Erva-das-verrugas; tornassol; tornassol-com-pelos;
verrucária; verrucária-peluda
Heliotropium europaeum é uma planta anual, nativa da região mediterrânica
e que pode ser encontrada, de forma dispersa, no centro, sul e oeste da Europa,
norte de África, sudoeste asiático e também nas ilhas da Macaronésia (exceto
Cabo Verde).
Foi introduzida noutros continentes, possivelmente de forma acidental, sendo o caso mais notório o da Austrália. Liberta dos seus inimigos naturais, a Heliotropium europaeum encontrou, em algumas regiões desse continente, excelentes condições para o seu desenvolvimento tornando-se altamente invasora e interferindo no equilíbrio ecológico. Ao seu comportamento infestante acresce o facto de ser uma planta muito toxica envenenando o gado e causando enormes prejuízos num setor importante da economia local.
Foi introduzida noutros continentes, possivelmente de forma acidental, sendo o caso mais notório o da Austrália. Liberta dos seus inimigos naturais, a Heliotropium europaeum encontrou, em algumas regiões desse continente, excelentes condições para o seu desenvolvimento tornando-se altamente invasora e interferindo no equilíbrio ecológico. Ao seu comportamento infestante acresce o facto de ser uma planta muito toxica envenenando o gado e causando enormes prejuízos num setor importante da economia local.
Esta planta
multiplica-se apenas através de sementes mas essas permanecem no solo,
mantendo-se férteis por muitos anos. Herbicidas químicos mostraram-se
ineficazes no controle desta infestante pelo que têm sido realizados testes de
controlo biológico através da introdução de insetos e micro-organismos
recolhidos na região mediterrânica onde são agentes naturais de controlo da
espécie. Em certas regiões da Austrália foi já experimentado, entre outros, o
escaravelho Longitarsus albineus, grande apreciador das folhas de Heliotropium
europaeum mas os bicharocos não se deram bem com o clima e a seca
impediu-os de se estabelecerem. A borboleta Ethmia distigmatella mostrou ser
mais eficaz: as suas larvas crescem nas inflorescências da H. europaeum e comem
as flores e as sementes. Novos ensaios estão a ser levados a cabo, recorrendo
também a agentes patogénicos nomeadamente fungos dos géneros Uromyces e
Cercospora. A ideia é levar estes fungos a produzir doenças infeciosas nas
plantas recém-nascidas desta infestante, matando-as.
Em Portugal a Heliotropium europaeum distribui-se por todo o território, sendo
autóctone do continente e ilha da Madeira e naturalizada nos Açores. Sendo
nativa na nossa região esta planta permanece controlada pelos seus inimigos
naturais, escaravelhos, larvas de borboletas e outros, mantendo-se o equilíbrio
dos ecossistemas onde ela vive, ao contrário do que aconteceu na Austrália. A
interação entre todos os organismos que habitam uma região é quase sempre muito
sensível pelo que a introdução de uma espécie exótica pode desencadear reações
em cadeia e a consequente perda do equilíbrio existente. Este é um assunto
muito interessante e ao qual voltarei, com mais detalhes, num dos próximos
“posts”.
A Heliotropium europaeum cresce de preferência em pleno sol, em campos
agrícolas, bermas de caminhos e também em escombros e estrumeiras onde gulosamente aproveita a elevada percentagem de azoto no solo.
O nome Heliotropium refere-se à característica aparentemente comum das
plantas deste género que leva as flores
a seguirem o movimento do sol ao longo do dia (helio = sol, tropium = virar-se
para).
Heliotropium europaeum forma um arbusto baixo e alargado que pode chegar aos 50 cm
de altura. O seu sistema radicular é muito desenvolvido o que lhe permite
recolher água do solo em épocas de seca. A sua raiz principal é fina mas está
profundamente implantada no solo, por vezes a mais de 1 metro e além disso é
muito ramificada.
