As tamargueiras
Tamarix africana |
Este género compreende um pouco mais de 50 espécies, autóctones
da bacia do mediterrâneo, incluindo Portugal, Espanha, Itália, sul de França,
norte de África (de Marrocos ao Mar Morto), nordeste da China e Índia. No nosso
país estas espécies são, na generalidade, denominadas tamargueiras.
São
árvores ou arbustos de médio porte e muito ornamentais — alguns de folha
perene, outros parcialmente de folha caduca — cujo principal atrativo reside
nas longas inflorescências que agrupam centenas de pequenas flores brancas ou
rosadas. São espécies de crescimento lento e vida relativamente longa, capazes
de viver em habitats de condições ambientais muito diversas, resistindo a
múltiplos fatores de stress, tais como altas temperaturas, sal e escassez de
água.
Ocorrem quer em climas temperados e subtropicais, quer em regiões áridas
e semidesérticas, seja nas areias do litoral marítimo ou no interior.
Encontramo-las em depressões húmidas, nas margens de lagos ou lagoas ou perto
de cursos de água permanentes, sazonais ou intermitentes. No entanto, elas não
vivem mergulhadas na água. Apesar de sujeitas a inundações ocasionais, elas procuram substratos bem drenados; em locais áridos é condição essencial que exista
alguma humidade edáfica, quer superficial ou profunda.
Tamarix africana |
Tamarix africana |
Tamargal de Tamarix africana em Areia Branca/Lourinhã |
Tamarix africana |
As tamargueiras são também resistentes ao fogo, conseguindo
rebrotar a partir do sistema radicular, após a destruição das partes áreas.
Em regiões com poucos recursos florestais a sua madeira densa
tem sido utilizada como combustível, nomeadamente no norte de África.
Testemunhos arqueológicos da Antiguidade atestam a utilização da madeira de tamargueira na Síria e Palestina.
Tamarix parviflora - Fonte: Oregon State University |
Algumas espécies de tamargueiras possuem propriedades
medicinais, nomeadamente diuréticas, sudoríferas e adstringentes. Em tempos remotos
a casca e a raiz eram colocados em água fervente e utilizadas para tratar
constipações, anginas e gengivites. Também as galhas, excrescências esponjosas que
crescem nos ramos e que resultam da colonização de certos insetos ou fungos, eram
utilizadas para tratar, tópicamente, problemas de pele.
Tamarix africana |
Tamarix africana |
Tamarix africana var. fluminensis |
Tamarix africana var. fluminensis |
Os frutos são pequenas cápsulas triangulares cujas lados se
abrem na maturação, soltando numerosas sementes, cada uma com um tufo de pelos
na ponta.
Segundo o portal da Sociedade Portuguesa de Botanica Flora-on, são 4 as espécies do género Tamarix autóctones de Portugal
continental: Tamarix canariensis, Tamarix gallica, Tamarix mascatensis e
Tamarix africana, sendo esta ultima a espécie mais comum em Portugal.
Outras espécies, como por exemplo Tamarix parviflora, foram
introduzidas com objetivos ornamentais, podendo ser observadas
essencialmente em jardins, públicos ou privados. As espécies Tamarix conseguem naturalizar-se com
facilidade.
Pelo que me foi dado constatar as espécies ibéricas do género Tamarix têm sido algo negligenciadas pelos botânicos, havendo muito poucos estudos sobre
o assunto (com exceção da Flora Iberica). A situação é quase dramática no caso particular
das espécies portuguesas, não havendo informações ou registos para além de
Tamarix africana, a espécie mais comum.
Este género é muito complexo devido à proximidade entre as espécies e a características morfologicamente muito semelhantes entre elas, o que torna complicada a sua identificação de forma rápida e segura. Acresce ainda o facto de haver várias espécies introduzidas com fins ornamentais do que resultam posteriores hibridações, o que complica ainda mais a situação.
