quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

É NATAL....


No meu jardim predominam as espécies autóctones. No entanto não dispenso uma ou outra espécie adaptada que pelas suas características me dão muito prazer. É o caso deste lindo Hibiscus que invariavelmente me presenteia com uma profusa floração que se estende do verão até à primavera seguinte. É este o meu presente para todos os que amavelmente acompanham este blog e me mimam com os seus comentários.
Desejo a todos muita alegria na época festiva que se aproxima e que o Futuro permita a realização dos sonhos que alimentam a nossa Esperança.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Solanum nigrum L.

Nomes comuns:

Erva-das-bugalhinhas; erva-do-bicho; erva-dos-bugalhos; erva-moira; erva-moira-da-baga-preta; erva-moira-mortal; erva-moira-negra; erva-moira-sem-pelos; erva-moura; erva-nociva; erva-noiva; erva-santa; fona-de-porca; solano; tomateiro-bravo; tomateiro-do-diabo

A um inverno frio e de escassas chuvas seguiu-se um verão quente e completamente seco. Como consequência, muitas plantas surpreendidas com uma tal estiagem, não tiveram como se desenvolver por completo; digamos que entraram em “modo de espera”, aguardando por condições mais favoráveis, previsivelmente na próxima primavera. Mas felizmente o outono chegou cedo, muito chuvoso, ansioso por colmatar as deficiências causadas pela ausência de água. Às chuvas regulares e intensas aliaram-se as suaves temperaturas que por norma se registam nesta região e se prolongam até bastante tarde na estação, criando-se assim condições para que algumas plantas, como por exemplo indivíduos da espécie Solanum  nigrum, ainda fossem a tempo de produzir flores, frutos e sementes antes da chegada dos frios de janeiro.
A Solanum nigrum pertence à família Solanaceae e ao género Solanum. Esta família botânica é um grupo bastante alargado com cerca de 2000 espécies organizadas em quase 100 géneros, sendo que mais de metade pertence ao género Solanum. Solanaceae agrupa espécies de grande importância económica, não só plantas ornamentais (as populares petúnias!!!) mas também várias espécies comestíveis e essenciais na alimentação humana nomeadamente as pimentas e os pimentões, a dispendiosa frutinha physalis, e ainda, (incluídas no género Solanum) as beringelas, o tomate, e a indispensável batata.
Também a planta do tabaco se inclui na família Solanaceae assim como varias espécies sobejamente conhecidas pelos seus componentes tóxicos ou alucinogénios como a Datura a Mandragora, e a Atropa belladonna, entre outras.
A maioria das espécies do género Solanum são originárias da América do Sul. No entanto, das cerca de 1500 espécies que fazem parte deste género, 15 espécies são nativas da flora europeia. A Solanum nigrum é nativa da Eurásia tendo sido introduzida noutras partes do globo, estendendo-se, hoje em dia, também pelo continente americano, Africa do Sul e Austrália. Tão bem se tem dado por terras alheias que é considerada uma das ervas infestantes mais cosmopolitas. Em Portugal pode encontrar-se praticamente em todo o território.
É uma infestante das culturas de verão preferindo os terrenos ricos em azoto, húmidos e algo sombreados. Facilmente aparece no nosso jardim ou quintal e também em depósitos de entulhos, campos incultos ou cultivados, pomares, beiras de caminhos ou terrenos baldios.
A Solanum nigrum é uma planta geralmente anual que raramente excede os 60 cm de altura. É herbácea, por vezes lenhosa na base e provida de alguns pelos glandulosos. No seu todo a Solanum nigrum é algo semelhante à rama da batateira, sua congénere, embora as flores sejam mais pequenas.
Os caules, ocos, decumbentes ou eretos, são suficientemente ramificados para formar um pequeno arbusto.
As folhas, dispostas alternadamente nos caules, são pecioladas, inteiras, ovadas e com margens ligeiramente recortadas ou dentadas. De notar que a forma, cor e tamanho das folhas podem variar de acordo com os fatores ambientais, tal como a composição do solo e as condições de humidade.
As inflorescências são formadas por 5 a 10 flores, frouxas, solitárias, com pedúnculos eretos mas pendentes que encurvam fortemente na frutificação; a corola tem 5 pétalas de forma ligeiramente ovada e de cor branca; o cálice campanulado é formado por 5 sépalas, persistentes na frutificação; os 5 estames, de filamentos curtos e unidos na parte inferior, são iguais e têm grandes anteras amarelas. As flores são hermafroditas ou melhor dizendo, estão providas de órgãos reprodutores femininos e masculinos.
Os frutos são bagas semelhantes a pequenos tomates, inicialmente de cor verde e que se tornam negros e lustrosos quando maduros; as numerosas pequenas sementes que se encontram no seu interior são elipsoides e achatadas.
Existem muitas plantas com características semelhantes que podem ser confundidas com a Solanum nigrum e só assim se justifica a variedade incrível de nomes populares e sinonímias associados a esta espécie. A fim de impôr “ordem na casa” foi criado o Solanum nigrum complex que inclui espécies Solanum distintas embora morfologicamente semelhantes ou seja, formas intermediárias de hibridização e cuja classificação causa controvérsia entre os taxonomistas.
Quase todas as espécies Solanum são toxicas e a Solanum nigrum não é exceção; na realidade tem fama de ser muito toxica devido às elevadas concentrações de alcaloides como a solanina, solamargina e solasodina os quais que são produzidos pela planta, supostamente como defesa contra os predadores (fungos e insetos). Estes alcaloides concentram-se especialmente nas partes verdes da planta a qual, segundo certas correntes de opinião, é muito nociva para humanos e gado, chegando a ser fatal quando ingerida. No entanto, a Solanum nigrum é cultivada como legume em varias regiões de Africa e da América do Norte onde as folhas jovens e rebentos são ingeridos em sopas e guisados, sempre bem cozidas, sendo incluídas também em pratos tradicionais na Etiópia, Gana, África do sul e Indonésia. Até na Europa, nomeadamente Creta, Grécia e Turquia as folhas jovens são usadas em saladas de legumes, depois de cozidas. Os frutos, consumidos maduros (a concentração dos alcaloides é muito maior nos frutos verdes), são muitas vezes utilizados para fazer doce e para decorar tartes e bolos.
Estudos recentes comprovam que a planta não é potencialmente venenosa, havendo graus variáveis de toxicidade dependendo das características do solo e do clima onde vive cada planta.
Em todo o caso, tendo em consideração que esta espécie pode ser confundida com outras, há que ter cuidado e consumi-la moderadamente e apenas quando houver reconhecimento absoluto. Recomenda-se especial cuidado em não a confundir com a Atropa belladonna, espécie da mesma família e que é uma das plantas mais tóxicas encontradas no hemisfério ocidental. 
  
