Salsaparrilha
A Smilax aspera, vulgarmente conhecida por salsaparrilha, é mais uma espécie
que sofreu reavaliação (veja aqui -Sobre a classificação cientifica), tendo sido transferida da família das Liliaceae para uma família mais pequena,
a Smilacaceae. Esta família inclui
cerca de 315 espécies repartidas por 2 géneros, sendo o mais importante o
género Smilax ao qual pertence a
espécie Smilax aspera. Do género Smilax fazem parte cerca de 300 a 350
espécies, na sua maioria trepadoras com ampla implantação predominantemente em
zonas de clima temperado, tropical e subtropical.
Ocorrências em Portugal. Fonte: Flora on |
A Smilax aspera distribui-se pelas regiões da bacia do Mediterrâneo
incluindo a Península Ibérica, oeste asiático e algumas regiões do noroeste
africano.
Não se pode dizer que seja uma espécie muito frequente em Portugal
mas é, sem dúvida, uma componente essencial nos matos perenifólios tipicamente
mediterrânicos formados por árvores e arbustos de pequena altura em que
predominam os Cistus, os Juniperus, Quercus coccifera, Pistacia
lentiscus, Daphne gnidium, Phillyrea angustifólia, Lonicera
implexa e Rhamnus alaternos,
entre outras.
A Smilax aspera não é esquisita no que diz respeito ao tipo de solo
nem é uma espécie particularmente friorenta pelo que podemos encontrá-la em
habitats bastante variados. Suporta bem os períodos de seca e embora goste do
calor e prefira o sol pleno, tolera alguma sombra. A Smilax aspera é uma vigorosa trepadora, perene, áspera e sem pelos; cresce a partir de um rizoma, subterrâneo, geralmente alongado, volumoso e muito ramificado.
Os caules são
angulosos e muito longos, podendo chegar aos 15 metros de comprimento; são
lenhosos e embora delgados e flexíveis, são muito fortes; estão providos de
acúleos (formações rígidas e afiadas semelhantes a espinhos) e ao crescerem
enrolam-se em hélice nos troncos e copa de árvores e arbustos, procurando
suporte para se elevarem, com a ajuda de gavinhas.
Crescendo sem controlo,
os caules da Smilax aspera podem
tornar um bosque impenetrável devido ao emaranhado dos seus caules aculeados. Mas
nem tudo são desvantagens pois já vi certos arbustos de tal forma manietados
pelos caules da Smilax aspera que se
tornam abrigo inexpugnável para alguns animais, nomeadamente perdizes e coelhos
quando, em épocas de caça, necessitam de refúgio onde os cães não se atrevam a
entrar.
As folhas da Smilax aspera demonstram grande
plasticidade morfológica podendo apresentar variações no tamanho e na forma e
até na quantidade de acúleos. Estas variações têm a ver com o local onde
crescem os espécimes, dependendo da exposição aos ventos e à radiação solar. As
folhas dos indivíduos que crescem em locais mais abrigados são geralmente
cordiformes (formato ovado-triangular, lembrando um coração), enquanto em locais
mais desabrigados ou sujeitos a pastoreio, as folhas tendem progressivamente a
ser mais estreitas e alongadas (sagitadas, ou seja, em forma de seta).
De resto, as folhas
são pecioladas e posicionam-se de forma alterna nos caules; são inteiras, com
acúleos na margem e ocasionalmente apresentam manchas brancas; a sua
consistência coriácea ajuda a planta a poupar as suas reservas de água e
nutrientes através da redução da transpiração.
As folhas estão
munidas de duas estípulas que crescem a partir dos nós e que se transformaram
em gavinhas bastante longas e enroladas. O limbo das folhas apresentam 5 ou 7
veios principais, mais ou menos paralelos, que se unem no ápice e estão ligados
entre si por uma rede de veios secundários.
A Smilax aspera é uma espécie dioica pois produz apenas flores unissexuadas,
sistema em que as flores femininas e as masculinas se desenvolvem em indivíduos
diferentes.
As flores, muito
perfumadas aparecem no fim do verão e implantam-se na axila das folhas e na
extremidade dos caules; são minúsculas, com 6 tépalas livres e agrupam-se em
cachos de 5 a 30 flores unissexuais de cor branca, com laivos rosados.
As flores masculinas
apresentam 6 estames livres e proeminentes, com anteras esbranquiçadas.
As flores femininas
têm ovário dividido em 3 compartimentos com 3 estigmas sesseis.
Os frutos são bagas carnudas
e arredondadas, inicialmente avermelhadas e depois negras, na maturação. No seu
interior encontram-se de 1 a 3 sementes pequenas e arredondadas, lisas ou ligeiramente
rugosas. Estas bagas são uma importante fonte de alimento para as aves.
A raiz da Smilax aspera tem sido usada em medicina
tradicional e remédios caseiros por alegadamente possuir propriedades sudoríferas,
depurativas e diuréticas.
Em meados do seculo passado
a raiz desta planta foi muito utilizada como ingrediente de uma bebida não alcoólica
chamada salsaparilha (precursora da CocaCola) e que foi muito popular em
Portugal e Espanha, a par do xarope de groselha e do capilé.
