Nomes comuns:
Lavatera; Lavatera-silvestre;
Lavátera-silvestre; Lavátra; Lavátra-silvestre; Malva; Malva-alta;
Malva-bastarda
A
Lavatera cretica é uma planta
herbácea que ocorre na Macaronésia (Madeira, Açores, Canárias e Cabo
Verde), Europa ocidental, Mediterrâneo, Sibéria, Ásia central, Califórnia e
Austrália; pertence à família das Malvaceae a qual inclui cerca de 2300 espécies, dividas
em 252 géneros.
A
Lavatera cretica, conforme o seu nome
cientifico indica, faz parte do género Lavatera
que inclui cerca de 25 espécies de plantas. Este género pode facilmente ser
confundido com o género Malva, também
da mesma família e que é originario das regiões temperadas de Africa, Ásia e Europa. As
espécies dos géneros Malva e Lavatera não só crescem frequentemente
nos mesmos habitats como têm folhagem e floração muito parecidas.
Há no entanto alguns detalhes que nos
ajudam a confirmar a diferença entre eles, sendo o mais evidente a morfologia do epicálice cujas brácteas (que se formam na base
da flor) são livres no género Malva e
fundidas no género Lavatera.
As espécies Lavatera são muito importantes para o
equilíbrio ecológico uma vez que são alimento para as larvas de algumas
espécies de borboletas sendo que algumas se alimentam exclusivamente destas
plantas.
A
Lavatera cretica é uma planta anual, por
vezes bianual, herbácea, formando arbustos pouco densos com altura, que pode
variar entre os 40 e os 150 cm.
Podemos encontrá-la na beira dos caminhos,
campos abandonados ou de cultivo, lixeiras, nas dunas e rochedos perto do mar.
Esta espécie mostra preferência por terrenos bem azotados, pelo que é uma
planta indicadora de solos com riqueza de nutrientes.
A Lavatera cretica assume por vezes o estatuto de planta invasora embora em certos locais tenha vindo a sentir-se o efeito contrario, como por exemplo no Reino Unido onde se tornou demasiado vulneravel a algumas pragas.
A Lavatera cretica, tal como muitas
espécies da familia da Malvaceae, pode
ser atacada por alguns insetos predadores,
nomeadamente afidios serradores de folhas e gorgulhos, fungos (Puccinia
malvacearum ) e virus.
O caule principal da Lavatera cretica é robusto, simples ou ramificado, ereto ou de
tendência ascendente. Os caules estão esparsamente cobertos de pelos estrelados
assim como as restantes partes da planta; são verdes mas ao longo do
envelhecimento da planta vao ficando de cor acastanhada.
Os longos peciolos que ligam as folhas ao
caule estão cobertos de pelos iguais aos
dos caules mas mais proeminentes.
As folhas estao dispostas alternadamente,
colocando-se uma em cada nó; são simples, com contorno quase circular, recortadas
em 5 ou 7 lobulos pouco profundos e arredondados.
Ambas as paginas das folhas
tem pelos sendo que a folha anterior apresenta um indumento de pêlos fracos e densos e a superior pêlos
espessos, curtos, enrolados sobre si próprios, cobrindo uniformemente toda a
superfície.
Ambos os lados da base do peciolo das folhas
apresentam apêndices, chamados estipulas, similares a folhas rudimentares e que
nesta espécie são encurvadas, triangulares e cobertas de pelos relativamente
longos.
As
folhas jovens e as mais velhas são mais pequenas que as restantes e também são
mais recortadas.
As
flores são pequenas e dispõem-se em cachos na axila das folhas e consistem de:
· um epicálice de 3 segmentos soldados na base (conjunto de bractéolas situadas na
base do cálice e que formam um invólucro independente, assemelhando-se a um
segundo cálice),
· um cálice de 5 sépalas,
· corola com 5 pétalas e
· orgãos reprodutores funcionais masculino
(androceu) e feminino (gineceu).
