Nomes
comuns: Bico-de-pomba, coentrinho
Geranium dissectum |
Geranium dissectum
é mais uma mimosa herbácea do género Geranium o qual se inclui na família Geraniaceae (Veja informações sobre este género e família AQUI).
Esta é uma espécie anual, que rapidamente esgota o seu ciclo de vida. Mas quase não se dá por isso; embora definhe com o verão, logo ressurge com as primeiras chuvas de outono, recomeçando a partir de semente e trabalhando arduamente até voltar a dar fruto, num circulo continuo de esperança.
Geranium dissectum é nativa da Europa (exceto o extremo norte), Macaronésia, noroeste de África, Médio Oriente e também sudoeste e centro asiático. Encontra-se como espécie introduzida e naturalizada no continente americano (norte e sul), Japão, Austrália e Hawai.
É frequente em quase todas as regiões do nosso território, sendo uma espécie autóctone de Portugal continental e do arquipélago da Madeira. Foi introduzida nos Açores, onde se está naturalizada.
Em
redor da raiz principal, geralmente muito longa, surgem caules simples
ou múltiplos formando uma espécie de roseta e que podem ir dos 10 aos 50 cm de
comprimento nas plantas adultas.
Geranium dissectum |
É frequente em quase todas as regiões do nosso território, sendo uma espécie autóctone de Portugal continental e do arquipélago da Madeira. Foi introduzida nos Açores, onde se está naturalizada.
Esta planta raramente é encontrada em pastagens ricas, parecendo preferir áreas abrigadas, pouco ervadas e onde o solo é fofo por ter sido recentemente remexido ou de alguma forma perturbado, nomeadamente na beira de caminhos, orla dos bosques, campos cultivados ou baldios. Gosta de terrenos húmidos mas tolera o solo moderadamente seco e pedregoso, desde que seja rico em nutrientes.
Curiosamente estas plantas não são consumidas pelo gado pois são ricas em metabólitos secundários (taninos) que atuam como defensores contra o ataque de herbívoros, tornando o seu sabor desagradável. O tanino é antisetico, altamente adstringente e tónico, pelo que toda esta planta, sobretudo a raíz, é muito usada em medicina alternativa, no tratamento de um um amplo leque de distúrbios alimentares. Também é útil no tratamento de feridas e inflamações. Recomenda-se que a colheita das plantas seja feita durante a sua floração não só para evitar confusões com espécies parecidas mas principalmente porque o teor em tanino é maior. Por esta mesma razão a recolha de folhas e sementes deve ser realizada antes da maturação dos frutos. Após a colheita devem ser colocadas a secar em lugar fresco e escuro e depois usadas em chás e infusões. Nunca é demais salientar que a ingestão de qualquer planta deve ser feita sob aconselhamento de quem tem os conhecimentos necessários. Existe a crença que “por ser natural, não pode haver mal” mas não esqueçamos que todas as plantas têm alguma dose de toxicidade.
Geranium dissectum |
Geranium dissectum |
Geranium dissectum |
As folhas,
cobertas de pelos curtos, apresentam contorno circular e nervuras bem marcadas que
irradiam de um ponto central. São profundamente recortadas formando 5 lóbulos estreitos
e irregulares que por sua vez também são recortados na metade superior. Aliás, o nome especifico dissectum, identificativo desta espécie, deriva da união do
prefixo grego dis (= 2) com o termo
latino sectus (= fenda ou fissura), numa
clara referência aos recortes das suas folhas, primariamente divididas em 5
segmentos e depois subdivididas. (Jaeger 80,234).
As primeiras
folhas aparecem isoladas na extremidade de longos pecíolos dispondo-se
alternadamente em espiral; as folhas caulinares dispõem-se de forma oposta e
não só são mais pequenas que as basais mas também têm pecíolos mais curtos; na
sua base existem 2 estipulas, de forma triangular e tingidas de vermelho.