A Solanum nigrum é utilizada em fitoterapia desde a Antiguidade reconhecendo-se-lhe propriedades como sudorífero, analgésico, sedativo e narcótico, entre outras.
FACTOS sobre outras espécies Solanum:
A batata - Solanum tuberosum
A planta da batata também produz componentes tóxicos que fazem parte da defesa natural da planta. Estes alcaloides encontram-se debaixo da pele do tubérculo mas sendo as batatas adequadamente armazenadas, a concentração dos mesmos mantem-se baixa, não afetando o ser humano. No entanto, por vezes encontram-se batatas com a pele esverdeada, situação indicadora do aumento da concentração dos alcaloides e nesse caso a ingestão do tubérculo pode provocar envenenamento.
O tomate – Solanum lycopersicum
Outra espécie do género Solanum, o tomate, hoje em dia largamente consumido no mundo inteiro, com benefícios indiscutíveis para a saúde humana, já foi alvo de preconceitos, tendo sido considerado venenoso. A verdade é que esta espécie também contém o alcaloide toxico, a solanina, que está presente nos tomates verdes. Não sendo verdadeiramente prejudicial ingerir o fruto ainda verde (a não ser para quem tenha predisposição para artrite, reumatismo ou gota ou outras contraindicações), é contudo mais saudável consumi-lo maduro.

