Nomes comuns:
Erva-de-são-roberto;
bico-de-grou; bico-de-grou-robertino;
erva-de-são-roque; erva-roberta; pássara
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Geranium purpureum |
A expansão das atividades
agrícolas conta-se entre os muitos fatores associados às atividades humanas que
causaram perturbação no equilíbrio dos habitats naturais. O abate intensivo de
florestas, realizado ao longo de milénios, levou ao declínio populacional de
algumas espécies vegetais. Em contrapartida, outras espécies tiraram partido da
situação e aumentaram as suas populações de forma significativa tendo-se adaptado a
ambientes mais ou menos artificializados pela ação humana. Essas espécies denominam-se ruderais (do latim ruder
= cascalho) e caracterizam-se por uma grande diversidade florística.
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Echium plantagineum |
Flores de todas as
cores e morfologias sucedem-se ao longo do ano, alegrando pequenos e grandes espaços e servindo de alimento a
muitas espécies de insetos; muitas delas são aromáticas, outras já se tornaram indispensáveis na farmácia do povo.
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Dittrichia viscosa |
Crescem em zonas rurais ou
suburbanas de preferência em cascalheiras, montes de entulho, campos baldios, fendas de muros e beiras de caminhos. O tipo de solo
é-lhes geralmente indiferente mas procuram espaços enriquecidos em matéria
orgânica. Não é que sejam gulosas, embora da fama não se livrem.
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Papaver rhoeas |
Mas a verdade é que elas necessitam do suprimento nutricional adequado ao seu curto ciclo de vida, tendo não só a obrigação de crescer rapidamente mas também desenvolver flores, frutos e sementes férteis, tudo no espaço de uma estação.
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Geranium purpureum |
Contudo nem todas as
plantas que vemos a crescer em meios antropogénicos são estritamente ruderais,
podendo encontrar-se também em ambientes mais naturais. É o caso de Geranium
purpureum uma espécie silvestre que também é nitrófila e
ruderal. É fácil encontrá-la na vizinhança das
populações rurais, especialmente em espaços por onde transitam humanos e gado
mas também em matagais, pinhais, sebes, taludes, na orla dos bosques ou sob coberto
das árvores pois aprecia os locais sombreados mas não demasiado secos. Esta espécie
é nativa do norte de África, sudoeste asiático e continente europeu, com especial incidência na região mediterrânica. E uma espécie autóctone muito
comum em quase todo o território de Portugal continental assim como no
arquipélago da Madeira. Também existe em algumas ilhas do arquipélago dos Açores,
onde se naturalizou.
Pertence ao género Geranium o qual se
inclui na família Geraniaceae que,
como já AQUI vimos, são grupos cheios de interesse.
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Geranium purpureum |
Geranium purpureum é uma pequena planta herbácea cuja altura varia entre os 10 ou 35 cm
de altura. O seu ciclo de vida é anual e inicia-se no outono com a germinação
das sementes, florescendo e frutificando de março a agosto do ano seguinte. Exala
um forte odor que para alguns é agradavelmente aromático, para outros nem por
isso, contudo não deixa de ser muito característico.
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Geranium purpureum |
Os caules são delgados,
avermelhados e de seção cilíndrica; podem ser eretos, ascendentes ou mesmo
prostrados e estão cobertos de pelos glandulares e não glandulares, sobretudo
na parte superior; são ramificados desde a base e formam pequenas moitas.
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Geranium purpureum |
As folhas, com
pelos em ambas as páginas, colocam-se nos caules de forma oposta, ligando-se a
eles através de longos pecíolos.
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Geranium purpureum |
Apresentam limbo de contorno triangular ou
pentagonal, profundamente dividido em 3 a 5 segmentos que por sua vez se
subdividem em segmentos secundários oblongos.
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Geranium purpureum |
As estipulas, de forma ovada, são glabras embora providas de pelos
finos nas margens.
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Geranium purpureum |
Tal como acontece
com os caules, as folhas podem tornam-se avermelhadas, podendo apresentar
vários tons de verde e vermelho, em simultâneo. O nome específico purpureum refere-se precisamente à
coloração vermelha das folhas e caules.
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Geranium purpureum |
As pequeníssimas
e delicadas flores surgem aos pares nas axilas das folhas superiores, no topo de
pedúnculos longos e peludos, com pequenas bractéolas avermelhadas na base.
Cada corola é
formada por 5 pétalas inteiras e de cor rosa-malva, com veios mais escuros, possivelmente linhas que conduzem os insetos polinizadores às bolsas de néctar, localizadas na base de cada pétala.
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Geranium purpureum |
O cálice é composto por 5 sépalas
estreitamente lanceoladas e mais curtas que as pétalas, com pelos glandulares
densos e margens escariosas, firmes e translucidas.
