Nome comum: Bico-de-pomba-menor
Geranium molle |
Geranium molle é uma espécie de
origem europeia (desde a Península Ibérica e bacia do Mediterrâneo até à
Escandinávia), arquipélagos da Madeira e Canárias, Ásia temperada e tropical e
Norte de África. Foi introduzida no arquipélago dos Açores, África do Sul, Austrália
e continente americano onde se naturalizou, sendo considerada uma erva invasora
em algumas destas regiões.
Esta planta é frequente praticamente em
todas as regiões do nosso país, embelezando a beira dos caminhos, muros de
pedra e terrenos incultos ou de pousio, contribuindo para a riqueza nutritiva e a regularização da humidade dos solos. Também
consegue desenvolver-se em situações de grande pressão ambiental, quer em
terrenos degradados por lixos e entulhos, quer na proximidade de habitações
citadinas. Geralmente cresce associada a outras plantas de morfologia semelhante, sejam do mesmo género ou de géneros aparentados, nomeadamente G.dissectum, G. rotundifolium, G. purpureum e também Erodium malacoides e E. moschatum. Falaremos destas espécies em futuras publicações e da melhor forma de as distinguir.
Geranium molle |
Se lhe for permitido crescer em jardins, Geranium molle torna-se muito útil como cobertura de solo, impedindo a proliferação de ervas indesejadas. Espalha-se pelo chão em comprimento ou se preferirmos, pode crescer em altura desde que lhe providenciemos apoio. É uma planta anual mas cresce rapidamente e ressemeia-se com facilidade, sendo no entanto relativamente fácil restringir-lhe o tamanho. Cresce bem em locais sombreados mas prefere o sol pleno.
Geranium molle é uma espécie da família
Geraniaceae e está incluída no género
Geranium. Pode ver mais detalhes
sobre esta família e género AQUI.
Geranium molle |
O nome específico molle
vem do latim e significa mole ou suave, numa clara referência ao tipo de pelos
que cobrem as diferentes partes da planta, os quais são brancos e macios, uns
maiores que os outros; os pelos mais curtos estão providos de glândulas
secretoras de substâncias aromáticas, ao contrário dos pelos compridos que não
possuem glândulas. Esta é uma característica própria que nos permite distinguir
esta espécie de outras semelhantes.
Os caules de Geranium
molle são muito ramificados, tenros e frágeis, eretos ou ascendentes e
podem chegar aos 60 cm de comprimento.
Geranium molle |
Na generalidade, as folhas apresentam um contorno arredondado
bem visível mas o limbo apresenta recortes profundos formando entre 5 a 7
lóbulos, os quais por sua vez também se encontram recortados, terminando num
ápice arredondado.
A maior parte da folhagem nasce ao nível do solo formando uma espécie de roseta à qual as folhas estão ligadas por longos pecíolos.
Geranium molle |
Em
contrapartida, as folhas dos caules superiores são de tamanho bastante
mais pequeno e mostram pecíolos muito reduzidos.
Geranium molle |
De forma geral, as pequenas flores nascem em grupos de 2 ou 3, na
axila das folhas superiores e estão providas de longos pedúnculos, os quais são
eretos durante a floração mas que se curvam para baixo quando se inicia a frutificação.
Geranium molle |
São flores pequenas mas muito mimosas, com 5 pétalas de cor rosa ou lilás,
apresentando um entalhe profundo no ápice que parece dividir cada pétala em duas. Durante
a floração esta característica permite distingui-la de imediato de outras
espécies da mesma família.
Geranium molle |
As 5 sépalas que formam o cálice apresentam cor verde e são livres,
eretas e algo rígidas; externamente, estão cobertas por pelos curtos
glandulares e por pelos compridos mas sem glândulas; embora sejam ligeiramente
mais curtas que as pétalas, continuam a crescer após a floração e até à
maturação do fruto.
Pormenor dos órgãos reprodutivos da flor de Geranium molle. Fonte: Wikipedia |
As flores estão munidas de órgãos reprodutivos masculinos e
femininos funcionais. Os 10 estames, fusionados na base, apresentam anteras
bilobadas de um bonito tom azulado; dispõem-se em duas séries em redor do ovário,
de forma que os 5 da série externa estão opostos às pétalas e alternam com os 5
da série interna que se situam opostos às sépalas; na base de cada um destes
últimos existe uma glândula nectarífera. Encaixados entre os estames podem
ver-se os 5 braços estigmáticos de aspeto aveludado e bela cor púrpura, cuja
missão é recolher os grãos de pólen que serão conduzidos ao ovário através do
estilete.