 Fotos: Serra do Calvo / Lourinhã


sábado, 24 de novembro de 2012

Convolvulus arvensis L.

Nomes Comuns:
Corriola; Corriola-campestre; Corriola-mansa; Erva-garriola; Estende-braços; Engatateira; Garriola; Trepa-trepa; Verdeselha; Verdezelha; Verdisela; Verdiselha

Convolvulus arvensis é uma pequena perene da família Convolvulaceae e do género Convolvulus, o qual inclui muitas espécies consideradas daninhas e de grande poder invasivo. Apesar disso, algumas espécies deste género são cultivadas em jardins quer como trepadeiras quer como cobertura de solo, tirando partido do seu rápido crescimento e das cores vibrantes das suas grandes flores de aspeto delicado. Porém, tal não é o caso da Convolvulus arvensis que, embora de pequena envergadura e de aspeto delicado e inofensivo, é uma espécie altamente invasora.
Jardim de Rocha
Fonte: Jardins du Gué
Pessoalmente e apesar da sua comprovada má fama, considero que esta planta, ainda assim, pode ser utilizada com sucesso em certos tipos de jardins, sobretudo em jardins de rocha (dos quais sou fã), desde que haja o cuidado de a confinar ao espaço que lhe tenha sido destinado. Afinal é uma planta bem bonita e resistente e só poderá fazer mal se estiver no lugar errado, tal como acontece com tantas outras espécies.
Conforme o próprio nome indica, a Convolvulus arvensis é uma espécie essencialmente campestre (do latim arvense = que cresce em terra de cultivo); é nativa da Eurásia mas encontra-se disseminada por quase todo o mundo, tendo-se adaptado com sucesso a vários tipos de habitats, nomeadamente em zonas temperadas e nos trópicos.
Distribuição em Portugal
Fonte: Flora Digital de Portugal
Em Portugal é frequente em quase todo o território, constância essa que é confirmada pela quantidade de nomes vernáculos pela qual é conhecida no nosso país.
A Convolvulus arvensis floresce de abril a outubro, quer em campos incultos, beira de caminhos, pomares ou terrenos cultivados, manifestando natural preferência por terrenos repetidamente remexidos, onde melhor se propaga. È uma espécie indicadora de terrenos com riqueza de nutrientes de nível médio, não suportando solos muito fertilizados.
A Convolvulus arvensis produz uma cobertura de solo que pode ser muito densa, reproduzindo-se por sementes ou através do seu profundo e extensivo sistema radicular. Os seus rizomas, engrossados com reservas de carbohidratos e proteínas, podem atingir mais de 2 m de comprimento e as raízes mais de 7 m. Inicialmente, a raiz principal, que desponta do rizoma, enterra-se profundamente no solo; simultaneamente formam-se raízes laterais que são superficiais mas que por sua vez começam a crescer para baixo quando chegam perto dos 100 cm de comprimento; das raízes laterais podem surgir rebentos que darão origem a series sucessivas de novas plantas e respetivos sistemas radiculares.
Cada pedaço do extenso rizoma tem a possibilidade de criar raízes pelo que, numa tentativa de remover a planta de forma definitiva não basta arranca-la pois é praticamente impossível recolher todos os pedaços do sistema radicular, muito espalhado e profundamente enterrado. A própria maquinaria utilizada para lavrar os terrenos infestados ajuda a disseminar os pedaços de rizoma.
A Convolvulus arvensis não só priva as culturas de uma boa parte da água e nutrientes disponíveis, como ao crescer se enrola nas plantas cultivadas procurando suporte, envolvendo-as e muitas vezes, abafando-as por completo. Tendo em consideração a sua distribuição cosmopolita, rápido crescimento e abundancia de colonias, o impacto na economia de certos países é bastante desastroso, como é o caso dos Estados Unidos da América e do Canadá, pelo que a Convolvulus arvensis não só foi colocada no top 10 das piores plantas daninhas (Holm et al., 1977) como foi também considerada uma das plantas mais problemáticas para a agricultura. 
Curiosamente existe muita informação sobre os malefícios da Convolvulus arvensis na agricultura, principalmente nas plantações de cereais, mas pouco se sabe sobre o impacto desta espécie em pastagens e sobretudo em áreas naturais.

