Nomes comuns:
Língua-de-cão; orelha-de-lebre;
cinoglossa-de-flor-listada
A bela Cynoglossum creticum é uma planta herbácea bienal.
Quer isto dizer, que o seu ciclo biológico leva dois anos a decorrer, crescendo
vegetativamente no primeiro ano e produzindo flores e frutos no segundo. Após a
germinação das sementes, o que geralmente acontece durante o verão ou outono,
formam-se as primeiras folhas, as quais se dispõem em roseta ao nível do solo.
É assim que a planta permanece durante a estação desfavorável, enquanto se
desenvolve o seu sistema radicular. No final do inverno surgem os caules e as
folhas caulinares que permitirão a formação de flores e frutos,
durante o período que vai de março a maio.
Uma vez maduros os frutos, a planta
seca; mas não está ainda terminada a sua missão. Ela mantém-se ereta e a
segurar os frutos maduros durante mais algum tempo, dando-lhes a oportunidade
de poderem ser levados para longe, o que acontece ao agarrarem-se ao pelo de
alguma cabra, ovelha ou cão que por ela roce ou até à roupa das pessoas.
Cynoglossum creticum - Ilustração Hoffmannsegg, J.C.von, Flore portugaise, vol.1: t.24 (1808-1840) Fonte |
Os caules de Cynoglossum creticum podem ir de 20 a 90 cm de altura. Estes são
eretos, robustos e angulosos, podendo ser solitários ou múltiplos, por vezes
ramificando-se na parte superior. A sua cor é esbranquiçada devido aos pelos
densos e macios que os cobrem.
As folhas, de um tom verde-claro, são inteiras,
oblongo-lanceoladas, com nervuras laterais pouco marcadas e estão cobertas de
pelos em ambas as páginas, que aderem à nossa roupa e ao pelo dos animais
como se fossem "velcro".
Tal acontece devido à presença de sílica e carbonato de cálcio na composição dos pelos. As folhas basais estão munidas de longos pecíolos ao contrário das caulinares cujos pecíolos se tornam cada vez mais curtos à medida que se posicionam na parte superior do caule. Desta forma, as folhas superiores são sésseis, por vezes quase abraçando o caule. A maioria das folhas são eretas, apontando para cima, exceto as basais que geralmente, são arqueadas.
Tal acontece devido à presença de sílica e carbonato de cálcio na composição dos pelos. As folhas basais estão munidas de longos pecíolos ao contrário das caulinares cujos pecíolos se tornam cada vez mais curtos à medida que se posicionam na parte superior do caule. Desta forma, as folhas superiores são sésseis, por vezes quase abraçando o caule. A maioria das folhas são eretas, apontando para cima, exceto as basais que geralmente, são arqueadas.
As folhas contêm alcalóides que são tóxicos para o gado.
De forma geral, estes animais não a ingerem se a encontrarem no campo, o
problema existe quando vão misturadas com o pasto.
Ao contrário dos caules e das folhas, as flores são
glabras.
Elas dispõem-se em inflorescências mais ou menos longas, inserindo-se alternadamente para um lado e outro dos respetivos eixos, aos quais se ligam por pedúnculos que são eretos para baixo quando jovens, mas que progressivamente se curvam e alongam para cima.
Elas dispõem-se em inflorescências mais ou menos longas, inserindo-se alternadamente para um lado e outro dos respetivos eixos, aos quais se ligam por pedúnculos que são eretos para baixo quando jovens, mas que progressivamente se curvam e alongam para cima.
O cálice consiste em 5 sépalas peludas que estão divididas
quase até à base, formando lóbulos alongados e obtusos.
A corola é formada por
5 pétalas arredondadas, mais compridas que os lóbulos das sépalas e estão unidas
na base, formando um tubo.
Rodeando a entrada central deste tubo, denominada garganta, existem 5 pequenas estruturas de cor púrpura e semelhantes a escamas, ciliadas nas margens e que parecem formar uma segunda corola no interior da verdadeira; trata-se, provavelmente, de apêndices destinados a proteger o acesso aos órgãos reprodutores.
As pétalas são finamente decoradas com uma rede de linhas e nervuras entrecruzadas, em tom violeta ou azul-escuro, o que as torna muito atrativas.
Rodeando a entrada central deste tubo, denominada garganta, existem 5 pequenas estruturas de cor púrpura e semelhantes a escamas, ciliadas nas margens e que parecem formar uma segunda corola no interior da verdadeira; trata-se, provavelmente, de apêndices destinados a proteger o acesso aos órgãos reprodutores.
As pétalas são finamente decoradas com uma rede de linhas e nervuras entrecruzadas, em tom violeta ou azul-escuro, o que as torna muito atrativas.
