Scorpiurus muricatus L.
Nomes Comuns:
Nomes Comuns:
Cornilhão;
cornilhão-fino; cornilhão-liso; cornilhão-pequeno; cabreira
Scorpiurus muricatus é
uma pequena leguminosa, nativa da região mediterrânica.
Fruto imaturo de Scorpiurus muricatus |
Encontra-se
em matagais, pastagens e terras não cultivadas ou em pousio de cultivo de
cereais, até 1200 mt acima do nível do mar. Também aparece na beira dos
caminhos, dunas e arribas costeiras. Embora não seja esquisita com o tipo de substrato, nota-se uma preferência por solos com baixo teor de calcário e alta em teores
de sódio e de magnésio. Pertence à família Fabaceae, tradicionalmente
denominada Leguminosae.
O seu ciclo de vida é anual e o crescimento prostrado.
Os múltiplos caules são herbáceos, sólidos, cilíndricos e ligeiramente
pubescentes. Os caules principais, a partir dos quais se desenvolvem os
secundários, despontam diretamente do entrenó situado entre os cotilédones
(primeiras partes que se veem quando a semente germina, semelhantes a folhas e
que contêm reservas nutritivas) dispondo-se de forma radial para formar uma
moitinha baixa e arredondada.
Geralmente
as folhas das leguminosas são compostas ou seja, o limbo está subdividido em
vários folíolos. Contudo, a espécie Scorpiurus
muricatus - assim como todas as espécies do mesmo género - têm folhas
inteiras, o que pode ser também interpretado como sendo folhas unifoliadas ou
seja, reduzidas a um único folíolo. Estas folhas apresentam forma muito
variável, podendo ser elípticas, espatuladas ou oval-lanceoladas, ligeiramente
pubescentes no limbo de ambas as páginas e também nas margens. As
características estipulas, sempre presentes nas leguminosas, são longas, de
forma triangular e membranáceas. Os pecíolos que ligam as folhas ao caule são
bem desenvolvidos e assemelham-se a caules devido à sua forma alongada.
As flores, de 8 a 12 mm, podem ser solitárias mas geralmente dispõem-se em grupos de 2 a 5, sobre pedúnculos de seção quadrangular, duas vezes mais compridos que a folha axilante.
De
forma característica, a corola é papilionácea, sendo constituída por 5 pétalas,
uma maior e situada na parte superior (o estandarte), duas laterais (as asas) e
duas situadas na parte inferior e que estão unidas (a quilha). A base das pétalas das asas e da
quilha estão envoltas entre si formando um tubo onde se encontram encerrados os
órgãos reprodutores masculinos e femininos. Os estames são 10, 9 dos quais
estão unidos pelos filetes e o restante é livre e mais comprido.
Na
generalidade das leguminosas, a diferente morfologia das pétalas corresponde a
funções diferenciadas e complementares que resultam numa estratégia altamente
especializada no que diz respeito à polinização por insetos, facilitando a
polinização cruzada. O estandarte, sendo maior, é o fator de atração visual
para os insetos e as asas funcionam como plataforma de aterragem. Quando os
polinizadores pousam nas asas, a quilha baixa e em consequência, os estames e
estigma ficam expostos ao corpo do inseto, permitindo que se faça a troca de
pólenes.
Contudo,
no caso desta espécie e outras do mesmo género, estudos realizados por
Dominguez & Galiano e publicados pelo Dept.Botânica da Faculdade de
Ciências da Universidade de Sevilha
comprovaram que a fecundação se realiza por autogamia (a flor é fecundada pelo
seu próprio pólen). Uma vez que a autofecundação é levada a cabo em fases muito
precoces do desenvolvimento do botão, antes da abertura da flor, as
possibilidades de haver polinização cruzada são muito reduzidas. Esta situação
é comum a todas as espécies, subespécies e variedades incluídas no género
Scorpiurus.
As
peças que formam a corola nascem a partir da base do cálice e estão envolvidas
pelas suas 5 sépalas cuja superfície apresenta alguns pelos esparsos. As sépalas estão unidas na parte inferior, formando uma estrutura
acampanulada, encimada por 5 dentes desiguais.
Esta
espécie floresce e frutifica de abril a junho.
O cálice permanece durante a transformação da flor em fruto |
Os
frutos característicos das leguminosas são, como sabemos, as vagens e assim
acontece também com Scorpiurus muricatus.
Contudo, as vagens desta espécie são bastante diferentes das que estamos
habituados a ver noutras da mesma família. São longas e cilíndricas,
apresentando-se enroladas em espirais irregulares mais ou menos concêntricas e em planos diferentes.
