Nome Comum: Gerânio-peludo
Geranium
rotundifolium é o tema de hoje. Assim se encerra o
ciclo Geranium no qual foram
incluídas algumas espécies pertencentes ao referido género e que, até à data, observei
pessoalmente nesta região.
Geranium
rotundifolium partilha com as suas congéneres a
frescura verde-musgosa das folhas, o recato das flores rosadas e a determinação
em adaptar-se ao meio ambiente e até expandir-se. Apesar de partilharem os mesmos
espaços e recursos, não rivalizam nem se enfrentam, antes se entrelaçam docemente
numa quase promiscuidade. Contudo, no seu jeito manso cada uma destas espécies consegue
imprimir a sua personalidade própria, destacando-se das demais.
Na aparente uniformidade característica de Geranium descobrem-se algumas dissemelhanças merecedoras de algo mais do que aquilo que foi dito no texto introdutório AQUI e foram elas que me levaram a dar atenção individualizada a cada uma
destas espécies, perfeitamente
merecida, embora necessariamente repetitiva em alguns aspetos.
Geranium
rotundifolium é nativa do norte de África e sul da
Europa, sobretudo da região mediterrânica, tendo sido introduzida noutras
partes do mundo onde está naturalizada. Nos últimos anos tem-se registado alguma
expansão para norte da Europa, estando mais abundante em locais onde era
extremamente rara e aparecendo esporadicamente em países setentrionais onde
nunca antes tinha sido vista. São os seus atributos ecológicos
e fisiológicos, aliás partilhados por outras espécies do mesmo género e já
antes mencionados, que lhe permitem adaptar-se com tal sucesso a ambientes humanizados.
No nosso país está presente como espécie nativa em
Portugal continental e arquipélago da Madeira e naturalizada no arquipélago dos
Açores. Os seus habitats naturais são locais sombreados nas orlas dos bosques,
pinhais e dunas. Aparece ainda na beira dos caminhos, orla dos campos cultivados
ou de pousio, fendas dos muros e outros locais de perfil ruderal mas com boa
humidade edáfica.
Geranium
rotundifolium reproduz-se por semente e tem apenas
um ciclo vegetativo, ou seja, é uma espécie anual. Germina logo que chegam as
primeiras chuvas de outono e floresce e frutifica, espalhando novas sementes, a
partir de março. De todas as espécies Geranium que crescem espontaneamente em Portugal, Geranium rotundifolium é a que tem uma
floração mais prolongada, podendo ainda nesta altura do ano, nos fins de
dezembro, ver-se alguns indivíduos com flores e frutos.
Com 10 a 40 cm de comprimento, os caules são tenros e verdes ou com coloração avermelhada. São eretos ou ascendentes e
estão cobertos de pelos suaves compridos não glandulíferos e também por pelos
glandulíferos curtos, situação que se repete em todas as partes da planta.
As primeiras folhas formam uma roseta. Conforme se desenvolvem os caules, as novas folhas dispõem-se neles de forma
oposta. Quase todas as folhas apresentam longos pecíolos. O limbo foliar, com 5 ou mais nervuras,
é arredondado, peludo e está dividido em 7 a 9 lóbulos pouco pronunciados, os
recortes não excedendo metade da aba da folha; ambas as faces estão cobertas
com pelos geralmente não glandulosos.
As folhas desta planta são muito
arredondadas se as compararmos com outras do mesmo género. O termo rotundifolium que dá nome à espécie
reflete essa característica e deriva do latim: rotundus = redonda e folius=
folha.
As flores, de tamanho diminuto nascem aos pares no topo de um
pedúnculo comum que se subdivide. As 5 pétalas, de cor rosa ou lilás são iguais,
inteiras, livres e direitas na extremidade.
As 5 sépalas que envolvem o botão
floral e que formam o cálice são livres, mais curtas que as pétalas e de forma
ovalada, terminando numa ponta curta, aguda e rígida. São de cor verde, com
estrias mais escuras e densamente cobertas de pelos glandulíferos e não glandulíferos.
Centro da flor em que se veem as anteras amarelas e os braços estigmáticos de cor purpura |
As flores são completas, ou seja, dispõem de órgãos reprodutores
masculinos e femininos. No androceu existem 10 estames férteis cujos filetes estão
cobertos de pelos finos na metade inferior e que se dilatam progressivamente em
direção à base, onde se encontram os nectários. As anteras amarelas produzem
pólen da mesma cor.
O pistilo tem um ovário formado por 5 carpelos encimado pelos
correspondentes 5 estiletes e estigmas de cor purpura ou rosa escuro.
O fruto de Geranium
rotundifolium é um esquizocarpo formado por 5 mericarpos
independentes, unidos por fibras denominadas aristas a uma coluna alongada (em
forma de bico de ave), a qual é formada pelo conjunto do estilete e estigma que
se alongaram e continuaram a crescer até à maturação completa.
A dispersão das sementes das espécies do
género Geranium é feita por explosão violenta, como já vimos AQUI, AQUI e
AQUI. Tal acontece devido às propriedades higroscópicas das aristas. À medida que vão
ficando desidratadas e distorcidas as aristas acumulam tensão semelhante à de
um elástico esticado, de modo que, chegado o momento da rutura, se dobram
repentinamente, catapultando as sementes a considerável distância da
planta-mãe.
Fonte Flora-on Foto de João D. Almeida |
Como vimos, as sementes das espécies Geranium desprendem-se de baixo para
cima e quando a coluna se curva, por vezes arrasta consigo tiras da epiderme da
coluna as quais ficam encaracoladas ou fazendo arco, ficando o mericarpo agarrado na extremidade quando as sementes são ejetadas para fora dele.
À primeira vista Geranium rotundifolium pode ser confundido com Geranium molle. Ambas as espécies se distinguem por vários fatores
mas o principal é a morfologia das flores cujas pétalas têm margens inteiras em
G. rotundifolium e entalhadas em G. molle.
Quadro comparativo entre as flores de Geranium molle - à esquerda e Geranium rotundifolium à direita
Fonte: Flora-on
Foto de Geranium molle - Ana Julia Pereira
Foto de Geranium rotundifolium - Patricia Pinto Silva
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Já constatamos que, do ponto de vista terapêutico popular, as espécies Geranium são muito apreciadas e Geranium rotundifolium não é exceção. Esta planta é usada pelas suas propriedades adstringentes e analgésicas.
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