A Convolvulus arvensis é uma planta herbácea, glabra ou com indumento de pelos densos e fracos. Os caules, profusamente ramificados, são finos e longos, chegando a atingir 2 m ou mais, de comprimento; são volúveis (enrolando-se em hélice sobre um suporte) ou rastejantes, conforme a situação se lhe apresente.
As folhas, inteiras e de pecíolo alongado, são alternas embora cresçam em posições desiguais ao longo do caule; apresentam formato oblongo ou ovado-oblongo, umas vezes em forma de coração estilizado invertido, outras vezes em forma de seta.

De notar que a Convolvulus arvensis é uma espécie muito variável na morfologia e tamanho das folhas, assim como na cor da corola das flores e no maior ou menor desenvolvimento do indumento. Estas variações são, presumivelmente, resultado da influência de fatores ambientais, nomeadamente as condições de maior ou menor secura ou localizações  sujeitas a pisoteio.

As flores nascem solitárias ou em grupos de 2 ou 3, na axila das folhas, encimando pedúnculos angulosos e nos quais se podem ver um par de bracteolas lineares.
A corola, afunilada, é formada por 5 pétalas unidas de cor branca ou rosa-pálido, por vezes com uma faixas mais escuras entre as pétalas.
O cálice é composto por 5 sépalas densamente peludas, oblongas e separadas, de consistência coriácea e margens membranosas, sendo persistentes na frutificação.

Cada flor está provida de órgãos reprodutores femininos e masculinos funcionais. Os 5 estames, brancos e de tamanho desigual, estão ligados à base da corola e apresentam anteras também brancas e providas de papilas. O pistilo é composto por 2 estigmas lineares. É na base do tubo formado pela fusão das pétalas que se forma o néctar com que a Convolvulus arvensis premeia os numerosos polinizadores, sobretudo abelhas, vespas e borboletas que a visitam. A produção de néctar representa um esforço suplementar em termos de gasto de energia por parte da planta mas este incentivo aos insetos tem como objetivo leva-los a viajarem de flor em flor para conseguirem mais alimento, o que favorece a polinização cruzada. Sem o constante vai-e-vem dos insetos carregando o pólen de uma flor para a outra existiriam mais riscos de haver autopolinização, considerando que as flores se apresentam em grupos extensos.
Fruto e sementes
Fonte - Federal Noxious Weed of U.S.A.
Os frutos são cápsulas esféricas, glabras, de cor castanha e com sementes escuras e de superfície rugosa. Os frutos geralmente contêm de 1 a 4 sementes, cuja forma depende do número produzido no fruto; uma só semente é esférica mas ficam progressivamente mais estreitas conforme mais sementes são produzidas.

Após a maturação as sementes tornam-se impermeáveis e são muito persistentes podendo permanecer em dormência durante várias décadas (50 anos ou mais, se estiverem profundamente enterradas no solo). Geralmente as sementes caiem no solo perto da planta-mãe mas também podem ser arrastadas pela água ou serem comidas pelas aves que assim as transportam para outros locais; as sementes podem passar pelo processo digestivo das aves sem sofrerem grande prejuízo nas suas capacidades germinativas.


Enfim, podemos dizer que a Convolvulus arvensis é uma lutadora e será uma sobrevivente pois aparentemente calculou todas as opções e tomou todas as medidas possíveis no que toca ao sucesso da reprodução e sobrevivência da espécie. Espécie prevenida…

 Sinonimias:
Convolvulus arvensis L. subsp. arvensis
Convolvulus arvensis L. subsp. crispatus Franco


Fotos: Serra do Calvo / Lourinhã


domingo, 11 de novembro de 2012

Convolvulus althaeoides L.


