As plantas exóticas invasoras
A Oxalis
pes-caprae forma densos tapetes
verdes pontilhados de flores amarelas que florescem no final do inverno. O
efeito é de grande beleza mas é uma grande invasora, provocando sérios
prejuízos na agricultura. Foi trazida para Portugal e
região mediterrânica no século XVIII. Saiba mais AQUI.
|
Já AQUI foram
feitas referências às plantas exóticas, assim designadas por não serem nativas
do habitat onde se encontram, tendo sido transportadas para fora da sua área
natural de forma intencional ou acidental. O transporte de espécies para
regiões diferentes, resultante de ação humana, remonta ao tempo das migrações
dos povos na Antiguidade, tendo sido realizada de forma lenta e gradual. Porém,
nos últimos três séculos este processo foi acelerado, a
ponto de se tornar alarmante. Sem dúvida que muitas das plantas já introduzidas
têm interesse económico como espécies ornamentais, agrícolas ou florestais mas,
é preciso não esquecer que muitas trouxeram graves problemas ambientais e
económicos que só se revelaram posteriormente.
Eichhornia crassipes é uma planta aquática originaria da Bacia do Amazonas. Foi introduzida em Portugal com intuitos ornamentais mas tornou-se invasora, formando densos "tapetes" à superfície da água reduzindo a luz e o oxigénio. Pode encontrar-se em lagoas, braços de barragens, troços de rios e ribeiros. Foto de H.Zell - Wikimedia Commons |
Em Portugal prosperam plantas exóticas originárias
do todo o Mundo, seja de climas temperados, subtropicais ou tropicais graças ao
nosso clima ameno e acolhedor. As famílias mais representadas são as Poaceae
(família das gramíneas), as Asteraceae (família dos malmequeres), Fabaceae
(família das leguminosas) e as Polygonaceae.
Acacia longifolia. Foto de Josh Jackson/ Wikimedia Commons
As exóticas espécies
do género Acacia, conhecidas vulgarmente por mimosas, são um grave problema
biológico e económico do nosso país. São originárias do sudoeste da Austrália e África do Sul e foram importadas com fins ornamentais e para estabilização de areias,
taludes e encostas. Expandiram-se de forma avassaladora invadindo as zonas
costeiras e margens de rios, afetando o crescimento de outras plantas através da
alteração da disponibilidade de azoto no solo em seu proveito, em detrimento de outras espécies. Tem elevada capacidade de produção de sementes as quais permanecem
viáveis por várias décadas e cuja germinação é estimulada pelos fogos. A sua
erradicação é muito difícil e onerosa pois as suas raízes formam enormes touças
debaixo da terra que, não só o fogo não consegue destruir, como rebenta de novo
se os ramos forem destruídos. Uma das espécies mais agressivas é a Acacia
longifolia e os métodos de controlo até agora utilizados foram ineficazes pelo que, finalmente, foi autorizada a libertação de um agente de
controlo natural (inseto) para conter a dispersão desta espécie.
Saiba mais AQUI. |
De modo geral, as espécies exóticas causam
impactos no equilíbrio das plantas nativas pois apresentam vantagens
competitivas, no pressuposto de que as populações introduzidas são menos
afetadas por inimigos naturais, do que eram no seu habitat natural. Apesar disso, muitas são as espécies exóticas que subsistem ao longo dos anos de
forma equilibrada, de tal forma que certos autores defendem que, do
ponto de vista estritamente biológico, as plantas exóticas não são um problema
e que devem ser vistas como parte integrante dos sistemas naturais. Outras
espécies, em contrapartida, revelam um comportamento invasor logo após a sua
introdução num novo
território, multiplicando-se de forma descontrolada. Há ainda as espécies que,
estando aparentemente controladas, de
repente se tornam invasoras. Tal acontece quando o equilíbrio
ecologicamente precário em que vivem se quebra, devido a uma súbita alteração
nas condições ecológicas. São diversos os fatores que estimulam o rápido
aumento da sua distribuição, desencadeando essa invasão biológica, entre elas a
ocorrência de catástrofes naturais, alterações climáticas, os incêndios e a
consequente abertura de clareiras.
Um
dos maiores problemas das plantas exóticas é que só se toma consciência da sua
invasibilidade quando já estão estabelecidas e o mal está feito. Este é um
problema que se regista a nível mundial e em Portugal não somos exceção. A
lista negra de espécies exóticas invasoras referenciadas no nosso país é
bastante extensa e as consequências da sua presença são irreversíveis pois uma
vez instaladas são praticamente impossíveis de erradicar, sendo a sua contenção
dispendiosa e presumivelmente ineficaz. Muitas destas espécies foram
introduzidas no país em épocas passadas em que se desconheciam as implicações
inerentes; destinavam-se à utilização das madeiras, estabilização de taludes,
fixação das areias ou com fins ornamentais. É de salientar que muitas invasoras
vieram sem ser convidadas, tendo as suas sementes sido transportadas por
acidente, dada a facilidade crescente das viagens e transportes internacionais.