A diferenciação entre as espécies está, de uma forma ou de outra, relacionada com as inflorescências e certas características específicas das peças florais. A largura das inflorescências, o tamanho e o número de pétalas, o comprimento das brácteas em relação ao das sépalas, a configuração do disco estaminal ou nectarífero e a inserção dos estames são fatores essenciais para podermos distinguir com fiabilidade as diferentes espécies. Ora, vejamos:
Este género é muito complexo devido à proximidade entre as espécies e a características morfologicamente muito semelhantes entre elas, o que torna complicada a sua identificação de forma rápida e segura. Acresce ainda o facto de haver várias espécies introduzidas com fins ornamentais do que resultam posteriores hibridações, o que complica ainda mais a situação.
A diferenciação entre as espécies está, de uma forma ou de outra, relacionada com as inflorescências e certas características específicas das peças florais. A largura das inflorescências, o tamanho e o número de pétalas, o comprimento das brácteas em relação ao das sépalas, a configuração do disco estaminal ou nectarífero e a inserção dos estames são fatores essenciais para podermos distinguir com fiabilidade as diferentes espécies. Ora, vejamos:
Inflorescências, pétalas e brácteas:
- Em certas espécies, como no caso da Tamarix africana, as inflorescências
nascem nos ramos lenhosos dos anos anteriores, os quais geralmente têm um
diâmetro igual ou superior a 8 mm; noutras espécies, as inflorescências nascem nos
ramos jovens do ano, os quais são tenros e mais estreitos, com diâmetro igual
ou inferior a 5 mm, como parece ser o caso de T.gallica, T.canariensis e T.
mascatensis.
- Embora as espécies autóctones de Portugal todas tenham 5 pétalas,
o género Tamarix engloba também espécies com 4 pétalas, como por exemplo a
espécie introduzida T.parviflora.
- Também certas espécies têm flores maiores pelo que apresentam
inflorescências mais largas (entre 5 a 8 mm de largura), como é o caso de T.
africana, a espécie mais comum em Portugal.
- T.canariensis, T.gallica e T. mascatensis são espécies de flores
mais pequenas e em consequência, apresentam inflorescências mais estreitas, com
menos de 5 mm.
- A bráctea que acompanha as flores também é taxonomicamente importante,
não só quanto à forma mas também quanto ao tamanho, podendo exceder ou não o
comprimento das sépalas do cálice.
Inserção dos estames no disco nectarífero
Esta característica é fundamental para a correta e rigorosa
identificação das espécies Tamarix.
Cada uma das pequenas flores está provida de um disco
nectarífero que se posiciona por baixo do ovário, formando uma excrescência
carnosa e glandular, de forma anular e dividida em 4 ou cinco lóbulos, nos
quais estão inseridos os estames. Esta inserção processa-se de formas
diferentes pelo que se distinguem 3 tipos essenciais de discos:
(os híbridos geralmente
apresentam formas intermédias)
- Holólofo: os estames inserem-se por baixo do disco ao qual
podem estar soldados. Encontra-se por exemplo em T. ramosíssima (espécie
ornamental)
- Parálofo: o disco divide-se em 4 ou 5 lóbulos cujo ápice é truncado.
Os estames nascem no centro do ápice de cada lóbulo, estando as duas estruturas
bem diferenciadas. Presente em T.
mascatensis.
- Sínlofo: o disco esta profundamente dividido em 4 ou 5 lóbulos
de cujo ápice atenuado saem os estames. Neste caso não há uma clara
diferenciação entre estames e disco, parecendo que os estames são a continuação
dos lóbulos. Presente em T. canariensis, T. gallica, T. parviflora e T.africana.
Esquema de diversos tipos de discos parálofos. Fonte: Flora Iberica |
Seguem-se algumas informações sobre as espécies portuguesas:
Tamarix mascatensis Bunge
Esta espécie distribui-se pela Península Ibérica,
Mediterrâneo ocidental e Médio Oriente. É inexistente nos arquipélagos da
Madeira e Açores mas em Portugal continental - segundo a Flora Ibérica – pode
encontrar-se em Trás-os-Montes, Alto e
Baixo Alentejo.
Forma uma árvore que pode chegar aos 3 ou 4 metros de altura. Os
troncos e ramos são cinzentos ou avermelhados. As inflorescências são
estreitas, com 10 a 30 cm de comprimento e 3 a 5 mm de diâmetro e nascem em
ramos verdes do ano (mais raramente em ramos lenhosos dos anos anteriores). As
brácteas, iguais ou mais curtas que o cálice, são triangulares ou lanceoladas,
com a extremidade aguda e ligeiramente curva. As sépalas são denticuladas.