Os frutos são constituídos por segmentos cujas costas exteriores estão cobertas de
excrescências geralmente espiniformes e os quais se separam na maturação, cada um
deles correspondendo a uma semente em forma de meia-lua. Na maturação estas saliências endurecem,e ficam rijas e espinhosas, o que facilita a dispersão dos frutos pois os espinhos facilmente se agarram ao pelo dos
animais, conseguindo ser transportadas para outros locais.
Contudo
a morfologia destes frutos é muito variável, podendo ser encontradas variedades
que apresentam excrescências arredondadas (veja AQUI) em vez de serem cónicas e delgadas como os espinhos.
Scorpiurus muricatus pode
ser usada como planta de jardim pois faz uma original e bela cobertura de solo,
com bonitas flores amarelas e frutos engraçados, embora com o inconveniente de
ser temporária, pois se trata de uma planta anual. Os frutos jovens são
comestíveis, podendo ser adicionados a saladas. Há quem os frite e sirva como
aperitivos em cocktails. Apenas os frutos muito jovens e tenros devem ser
usados, caso contrário apenas servem de enfeite.
Scorpiurus muricatus é autóctone de Portugal Continental e arquipélago da Madeira. É inexistente nas ilhas dos Açores.
Distribuição de Scorpiurus muricatus em Portugal Continental Fonte: Jardim Botânico da UTAD |
Scorpiurus muricatus pertence
ao género Scorpiurus, o qual é caracterizado pelos seus engraçados frutos
enrolados que nem lagartas eriçadas de picos, alegremente ocupadas em
exercícios de contorção.Todas elas são espécies mediterrânicas e estendem-se
desde o sul da Europa até ao norte de África. As representantes deste pequeno
género apresentam um grande polimorfismo, o que tem dado origem a grande
controvérsia no que toca à separação e respetiva classificação em espécies,
subespécies e variedades. Dependendo dos autores e das interpretações que
fizeram dos estudos por eles efetuados, este género pode incluir 4 espécies*
(S. vermiculatus, S. muricatus, S. subvillosus, S. sulcatus) ou apenas 2 (S.
vermiculatus e S. muricatus), sendo as restantes subespécies ou variedades de
S.muricatus.
Embora a classificação de
S. vermiculatus não ofereça dúvidas pois está claramente definida e o seu fruto bem identificado,
não tem sido possível delimitar, de forma satisfatória, as outras 3 espécies . De
notar que estes 3 taxa (Scorpiurus muricatus, Scorpiurus sulcatus e Scorpiurus
subvillosus) partilham o mesmo número de cromossomas (2n= 28) enquanto Scorpiurus vermiculatus tem um número
diferente de cromossomas, ou seja 2n =14.
Tournefort (1719) foi o primeiro a organizar este género
no qual incluiu 6 espécies sob o nome Scorpioides devido à semelhança da vagem
contorcida e segmentada com a cauda de um escorpião (e também porque se julgava
que esta planta funcionava como antidoto para a mordedura do referido animal).
Lineu
(1753) ajustou o nome para Scorpiurus (do grego “Skorpios” = escorpiao e “ourá”
= cauda) e reduziu o número de espécies para 4*. Contudo, Lineu não estava completamente satisfeito com esta classificação, vindo a demonstrar alguma indecisão numa
nota apensa à descrição de Scorpiurus, em que declarou que as dificuldades em delimitar estas
espécies tinham a ver com o fator evolutivo e que na sua opinião as espécies
Scorpiurus tinham evoluído a partir de uma única e por conseguinte deveriam ser
consideradas como uma única espécie.
No pós-Lineu originou-se
uma grande confusão, com muitos autores a descreverem novas espécies sobretudo
com base na diversa morfologia dos frutos. Posteriormente a situação
estabilizou, com outros autores (Brotero, 1804; Fiori, 1900; Thellung, 1912) a
considerarem apenas duas espécies Scorpiurus muricatus e Scorpiurus
vermiculatus nas quais estariam incluídas as restantes taxa, em categorias
infraespecificas, nomeadamente subespécies e variedades.
Desde então têm sido feitos
diversos estudos na tentativa de acertar com a taxonomia deste género.
Dominguez & Galiano (1974) e (Talavera & Dominguez, 2000) in Flora
Iberica, reconhecem como válidas as 4 espécies estabelecidas por Lineu.
