Nome comum:
Verónica-da-pérsia
Veronica persica é uma pequena herbácea originária do sudoeste asiático, presumivelmente da região da antiga Pérsia, de onde derivou o seu
nome específico. Foi introduzida na Europa nos finais do seculo XVIII ou início
do seculo XIX, como planta de jardim. Através do vento ou por movimentação de
terras acabou por escapar para os campos onde se assilvestrou, encontrando-se
nesta altura confortavelmente naturalizada em muitas regiões de clima temperado de
todo o globo.
A primeira autoridade cientifica a descrever e classificar esta
espécie foi o botânico e explorador francês Jean Louis Marie Poiret (1755-1834). A publicação foi feita em 1808 na Encyclopédie
Methodique, Botanique, suplemento, pagina 542 e da qual constam os detalhes
morfológicos da espécie, assim como a seguinte informação:
“Esta
planta cresce na Pérsia. É cultivada no Jardin des Plantes de Paris.”
Book contributed by Missouri Botanical Garden - Peter H. Raven Library |
Para consultar este
livro do qual consta a primeira publicação de Veronica persica (página 542), clique AQUI.
Mapa da distribuição de Veronica persica em Portugal continental. Esta espécie também está presente nos Arquipélagos dos Açores e da Madeira Fonte: Jardim Botanico da UTAD |
Veronica persica é uma planta infestante, embora frágil e não muito
agressiva. Cresce em campos de cultivo ou incultos, beira dos caminhos,
jardins, áreas arrelvadas e todo o tipo de áreas perturbadas. É uma planta ruderal, característica de zonas antropizadas cujos solos apresentam concentrações
elevadas de nitratos em consequência dos excessos de adubação.
Veronica persica é uma erva
anual, herbácea que gera vários caules, por vezes bastante ramificados desde a base, formando um espesso emaranhado nas plantas mais desenvolvidas.
Os
caules podem ir dos 10 aos 40 cm de comprimento e são prostrados embora se
tornem eretos na parte terminal, onde surgem as flores.
Ocasionalmente podem
enraizar nos nós que estejam em contacto com o solo.
Os caules estão cobertos de
pelos tectores simples e compridos os quais não produzem nenhum
tipo de secreção mas que neste caso se supõe que auxiliem na diminuição da
incidência luminosa, minimizando a transpiração e na defesa contra insetos
fitófagos.
Pelos do mesmo tipo apresentam-se dispersos em ambas as páginas das
folhas. Estas tem pecíolos curtos e são inteiras, com as margens
grosseiramente dentadas. O limbo é arredondado
ou oval, o ápice é obtuso e a base é simples, em forma de coração.
As folhas da parte inferior inserem-se nos caules de forma oposta e
as da extremidade superior são alternas.
As flores surgem solitárias na parte superior dos caules, nascendo
na axila das folhas e apresentando pedicelos bastante mais compridos que as
folhas axilantes correspondentes, sendo curvados na parte terminal.
A corola, com apenas 6 a 12 mm de diâmetro, é formada por 4 pétalas
dispostas em forma de taça, unidas na base e com a extremidade arredondada.
As pétalas são de cor azul claro, com o centro branco e apresentam
estrias mais escuras as quais geralmente tem a finalidade de guiar os insetos
polinizadores para o centro, onde estão posicionados as bolsas de néctar e os
órgãos reprodutores.
Uma das pétalas é mais estreita que as restantes e também apresenta
uma tonalidade mais clara.
O cálice é formado por 2 pares de sépalas divergentes, de cor
verde, ovado-lanceolados, soldadas na base e mais curtas que a corola e também
providas de pelos nas margens e no veio central.
As flores são hermafroditas ou melhor dizendo, são perfeitas, pois
possuem órgãos reprodutores masculinos e femininos funcionais. Os dois únicos estames
apresentam anteras gordas e vistosas; o ovário, com dois carpelos unidos, tem
um único estilo, o qual é bastante longo e persistente na frutificação, bem
visível pois ultrapassa as paredes do fruto. A polinização é feita por insetos,
no entanto, como acontece com as outras espécies ruderais, Veronica persica também
recorre à autopolinização como medida preventiva, em virtude de ter ciclos de
vida rápidos e tamanho diminuto. Além disso as flores são sensíveis à
intensidade da luz, fechando durante a noite e em dias nublados, o que diminui
ainda mais o tempo de exposição aos insetos.
Em condições favoráveis Veronica persica floresce durante a maior
parte do ano; de forma mais ou menos exuberante, dependendo do clima e das
condições atmosféricas locais, podem sempre encontrar-se algumas plantas desta espécie. A floração é mais intensa quando a primavera se faz anunciar mas
podemos dizer que é uma daquelas ervas persistentes que só interrompem a
floração com temperaturas muito baixas retomando a sua atividade logo que o
inverno se torna mais suave. Contudo, tendem a secar no verão quando a
intensidade do sol e a escassez de água assim o determinam.