Contudo, a importação indiscriminada de plantas exóticas - especialmente
com fins ornamentais - continua até hoje, sendo que muitas delas rapidamente se
instalam na natureza e reproduzem sem controlo.
Ailanthus
altissima, árvore de grande porte e vulgarmente conhecida por espanta-lobos ou
árvore-do-céu, foi introduzida em Portugal no século XVIII a partir da China, de
onde é oriunda. Pode encontrar-se em espaços urbanos e nas margens das estradas
e é uma vigorosa invasora devido ao seu crescimento extremamente rápido e grande
produção de sementes que, arrastadas pelo vento, germinam facilmente e em todos
os tipos de solo.
Foto de Luis Fernández García L.Fdez/ Wikipedia.
|
Eis algumas das características que potenciam o poder invasivo das plantas
exóticas:
- crescimento rápido e boa adaptação a diferentes condições ambientais;
- elevada capacidade reprodutora, produzindo muitas sementes as quais são
viáveis por longos períodos de tempo e cuja germinação pode ser estimulada pelos
fogos;
- boa capacidade de dispersão e colonização, ajudadas pelo facto de estarem
livres dos inimigos naturais que as controlavam no seu local de origem;
- aptidão para reprodução vegetativa através de estolhos ou rizomas;
- maior capacidade competitiva que as espécies nativas pelos recursos
disponíveis.
Os impactos das invasoras refletem-se de forma negativa no meio ambiente,
afetando plantas autóctones, fauna, solo e recursos hídricos, através de:
- alteração das cadeias alimentares;
- uniformização dos ecossistemas devido à extinção de espécies autóctones,
desequilíbrio dos ecossistemas e diminuição da biodiversidade;
- diminuição da disponibilidade de água no caso de plantas mais
exigentes no seu consumo;
- alteração dos regimes de fogo;
- alteração da disponibilidade de nutrientes com a alteração dos ciclos do
carbono e do azoto e do pH do solo.
“É proibida a disseminação ou libertação na Natureza
de espécimes de espécies não indígenas, ainda que sem vontade deliberada de
provocar uma introdução na Natureza, como forma de prevenir o estabelecimento
acidental de populações selvagens” e também “A introdução de espécies não indígenas
na Natureza pode originar situações de predação ou competição com espécies
nativas, a transmissão de agentes patogénicos ou de parasitas e afetar
seriamente a diversidade biológica, as atividades económicas ou a saúde
pública, com prejuízos irreversíveis e de difícil contabilização.”
Nos anexos I, II e III este decreto lista,
respetivamente, as espécies de fauna e flora introduzidas em Portugal (com destaque para as invasoras), as
espécies arbóreas com interesse e as espécies não indígenas de fauna e flora
que comportam risco ecológico reconhecido.
Contudo, a maior dificuldade em fazer cumprir a
legislação reside no desconhecimento das populações que, inconscientes das
consequências dos seus atos, contribuem para a proliferação das invasoras.
Para se poderem adotar legislações mais restritivas, será necessário informar o
público em geral acerca das possíveis consequências de uma introdução
indesejada. Há um grande “desconhecimento acerca dos riscos associados à
introdução de espécies não indígenas e a educação é uma importante estratégia
de prevenção, uma vez que a participação do público é crucial para controlar e
prevenir as invasões biológicas”. Muitos nunca ouviram falar de plantas
invasoras nem fazem a mínima ideia do problema que podem criar ao plantar no
seu jardim uma planta exótica ou, quando cansados dela, a despejam num monte de
entulho. Assim, há que apostar na prevenção através da educação e informação do
público pois cada um de nós pode e deve dar o seu contributo através de comportamentos
responsáveis.
Em estudos realizados por Colton & Alpert em 1998, verificou-se que, “mesmo em cidadãos
com elevado nível de formação académica, apenas uma minoria apoia a aplicação
de um esforço considerável para controlar as plantas invasoras”.
Carpobrotus edulis, o vulgarmente denominado chorão, é uma bela planta rastejante originária da África do Sul. Foi introduzida em Portugal para fixar os areais costeiros mas provou ser uma péssima ideia pois o seu desenvolvimento vigoroso resulta em vastos tapetes que abafam e mata as plantas nativas, substituindo-se a elas. Saiba mais AQUI. |
Problemáticas são também certas espécies ornamentais que são deitadas no lixo e que desta forma se podem assilvestrar. Esta foto é do fruto e sementes de uma Datura stramonium, planta muito bonita mas venenosa, oriunda da América do sul tropical. Estas sementes poderão permanecer viáveis durante mais de 40 anos, dando origem a novas plantas logo que surjam as condições ideias para germinar. Encontrei a planta já em frutificação meio enterrada num monte de entulho que os vizinhos do fim da rua resolveram descartar após as obras lá de casa. Para além de invasora, as sementes produzidas são muito abundantes altamente venenosas, podendo ser letais se ingeridas. Ainda há bem poucos meses surgiu uma noticia nos meios de comunicação social portugueses sobre uma criança que comeu as sementes e foi hospitalizada, embora eu não tenha tido conhecimento do desfecho. Veja mais fotos da planta AQUI. |
NOTA: