Nomes comuns:
Pão-posto; pão-bem-posto; pimposo; pimposto
Anacyclus radiatus |
“Malmequer” é a
designação genérica e popular pela qual são conhecidas múltiplas espécies muito
semelhantes e por vezes, difíceis de distinguir. Pertencem à família Asteraceae ou Compositae,
a maior família de plantas de flor e talvez a mais bem sucedida, pois estamos
constantemente a cruzar-nos com exemplares que a ela pertencem, tanto nas
cidades como nos campos, em praticamente todas as regiões do planeta
(margaridas, crisântemos, cardos etc.). No seu todo, a família das Asteraceae/Compositae compreende cerca de 23000 espécies, as
quais estão organizadas em cerca de 1500 géneros. Quase todas exibem uma certa
exuberância que não as deixa passar despercebidas, desde as espécies
ornamentais às silvestres, sejam elas grandes e vistosas ou tão pequenas que
poderiam passar despercebidas. A sua rusticidade e a aparente simplicidade do seu esquema floral são muito cativantes, conseguindo transmitir-nos
agradaveis sensações, em que se misturam a energia e o sentido do equilíbrio.
No nosso país, sucedem-se
diferentes espécies de malmequeres silvestres, durante o ano inteiro. Por estes
dias, estimuladas pelas copiosas chuvas de inverno, florescem diversas espécies, numa breve promessa de primavera:
Em cima: Chamaemelum fuscatum e Bellis sylvestris Em baixo: Chrysanthemum coronarium e Calendula arvensis |
Outras,
mais friorentas, virão um pouco mais tarde, como é o caso de Anacyclus radiatus, espécie que se sente mais à vontade com o calorzinho
do verão.
Anacyclus radiatus |
Anacyclus radiatus é uma herbácea de índole mediterrânica e que se
distribui pelo sul da Europa, norte de África e sudoeste asiático. É autóctone de
Portugal continental, sendo frequente em quase o todo o territorio. Foi
introduzida nos Açores onde se assilvestrou mas no arquipelago da Madeira a sua
presença é recente e casual.
Mapa de distribuição de Anacyclus radiatus em Portugal continental Fonte: Flora Digital de Portugal - Jardim Botânico da UTAD |
É uma planta ruderal, associada a ambientes antropizados cujos solos
apresentam concentrações elevadas de nitratos. Geralmente, é encontrada em
campos cultivados ou incultos, berma dos caminhos, baldios, montes de entulho e
até em locais degradados das grandes cidades.
A altura desta herbácea de ciclo de vida anual varia entre os 7 e os 50 cm, consoante as condições mais ou menos
propicias ao seu desenvolvimento.
Anacyclus radiatus - caules e folhas |
Os caules, densamente cobertos por um tomento constituído por pelos curtos
e enrolados sobre si próprios, são eretos, simples ou ramificados desde a base
e ainda com ramos laterais ascendentes.
As folhas, também tomentosas e de tom verde-azulado, dispõem-se nos
caules de forma alternada; o limbo de cada folha é profundamente recortado,
formando segmentos lineares.
Anacyclus radiatus - flores tubulosas e periféricas |
As flores e a forma
como se dispõem em inflorescências do tipo capítulo constituem a característica
comum entre os malmequeres. Este tipo de
inflorescência é formado por muitas flores de tamanho diminuto que se agrupam
de forma compacta num só pedúnculo, aninhando-se diretamente sobre um
recetáculo em forma de disco. As flores periféricas desse disco apresentam
prolongamentos unilaterais chamados lígulas, os quais são semelhantes a pétalas
(flores liguladas) ao passo que as flores do centro são simples, sem
prolongamentos (flores tubulosas). O conjunto parece constituir uma única flor,
sistema que resulta bastante atrativo para os insetos. Esta estratégia é um
verdadeiro trabalho de equipa que se traduz numa significativa poupança de
esforços e redução no dispêndio de energia para a planta. Enquanto apenas uma
pequena porção das flores investe na produção de “pétalas”, a grande maioria
concentra a sua energia na produção de sementes.
Anacyclus radiatus - pedúnculo aclavado e invólucro de bráteas |
Em Anacyclus radiatus os
capítulos surgem solitários sobre pedúnculos aclavados, ou seja, estreitos na
base e alargando de forma arredondada em direção à base da inflorescência. Todas
as flores são amarelas e o disco onde se inserem está protegido por um invólucro de brácteas dispostas em duas ou 3 filas.
Anacyclus radiatus - invólucro de brácteas |
As brácteas interiores do invólucro são
triangulares com ápice em ângulo agudo; as brácteas externas são mais curtas
que as interiores e tem forma lanceolada, sendo a sua margem membranácea,
translucida e franjada de escuro.