Cada flor dá origem a um fruto seco coberto de pelos glandulares e que
deixa sair as sementes pela parte superior; é composto por dois carpelos cujas
paredes estão unidas, formando uma capsula achatada, larga e baixa, com dois lóculos, contendo 5 a 20 sementes de cor amarelada, rugosas e que medem cerca de 1 a
2 milimetros.
Veronica persica é
semelhante a muitas espécies do mesmo género pelo que pode facilmente ser
confundida com elas. Uma das formas de identificar esta espécie reside no seu
fruto característico o qual, embora tenha a habitual forma de coração, crescendo
aninhado entre as sépalas do cálice, se diferencia das outras espécies por ter os
dois lóculos e as sépalas marcadamente divergentes.
A média de sementes geradas
por cada planta de Veronica persica é de 6500 as quais caem no chão perto da
planta-mãe e estão logo prontas para germinar, se as condições o permitirem. Uma minoria de sementes é levada pelas aves ou pelo vento, por vezes ainda
agarradas à planta original, já seca. As sementes permanecem viáveis durante 30
anos ou mais. Assim, havendo movimentação de terras que as soterrem por longo
tempo, nada está perdido para ela; basta-lhe aguardar pacientemente o dia em
que verá de novo a luz do sol para então rapidamente germinar.
Em fitoterapia
usam-se as partes aéreas desta planta a qual parece ter propriedades estimulantes, expetorantes, digestivas, sudoríferas e antirreumáticas.
Aliás, Veronica persica
pertence ao género Veronica cujas espécies são caracterizadas pela presença de importantes
metabólitos secundários
denominados glucoseideos
bis-sesquiterpenos e iridoides.
Muitos destes produtos naturais são de grande interesse devido à
sua atividade farmacológica, nomeadamente os iridoides. Estes representam um largo grupo de monoterpenos que
ocorrem na natureza de forma amplamente disseminada principalmente em certas
famílias, nomeadamente nas Plantaginaceae, família em que se inclui o género
Veronica. Estudos recentes e extensivos revelaram que os iridoides demonstram uma
vasta gama de bioactividades com efeitos neuroprotetores, antinflamatorios,
hepaprotetores, cardioprotetores e imunomoduladores. Tambem foram relatadas
propriedades citostáticas, antioxidantes, antimicrobianas, hipoglicemiantes,
hipolipemiantes, coleréticas, antiespasmódicas e purgativas, destacando-se as
bioactividades antibacterianas, anticoagulantes, antifúngicas e antiprotozoárias.
Os glicosídeos iridóides mais espalhados no género Veronica são aucubina e catalpol.
Estes metabólitos secundários e outros, são também extremamente importantes
na quimiotaxonomia, ajudando os cientistas na sua complicada tarefa de fazer a
revisão da classificação científica das plantas. Complementando os dados
morfológicos disponíveis, contribuem para melhor inventariar e descrever a
biodiversidade e para melhor compreender as relações filogenéticas entre os
organismos.
Tradicionalmente o
género Veronica compreendia entre 250 a 300 espécies distribuídas fundamentalmente pelas zonas temperadas do hemisfério norte, principalmente
Europa e Ásia. Contudo, estudos recentes apoiados em dados moleculares determinaram alterações que ampliaram
o número de espécies para 450, passando a incluir também algumas espécies do
hemisfério sul.
Segundo o portal
Flora-on estão presentes em Portugal 20 espécies deste género. Confira AQUI.
Na generalidade, as
espécies do género Veronica são nativas de uma grande diversidade de habitats:
prados húmidos ou secos, pastos, encostas rochosas e regiões arborizadas, desde
o nível do mar até às regiões de clima alpino nos Himalaias, a 5000 m de altitude. Incluem espécies anuais
ou perenes, muitas delas apropriadas para jardins, podendo ser usadas numa multiplicidade de
situações, dependendo do gosto e da imaginação. Existem espécies rasteiras que
são perfeitas para cobertura de solo e jardins de rocha, como é o caso da V. persica
e espécies mais altas e sofisticadas que são adequadas para sebes ou como exemplares
isolados. As flores podem ser brancas, rosa ou azuis, com estames de vistosas
anteras. Muitos cultivam-nas não apenas pela sua beleza mas também porque
atraiem muitos insetos, sendo alimento para as larvas de vários tipos de
borboletas.
Seguem-se dois
exemplos, entre as muitas espécies do género Veronica que são cultivadas,
manipuladas e hibridizadas, sendo posteriormente comercializadas com fins
ornamentais:
Veronica spicata 'Rosea' Autor: Ghislain118 (AD) Fonte Wikimedia Commons |
"Veronica austriaca". Licensed under CC BY-SA 3.0 via Wikimedia Commons |
Veronica é um género
muito grande e complexo estando a ser sujeito a diferentes estudos sistemáticos
e filogenéticos com consequentes alterações na taxonomia que nem sempre são consensuais. É o caso de algumas espécies do género Hebe que foram mudadas para
o género Veronica, situação que ainda não foi aceite por uma parte da
comunidade cientifica.
O género Veronica, inicialmente incluído na
família Scrophulariaceae foi recentemente transferido para a família
Plantaginaceae (APG 2003) , família em que também se inserem as espécies do
género Plantago.