Corriola-rosada
Convolvulus althaeoides L. - Familia Convolvulaceae
Uma das carateristicas das espécies da família Convolvulaceae são as suas flores, muitas vezes de cores vistosas e variadas, com corolas grandes em forma de trompeta ou funil, o que as torna facilmente identificáveis.
Ipomea purpurea  (Wikipedia) - Familia Convolvulaceae
São geralmente plantas herbáceas que, na generalidade, gozam de má fama, sendo consideradas plantas daninhas e invasoras, com tarefa difícil no que toca à sua erradicação. São consideradas daninhas apenas por se encontrarem no local errado, coitadas, pois as suas flores são de tão delicada beleza que não podem deixar de ser admiradas! Mas convém frisar que nem todas as espécies desta familia são consideradas inimigo a abater. Por exemplo, a espécie com maior destaque dentro da família Convolvulaceae e com importância económica é a Ipomea batatas, a nossa conhecida e deliciosa batata doce, consumida em quase todo o mundo, tanto por seres humanos como por animais.
Flor de Ipomea batatas = batata doce (Wikipedia) - Família Convolvulaceae
Algumas espécies da familia Convolvulaceae são ainda utilizadas como plantas ornamentais, sendo denominadas vulgarmente e de forma genérica,“Glória da manhã” pois as suas flores abrem de manhã para fecharem ao anoitecer.
Ipomea tricolor (Wikipedia) - Familia Convolvulaceae
Convolvulus é um dos 57 géneros em que se dividem as cerca de 1600 espécies da família botânica Convolvulaceae. O género Convolvulus no qual se inclui a Convolvulus althaeoides agrupa mais de 200 espécies, amplamente distribuídas por países de clima temperado e tropical e importantes na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas visto que são alimento exclusivo das larvas de várias espécies de borboletas.
A Convolvulus althaeoides é uma pequena herbácea de aspeto aveludado e de hábitos rastejantes ou trepadores que cresce a partir de rizomas ramificados.
Embora incluida no rol das plantas que se comportam agressivamente como daninhas invasoras devo dizer que nos terrenos agricolas que rodeiam as arribas do Caniçal, tive de me esforçar para encontrar uma escassa meia duzia de exemplares de Convolvulus althaeoides, solitários na sua maioria e de crescimento discreto. (O mesmo não se poderá dizer da sua congénere Convolvulus arvensis que se mostra bastante menos inibida, como veremos posteriormente).
Os caules da Convolvulus althaeoides, longos, delgados e cobertos de pelos curtos, crescem prostrados ou volúveis quase sempre apoiados noutras espécies, nas quais se enrolam procurando suporte e acabando muitas vezes por abafá-las.
As folhas, de um lindo tom de verde azulado, estão dispostas de forma alternada, com um peciolo bastante visivel; têm forma triangular-ovada e são inteiras na base da planta mas tornam-se cada vez mais recortadas à medida que sobem nos caules.
De março a agosto as flores surgem solitárias ou em grupos de 3 nas axilas das folhas, no topo de um pedicelo mais comprido que o da folha axilar.
A corola, afunilada, é formada por 5 pétalas unidas, de cor rosa forte.
O centro das flores onde estão situados os orgãos masculinos (androceu) e femininos (gineceu), assim como o nectário, é de um rosa mais escuro. Os 5 estames são brancos e desiguais, com anteras lisas de cor violeta.
As flores da Convolvulus althaeoides são muito efémeras durando pouco mais de um dia e como todas as da sua espécie abrem de manhã e fecham ao cair da noite, para logo serem substituidas por uma nova flor, na manhã seguinte.
O cálice é formado por 5 sépalas que persistem na formação do fruto; são  livres mas desiguais, sobrepostas  e  com margens membranosas.
Fruto imaturo (Wikipedia)

Fruto com as sementes (Wikipedia)
Os frutos são capsulas globosas, sem pelos, maiores que o cálice e dentro da qual se encontram as  sementes, negras, achatadas e muito enrugadas.
A Convolvulus althaeoides surge de forma espontânea em toda a área mediterrânica, Madeira e Canárias.
Ocorrências de Convolvulus althaeoides em Portugal continental
Fonte: Flora Digital de Portugal
Prefere os locais soalheiros e os solos bem drenados, na beira dos caminhos, em terrenos agricolas ou campos incultos. É facil de aclimatar e uma vez bem instalada pode eventualmente tornar-se invasora, embora não tanto como outras espécies do mesmo género. Em certos paises é aproveitado o seu potencial como planta ornamental, pois a delicadeza dos seus caules e flores torna-a especialmente apropriada para arranjos em cestos suspensos e jardins de rochas.