O pedicelo das flores tem cerca de 1 cm de comprimento e está coberto de pelos curtos.
As
pétalas são de cor lilás, com veios mais escuros.
Os estames, muito numerosos,
apresentam os filamentos unidos formando
um único tubo.
A
Lavatera cretica floresce e frutifica
de abril a julho.
O fruto é um esquizocarpo ou seja é um
fruto múltiplo, composto por 9 mericarpos semelhantes a gomos dispostos em
circulo, cada um correspondente a uma semente e que resultam de um ovário com
vários carpelos reunidos em volta de um carpóforo, que os sustenta. O carpóforo é um
prolongamento do eixo floral.
Ao chegarem à maturidade os mericarpos componentes separam-se
inteiramente, sendo disseminados pelo vento.
Atualização:
em 06-07-2014:
A família Malvaveae
constitui uma das grandes famílias botânicas. Após recentes estudos filogenéticos passou
a englobar outras famílias, como a Sterculiaceae,
Bombacaceae e Tiliaceae, (segundo
classificação da APG). Assim, atualmente, abarca mais de 4225 espécies, agrupadas em cerca de 243 géneros.
A classificação científica tem as suas raízes no sistema de
Lineu (1707-1776) que agrupou as espécies de acordo com as suas características
morfológicas em classes, ordens, famílias e géneros. Desde então, estes
agrupamentos foram alterados múltiplas vezes, como comprovam as listagens, por
vezes extensas, de sinónimos atribuídos a cada espécie.
Nota:
Uma vez aceites pelo
ICNB - Código Internacional de Nomenclatura Botânica - os nomes científicos mantêm-se
como sinónimos, exceto em caso dos isónimos (no caso de nomes iguais propostos
independentemente para a mesma espécie, em alturas diferentes e por autores
diferentes, apenas o primeiro tem estatuto de nomenclatura).
Muitas dessas
alterações foram feitas após conhecimento da Teoria da Evolução de Charles
Darwin (1809-1882), com base no seu princípio da ascendência comum. Contudo, em
face dos meios disponíveis na época, muitas alterações basearam-se apenas em
critérios morfológicos, o que originou muitos erros. A descoberta do ADN e a
possibilidade de conferir as semelhanças e diferenças entre espécies através de
análise do genoma levou a uma autêntica revolução na sistemática botânica, com
profundas revisões da classificação de múltiplas espécies, algumas já feitas,
muitas ainda por fazer. Este vai ser um processo muito trabalhoso e demorado
uma vez que o Reino Plantae é um dos
maiores grupos de seres vivos na Terra, com cerca de 400.000 espécies
conhecidas. Este parece ser o caminho certo pois o objetivo dos taxonomistas é
estabelecer a relação natural entre os grupos de plantas tendo por base a sua
evolução. Contudo as relações evolutivas entre as espécies estão sujeitas a
descobertas continuas e há opiniões diferentes sobre a forma como devem ser agrupadas
e nomeadas.
As espécies do género Lavatera
podem facilmente ser confundidas com as espécies do género Malva. As espécies destes dois géneros, incluídos na família Malvaceae, são nativas
da região mediterrânica ocidental e maior parte da Eurásia, tendo sido
introduzidas na Austrália e América do Norte.
Assim, as espécies destes dois géneros não só crescem frequentemente nos
mesmos habitats como têm folhagem e floração muito parecidas. São arbustos,
pequenas árvores e herbáceas anuais, bianuais e perenes.
Indiferentes a classificações científicas, as espécies Lavatera e Malva partilham o mesmo nome popular que lhes é atribuído por
vários povos (Ex: malvas em português e espanhol, “mallows”, em inglês e
“mauves” em francês) o que, aliás, se justifica porque estão estreitamente
relacionadas.
