Nomes comuns:
Beldroega;
baldroaga; baldroega
Dependendo do ponto
de vista, as beldroegas - de nome científico Portulaca oleracea - podem ser apreciadas
ou detestadas. É que, apesar de incomodas infestantes são também ervas absolutamente
extraordinárias, possuidoras de propriedades medicinais e nutritivas relevantes
e que prosperam praticamente em qualquer clima e tipo de solo.
Tal como acontece
com muitas plantas silvestres que, em tempos de escassez, já foram alimento
complementar das populações rurais - e hoje em dia, tantas vezes desprezadas -
as beldroegas têm uma longa história na alimentação humana e no tratamento de
diversas enfermidades. Têm sido usadas desde tempos remotos pelas suas
propriedades antibacterianas, antiescorbúticas, depurativas, diuréticas e
febrífugas, entre outras. Ressurgem na gastronomia contemporânea - ávida de
novas texturas e sabores - com o merecido rótulo de alimento muito saudável e
de sabor agradável.
Caules, folhas e sementes são utilizados como ingrediente
cru ou cozinhado, em saladas, sopas, pizzas e estufados ou conservadas sob a
forma de picles. Têm a vantagem de não ter sabor amargo, ao contrário de muitas
ervas silvestres tradicionalmente comestíveis e que vão sendo moda da “nouvelle
cuisine” por esse mundo fora.
As beldroegas caíram
em desuso na nossa cozinha tradicional, com algumas exceções, como é o caso do
Alentejo ou mais propriamente da região de Évora, onde as beldroegas são
confecionadas em ensopado com batatas, pedaços de queijo e ovos, colocados no
prato sobre uma bela fatia de pão caseiro.
Quando cruas as beldroegas têm uma textura firme e o sabor é leve mas com um ligeiro travo a limão com sal e pimenta.
Quando cruas as beldroegas têm uma textura firme e o sabor é leve mas com um ligeiro travo a limão com sal e pimenta.
Convém, no entanto,
saber que apesar de todas as qualidades não convém abusar desta planta na
alimentação, na mesma medida em que não é saudável abusar de nenhuma outra. As
beldroegas contêm ácido oxálico, uma substância natural que ocorre em variados
vegetais, nomeadamente espinafres, morango, uvas, tomate, cacau, chá preto, etc.
Quando ingerido em excesso, o ácido oxálico impede a absorção de alguns
minerais, como é o caso do cálcio. Aliás, pelo que me é dado verificar, todos
os vegetais têm algum elemento antinutricional, razão principal pela qual só
temos a ganhar se a nossa dieta for diversificada.
As beldroegas são
usadas em todos os continentes pois esta espantosa planta prospera em
praticamente todos os tipos de clima e solo. A origem desta planta, hoje em dia
presente a nível global, é, de facto, desconhecida. Porém, algumas fontes consideram-na
natural do sul da Europa, Norte de África, Índia, Malásia e Australásia,
tendo-se naturalizado, na era pré-colombiana, no continente americano. Existem
evidências que colocam esta espécie em sedimentos datados de 1430-89, em
Crawford Lake, Ontário/Canada, o que sugere a presença da planta no continente
americano antes da chegada dos europeus.
Em Portugal está presente praticamente em todo o território, quer no continente, quer nos arquipélagos de Açores e
Madeira.
No mercado de Évora
as beldroegas são vendidas por bom preço mas atrevo-me a dizer que poucos serão
aqueles que, possuindo um pedaço de terra e tendo hábitos regulares de
jardinagem ou horticultura, não se tenha já deparado com a Portulaca oleracea.
É uma planta rasteira e suculenta de caules avermelhados e pequenas folhas
gordas e verdes. A partir de pequeníssimas flores amarelas cada planta produz milhares
de sementes desde logo prontinhas a germinar e a produzir mais sementes. O
ciclo desta plantinha completa-se em poucas semanas, por isso, se não estiver
interessado em a usar na cozinha ou até como cobertura de solo, sugiro que
comece a arrancar logo que surjam as pequenas plântulas! As sementes mantém-se
viáveis durante cerca de 30 anos.
Na sua forma
espontânea Portulaca oleracea cresce preferencialmente nos solos remexidos de
hortas, jardins e viveiros; encontramo-la também em ambientes urbanos, medrando
corajosamente entre as rachas dos pavimentos e na generalidade dos locais
degradados por ação da natureza ou das atividades humanas. É, pois, uma planta
essencialmente ruderal, indicadora de solos ricos ridos em nitrogénio.
As flores de Portulaca oleracea atraem
moscas-das-flores, pequenas abelhas e besouros. Alguns insetos herbívoros
predadores usam as suas folhas para alimentar as suas larvas, umas
minando o seu interior, outras preferindo a parte exterior (Schizocerella pilicornis e Schizocerella
lineata).
Os frutos abrem transversalmente libertando numerosas sementes. |
Portulaca oleracea
inclui numerosas subespécies distintas as quais se diferenciam pela morfologia
das sementes (tamanho, ornamentação e textura). Varias destas subespécies
coexistem sem que haja polinização cruzada entre elas, pois são cleistógamas ou
seja, possuem um mecanismo de reprodução pelo qual as flores se autopolinizam e se
autofecundam antes de abrir, por vezes nem chegando a abrir.
Nesta imagem pode comparar-se o tamanho das sementes de diversas subespécies e respetiva ornamentação da superficie: 1a - Portulaca subspécie oleracea - diâmetro superior a 0,85 mm 1e - Portulaca subsp. nitida - diâmetro máximo inferior a 0,85 mm 1d - Portulaca subsp. granulatostellulata - diâmetro máximo inferior a 0,85 mm 1b - Portulaca subsp. stellata - diâmetro máximo superior a 0,85 mm 1c - Portulaca subsp. papillatostellulata - diâmetro superior a 0,85 mm Fonte: Flora Iberica |
O género Portulaca inclui plantas herbáceas, suculentas, anuais ou perenes. A maioria das espécies está concentrada em regiões semiáridas das regiões tropicais e subtropicais de África, Ásia e Américas, com alguns poucos representantes nas regiões temperadas da Europa e da Ásia.
Segundo algumas fontes o nome do género Portulaca deriva do latim “portula” que significa pequena porta e se refere ao fruto, o qual se abre através de uma espécie de tampa ou porta.
Portulaca umbraticola Foto de Forest & Kim Starr - Fonte Wikimedia commons |
Portulaca grandifloraFoto de Andrew Butko / Wikimedia commons |
Fotos de Portulaca oleracea: Serra do Calvo/Lourinhã
Precioso reportaje. Muchos besitos.
ResponderEliminarGracias Teresa, besitos para ti tambien.
EliminarGostei imenso, Excelente artigo :-)
EliminarFantástico artigo, gostei muito.
ResponderEliminarPrezada Fernanda,
ResponderEliminarÓtimas explicações! Estava tentando separar P. oleracea da P. umbraticola e graças ao teu texto consegui sanar minhas dúvidas. Obrigado
Parabéns pelo artigo!
ResponderEliminarConteúdo muito bom e de fácil entendimento!
Conte conosco para informações sobre grama www.agrogramas.com.br/grama-batatais