Alagacão; alagação; alegação;
alegra-campo; alegra-cão; legação;
recama; salsaparrilha;
salsaparrilha-bastarda; salsaparrilha-brava;
salsaparrilha-do-reino;
salsaparrilha-indigena; salsaparrilha-indígena;
salsaparrilha-rugosa; silvamar
Sobre as espécies:
homoicas, monoicas, dioicas ou polígamas
homoicas, monoicas, dioicas ou polígamas
Cerca de 70% das
angiospérmicas (grupo de plantas que produzem flores e que constituem o
maior grupo de plantas terrestres) produz flores homóicas, ou seja, as suas
flores são autossuficientes pois estão providas de órgãos reprodutores funcionais
tanto femininos como masculinos. Há quem lhes chame flores perfeitas, completas
ou hermafroditas.
Mas, há espécies que
produzem apenas flores unissexuadas, ou seja, flores exclusivamente femininas
ou masculinas as quais podem crescer na mesma planta ou em plantas separadas.
Quando flores femininas e masculinas se desenvolvem na mesma planta, esta
diz-se monoica; as plantas que geram flores masculinas ou femininas, em indivíduos
separados, chamam-se dioicas.
A maioria das plantas
é homoica, porque a natureza se organizou de modo a não desperdiçar energia.
Este é, sem dúvida, o sistema mais eficiente e rentável visto que todas as
flores da mesma planta são férteis e produtoras de semente.
Nas plantas monoicas e
dioicas, mais raras na natureza, o gasto de energia é maior uma vez que tanto
flores masculinas como femininas representam um gasto de energia mas apenas as
femininas darão origem a sementes. Estes sistemas são característicos de
plantas nativas das regiões desérticas e dos trópicos e ao que se sabe terão
evoluído a partir de plantas primitivamente homoicas. O que levou as plantas a
evoluir neste sentido não está ainda bem esclarecido, no entanto tem sido
interpretado como forma de adaptação às condições do meio ambiente para, por um
lado aumentar a variabilidade genética e por outro, reduzir os riscos de
extinção das espécies causada pela autopolinização.
Mais raras ainda são
as espécies polígamas que usam sistemas combinados e bastante complexos, em que
flores hermafroditas podem coexistir com flores masculinas e/ou com flores femininas,
apenas para dar um exemplo. Na realidade as combinações possíveis são múltiplas
e comprovam o esforço na adaptação das plantas ao meio que as rodeia, para
desta forma rentabilizar ao máximo os recursos, reduzindo os custos
energéticos.
A natureza é
inteligente, tendo feito as adaptações necessárias no sentido de produzir mais,
com menores meios e apostando na diversidade. Que exemplo para todos nós, as
aulas sobre a eficiência das plantas deviam ser obrigatórias!
Também é incrível
pensar que, adaptações que levaram milhões de anos a serem aperfeiçoadas,
poderão ser agora de certo modo escusadas, num mundo global em que tantas
espécies foram transportadas para habitats diferentes dos seus de origem. Credivelmente
as plantas continuarão a adaptar-se aos novos habitats, numa permanente procura
da perfeição. Como serão, daqui a milhões de anos, espécies que hoje nos são
tão familiares? Isto é, se tiver sobrado algum do mundo vegetal, tal como o conhecemos...
Fotos: Arribas do Caniçal / Lourinhã
Obrigado, Fernanda, por mais esta lição. Saudações.
ResponderEliminarOlá Fernanda
ResponderEliminarDesconhecia o seu blogue. Vou passar a "seguir". Será bem vinda ao BioTerra, ecoactivo há mais de 8 anos! Ecoabraços resistentes como a Smilax aspera.
Olá João,
ResponderEliminarObrigada pela visita, volte sempre.
Fiquei a conhecer o Bioterra, parabens pelo empenho. Todos não somos demais para tentar mudar as mentalidades, na luta pela preservação dos ecossistemas.
Saudações ecológicas
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarJá me tenho socorrido de, pelo menos, um dos seus blogs para identificar algumas plantas. Há uma planta que conheço desde miúdo mas não consigo identificá-la de modo convincente, parece uma Ephedra, mas duvido que seja. Talvez você consiga dar-me uma ajuda que desde já agradeço. O endereço da fotografia é o seguinte:
ResponderEliminarhttps://plus.google.com/photos/101712631127092984542/albums/5732778550386769233/5732780240981263058
Saudações ecológicas!
Olá Alex,
EliminarEnviou-me varias fotos de conteudo diferente mas penso que se esteja a referir à planta de flor amarela...
Infelizmente não consigo distinguir pormenores suficientes atraves das fotos para poder dar uma ajuda. Sugiro que consulte o portal da Flora on cujo link lhe envio http://www.flora-on.pt/ e onde pode fazer pesquisa na base das carateristicas da espécie em questão. Espero que ajude. Saudações ecológicas.
Blog bem feito e completo; ajudou-me no chamado "cuspo de cuco" pois temia que fosse prejudicial para minhas "sardinheiras". Nunca houve em meu jardim em Cascais ,mas este ano parece que virou "praga".Já agora gostava de saber para que serve a "cigarrinha espumosa": será que é útil para alguma coisa ?
ResponderEliminarMuito obrigada
Para: A Casa de Santos Dumont em Petrópolis
EliminarBom dia,
Se encontrou "cuspo de cuco" nas suas sardinheiras aconselho a que o retire o mais depressa possível antes que as ninfas saiam e por sua vez se reproduzam. Quando adulto este inseto chupa a seiva das plantas. Curiosamente este ano também tive "cuspo do cuco" em algumas plantas do meu jardim, possivelmente estamos num ano mais propicio à proliferação do inseto. No meu caso, eu retirei todas as espuminhas cortando os raminhos onde estavam instalados e quando não foi possível retirei com a mão, protegendo os dedos com um lenço de papel. Depois queimei na lareira.
Um abraço
Fernanda