Nome comum: Onagra rosa
Oenothera rosea é uma planta herbácea, perene de vida curta, que forma um pequeno
arbusto cuja altura pode ir dos 10 aos 50 cm de altura. É nativa do continente
americano (Norte, centro e sul) mas foi introduzida noutras partes do mundo,
possivelmente como ornamental, tendo-se assilvestrado e naturalizado. Na
Península Ibérica encontra-se distribuída de forma bastante dispersa podendo
apresentar, em algumas regiões, comportamento invasor. Além de possuir uma
elevada percentagem de sucesso na germinação das suas sementes também tem
raízes rizomatosas que se subdividem rapidamente, dando origem a novas plantas.
Cresce em terrenos incultos e bermas de caminhos mostrando preferência por
solos alterados os quais são ricos em nutrientes. Gosta de crescer em pleno sol
e é bastante resistente às amplitudes térmicas.
Os caules, de cor verde ou avermelhada, são simples ou ramificados e estão cobertos de pelos finos e rígidos; podem ser eretos ou prostrados.
As folhas, verdes, de nervuras bem marcadas, colocam-se nos caules de forma alternada; têm forma oblanceolada, algo onduladas e são inteiras ou ligeiramente dentadas.
As folhas, verdes, de nervuras bem marcadas, colocam-se nos caules de forma alternada; têm forma oblanceolada, algo onduladas e são inteiras ou ligeiramente dentadas.
As folhas vão diminuindo
gradualmente de tamanho da base para o topo até assumir a forma de brácteas
estreitas, logo abaixo das inflorescências.
As flores agrupam-se ou
nascem solitárias na axila das folhas superiores. As pétalas, de cor rosa e
embelezadas por veias mais escuras, são 4 e estão protegidas por 4 sépalas
esverdeadas geralmente unidas na base mas bifurcadas na extremidade.
As flores abrem ao
anoitecer e fecham ao início da tarde, dai o nome de “evening primrose” que é
dado em inglês à Oenothera rosea.
Curiosamente as pétalas desta espécie abrem muito rapidamente, num momento
estão fechadas, no minuto seguinte estão abertas, movimentos que têm desde há
muito fascinado os biólogos.
As flores apresentam
órgãos sexuais femininos e masculinos. O androceu tem 8 estames com filamentos
longos e o gineceu tem um ovário densamente peludo dividido em 4 partes cujo
estilo termina num estigma dividido mais ao menos até meio em 4 braços lineares
os quais estão rodeados pelas anteras durante a floração.
Quando envelhecem as
pétalas tornam-se mais escuras e caiem. Segue-se o fruto, uma estrutura
capsular alongada e circular bastante mais dilatada no ápice o qual é arredondado.
Esta cápsula apresenta 4 asas estreitas que alternam com 4 nervos engrossados;
no seu interior há varias sementes castanhas de contorno elíptico ou
arredondado.
Oenothera rosea floresce e frutifica de abril a outubro.
Nesta espécie, o ponto de
inserção das bases das pétalas, sépalas e estames é muito desenvolvido formando
um tubo estreito longamente prolongado acima do ovário. Esta estrutura denomina-se hipanto e é na sua base que se
deposita o néctar, precioso líquido rico em hidratos de carbono que serve de
chamariz aos insetos polinizadores. O hipanto é caduco, caindo juntamente com a flor, na frutificação.
Entre os insetos que
polinizam a Oenothera rosea contam-se
várias espécies de traças e borboletas noturnas mas nem todas as espécies
europeias estão morfologicamente adaptadas para recolher o pólen e polinizar as
flores desta planta exótica, a qual surgiu na Europa muito recentemente. Até
1987 foi considerada casual mas a partir dessa data espalhou-se rapidamente.
Entretanto tem sido uma armadilha para muitos insetos nomeadamente a Macroglossum stellatarum, conhecida vulgarmente
como borboleta-colibri; esta borboleta vai parando sobre cada flor, fazendo um
barulho audível que é semelhante ao da ave beija-flor, enquanto se alimenta de
pólen e néctar através da sua longa probóscide (armadura bucal longa e em forma
de tubo, adaptada à aspiração de líquidos).