Anacyclus radiatus - capitulo |
As flores centrais tubulosas estão agrupadas
e inseridas num recetáculo em forma de disco, o qual pode ser plano ou
ligeiramente cónico; as flores periféricas estão providas de lígulas dispostas
em 1 ou 2 filas cujo ápice é dentado (especificamente, são hemiligulas, por
terem menos de 5 dentes).
Anacyclus radiatus - pormenor das flores |
Quanto à forma de reprodução, as flores centrais tubulosas
são hermafroditas enquanto as periféricas hemiliguladas, são femininas.
Após a polinização, cada flor fertilizada dará origem a um fruto constituído por uma fina casca,
envolvendo uma única semente. Tecnicamente designados por aquénios ou cipselas,
estes frutos são muito comprimidos, com ambas as faces lisas e ladeadas por
umas abas ou asas laterais que resultam de expansões membranosas do pericarpo e
são muito finas e quase transparentes. Estas asas são órgãos essenciais na
dispersão dos frutos de Anacyclus radiatus e podemos dizer que têm a mesma
finalidade do tufo de pelos (papilho ou pappus) que vemos em tantas outras
espécies da mesma família (nesta espécie está reduzido a um mero apêndice mais ou
menos circular); o objectivo é o mesmo, havendo apenas uma maior adequação às
necessidades da cada espécie. Aliás, é notável a variedade de formas de
dispersão das sementes adotadas pelas Asteraceae.
Curiosamente,
em Anacyclus radiatus as asas dos frutos originados pelas flores periféricas
são maiores que as dos frutos das flores centrais, que são bastante mais estreitas.
Este fenómeno, denominado heterocarpia, é bastante comum entre as Asteraceae e
caracteriza-se pela produção de 2 ou mais tipos de frutos distintos (em
morfologia e tamanho) numa mesma planta.
A heterocarpia
é considerada uma estratégia de dispersão mista, na medida em que a diferente
morfologia dos frutos pode determinar comportamentos diferentes no que diz
respeito à dispersão, capacidade de germinação e sobrevivência das sementes.
Frutos de diferentes tipos morfológicos têm maiores possibilidades de sucesso
germinativo, em tempo e espaço. Enquanto o tipo morfológico de alguns frutos
determina que caiam ao pé da planta-mãe e por ali fiquem, outros desenvolveram
características que lhes permitem ser levados para outros locais onde, livres
da concorrência das suas irmãs, podem formar novas colónias.
Por outro lado, o tipo morfológico dos frutos também é determinante na germinação. No caso de Anacyclus radiatus os frutos que germinam mais rapidamente são os periféricos por terem asas significantemente maiores, em comparação com os centrais. Uma das razões para que tal aconteça reside no facto de as asas aumentarem a superfície através da qual a água e o ar entram no embrião, condição essencial para que se inicie a germinação.
Anacyclus radiatus |
Cada uma das
pequenas flores de Anacyclus radiatus está rodeada por pequenas brácteas que
são persistentes na maturação e que seguram os frutos durante longo tempo mesmo
depois de a planta ter secado. Desta forma, os capitulos tornam-se estruturas
resistentes que funcionam como bancos de sementes aéreos.
Os frutos são retidos nos capítulos até ao início das chuvas do fim do
verão e vão sendo libertados sequencialmente durante diferentes períodos de
chuva, começando pelos aquénios exteriores, que são mais pesados e só depois os
do centro do disco, por vezes, meses mais tarde. Este sistema pode ser
vantajoso nos ambientes de clima mediterrânico onde os invernos são chuvosos,
aumentando as probabilidades de estabelecimento das plantas em zonas afastadas
do seu local de origem ao serem arrastadas durante os períodos de chuva, tanto
mais que estes aquénios demonstram grande capacidade para flutuar em correntes
temporárias, ajudados pelas expansão das asas. Perante este cenário, podemos
ser levados a pensar que são as chuvas o principal vetor de dispersão das
sementes de Anacyclus radiatus. O vento poderá ser um factor secundário tendo
em conta a baixa altura desta planta.
Anacyclus radiatus - hábito |
Finalmente, no inicio do inverno ainda se podem observar alguns velhos
capítulos em que persistem alguns aquénios, os quais podem atuar como
unidades de dispersão, agarrando-se ao pelo de cabras e ovelhas ou através da
atividade humana.
Anacyclus radiatus pertence ao género Anacyclus, um dos muitos géneros da família Asteraceae/Compositae e cujo nome deriva do termo grego “anakuklôsis” que faz alusão às asas que circundam os aquénios das suas espécies.
Regista-se mais uma espécie deste género em Portugal continental, Anacyclus clavatus, de lígulas brancas, embora menos frequente que A.radiatus.
Anacyclus clavatus Fonte Wikipedia . Foto de Pablo Alberto Salguero Quiles |
Fotos de Anacyclus radiatus - Serra do Calvo/Lourinhã
Sem comentários:
Enviar um comentário