Nomes comuns:
Macela-fétida; margaça;
erva-mijona;
fedegosa, funcho-de-burro.
Anthemis cotula |
Anthemis cotula |
Anthemis cotula |
Anthemis cotula |
Anthemis cotula |
Os caules são eretos ou
ascendentes, glabros ou pouco pubescentes e ramificados na sua metade superior.
A sua altura é muito variável, entre 3 a 75 cm e a planta pode assumir um
porte ereto ou algo esparramado.
Anthemis cotula |
Anthemis cotula |
Anthemis cotula - invólucro |
Anthemis cotula |
Anthemis cotula Esta foto de Herbarium-Plantas y hongos mostra o recetáculo seccionado, visivelmente sólido. |
Anthemis cotula Nesta foto podem ver-se as brácteas interflorais lineares que protegem apenas as flores que se vão transformar em fruto e que se situam na parte central do recetáculo. Fonte da foto. |
Frutos de Anthemis cotula. Foto de Bruce Ackley, The Ohio State University, Bugwood.org |
Cada planta produz centenas de milhares de frutos numa única estação, os quais permanecem viáveis no solo durante 4 a 6 anos.
Apesar do odor desagradável
que lhe granjeou o epíteto de fétida (ex. em inglês “stinking chamomile”) esta
planta apresenta propriedades terapêuticas apreciáveis. As flores contêm
flavonoides, ou seja, metabólitos secundários da classe dos polifenóis os quais
apresentam atividade antibiótica e óleos essenciais. Embora um pouco amarga de
gosto a Anthemis cotula possui reconhecidas propriedades terapêuticas como
antiespasmódica, adstringente, diaforética, diurética, sedativa e tónica, entre
outras.
O sabor amargo deriva dos princípios amargos presentes na composição química desta e de muitas plantas medicinais. São eles os responsáveis pelas propriedades terapêuticas digestivas dessas espécies, pois excitam as células gustativas e aumentam os sucos gástricos.
O sabor amargo deriva dos princípios amargos presentes na composição química desta e de muitas plantas medicinais. São eles os responsáveis pelas propriedades terapêuticas digestivas dessas espécies, pois excitam as células gustativas e aumentam os sucos gástricos.
Há que ter cuidado com o
manuseamento desta planta pois o seu suco pode causar alergia em algumas
pessoas (eritema bolhoso). Curiosamente, os extratos da planta têm utilização
no tratamento de ulceras e feridas da pele.
- Antiespasmódico e Indutor
da menstruação
- Adstringente, Sudorífero,
Diurético, Emético, Emenagogo e Tónica.
- Tratamento de sintomas do
reumatismo, epilepsia, asma, rinites e febres (infusão das flores);
- Picadas de
insetos (uso externo: folhas).
- Antibacteriano contra
bactérias Gram positivas e Gram negativas (flavonóides do extrato das flores).
- Pode causar dermatite
alérgica (uso interno, soro ácido).
- Pode causar erupções
cutâneas.
- Contraindicada a grávidas
e lactantes.
- Pode interagir com
medicamentos com ação similar.
Alguns sinónimos
científicos de Anthemis cotula:
Anthemis foetida Lam.;
Anthemis psorosperma Ten.;
Anthemis ramosa Link ex Spreng.;
Chamaemelum cotula (L.) All. ;
Maruta cotula (L.) DC.;
Maruta foetida Cass.
Anthemis cotula |
Sob o ponto de vista
taxonómico é um género difícil. As espécies apresentam mais semelhanças que
diferenças entre si e estão muito próximas de outros géneros pelo que tem
havido dificuldade por parte dos investigadores botânicos em chegarem a acordo
quanto à sua classificação. Este género foi descrito por Lineu e publicado em
Species Plantarum 2: 893–896. 1753, embora tenha sido o
botânico italiano PierAntonio Micheli(1679-1737) quem originalmente propôs o
nome Anthemis para este género, na sua publicação Nova plantarum genera: iuxtaTournefortii methodum disposita(1729).
O termo Anthemis deriva da
palavra grega “ánthemon” (= floração abundante), depois transformado em
“anthemis” (= flores pequenas), fazendo referencia às pequenas mas numerosas
flores do capítulo.