Foto de Clive Crosby gentilmente cedida por Brian Cave de La Borie du Fourquet, Courdon, Lot/France |
Na foto acima podemos ver uma Macroglossum stellatarum que ficou com a probóscide presa no longo tubo
do hipanto de uma Oenothera rosea ao
tentar recolher o néctar e acabou por morrer. Como é possível que tal tenha
acontecido? O inseto ter-se-à posicionado, pairando, face a face com a flor
aberta e introduzido a sua longa tromba no estreito tubo do perianto,
empurrando-a para se alimentar. Ora, nesta e noutras espécies da mesma família
os grãos de pólen estão ligados por fios viscosos que apesar de ténues e
delicados poderão ter impedido que o inseto retirasse a probóscide. Pode ainda
acontecer que o tubo do hipanto seja demasiado estreito para a morfologia do
inseto…Outra explicação que me ocorre é que os pelos que forram o hipanto sejam
virados para baixo, facilitando assim a entrada mas dificultando a saída. O
certo é que na sua luta para se libertar a Macroglossum
stellatarum se ensarilhou nas peças florais da Oenothera rosea acabando por morrer. Problemas idênticos acontecem
com outras flores exóticas as quais são autênticas armadilhas para insetos
providos de probóscides.
Oenothera rosea pretence ao género Oenothera
um dos 20 géneros em que se divide a família Onagraceae. Esta família botânica distribui-se por todas as regiões
tropicais, subtropicais e temperadas do globo mas com maior diversidade no
continente americano. Muitas espécies são cultivadas como ornamentais como
acontece com as espécies dos géneros Oenothera,
Clarkia e também Fuchsia, estas
ultimas especialmente apreciadas e vulgarmente conhecidas por
brincos-de-princesa.
Oenothera rosea
é uma espécie “splash-cup”!
A dispersão das
sementes pelas gotas de chuva:
Um dos momentos decisivos
no ciclo de vida de uma planta é a dispersão das suas sementes a qual tem de
ser sobretudo eficiente pois dela depende a capacidade de sobrevivência da
espécie.
Para qualquer planta com
ambições o mais vantajoso é fazer germinar as suas sementes a uma distância
razoável das suas progenitoras evitando a sobrelotação e a inevitável
competição por água, luz e espaço que pode comprometer as hipóteses da semente
chegar ao estado adulto. Por outro lado tem também o objetivo de se expandir
criando colónias noutros lugares.
Certas plantas possuem mecanismos
particulares de dispersão que lhes permitem projetar as suas sementes a uma
certa distancia mas na generalidade as plantas deixam simplesmente cair as
sementes em seu redor e a dispersão é conseguida através de uma variedade de
adaptações e mecanismos que envolvem praticamente todas as forças e agentes da
natureza. O vento, a água dos locais alagados ou próximos de rios e os animais,
são os agentes de dispersão mais falados.
As
gotas da chuva representam também uma importante estratégia na disseminação de
sementes, no entanto, tal facto tem sido negligenciado ou minimizado. Mesmo quando a chuva
é escassa representa, ainda assim, uma poderosa força da natureza como agente
dispersor de sementes, esporos e até de pólen. A adaptação à dispersão pelas
gotas da chuva é tão perfeita e variada que já são reconhecidos mais de trinta
mecanismos diferentes de dispersão “splash-cup” utilizados por espécies
encontradas em quase todos os grupos de plantas.
As espécies denominadas “splash-cup”
podem encontrar-se entre fungos, líquenes, hepáticas, musgos e algumas plantas
de semente de pequena estatura, nomeadamente algumas espécies dentro dos
géneros Oenothera (Oenothera rosea),
Chrysosplenium, Gentiana, Gratiola, Mazus, Mitella, Ophiorrhiza, Sagina,Sedum,
Trigonotis e Veronica. Contudo nem todas as espécies destes géneros são “splash-cup”.
Fruto de Oenothera rosea: o fruto abre no topo quando molhado, formando a taça/ Harold Brodie, Indiana University |
Nas espécies “splash-cup”
as sementes ou esporos amadurecem dentro de estruturas abertas de forma cónica,
como uma taça (“cup”, em inglês). As paredes destas estruturas têm uma
inclinação de 60º a 70 º. Ora, quando a gota de chuva cai e faz “splash” na
taça dá origem a um jacto de saída que arrasta as sementes para longe da planta-mãe.
A curvatura da taça ajuda a aumentar em cerca de 5 vezes a velocidade deste
jacto, em relação à velocidade da gota de chuva. Levadas pelo jacto de saída, muitas
sementes cairão relativamente perto da mãe mas outras chegam a ser lançadas até
cerca de 1 metro de distância o que equivale a cerca de 10 vezes a altura da
planta.
Diversos cientistas estão
a levar a cabo estudos aprofundados no sentido de entender melhor o
funcionamento do "splash". Através destas investigações espera-se poder, num
futuro próximo, vir a aproveitar este exemplo da natureza em causas praticas
como por exemplo, entre outras, na produção de energia.
Muito interessante. As flores são lindas!
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