Contudo, estudos mais recentes
(Mabberley 2008, Sell & Murrell 2009) apenas reconhecem duas espécies: S.
muricatus e S. vermiculatus. Todos os outros taxa são agora incluidos por
varias entidades, como é o caso da Flora Europaea (Tutin et al., 1968), numa
categoria infraespecífica, a maior parte delas classificadas como subespécies
ou variedades de S. muricatus.
Com base no acima exposto
parece que este assunto é quase como a “pescadinha de rabo na boca” ou mais
apropriadamente dizendo, de cauda retorcidada de escorpião. É que, a questão
levantada por Lineu em 1753 continua por resolver e por mais voltas que os
autores lhe deem, não há forma de sair do mesmo sitio. Isto é, “no grupo
muricatus existem diferenças que, dependendo do peso que lhes é atribuído,
levam a que seja considerado um agrupamento de um tipo único ou uma
diferenciação em vários tipos”.
Embora a distinção e
diferenciação dos diversos taxa só possa ser realizado com algum sucesso a
partir de chaves de identificação, deixo aqui algumas das caracteristicas mais
óbvias das restantes 3 que estão na base desta controvérsia, em complemento da acima descrita Scorpiurus muricatus, .
Scorpiurus vermiculatus L.
Nomes comuns:
Cornilhão-esponjoso;
cornilhão-grosso
Distribuição de Scorpiurus vermiculatus em Portugal Continental Fonte: Jardim Botânico da UTAD |
Scorpiurus vermiculatus é autóctone de Portugal Continental e Madeira mas não está presente no arquipélago dos Açores.
Comparada com as outras
espécies do género Scorpiurus, S. vermiculatus é morfologicamente bastante
uniforme. Pedúnculos e cálices são muito pubescentes e as flores são geralmente
solitárias, de 11 a 14 mm. Os frutos, facilmente identificáveis, são grossos e
enrolados em várias espirais concêntricas de forma muito apertada num só plano;
estão densamente cobertos de excrescências tuberculadas que são estreitas na
base e se dilatam bruscamente no topo, ficando semelhantes a pequenos
cogumelos. Na maturação os frutos fragmentam-se em 5 a 8 sementes amareladas ou
de forma retangular com arestas arredondadas.
Scorpiurus sulcatus L.
Scorpiurus sulcatus é muito semelhante a S.muricatus, embora com folhas e flores mais pequenas (5 a 8,5 mm) e pedúnculos mais compridos. Os dentes do cálice são geralmente mais curtos que o tubo, ao contrário do que acontece com S. muricatus. A vagem tem enrolamento muito solto, num único plano ou em espiral com 2 voltas, com as costas exteriores sulcadas de espinhos no sentido longitudinal. Sementes são em forma de meia-lua.
Scorpiurus sulcatus é muito semelhante a S.muricatus, embora com folhas e flores mais pequenas (5 a 8,5 mm) e pedúnculos mais compridos. Os dentes do cálice são geralmente mais curtos que o tubo, ao contrário do que acontece com S. muricatus. A vagem tem enrolamento muito solto, num único plano ou em espiral com 2 voltas, com as costas exteriores sulcadas de espinhos no sentido longitudinal. Sementes são em forma de meia-lua.
Veja fotos desta espécie AQUI.
Scorpiurus
subvillosus L.
Scorpiurus subvillosus distingue-se principalmente
pelas vagens densamente cobertas de espinhos, enrolando-se de forma irregular
formando bolas espinhosas e de aspeto caótico e tridimensional. as vagens fragmentam-se em sementes
de cor escura, em forma de meia lua.
Das 4 espécies acima
descritas apenas Scorpiurus subvillosus não se encontra presente no nosso território.
As espécies Scorpiurus são
interessantes leguminosas forrageiras. São uma fonte de alimento de grande importância no
crescimento e reprodução de animais ruminantes, nomeadamente gado bovino, ovino
e caprino, devido à sua riqueza em hidratos de carbono e proteínas.
O alto teor de proteínas
das leguminosas deriva da sua capacidade de fixação de nitrogénio da atmosfera,
convertendo-o em moléculas proteicas as quais são aproveitadas pela própria planta para
seu desenvolvimento e o das plantas em seu redor. Isto acontece devido a uma
relação simbiótica com bactérias Rhizobium que se fixam nas raízes das
leguminosas através de nodosidades, visíveis a olho nu. Em contrapartida, estas
bactérias recebem das plantas os açúcares produzidos durante a fotossíntese.
Esta simbiose permite não só a sobrevivência das referidas bactérias mas também
que certas espécies possam desenvolver-se, sem problemas, em solos pobres em
azoto e matéria orgânica.