Convolvulus fernandesii – endemismo português:
Dentro do género Convolvulus podem encontrar-se 8 a 10 espécies no nosso território. Dentre elas a espécie mais interessante, pela sua raridade, é a Convolvolus fernandesii porque é um endemismo português, que apenas se pode encontrar na Serra da Arrábida, nas escarpas, entre fendas e afloramentos rochosos, no curto espaço da costa que vai de Sesimbra ao Cabo Espichel. Esta é uma espécie protegida ao abrigo do Estatuto Directiva de Habitats 92/43, como espécie prioritária do Anexo II e anexo IV.

Para mais informações sobre Convolvulus fernandesii clique em:
e também aqui 

Fotos de Convolvulus althaeoides - Arribas do Caniçal / Lourinhã


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Artemisia campestris L. subsp. Maritima


Erva-lombrigueira, madorneira
A Artemisia campestris subsp. maritima pertence ao género Artemisia, um dos maiores géneros dentro da familia das Astereceae/Compositae. Este género inclui algumas espécies de morfologia tão diferenciada que se torna, por vezes, complicada a sua identificação mas na generalidade são espécies herbáceas ou arbustivas, ricas em óleos com comprovadas propriedades terapêuticas, uma das suas principais características em comum. Muitos destes componentes químicos tornaram-se indispensáveis na indústria farmacêutica mundial contemporânea e são utilizados no combate a certas doenças do tipo infecioso como por exemplo a malaria.
O facto é que a Artemisia campestris subsp.maritima consegue retirar dividendos de um solo pobre em água e quase sem nutrientes: toda a planta é fortemente aromática o que se deve à presença de tricomas glandulares distribuídos por quase toda a planta e que produzem os constituintes químicos e aromáticos.
Especificamente esta espécie tem sido usada em medicina popular na prevenção de distúrbios gástricos, hipertensão e reumatismo. É ainda vermífuga (daí o nome popular de erva-lombrigueira) e abortiva. Geralmente toma-se sob a forma de infusão para o que se usam os caules e as folhas. Contudo é necessário moderação no seu consumo e ter em conta que a planta é toxica quando ingerida crua.
Mapa de ocorrências registadas em Portugal por Flora on
A Artemisia campestris marítima é uma espécie frequente em quase todos os areais do litoral português e distribui-se de forma geral por todo o litoral atlântico temperado europeu. É de importância fundamental no equilíbrio dos ecossistemas pois serve de alimento às larvas de variadíssimos tipos de Lepidoptera (borboletas), algumas das quais se alimentam exclusivamente desta espécie, nomeadamente Bucculatrix diffusella, Bucculatrix pannonica e Coleophora settarii.
A Artemisia campestris subsp.maritima é uma espécie perene, provida de um rizoma do qual despontam raízes muito profundas para captar água em profundidade. Os caules, estriados e com alguma coloração castanha, são eretos, ascendentes (por vezes prostrados para resistir aos fortes ventos) e formam pequenos arbustos lenhosos que podem chegar aos 80 cm de altura.
As jovens plantas de Artemisia campestris marítima estão cobertas de pelos longos e macios os quais caiem posteriormente, tornando-se a planta glabrescente.
As folhas, sem pecíolo, dispõem-se de forma alternada nos caules e são carnudas devido às reservas de água e óleos que contêm; para diminuir a transpiração, as folhas estão protegidas por uma forte cutícula e o limbo é finamente recortado em segmentos curtos mas de formas variáveis desde a base até ao ápice, terminando numa ponta curta, aguda e rígida.
Ao contrário da maioria das espécies que se apressam a florescer logo que começa a primavera, tirando partido da grande atividade de insetos polinizadores, a Artemisia campestris marítima floresce e frutifica apenas no final do verão, geralmente de agosto a novembro. Desta forma resguarda as flores e os frutos dos grandes calores, sem ter de se  preocupar com o decréscimo de insetos nesta altura do ano pois é polinizada pelo vento.