Geranium molle |
Esta
espécie floresce durante a primavera e verão, época do ano em que a concorrência
é grande entre as plantas que precisam de ser polinizadas. Alimento não falta
aos insetos que têm muito por onde escolher e as flores do Geranium molle tentam compensar a pouco visibilidade que lhes
confere o seu diminuto tamanho, oferecendo néctar aos polinizadores. Ainda
assim, imprevistos podem acontecer e Geranium
molle prefere jogar pelo seguro. Isto é, sendo que o verdadeiro objetivo
das plantas é a perpetuação da sua espécie através da produção de frutos,
quantas mais sementes produzir, melhor. Nesta conformidade Geranium molle não fecha as portas à autopolinização, a qual, nesta
espécie, é favorecida pela proximidade física de estigmas e estames, tanto mais que
aqueles ficam recetivos quando as anteras dos estames da série exterior ainda não
derramaram todo o seu pólen. É verdade que entre as plantas silvestres a
polinização cruzada é mais comum e aparentemente desejável como forma de
promover a variabilidade genética. No entanto, em certas situações a
autopolinização pode ser mais vantajosa. Este é mais um assunto interessante
que teremos de deixar para uma futura publicação.
O
fruto de Geranium molle é um
esquizocarpo. Este é constituído por um conjunto de 5 cápsulas ou mericarpos,
cada um deles com a sua semente.
Mericarpos de Geranium molle, em redor da coluna à qual estão ligados por uma arista. Fonte |
Estes 5 mericarpos estão agrupados em volta de
uma coluna alongada (formada pelo conjunto dos órgãos do pistilo – ovário,
estilete e estigma), estrutura essa que, após a fecundação, se alonga e
continua a crescer até à maturação das sementes, ficando semelhante a um bico
de ave.
Ilustração de semente e arista de Geranium molle Fonte |
Cada mericarpo está ligado à coluna central através de uma arista,
formação delgada, longa e rígida, constituída por tecidos especializados e
sensíveis à humidade.
Nesta foto apresentada pela Flora-on, Ana Júlia Pereira captou dois momentos chave na dispersão das sementes da espécie Geranium molle, o "antes" e o "depois":
À esq. o fruto maduro nos momentos que antecedem a expulsão das semente
À dta. o cálice vazio após as sementes terem sido catapultadas |
Através das suas propriedades higroscópicas, as aristas
têm um papel preponderante no complexo sistema de dispersão. À medida que as
sementes amadurecem as aristas vão ficando desidratadas e distorcidas,
produzindo tensão (semelhante à de um elástico esticado) que se acumula na
estrutura até que, chegado o momento da rutura as aristas se dobram
repentinamente, catapultando as sementes a considerável distância da
planta-mãe. No caso desta espécie as sementes seguem viagem ainda envoltas no invólucro do mericarpo (noutras espécies, o invólucro rasga-se e apenas as sementes são ejetadas). De notar, contudo, que no Geranium molle a arista nem sempre acompanha o mericarpo, havendo situações em que fica agarrada à coluna.
Embora não existam estudos que comprovem propriedades medicinais em Geranium molle, a verdade é que esta planta tem sido usada sob a forma de chás e infusões desde tempos antigos, na terapia de muitas maleitas, nomeadamente no tratamento de feridas ou úlceras e no alívio de dores musculares e articulares.
Esquema de expulsão do carpelo típica de Geranium molle Fonte |
NOTA:
As espécies silvestres do género Geranium são por vezes muito semelhantes havendo a possibilidade de
facilmente as confundirmos. Existem, no entanto, algumas características que
permitem a sua identificação. Geranium
molle e Geranium dissectum são as
duas espécies mais comuns no nosso território. Apesar de G. dissectum apresentar folhas com segmentos mais estreitos do que G. molle, nem sempre é seguro diferencia-las
pela folhagem pois existe grande variabilidade. A forma mais fiável é através
dos pelos das sepalas que em G. dissectum
são todos curtos e em G. molle
existem dois tipos de pelos de tamanhos diferentes, como podemos observar no seguinte quadro comparativo da Flora-on:
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