O epiteto “cotula” que
designa a espécie, deriva da palavra grega “kotule”. Este termo significa
pequena taça e tanto se pode interpretar como fazendo referencia à cavidade que
se forma na base das folhas amplexicaules como à forma da inflorescência.
Anthemis cotula. A seta indica a cavidade que se forma na base das folhas amplexicaules. |
As espécies deste género
distinguem-se pela morfologia dos frutos e das brácteas que envolvem as flores
centrais do capítulo.
As camomilas:
Camomila é o termo popular
que engloba, de forma algo confusa e indefinida, algumas espécies da família
Asteraceae, cujas características morfológicas e terapêuticas são muito
semelhantes. Trata-se de pequenos malmequeres cujas flores são utilizadas para
fazer infusões que geralmente designamos por chás de camomila. A ideia de
reunir tais plantas num mesmo grupo é muito antiga, pois remonta ao tempo dos
gregos, conceito que foi adotado pelos romanos e civilizações que lhes sucederam. Já na Antiguidade Clássica eram atribuídas às camomilas vastas propriedades
terapêuticas, nomeadamente adstringentes, antialérgicas, digestivas,
fortificantes, laxantes, sedativas, sudoríficas, anti-inflamatórias,
cicatrizantes e antibacterianas, apenas para mencionar algumas. A ideia geral é
que estas plantas podiam tratar qualquer doença. Ainda hoje as camomilas gozam de excelente reputação e são uma das ervas medicinais mais consumidas.
O termo camomila vem do latim “chamamemelum” que por sua vez se inspirou no grego “chamaimélon”, contração de duas palavras “chamai”= no chão e “melon”=maçã (maçã da terra?). Dizem que o nome se refere ao hábito de baixo crescimento das plantas, assim como ao seu aroma distintivo a maçãs. Apesar de tanto o nome português macela, como o espanhol “manzanilla” (que significam pequena maçã e que correspondem ao termo camomila) parecerem comprovar esta tese, a verdade é que eu não consigo distinguir nenhum vestígio de cheiro a maçã em qualquer das chamadas camomilas. Ou o defeito é meu ou as maçãs já não são o que eram?!
As plantas medicinais em geral, e as camomilas em particular são um negócio que gera confusões e milhões. No caso das camomilas as confusões advêm do número indistinto e flutuante de espécies confundidas com camomilas e que apesar de serem medicinais podem ter apenas alguns pontos de convergência com este grupo. Também não ajuda nada o facto de quase todas espécies envolvidas terem uma longa lista de nomes científicos (sinónimos) devido a sucessivas reclassificações e algumas duplicações. Há ainda o caso dos nomes vulgares ou comuns de muitas espécies que pouco ou nada têm a ver com as camomilas mas dos quais consta o termo camomila, levando ao engano pela semelhança com um epíteto cientifico.
Chamaemelum nobile (nome comum: camomila
romana) e Matricaria recutita (nome comum: camomila alemã) são as espécies mais
reputadas e há séculos que disputam entre si o reconhecimento de camomila verdadeira. A diferença mais evidente entre elas reside no gosto, sendo que Chamaemelum
nobile propicia um chá mais amargo que Matricaria recutita. Apesar disso, elas
têm sido confundidas desde sempre e usadas indistintamente.
Apesar da popularidade de
que, há séculos gozam estas espécies, existem poucos estudos sobre os seus usos
terapêuticos. Finalmente, nas últimas décadas foram levadas a cabo pesquisas
cientificas alargadas que confirmaram muitos dos seus usos tradicionais e
estabeleceram os mecanismos de ação terapêutica destas plantas, incluindo
atividade antiespasmódica, antipirética, antibacteriana, antifúngica e
antialérgica. Além do uso medicinal as camomilas desfrutam de ampla utilização
como bebida refrescante, não estimulante.
Tradicionalmente ambas as
espécies são usadas para fins semelhantes pois partilham qualidades terapêuticas
e cosméticas que se equivalem. Também são muito parecidas sob o ponto de vista
morfológico, contudo os seus componentes químicos e óleos essenciais são
bastante diferentes pelo que é importante frisar que Chamaemelum nobile e
Matricaria recutita são plantas distintas. Para além das diferenças genéticas,
há que considerar que a qualidade e quantidade de óleo essencial e de outros
componentes da planta estão dependentes de uma ampla gama de variantes que têm
a ver com os fatores ambientais, práticas de cultivo e colheita, entre outros.