Segundo o conceito tradicional, um detalhe tem sido usado
para diferenciar os géneros Lavatera
e Malva, detalhe esse que tem a ver
com a morfologia do epicálice cujas brácteas (que se formam na base da flor)
são supostamente livres no género Malva
e fundidas no género Lavatera. Esta é
a versão tradicional e que vigora desde a época de Lineu (1707-1776), no
entanto, este argumento tem sido contestado desde sempre por muitos autores. Na
realidade, o grau de fusão das brácteas é muito variável de espécie para
espécie em ambos os géneros, muitas vezes diferindo entre as populações da
mesma espécie, pelo que muitos autores continuam a achar que a morfologia do
epicálice não é um argumento satisfatório para a diferenciação entre Malva e
Lavatera.
As análises moleculares conduzidas por Martin Forbes Ray
(1995) e Fuertes-Aguilar et al.(2002)
confirmaram que esta divisão é artificial uma vez que muitas espécies colocadas
no género Lavatera estão mais
próximas de Malva sylvestris (a
espécie tipo do género Malva), do que
outras espécies desse mesmo género e provou também que os frutos são fatores
essenciais a considerar.
(espécie tipo – “Para evitar
ambiguidade e permitir resolver eventuais conflitos de identificação, cada nome
botânico é ligado a uma espécie tipo, quase sempre uma planta herborizada e
arquivada num herbário de referência. Esses exemplares tipo têm um valor
excepcional para a ciência, sendo disponibilizados pelos herbários seus
detentores para análise e comparação sempre que surjam dúvidas ou haja necessidade
de rever o taxon respectivo. Muitos desses exemplares têm hoje a sua imagem
disponível na Internet” @Wikipedia).
Nesta conformidade as espécies destes dois géneros,
juntamente com os géneros Alcea e Althaea, foram divididas em dois grupos,
independentemente dos géneros em que tinham sido antes colocadas (exceção feita
a Lavatera phoenicea, endémica das
Canarias):
- Grupo de fruto Lavateroide, assim chamado porque o tipo de fruto em causa
se encontra na Lavatera trimestris, a
espécie tipo do seu género. Neste grupo estão incluídas as espécies cujos
frutos apresentam mericarpos parcialmente fundidos, os quais permanecem
aderentes ao carpóforo mas se abrem para libertar as sementes, quando maduras.
- Grupo de fruto Malvoide, que tem como espécie tipo a Malva sylvestris. Neste caso os frutos
possuem esquizocarpos com mericarpos de arestas marcadas e paredes espessas que
não libertam a semente mas que se destacam do carpóforo quer separadamente,
quer no seu conjunto, sem deixar resíduos.
De notar que os frutos malvoide e lavateroide são, contudo,
encontrados tanto em espécies do género Malva como do género Lavatera,
independentemente da sua classificação genérica.
Em consequência, as espécies incluídas no grupo Malvoide, nomeadamente a espécie Lavatera cretica, foram transferidas
para o genero Malva. Apesar de tudo permaneçam duvidas pelo facto de algumas
espécies apresentarem frutos com morfologia intermédia.
Muitas espécies do grupo Lavateroide continuam sem alteração
pois além de formarem um grupo mais heterogéneo, não foram ainda analisadas sob
o ponto de vista genético. Contudo, uma vez que não parece praticável
subdividir o grupo Lavateroide em muitos géneros, há botânicos que propõem
incluir todas as espécies num único género, Malva.
A desvantagem desta transferência seria o facto de Malva L. se transformar num género morfologicamente muito
diversificado e de difícil identificação. Por outro lado as vantagens de tal
classificação prevalecem claramente uma vez que todas as espécies reunidas no
género Malva passariam a representar
um grupo monofilético único, contendo todas as espécies descendentes do seu ancestral comum.
Muitos outros fatores estão em causa para além do acima
exposto mas uma coisa é certa, os taxonomistas não vão ter vida fácil para
desenredar esta “meada”, que acresce a tantas e tantas outras situações
intrincadas. Resta-nos desejar e esperar que haja mais cientistas interessados
e meios que tornem possível a tomada de medidas acertadas.
Fotos: Areia Branca/Lourinhã
Fotos: Areia Branca/Lourinhã