As flores da Artemisia campestris marítima são minúsculas e agrupam-se em capítulos ovoides que por sua vez também se juntam em cachos muito densos e ramificados. Este tipo de inflorescência, em capítulos, é característico da família botânica das Asteraceae (também conhecida por Compositae) a que pertence esta espécie. As espécies desta família resolveram o problema da reprodução de forma muito engenhosa, conseguindo o máximo de eficiência com um minino de custos. Para tal, as flores muito pequenas e numerosas apresentam-se agrupadas de forma muito compacta sobre um recetáculo em forma de disco central, funcionando em equipa, por assim dizer. Assim, as pequenas flores no seu conjunto tornam-se mais visíveis e apelativas para os insetos polinizadores.
Nesta espécie as corolas das flores são amarelas com flores periféricas femininas, delgadas e compridas e flores centrais masculinas, tubulares e mais curtas. Os capítulos apresentam-se protegidos por um involucro de formato ovoide com brácteas ovadas com a parte central carnuda e de margem ampla e escariosa.
Os frutos, geralmente dispersos pelo vento, são cípselas cilíndricas muito pequenas de cor acastanhada, sem pelos nem papilho.
Outras espécies do género Artemisia são conhecidas e utilizadas em gastronomia como por exemplo o estragão (Artemisia dracunculus) que se usa para aromatizar pratos de peixe. Mas a espécie mais conhecida é a Artemisia absinthum, usada na confeção de uma bebida destilada, o absinto.
O Cuspo do Cuco:
Durante a primavera podem observar-se, nos ramos e folhas de várias espécies de plantas e arbustos das dunas, incluindo a Artemisia campestris maritima, pequenos aglomerados de uma substância branca que parece ser espuma. É o chamado Cuspo de cuco, segregado por um inseto, a cigarrinha espumosa (Philaenus spumarius), para proteger as suas ninfas enquanto se desenvolvem.
Philaenus spumarius - Foto Wikipedia
Este extraordinário inseto embora pouco visível é bastante comum podendo encontrar-se em praticamente todos os habitats, (exceto onde as temperaturas atingem os extremos) e alimentam-se de muitos tipos de plantas. Estes insetos locomovem-se correndo ou voando mas a sua maior habilidade são os saltos pois podem saltar mais de 100 vezes a sua altura (veja aqui mais detalhes).
As Galhas:
Também na primavera, a Artemisia campestris maritima apresenta umas bolinhas vermelhas ou esbranquiçadas que ao incauto passeante poderão parecer flores em formação ou frutos, mas que na realidade são galhas. As galhas variam de forma, de espécie para espécie e mais não são que uma modificação dos tecidos, para defesa dos órgãos da planta após o ataque de ácaros, insetos, vírus, batérias ou fungos. Geralmente os organismos galhadores são específicos à espécie mas confesso que não consegui, até à data, identificar o agressor da Artemisia campestris. Normalmente estes agentes depositam os seus ovos nas folhas ou no caule do hospedeiro ocasionando uma reação que leva ao espessamento dos tecidos criando assim, um espaço que funciona como casulo. É nesse espaço que as larvas se desenvolvem, parasitando a planta e aproveitando-se dos nutrientes que dela retiram. Quando chegam à fase adulta, os insetos deixam a proteção da galha e vão à sua vida.

Sinonímias:
Artemisia campestris L. ssp. maritima (DC.) Arcangeli
Artemisia campestris L. ssp. lloydii (Rouy) Coutinho
Artemisia campestris L. var. maritima DC.
Artemisia crithmifolia L.
Artemisia gayana Besser
Artemisia lloydii (Rouy) Hill



Fotos: Praia da Areia Branca/Areal sul - Lourinhã