As flores têm 5 pétalas e 5 estames. O disco nectarífero é
parálofo.
Tamarix canariensis Willd.
Esta espécie distribui-se em redor do
Mediterrâneo ocidental, Península Ibérica e ilhas Canárias. Autóctone de
Portugal continental, pode ser encontrada em Trás-os-Montes, Estremadura, Beira
Litoral, Baixo Alentejo e Algarve (segundo a Flora Ibérica). Não está presente
nem na Madeira nem nos Açores. De todas as espécies ibéricas esta é a mais
resistente à salinidade.
Tamarix canariensis Fonte Wikipedia Foto de Xemenendura - Trabajo propio. |
É uma árvore de pequeno porte. Geralmente, a
margem das brácteas e a superfície dos eixos das inflorescências estão providas
de papilas. Estas são saliências da epiderme cuja função ainda é controversa,
mas que neste caso se acredita possam ser eficazes contra o aquecimento
excessivo, refletindo a luz solar quando é demasiado intensa.
Os
troncos e ramos são acinzentados ou avermelhados. As folhas apresentam
abundantes glândulas secretoras de sal. As inflorescências nascem nos jovens
ramos do ano e são estreitas, com cerca de 3 ou 4 mm de diâmetro.
As brácteas igualam ou ultrapassam o
comprimento das sépalas, as quais são muito denticuladas. As flores têm 5
pétalas e 5 estames. O disco nectarífero é sinlofo.
Tamarix gallica L.
Esta é uma espécie europeia que se distribui pelo sul do
continente, nomeadamente Itália (incluindo a Sicília), França (incluindo a Córsega),
Portugal e Espanha (incluindo as Baleares). No que diz respeito ao nosso país é
autóctone de Portugal continental onde se pode encontrar- ainda segundo a Flora
Iberica - na Beira Litoral e Estremadura; quanto às ilhas, foi introduzida na
Madeira onde se naturalizou, mas não existe nos Açores.
Tamarix gallica Fonte Wikipedia Foto de TeunSpaans |
Tamarix gallica forma uma árvore que pode ir
dos 2 aos 10 metros de altura e cujos ramos apresentam a habitual coloração
acinzentada ou vermelha. Esta é mais uma espécie de inflorescências estreitas,
com 3 a 5 mm de diâmetro, as quais se formam principalmente nos jovens ramos do
ano. As brácteas, de forma triangular, são menores que o cálice (muito mais
curtas que nas outras espécies). As flores têm 5 pétalas e 5 estames e o disco
é sinlofo.
Tamarix africana Poiret
var. fluminensis e var. africana
Esta espécie possui duas variedades que se distinguem pelo
comprimento das brácteas: a fluminensis tem brácteas longas que ultrapassam
amplamente o cálice, e a africana tem brácteas mais curtas.
Esta espécie forma uma pequena árvore, geralmente de 1 a 5
m de altura, glabra, exceto o eixo das inflorescências e as margens das brácteas
florais que podem apresentar papilas.
Flores em botão da variedade fluminensis, em que se notam as brácteas interflorais mais longas que o cálice. |
Cada semente tem um tufo de pelos na ponta. Quando os frutos abrem e as sementes ainda não foram dispersas pelo vento, formam grandes flocos que parecem de algodão. |
Esta espécie é autóctone de Portugal continental e está naturalizada
nos Açores onde foi introduzida. Não se regista na Madeira.
Mapa de distribuição em Portugal continental. Fonte: Flora Digital de Portugal, Jardim Botânico da UTAD |
Tamarix parviflora DC.
Esta espécie é autóctone do sudeste europeu (Albânia, Croácia,
Grécia, Macedónia e Eslovénia) e também do oeste asiático (Israel e Turquia).
Foi introduzida em Portugal continental onde se naturalizou e é cultivada com
fins ornamentais. Não ocorre nos arquipélagos de Madeira e Açores.