Geranium dissectum |
Apenas cerca de um terço das
angiospermas (plantas com flor, o maior e mais moderno grupo de plantas, englobando cerca de 230 mil espécies) possuem estipulas. Estas aparecem aos pares e variam de espécie para
espécie, em tamanho e morfologia; podem ser estruturas laminares, glândulas, pelos, espinhos ou escamas; algumas são caducas e outras são perenes; por vezes são
insignificantes, outras vezes são de tal forma desenvolvidas que se confundem
com verdadeiras folhas, ajudando no processo da fotossíntese; podem
transformar-se em gavinhas, para ajudar no crescimento vertical da planta ou em
espinhos, como forma de reduzir a predação por vertebrados herbívoros; em
muitas espécies as estipulas são pequenas e residuais, sem nenhuma função
óbvia; noutras espécies evoluíram para nectários extraflorais atraindo formigas
(com as quais estabelecem
interações mutualistas,
de que beneficiam tanto as plantas como as formigas).
A função primitiva das estipulas permanece algo obscura e a
maioria das angiospermas que não as tem, não parece sentir-lhes a falta.
Contudo, a ausência destas estruturas é tão importante como a sua presença,
pois é um fator fundamental na identificação das espécies.
Geranium dissectum |
As flores de Geranium dissectum despontam
geralmente aos pares na extremidade de um pedúnculo longo que parte das axilas
das folhas e que se divide em dois pedicelos curtos, um para cada flor e os
quais estão densamente cobertos de pelos glandulares.
Geranium dissectum |
São
flores diminutas, mas muito bonitas na sua simplicidade; quase parecem tímidas
mas curiosas, pela forma como se escondem e ficam a espreitar por entre a densa folhagem musgosa. Sem prejuízo do prazer que retiramos da sua presença no campo ou em algum recanto abandonado na cidade, devo dizer que qualquer das espécies silvestres de Geranium tem lugar num jardim, seja qual for o seu estilo. Podem ser-nos
muito úteis se as usarmos como cobertura de solo, preenchendo espaços que de outra
forma ficam à mercê de ervas não desejadas. A verdade é que quando planeamos os
nossos canteiros geralmente damos toda a
importância às espécies de flores e arbustos que lhe podem dar visibilidade e
esquecemo-nos do solo que por vezes tanto trabalho nos dá a mondar. As plantas
de cobertura estão a ser cada vez mais utilizadas pois não só nos permitem
poupança de esforço na luta contra as ervas indesejadas mas também fornecem
sombra ao solo, mantendo a humidade, protegendo-o da erosão e propiciando a
reciclagem dos nutrientes.
Geranium dissectum |
As
flores de Geranium dissectum apresentam 5 pétalas de cor rosada em cuja base
existem glândulas nectaríferas; o ápice de cada pétala é ligeiramente chanfrado,
embora não tão profundamente como no Geranium molle.
Geranium dissectum |
As 5 sépalas são eretas, de forma
elíptica, livres e agudas; os pelos interiores são simples e os exteriores estão providos de glândulas. No caso desta e outras espécies do género Geranium
as sépalas não se limitam a proteger o botão floral; elas permanecem para proteger
também o fruto até à maturação. Isto é, as sépalas abrem quando as pétalas se
expandem na ântese mas quando estas terminam a sua função e definham, as sépalas fecham-se de novo sobre os frutos em formação, para voltar a abrir
quando as sementes engrossam e ficam até estas amadurecerem por completo.
Geranium dissectum |
Inicialmente as
sépalas apresentam tamanho semelhante ao das pétalas mas continuam a crescer
até à maturação dos frutos.
Foto Wikipedia by Fornax |
Cada flor
apresenta órgãos reprodutores masculinos e femininos. Os órgãos masculinos são
constituídos por 10 estames todos férteis, dispostos em duas séries; as anteras, geralmente de cor azul-violeta, produzem pólen de um tom azulado.
Entre os
estames podem ver-se os cinco braços estigmáticos (correspondentes aos 5
carpelos que constituem o ovário), de linda cor purpura e cuja estrutura tem a
consistência apropriada para recolher os grãos de pólen; estes serão de
imediato encaminhados para o ovário, através do tubo denominado estilete, por
forma a permitir que os óvulos aí presentes sejam fecundados. O ovário de
Geranium dissectum, tal como acontece com as outras espécies do género, é
formado por 5 carpelos que vão dar origem a um fruto com 5 mericarpos, cada um
com a sua semente, os quais crescem e se desenvolvem em redor do estilete.