Existem outras espécies de malmequeres que se incluem neste grupo das camomilas e que são tão semelhantes a C.nobile e M.recutita sob o ponto de vista morfológico que com elas facilmente são confundidas. Também elas possuem propriedades terapêuticas semelhantes, embora os compostos químicos possam ser distintos.
A partir de textos
botânicos antigos ficamos a saber que em certos países europeus a fé nas
propriedades curativas das camomilas chegou a tal ponto que, muitas
espécies morfologicamente semelhantes mas funcionalmente duvidosas, foram
largamente transacionadas, em regiões onde não existiam as originais, por
recolectores e comerciantes pouco escrupulosos.
Algumas plantas adquiriram fama mas outras não passaram de fraudes, como sempre é passível de acontecer quando a procura excede a oferta.
O número de espécies incluídas nas camomilas foi, entretanto, bastante reduzido, situação que, apesar de tudo, ainda não está bem definida. O que também não está claro é o que estamos a comprar quando vamos à loja e adquirimos o chá de camomila. As embalagens não especificam a espécie limitando-se a mencionar que o conteúdo é camomila, o que é muito vago. Qual é a espécie? Incluirá uma só espécie ou será uma mistura preparada de modo a satisfazer o gosto médio do consumidor?
O aumento da procura de camomila levou ao seu cultivo há já muitas centenas de anos, atividade que agora está florescente no leste europeu. Porém, nos dias de hoje abrem-se novas perspetivas e possibilidades para o desenvolvimento de novos cultivares havendo a possibilidade de as plantas serem modificadas geneticamente para tornar os chás mais ao gosto da maioria dos consumidores, quiçá perdendo muitas das suas qualidades naturais pois o que é “preciso” é rentabilizar e vender mais.
Algumas plantas adquiriram fama mas outras não passaram de fraudes, como sempre é passível de acontecer quando a procura excede a oferta.
O número de espécies incluídas nas camomilas foi, entretanto, bastante reduzido, situação que, apesar de tudo, ainda não está bem definida. O que também não está claro é o que estamos a comprar quando vamos à loja e adquirimos o chá de camomila. As embalagens não especificam a espécie limitando-se a mencionar que o conteúdo é camomila, o que é muito vago. Qual é a espécie? Incluirá uma só espécie ou será uma mistura preparada de modo a satisfazer o gosto médio do consumidor?
O aumento da procura de camomila levou ao seu cultivo há já muitas centenas de anos, atividade que agora está florescente no leste europeu. Porém, nos dias de hoje abrem-se novas perspetivas e possibilidades para o desenvolvimento de novos cultivares havendo a possibilidade de as plantas serem modificadas geneticamente para tornar os chás mais ao gosto da maioria dos consumidores, quiçá perdendo muitas das suas qualidades naturais pois o que é “preciso” é rentabilizar e vender mais.
Ainda há quem se desloque
às regiões rurais e aí recolha as espécies para consumo próprio o que nem
sempre é fácil tendo em conta diversas condicionantes, a começar por ter a
certeza de que se está a colher a espécie certa.
As características
morfológicas partilhadas pelas camomilas são os capítulos de “olho amarelo” e
“pétalas” brancas, além das folhas finamente recortadas, pormenor este que é
característico. À primeira vista, todas parecem iguais mas na realidade as
semelhanças entre elas são apenas superficiais. Os detalhes que as identificam
podem ser detetados com auxílio de uma lupa, uma vez que é necessário examinar
os pormenores do interior das inflorescências, podendo ser preciso
desmancha-las. O exame dos diminutos frutos também é muito importante.
De entre as várias espécies
de camomilas que se distribuem por quase toda a Europa, África do norte e Ásia
temperada, destaco 4 que crescem de forma espontânea em algumas regiões do
território português:
Anthemis cotula (já acima
descrita), Anthemis arvensis, Chamaemelum nobile e Matricaria recutita.
Anthemis arvensis L.
Alguns sinónimos:
Anthemis arvensis L.
Anthemis arvensis L. subsp.
arvensis
Anthemis arvensis L. var.
genuina Gren. et Godr.