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Geranium purpureum |
Existem órgãos femininos e
masculinos em cada uma destas flores. Os estames são 10, todos férteis e
fornecem pólen amarelo a partir de anteras também amarelas. O ovário é formado
pela união de 5 carpelos e dele emerge um estigma que se divide em 5 braços
filiformes de cor rosa ou purpura.
A polinização é
feita por insetos mas à semelhança de outras espécies do mesmo género (e.g. Geranium molle e Geranium dissectum ) o Geranium purpureum é autocompativel, ou seja, está preparado para
complementar a fertilização através da autopolinização,
assegurando a produção de sementes viáveis, quer receba a vista dos insetos, quer não. Planta prevenida...
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Geranium purpureum |
O fruto de
Geranium purpureum é formado por 5 mericarpos independentes, unidos por fibras
denominadas aristas, a uma coluna alongada (em forma de bico de ave) a qual é
formada pelo conjunto do estilete e estigma que se alongam e continuam a
crescer até à maturação completa.
A dispersão
das sementes das espécies do género Geranium é feita por expulsão violenta,
como já vimos anteriormente. Tal acontece devido às propriedades higroscópicas
das aristas (fibras que seguram os frutos). À medida que vão ficando
desidratadas e distorcidas as aristas acumulam tensão semelhante à de um elástico
esticado, de modo que, chegado o momento da rutura, se dobram repentinamente,
catapultando as sementes a considerável distância da planta-mãe. Contudo, existem algumas diferenças de espécie para espécie na forma como este processo se desenrola. É como se cada uma delas necessitasse de impor alguma da sua personalidade própria, individualizando um processo demasiado uniforme e previsivel.
No caso de
Geranium purpureum as sementes são catapultadas não só com a membrana do
mericarpo que as envolve, num processo semelhante ao de Geranium molle, mas também com dois fios finos. Não se sabe exatamente para que servem estes fios mas possivelmente será para se agarrarem a qualquer outra planta, ferrramenta muito útil no caso de terrenos muito inclinados.
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Semente de G.robertianum agarrada à arista e aos dois fios que lhe servem de freio, situação semelhante à de G.purpureum Fonte |
De notar que Geranium purpureum é muito semelhante a outra espécie do mesmo género Geranium robertianum
L. com a qual pode facilmente ser confundida. Ambas as espécies têm características morfológicas muito semelhantes a
olho nu e convivem nos mesmos habitats.
A principal diferença está no facto de que todas as partes de G.purpureum são mais pequenas que as de G. robertianum, especialmente no que diz
respeito ao tamanho da flor. Outra diferença facilmente detetável é a cor das anteras que são amarelas no Geranium purpureum e laranja escuro no Geranium robertianum.
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A- flor de Geranium purpureum B- flor de Geranium robertianum
Por Yeo, 1973 Fonte - Pavol Elias
Jun.Dept of
Botany, Slovak University of Agriculture
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Devido à sua semelhança morfológica há quem considere que G.purpureum e G. robertianum são subespécies ou híbridos, contudo para a maioria dos cientistas não restam duvidas de que se trata de espécies diferentes. Algumas das diferenças estão registadas neste quadro:
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Fonte - Pavol Elias
Jun.Dept of
Botany, Slovak University of Agriculture
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À esquerda - semente de Geranium purpureum À direita - semente de Geranium robertianum Fonte |
O forte e característico odor exalado
pela planta deve-se aos componentes que entram na sua composição química, com referência
especial para os taninos. Estes metabólitos secundários dão-lhe o sabor amargo mas também lhe conferem as suas propriedades terapêuticas, sendo usada pelas populações em infusões e cataplasmas, há centenas de anos. Diz o povo que tem propriedades anti-inflamatórias,
antibacterianas, antidiarreicas, anticancerígenas, entre outras e que é especialmente
eficaz como purificadora do sangue e do fígado.
A utilização
de certas plantas como medicamentos é praticamente tão antiga como a espécie
humana e está mais do que
provado que as espécies vegetais continuam a ter grandes potencialidades
farmacêuticas. Mas, como em tudo, é necessário
observar certas regras e seguir os conselhos de quem tem os conhecimentos
necessários. Se resolver fazer a recolha pessoalmente certifique-se que
identificou corretamente a planta e que nenhuma outra vem misturada. Por outro
lado informe-se sobre quais são as partes da planta que deve usar e qual a
forma correta de o fazer.
Fotos de Geranium purpureum: Serra do Calvo e Caniçal/Lourinhã.
muito útil e completo
ResponderEliminarFrancisco Ribeiro,
EliminarMuito obrigada pela gentileza do comentário 😄