontrar-se praticamente em todo o território.
É uma infestante das
culturas de verão preferindo os terrenos ricos em azoto, húmidos e algo
sombreados. Facilmente aparece no nosso jardim ou quintal e também em depósitos
de entulhos, campos incultos ou cultivados, pomares, beiras de caminhos ou
terrenos baldios.
A Solanum nigrum é uma planta
geralmente anual que raramente excede os 60 cm de altura. É herbácea, por vezes
lenhosa na base e provida de alguns pelos glandulosos. No seu todo a Solanum nigrum é algo semelhante à rama da batateira, sua congénere,
embora as flores sejam mais pequenas.
Os caules, ocos, decumbentes ou eretos, são suficientemente ramificados
para formar um pequeno arbusto.
As folhas, dispostas alternadamente nos caules, são pecioladas, inteiras,
ovadas e com margens ligeiramente recortadas ou dentadas. De notar que a forma,
cor e tamanho das folhas podem variar de acordo com os fatores ambientais, tal
como a composição do solo e as condições de humidade.
As inflorescências são
formadas por 5 a 10 flores, frouxas, solitárias, com pedúnculos eretos mas
pendentes que encurvam fortemente na frutificação; a corola tem 5 pétalas de
forma ligeiramente ovada e de cor branca; o cálice campanulado é formado por 5
sépalas, persistentes na frutificação; os 5 estames, de filamentos curtos e
unidos na parte inferior, são iguais e têm grandes anteras amarelas. As flores são
hermafroditas ou melhor dizendo, estão providas de órgãos reprodutores
femininos e masculinos.
Os frutos são bagas
semelhantes a pequenos tomates, inicialmente de cor verde e que se tornam negros
e lustrosos quando maduros; as numerosas pequenas sementes que se encontram no
seu interior são elipsoides e achatadas.
Existem muitas plantas
com características semelhantes que podem ser confundidas com a Solanum nigrum e só assim se justifica a
variedade incrível de nomes populares e sinonímias associados a esta espécie. A
fim de impôr “ordem na casa” foi criado o Solanum
nigrum complex que inclui espécies Solanum
distintas embora morfologicamente semelhantes ou seja, formas intermediárias de
hibridização e cuja classificação causa controvérsia entre os taxonomistas.
Quase todas as
espécies Solanum são toxicas e a Solanum nigrum não é exceção; na
realidade tem fama de ser muito toxica devido às elevadas
concentrações de alcaloides como a solanina, solamargina e solasodina os quais que são produzidos pela planta,
supostamente como defesa contra os predadores (fungos e insetos). Estes alcaloides
concentram-se especialmente nas partes verdes da planta a qual, segundo certas
correntes de opinião, é muito nociva para humanos e gado, chegando a ser fatal quando ingerida.
No entanto, a Solanum nigrum é
cultivada como legume em varias regiões de Africa e da América do Norte onde as
folhas jovens e rebentos são ingeridos em sopas e guisados, sempre bem cozidas,
sendo incluídas também em pratos tradicionais na Etiópia, Gana, África do sul e
Indonésia. Até na Europa, nomeadamente Creta, Grécia e Turquia as folhas jovens
são usadas em saladas de legumes, depois de cozidas. Os frutos, consumidos maduros
(a concentração dos alcaloides é muito maior nos frutos verdes), são muitas
vezes utilizados para fazer doce e para decorar tartes e bolos.
Estudos recentes comprovam que a planta não é potencialmente venenosa,
havendo graus variáveis de toxicidade dependendo das características do solo e
do clima onde vive cada planta.
Em todo o caso, tendo em
consideração que esta espécie pode ser confundida com outras, há que ter
cuidado e consumi-la moderadamente e apenas quando houver reconhecimento
absoluto. Recomenda-se especial cuidado em não a confundir com a Atropa belladonna, espécie da mesma família
e que é uma das plantas mais tóxicas encontradas no hemisfério ocidental.
A Solanum nigrum é utilizada em fitoterapia desde a Antiguidade reconhecendo-se-lhe
propriedades como sudorífero, analgésico, sedativo e narcótico, entre outras.
FACTOS sobre outras espécies Solanum:
A batata - Solanum tuberosum
A planta da
batata também produz componentes tóxicos que fazem parte da defesa natural da
planta. Estes alcaloides encontram-se debaixo da pele do tubérculo mas sendo as
batatas adequadamente armazenadas, a concentração dos mesmos mantem-se baixa, não
afetando o ser humano. No entanto, por vezes encontram-se batatas com a pele
esverdeada, situação indicadora do aumento da concentração dos alcaloides e nesse
caso a ingestão do tubérculo pode provocar envenenamento.
O tomate – Solanum lycopersicum
Outra espécie do género Solanum, o tomate, hoje em dia
largamente consumido no mundo inteiro, com benefícios indiscutíveis para a
saúde humana, já foi alvo de preconceitos, tendo sido considerado venenoso. A
verdade é que esta espécie também contém o alcaloide toxico, a solanina, que
está presente nos tomates verdes. Não sendo verdadeiramente prejudicial ingerir
o fruto ainda verde (a não ser para quem tenha predisposição para artrite,
reumatismo ou gota ou outras contraindicações), é contudo mais saudável
consumi-lo maduro.
Fotos: Serra do Calvo / Lourinhã