Anthemis arvensis. Foto de U.Schmidt/Wikipedia |
Anthemis arvensis. Fonte da foto. Recetáculo parcialmente desfolhado de modo a mostrar as flores tubulosas e as brácteas interflorais que as envolvem |
Esta espécie assemelha-se à
sua congénere A.cotula, distinguindo-se dela pelo odor que não é tão forte nem
é desagradável. Ao contrário de A.cotula, em que as flores periféricas
liguladas são estéreis, em A.arvensis estas são femininas e férteis. Em
A.cotula apenas as flores centrais do recetáculo têm brácteas interflorais as
quais são lineares e do mesmo tamanho das flores, ao passo que todas as flores
de A. arvensis as possuem, sendo mais pequenas que as flores e de forma
lanceolada. Os frutos destas duas espécies também são diferentes, tuberculados
na A.cotula e com estruturas longitudinais salientes e pronunciadas em
A.arvensis.
Chamaemelum nobile (L.) All.
Alguns
sinónimos:
Anthemis nobilis L.
Anthemis nobilis L.
Ormenis nobilis
J.Gay.
Ormenis nobilis (L.)
J.Gay.
Ormenis nobilis (L.)
J.Gay. ex. Coss.et Germ.
Ormenis nobilis J.Gay.
var. discodeia Boiss.in Willk.et Lange
Ormenis nobilis (L.)
J.Gay. var.discodeia (Boiss.) Willk.
Chamaemelum nobile. Foto Wikipedia |
Chamaemelum nobile,
a chamada camomila romana, é uma espécie perene e com caules decumbentes que
determinam o seu crescimento baixo e rastejante. É muitas vezes usada em
jardins como substituto da relva, graças ao seu hábito de formar tapetes
compactos e resistentes, alastrando através das raízes. Para tal, devem as
plantas ser podadas drasticamente a uma altura de 5 cm após a floração, para
manter o baixo crescimento. É apropriada para solos moderadamente ácidos, em
climas secos e quentes. Adoram a exposição solar. Têm efeito benéfico sobre as
plantas vizinhas, protegendo-as de pragas e doenças. A folhagem e as flores são
agradavelmente fragrantes mas de gosto amargo. As folhas e as flores são idênticas
às espécies já acima mencionadas. O recetáculo é hemisférico ou cónico, com
interior sólido e com brácteas interflorais. As flores do disco são hermafroditas
e as periféricas liguladas são femininas ou estéreis. Os frutos são levemente
comprimidos e estriados na face interna.
Alguns sinónimos:
Chamomilla recutita
(L.) Rauschert;
Matricaria
chamomilla L.;
Chamomilla recutita
(L.) Rauschert;
Matricaria
chamomilla L;
Chamomilla vulgaris Gray;
Chrysanthemum chamomilla (L.) Bernh.;
Matricaria
courrantiana DC.;
Matricaria kochiana Sch. Bip.;
Matricaria recutita L.;
Matricaria recutita var. kochiana (Sch. Bip.) Greuter
Matricaria recutita - Foto de Karelj Wikipedia |
Matricaria recutita. Foto de Fornax Wikipedia Aqui pode ver-se que o recetáculo é oco e que não existem brácteas interflorais. |
Matricaria recutita,
a popularmente chamada camomila alemã, pode chegar a atingir 1 m de altura. É
mais ereta que a camomila romana. Os segmentos das folhas são menos achatados e
espessos e as suas inflorescências não são solitárias
e terminais, antes surgem em cachos (corimbos).
De notar que, ao contrário das
restantes espécies acima mencionadas, as flores de Matricaria recutita não têm
brácteas interflorais e que o recetáculo das inflorescências é oco.
1) As camomilas podem ter algumas contraindicações. Por exemplo, podem ser problemáticas para quem apresente sintomas de alergias às Asteraceae. Como
sempre, alertamos para o facto de que o uso intensivo de plantas medicinais, sob
qualquer forma, deve ser acompanhado por especialistas na matéria.
2) Parece não ser aconselhável dar chá de camomila, assim como outros chás medicinais e mel, a crianças de idade inferior a 2 anos. Confira AQUI a noticia.
Para terminar, veja AQUI
algumas ideias sobre a utilização cosmética e alimentar das camomilas.
Fotos de Anthemis cotula: Serra do Calvo/Lourinhã
excelente artigo... muitos parabens.
ResponderEliminare um bom artigo
ResponderEliminar