Tamarix parviflora Fonte Wikipedia Foto de Javier Martin |
Mapa de distribuição em Portugal Fonte: Flora Digital, Jardim Botânico da UTAD |
As brácteas são mais curtas que o cálice. Tanto as brácteas como
as sépalas apresentam ápices de cor purpura.
Os estames são 4 e estão inseridos num disco nectarífero sínlofo.
O maná:
A identificação
das plantas mencionadas na Bíblia tem sido uma árdua tarefa que há séculos tem
ocupado muitos cientistas. A origem do maná, substância enviada por Deus e que
alimentou as tribos de Israel durante os 40 anos de travessia do deserto, é um
dos mistérios mais intrigantes.
Originalmente
considerado de origem vegetal, alguns terão chegado à conclusão que poderá ser
uma substância segregada pelos insetos Coccus manniparus que sugam a seiva rica
em açucares da árvore Tamarix mannífera ou Tamarix gallica. Esta substância é um
líquido doce que solidifica com os ventos secos e frios da noite e derrete com
o sol da manhã.
Outros investigadores garantem que o maná é uma secreção das larvas e fêmeas imaturas de cochonilhas Trabutina mannipara e Naiacoccus sepentinus, libertada após a digestão da seiva destas árvores, eliminando assim o excesso de açucares. Esta secreção é ainda hoje em dia recolhida pelos habitantes do Sinai e usada como substituto do açucar.
Outros investigadores garantem que o maná é uma secreção das larvas e fêmeas imaturas de cochonilhas Trabutina mannipara e Naiacoccus sepentinus, libertada após a digestão da seiva destas árvores, eliminando assim o excesso de açucares. Esta secreção é ainda hoje em dia recolhida pelos habitantes do Sinai e usada como substituto do açucar.
Através
dos séculos, muitas e variadas têm sido as explicações e teorias sugeridas pelos
investigadores, entre elas, o exsudado da árvore Fraxinus ornus ou do arbusto
Hedyssarum alhagi que segrega uma substância açucarada sob a forma de grânulos de
cor amarelada ou os líquenes Lecanora esculenta e Sphaerothalhia esculenta que
crescem sobre rochas calcarias e que, arrastadas pelos ventos fortes, podem
cair como chuva. Até a alga Nostoc commune tem sido aventada como hipótese.
Existem outras teorias mas parece estarmos longe da solução devido a imponderáveis da natureza, a começar pela impossibilidade de alimentar tantos milhares de pessoas, durante tanto tempo, simplesmente à base de açucares. E assim o mistério está para durar.
Existem outras teorias mas parece estarmos longe da solução devido a imponderáveis da natureza, a começar pela impossibilidade de alimentar tantos milhares de pessoas, durante tanto tempo, simplesmente à base de açucares. E assim o mistério está para durar.
A palavra maná poderá ter origem no vocábulo egípcio “mennu” que
significa alimento. Contudo, alguns estudiosos contrapõem que vem do aramaico ou
do hebraico e expressa a surpresa do povo judeu quando lhes foi enviado o
alimento, até então desconhecido: “MAN HÛ” que quer dizer: O que é isto?
O maná é mencionado no Livro do Êxodo 16, versículos 1 a 36:
"E quando o orvalho se levantou, eis que sobre a
face do deserto estava uma coisa miúda, redonda, miúda como a geada sobre a
terra.
E, vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? Porque não sabiam o que era. Disse-lhes pois Moisés: Este é o pão que o Senhor vos deu para comer". Exodus 14,15.
E, vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? Porque não sabiam o que era. Disse-lhes pois Moisés: Este é o pão que o Senhor vos deu para comer". Exodus 14,15.
É também mencionado no Livro dos Números 11, versiculos 1 a 34:
“O maná era mais ou menos do tamanho de uma semente
de coentro, e parecia-se com as gotas de resina que escorrem pelo tronco de
uma árvore. O povo recolhia-o do chão, moía-o em moinhos para o transformar
em farinha, ou pisava-o num almofariz, cozia-o e fazia bolos; sabia como
qualquer bolo frito em azeite. O maná caía com o orvalho, durante a noite”.
Numeri 7/9