terça-feira, 30 de outubro de 2012

Artemisia campestris L. subsp. Maritima


Erva-lombrigueira, madorneira
A Artemisia campestris subsp. maritima pertence ao género Artemisia, um dos maiores géneros dentro da familia das Astereceae/Compositae. Este género inclui algumas espécies de morfologia tão diferenciada que se torna, por vezes, complicada a sua identificação mas na generalidade são espécies herbáceas ou arbustivas, ricas em óleos com comprovadas propriedades terapêuticas, uma das suas principais características em comum. Muitos destes componentes químicos tornaram-se indispensáveis na indústria farmacêutica mundial contemporânea e são utilizados no combate a certas doenças do tipo infecioso como por exemplo a malaria.
O facto é que a Artemisia campestris subsp.maritima consegue retirar dividendos de um solo pobre em água e quase sem nutrientes: toda a planta é fortemente aromática o que se deve à presença de tricomas glandulares distribuídos por quase toda a planta e que produzem os constituintes químicos e aromáticos.
Especificamente esta espécie tem sido usada em medicina popular na prevenção de distúrbios gástricos, hipertensão e reumatismo. É ainda vermífuga (daí o nome popular de erva-lombrigueira) e abortiva. Geralmente toma-se sob a forma de infusão para o que se usam os caules e as folhas. Contudo é necessário moderação no seu consumo e ter em conta que a planta é toxica quando ingerida crua.
Mapa de ocorrências registadas em Portugal por Flora on
A Artemisia campestris marítima é uma espécie frequente em quase todos os areais do litoral português e distribui-se de forma geral por todo o litoral atlântico temperado europeu. É de importância fundamental no equilíbrio dos ecossistemas pois serve de alimento às larvas de variadíssimos tipos de Lepidoptera (borboletas), algumas das quais se alimentam exclusivamente desta espécie, nomeadamente Bucculatrix diffusella, Bucculatrix pannonica e Coleophora settarii.
A Artemisia campestris subsp.maritima é uma espécie perene, provida de um rizoma do qual despontam raízes muito profundas para captar água em profundidade. Os caules, estriados e com alguma coloração castanha, são eretos, ascendentes (por vezes prostrados para resistir aos fortes ventos) e formam pequenos arbustos lenhosos que podem chegar aos 80 cm de altura.
As jovens plantas de Artemisia campestris marítima estão cobertas de pelos longos e macios os quais caiem posteriormente, tornando-se a planta glabrescente.
As folhas, sem pecíolo, dispõem-se de forma alternada nos caules e são carnudas devido às reservas de água e óleos que contêm; para diminuir a transpiração, as folhas estão protegidas por uma forte cutícula e o limbo é finamente recortado em segmentos curtos mas de formas variáveis desde a base até ao ápice, terminando numa ponta curta, aguda e rígida.
Ao contrário da maioria das espécies que se apressam a florescer logo que começa a primavera, tirando partido da grande atividade de insetos polinizadores, a Artemisia campestris marítima floresce e frutifica apenas no final do verão, geralmente de agosto a novembro. Desta forma resguarda as flores e os frutos dos grandes calores, sem ter de se  preocupar com o decréscimo de insetos nesta altura do ano pois é polinizada pelo vento.
As flores da Artemisia campestris marítima são minúsculas e agrupam-se em capítulos ovoides que por sua vez também se juntam em cachos muito densos e ramificados. Este tipo de inflorescência, em capítulos, é característico da família botânica das Asteraceae (também conhecida por Compositae) a que pertence esta espécie. As espécies desta família resolveram o problema da reprodução de forma muito engenhosa, conseguindo o máximo de eficiência com um minino de custos. Para tal, as flores muito pequenas e numerosas apresentam-se agrupadas de forma muito compacta sobre um recetáculo em forma de disco central, funcionando em equipa, por assim dizer. Assim, as pequenas flores no seu conjunto tornam-se mais visíveis e apelativas para os insetos polinizadores.
Nesta espécie as corolas das flores são amarelas com flores periféricas femininas, delgadas e compridas e flores centrais masculinas, tubulares e mais curtas. Os capítulos apresentam-se protegidos por um involucro de formato ovoide com brácteas ovadas com a parte central carnuda e de margem ampla e escariosa.
Os frutos, geralmente dispersos pelo vento, são cípselas cilíndricas muito pequenas de cor acastanhada, sem pelos nem papilho.
Outras espécies do género Artemisia são conhecidas e utilizadas em gastronomia como por exemplo o estragão (Artemisia dracunculus) que se usa para aromatizar pratos de peixe. Mas a espécie mais conhecida é a Artemisia absinthum, usada na confeção de uma bebida destilada, o absinto.
O Cuspo do Cuco:
Durante a primavera podem observar-se, nos ramos e folhas de várias espécies de plantas e arbustos das dunas, incluindo a Artemisia campestris maritima, pequenos aglomerados de uma substância branca que parece ser espuma. É o chamado Cuspo de cuco, segregado por um inseto, a cigarrinha espumosa (Philaenus spumarius), para proteger as suas ninfas enquanto se desenvolvem.
Philaenus spumarius - Foto Wikipedia
Este extraordinário inseto embora pouco visível é bastante comum podendo encontrar-se em praticamente todos os habitats, (exceto onde as temperaturas atingem os extremos) e alimentam-se de muitos tipos de plantas. Estes insetos locomovem-se correndo ou voando mas a sua maior habilidade são os saltos pois podem saltar mais de 100 vezes a sua altura (veja aqui mais detalhes).
As Galhas:
Também na primavera, a Artemisia campestris maritima apresenta umas bolinhas vermelhas ou esbranquiçadas que ao incauto passeante poderão parecer flores em formação ou frutos, mas que na realidade são galhas. As galhas variam de forma, de espécie para espécie e mais não são que uma modificação dos tecidos, para defesa dos órgãos da planta após o ataque de ácaros, insetos, vírus, batérias ou fungos. Geralmente os organismos galhadores são específicos à espécie mas confesso que não consegui, até à data, identificar o agressor da Artemisia campestris. Normalmente estes agentes depositam os seus ovos nas folhas ou no caule do hospedeiro ocasionando uma reação que leva ao espessamento dos tecidos criando assim, um espaço que funciona como casulo. É nesse espaço que as larvas se desenvolvem, parasitando a planta e aproveitando-se dos nutrientes que dela retiram. Quando chegam à fase adulta, os insetos deixam a proteção da galha e vão à sua vida.

Sinonímias:
Artemisia campestris L. ssp. maritima (DC.) Arcangeli
Artemisia campestris L. ssp. lloydii (Rouy) Coutinho
Artemisia campestris L. var. maritima DC.
Artemisia crithmifolia L.
Artemisia gayana Besser
Artemisia lloydii (Rouy) Hill



Fotos: Praia da Areia Branca/Areal sul - Lourinhã



3 comentários:

  1. Ola, gostaria de saber como se pode reproduzir esta planta, é possivel num vaso/canteiro? Obrigada

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    1. Olá Alina,
      Pode reproduzir a planta quer em vaso quer no chão. Em vaso o desenvolvimento da planta fica mais restringido, num canteiro vai crescer bastante mais.

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