Erva-lombrigueira, madorneira
A Artemisia
campestris subsp. maritima pertence ao género Artemisia,
um dos maiores géneros dentro da familia das Astereceae/Compositae. Este
género inclui algumas espécies de morfologia tão diferenciada que se torna, por
vezes, complicada a sua identificação mas na generalidade são espécies herbáceas
ou arbustivas, ricas em óleos com comprovadas propriedades terapêuticas, uma
das suas principais características em comum. Muitos destes componentes químicos tornaram-se indispensáveis na
indústria farmacêutica mundial contemporânea e são utilizados no combate a certas
doenças do tipo infecioso como por exemplo a malaria.
O facto é
que a Artemisia campestris subsp.maritima consegue retirar dividendos de um solo pobre em água e quase
sem nutrientes: toda a planta é fortemente aromática o que se deve à presença
de tricomas glandulares distribuídos
por quase toda a planta e que produzem os constituintes
químicos e aromáticos.
Especificamente esta espécie tem sido usada em medicina
popular na prevenção de distúrbios gástricos, hipertensão e reumatismo. É ainda
vermífuga (daí o nome popular de erva-lombrigueira) e abortiva. Geralmente toma-se sob a forma de infusão para o que se
usam os caules e as folhas. Contudo é necessário moderação no seu consumo e ter
em conta que a planta é toxica quando ingerida crua.
Mapa de ocorrências registadas em Portugal por Flora on |
A Artemisia
campestris marítima é uma espécie frequente em quase todos os areais do
litoral português e distribui-se de forma geral por todo o litoral atlântico temperado
europeu. É de importância fundamental no equilíbrio dos ecossistemas pois serve
de alimento às larvas de variadíssimos tipos de Lepidoptera (borboletas), algumas das quais se alimentam
exclusivamente desta espécie, nomeadamente Bucculatrix
diffusella, Bucculatrix pannonica e Coleophora settarii.
A Artemisia
campestris subsp.maritima é uma espécie perene, provida de um rizoma do
qual despontam raízes muito profundas para captar água em profundidade. Os caules,
estriados e com alguma coloração castanha, são eretos, ascendentes (por vezes
prostrados para resistir aos fortes ventos) e formam pequenos arbustos lenhosos
que podem chegar aos 80 cm de altura.
As jovens plantas de Artemisia
campestris marítima estão cobertas de pelos longos e macios os quais caiem
posteriormente, tornando-se a planta glabrescente.
As folhas, sem pecíolo, dispõem-se de forma alternada nos
caules e são carnudas devido às reservas de água e óleos que contêm; para
diminuir a transpiração, as folhas estão protegidas por uma forte cutícula e o
limbo é finamente recortado em segmentos curtos mas de formas variáveis desde a
base até ao ápice, terminando numa ponta curta, aguda e rígida.
Ao contrário da maioria das espécies que se apressam a
florescer logo que começa a primavera, tirando partido da grande atividade de
insetos polinizadores, a Artemisia
campestris marítima floresce e frutifica apenas no final do verão,
geralmente de agosto a novembro. Desta forma resguarda as flores e os frutos
dos grandes calores, sem ter de se preocupar com o
decréscimo de insetos nesta altura do ano pois é polinizada pelo vento.
As flores da Artemisia
campestris marítima são minúsculas e agrupam-se em capítulos ovoides que
por sua vez também se juntam em cachos muito densos e ramificados. Este tipo de
inflorescência, em capítulos, é característico da família botânica das Asteraceae (também conhecida por Compositae) a que pertence esta espécie.
As espécies desta família resolveram o problema da reprodução de forma muito
engenhosa, conseguindo o máximo de eficiência com um minino de custos. Para
tal, as flores muito pequenas e numerosas apresentam-se agrupadas de forma
muito compacta sobre um recetáculo em forma de disco central, funcionando em
equipa, por assim dizer. Assim, as pequenas flores no seu conjunto tornam-se
mais visíveis e apelativas para os insetos polinizadores.
Nesta espécie as
corolas das flores são amarelas com flores periféricas femininas, delgadas e
compridas e flores centrais masculinas, tubulares e mais curtas. Os capítulos
apresentam-se protegidos por um involucro de formato ovoide com brácteas ovadas
com a parte central carnuda e de margem ampla e escariosa.
Os frutos, geralmente dispersos pelo vento, são cípselas
cilíndricas muito pequenas de cor acastanhada, sem pelos nem papilho.
Outras espécies do género Artemisia são conhecidas e utilizadas em gastronomia como por
exemplo o estragão (Artemisia dracunculus)
que se usa para aromatizar pratos de peixe. Mas a espécie mais conhecida é a Artemisia absinthum, usada na confeção
de uma bebida destilada, o absinto.
O Cuspo do Cuco:
Durante a
primavera podem observar-se, nos ramos e folhas de várias espécies de plantas e
arbustos das dunas, incluindo a Artemisia campestris maritima, pequenos
aglomerados de uma substância branca que parece ser espuma. É o chamado Cuspo
de cuco, segregado por um inseto, a cigarrinha espumosa (Philaenus
spumarius), para proteger as suas ninfas enquanto se
desenvolvem.
Philaenus spumarius - Foto Wikipedia |
Este extraordinário inseto embora pouco visível é bastante comum
podendo encontrar-se em praticamente todos os habitats, (exceto onde as
temperaturas atingem os extremos) e alimentam-se de muitos tipos de plantas.
Estes insetos locomovem-se correndo ou voando mas a sua maior habilidade são os
saltos pois podem saltar mais de 100 vezes a sua altura (veja aqui mais
detalhes).
As Galhas:
Também na primavera, a Artemisia
campestris maritima apresenta umas bolinhas vermelhas ou esbranquiçadas que
ao incauto passeante poderão parecer flores em formação ou frutos, mas que na
realidade são galhas. As galhas variam de forma, de espécie para espécie e mais
não são que uma modificação dos tecidos, para defesa dos órgãos da planta após o
ataque de ácaros, insetos, vírus, batérias ou fungos. Geralmente os
organismos galhadores são específicos à espécie mas confesso que não consegui,
até à data, identificar o agressor da Artemisia
campestris. Normalmente estes agentes depositam os seus ovos nas folhas ou
no caule do hospedeiro ocasionando uma reação que leva ao espessamento dos tecidos
criando assim, um espaço que funciona como casulo. É nesse espaço que as larvas
se desenvolvem, parasitando a planta e aproveitando-se dos nutrientes que dela
retiram. Quando chegam à fase adulta, os insetos deixam a proteção da galha e
vão à sua vida.
Sinonímias:
Artemisia campestris L. ssp. maritima (DC.) ArcangeliArtemisia campestris L. ssp. lloydii (Rouy) Coutinho
Artemisia campestris L. var. maritima DC.
Artemisia crithmifolia L.
Artemisia gayana Besser
Artemisia lloydii (Rouy) Hill
Fotos: Praia da Areia Branca/Areal sul - Lourinhã