Inicialmente, quando
ainda estão em botão ou acabadas de abrir, as flores apresentam um tom rosado
mas, ao envelhecerem mudam para cor azul. Tal deve-se à presença de pigmentos
especiais cuja função é a proteção das plantas, suas flores e seus frutos contra os excessos de radiação da luz ultravioleta. Estes interessantes pigmentos, designados por antocianinas e apenas presentes em algumas espécies são a razão pela qual podemos ver, ao mesmo tempo, flores rosa e azuis num mesmo ramo de Cynoglossum creticum. Para os insetos
polinizadores, sempre tão atarefados, esta situação pode representar uma poupança de tempo,
permitindo-lhes perceber quais as flores que ainda têm provisão de pólen e néctar e quais a que não valem a pena o incomodo.
Os frutos são do tipo
esquizocarpo pelo que ao amadurecerem se separam em grupos de 4 frutos secos e indeiscentes, semelhantes a nozes, os quais são bem visíveis dentro de cada cálice. Cada uma destas nozes contém uma semente.
Inicialmente verdes, vão-se tornando castanho-escuras com a maturação.
Inicialmente verdes, vão-se tornando castanho-escuras com a maturação.
Desenho de um gloquídio. Fonte: Wikipedia. Desenho de RoRo, a partir de Plant Systematics(Simpson 2005) |
A superfície destes frutos está densamente coberta por cerdas cuja
extremidade termina num conjunto de ganchos, conhecidos como gloquídios e que são os responsáveis pela aderência, não só ao pelo dos animais mas também à nossa roupa e meias quando damos os nossos passeios pelo campo.
Esta é uma forma de dispersão bastante inteligente, permitindo a formação de novas colónias a quilómetros de distância da planta-mãe.
Esta é uma forma de dispersão bastante inteligente, permitindo a formação de novas colónias a quilómetros de distância da planta-mãe.
As sementes estão prontas a germinar logo que amadurecem desde que encontrem um lugar confortavelmente húmido para
o fazer. A sua pressa tem toda a razão de ser pois embora cada
planta possa produzir centenas de sementes a sua viabilidade no solo não vai
alem de 2 ou 3 anos. Por esta razão, a reserva de sementes de Cynoglossum
creticum existente no solo é bastante exígua.
Cynoglossum creticum é uma espécie
nativa da bacia do Mediterrâneo, incluindo Portugal continental (veja
distribuição AQUI), Madeira e Porto Santo. Também se encontra nas ilhas dos Açores
embora como espécie introduzida e presentemente naturalizada.
Sendo uma espécie ruderal, cresce em
terrenos ricos em nutrientes e perturbados pelas atividades humanas como dunas,
pastagens, vinhedos, pomares, terrenos cultivados ou de pousio, sítios
descampados e beira dos caminhos.
Cynoglossum creticum foi introduzida em diversos países do Novo Mundo onde, sem surpresa, se tornou invasora. Como tem acontecido com muitas outras espécies, ao ser levada para habitats que lhe eram estranhos Cynoglossum creticum perdeu o seu equilíbrio natural acabando por perturbar também o equilíbrio dos habitats locais. Livre dos seus inimigos naturais passou a reproduzir-se de forma descontrolada e demasiadamente vigorosa o que tem prejudicado as espécies nativas de países como os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, a Argentina ou o Chile onde se registam infestações em pastagens que causam grandes problemas aos agricultores e criadores de gado.
Em tempos idos, algumas partes desta planta (folhas, flores e raiz) eram utilizados em medicina tradicional, quer externamente como cicatrizante, quer internamente como antidiarreica, adstringente, hemostática e expetorante. No entanto, a sua utilização caiu em desuso pois os alcalóides pirrolicidinicos que contêm, são tóxicos. Dependendo da quantidade ingerida, são paralisantes e, a longo prazo, cancerígenos.
Cynoglossum creticum pertence ao género Cynoglossum o qual foi estabelecido por Tournefort (1694-1700) e validado por Lineu (1753). Este género é um dos mais complexos e problemáticos da família Boraginaceae, a qual tem sofrido muitas alterações à medida que vão sendo feitos exames fitogenéticos. Esta família inclui atualmente cerca de 2000 espécies divididas em 22 géneros.
Do género Cynoglossum ocorrem 3 espécies em Portugal (Veja as outras espécies AQUI.)
A autoridade cientifica que descreveu a espécie Cynoglossum
creticum foi Philip Miller em The Gardeners Dictionary:
eighth edition no. 3. 1768.
O nome Cynoglossum significa literalmente "língua de cão", numa clara referência à forma das folhas, sendo este termo uma forma latinizada do original grego (“Kynós”=cão e Glõsson =língua). Esta designação, da provável autoria de Sextius Niger, passou a ser conhecida a partir dos trabalhos de Dioscórides, médico e botânico grego e também de Plínio, naturalista romano, contemporâneos no século I. As obras de Plínio e Dioscórides apresentam algumas semelhanças apesar de todas as evidências históricas estabelecerem que eles não se conheciam. Pensa-se que essas semelhanças se devam ao facto de ambos terem usado como fonte os trabalhos de Sextius Niger.