Geranium dissectum |
O estilete cresce continuamente até à maturação, expandindo-se e transformando-se numa
estrutura colunar semelhante a um bico de pássaro.
As flores de
Geranium dissectum florescem e frutificam de março a julho ou agosto, dependendo da disponibilidade de água no solo. Apesar
da oferta de néctar, numa tentativa de atrair polinizadores, existe o risco de não se registarem suficientes visitas
de insetos. É que estas plantas podem
passar despercebidas não só pelo tamanho diminuto das suas flores mas também
pelo seu hábito rasteiro. Por outro lado a época fértil dos seus estames e
pistilos coincide com uma altura do ano em que os insetos têm muito que comer, não sabendo para onde
se virar com tantos banquetes à sua disposição. Desta forma, Geranium dissectum
socorre-se da autopolinização, situação que é favorecida pela
proximidade física de estigmas e estames, tanto mais que
aqueles ficam recetivos quando as anteras dos estames ainda não derramaram
todo o seu pólen.
Frutos de Geranium dissectum |
O fruto de Geranium
dissectum é constituído por um agrupamento de 5 sementes situadas na base da
coluna (bico); cada semente está encerrada dentro de uma cápsula (mericarpo) que está ligada à coluna através de uma haste denominada arista que, ao expulsar as sementes fica arqueada, em forma de vírgula. Inicialmente a arista faz parte da estrutura da coluna mas gradualmente
vai-se separando.
A parte interessante acontece quando as sementinhas ficam maduras e têm de deixar o aconchego da casa materna
para ficarem por sua conta e risco. Tendo em conta que o objetivo de cada
planta é a perpetuação da sua espécie, não só a produção de sementes é importante
como também a estratégia para a sua dispersão tem de ser bem pensada para ser
apropriada e eficaz. As espécies Geraniaceae, geralmente de baixa envergadura,
adotaram um sistema de dispersão muito interessante que catapulta as sementes a
distâncias consideráveis, numa tentativa de expandir o seu território mas
evitando a concorrência direta com as suas vizinhas da mesma espécie.
Existem pequenas diferenças, de
espécie para espécie, na forma como a dispersão é realizada mas basicamente todos
os processos têm a ver com as propriedades
higroscópicas da camada interior das
aristas (segmentos que ligam os mericarpos à coluna) que, ao ficarem
desidratadas, vão criando tensão semelhante à de
um elástico esticado. Chegado o momento da rutura as aristas dobram ou torcem
repentinamente, arremessando as sementes de forma violenta.
Esquema 1 - Fonte
a) mericarpo posicionado em angulo reto aguardando o momento de
catapultar a semente
b) posição
pós-expulsão da semente
c) o involucro
do mericarpo ainda ligado à arista e à coluna
d) semente |
Esquema 2 - Fonte |
Fonte Flora-on Foto de Ana Júlia Pereira, mostrando invólucros e aristas presos à coluna, após a expulsão das sementes |
Assim,
enquanto no Geranium molle os mericarpos são ejetados de forma completa (com invólucro do mericarpo, semente e arista), no caso de Geranium dissectum apenas
as sementes são catapultadas.
NOTA:
As espécies silvestres do género Geranium são por vezes muito semelhantes sendo fácil confundi-las. Existem, no entanto, algumas características que
permitem a sua identificação. Geranium
molle e Geranium dissectum são as
duas espécies mais comuns no nosso território. Apesar de G. dissectum apresentar folhas com segmentos mais estreitos do que G. molle, nem sempre é seguro diferencia-las
pela folhagem pois existe grande variabilidade. A forma mais fiável é através
dos pelos das sépalas que em G. dissectum
são todos curtos e em G. molle coexistem dois tipos de pelos de tamanhos diferentes, como podemos observar no seguinte
quadro comparativo da Flora-on:
Fotos de Ana Júlia Pereira |
Sem comentários:
Enviar um comentário