Os caules, simples ou moderadamente ramificados desde a base, têm hábito
ereto ou ascendente, e são algo ásperos ao tato devido aos pelos brancos que os
cobrem e lhe dão a cor acinzentada.
As folhas, de forma elíptica, também estão cobertas por alguns pelos,
particularmente na parte inferior, mas são macias; posicionam-se nos caules de
forma alternada, aos quais se ligam por um pecíolo relativamente longo; as
margens são inteiras e as nervuras do limbo são bem visíveis, sendo as da face
inferior bastante proeminentes.
Ao contrário de outras espécies do mesmo género cujas flores exalam um
agradável aroma a baunilha, as flores de Heliotropium europaeum não são
odoríferas, antes pelo contrário.
As flores, sem pedúnculo e sem brácteas, reúnem-se aos pares e de forma
alternada, em inflorescências compridas. Estas formam uma espiral que se vai
desenrolando a medida que as flores vão abrindo, ficando finalmente enroladas
apenas na ponta. A ponta enrolada e a textura peluda fazem com que os espigões
florais se assemelhem a lagartas.
A corola é afunilada, sendo constituída por 5 pétalas unidas na base
formando um tubo. A parte central da corola apresenta um desenho em forma de
estrela. A superfície das pétalas é ondulada, com uma prega longitudinal entre
os lóbulos e é quase toda branca exceto na base que é amarela.
As flores estão providas de órgãos reprodutores femininos e masculinos mas são tão pequenas (2 a 4 mm) que estes não são visíveis a olho nu. Do androceu (órgãos masculinos) constam 5 estames amarelados que estão soldados à face interior das pétalas e o gineceu (órgãos femininos) apresentam um pistilo central com estigma linear cuja cor verde se vê na garganta da corola.
Envolvendo a base das pétalas e órgãos reprodutores, temos o cálice o
qual consta de 5 sépalas estreitas, lineares ou triangulares muito peludas,
separadas praticamente até à base e persistentes mesmo depois da queda do
fruto.
São as sépalas que seguram de forma firme os frutos em desenvolvimento,
cobrindo-os parcialmente.
Cada fruto é composto por um grupo de 4 nozes ou
núculas que em conjunto têm forma esférica achatada. Cada núcula contém uma
semente de cor escura. No processo de amadurecimento as sépalas ficam mais
frouxas e as núculas separam-se umas das outras e caiem para o chão. Para além
dos meios habituais (vento, animais, escorrência de agua no solo) não se
conhece nenhum mecanismo específico de dispersão das sementes nesta espécie mas
a verdade é que elas conseguem organizar-se de forma a germinarem a uma
distância relativa umas das outras.
A Heliotropium europaeum floresce e frutifica entre os meses de maio e
novembro.
Heliotropium europaeum é uma espécie potencialmente perigosa pois todas
as partes da planta são toxicas para animais e humanos. Tem causado a morte de
muitos animais (gado) que a encontrem misturada nas pastagens. Os alcaloides contidos na planta
provocam lesões irreversíveis no fígado o que não impede que seja incluída na
farmacopeia popular como febrífuga, sedativa, analgésica e cicatrizante. Há
quem use o suco obtido das folhas para eliminar verrugas, daí a origem de um
dos nomes vulgares em Portugal (erva-das-verrugas).
Heliotropium europaeum pertence ao género Heliotropium, um dos 140
géneros em que se divide a Boraginaceae, família botânica de importância
económica relativa e cujas espécies são nativas dos trópicos, climas
temperados, oeste americano e bacia do Mediterrâneo. Muitas das espécies
Boraginaceae são cultivadas e apreciadas como ornamentais apresentando cachos
de pequenas flores principalmente em tons de rosa, azul e roxo. Algumas das mais conhecidas são
as minúsculas miosótis, os odoríferos heliotrópios, e as consoldas. Muitas
outras são espontâneas em Portugal e algumas até já foram descritas neste blogue. Vale a pena rever AQUI, AQUI, AQUI e AQUI.
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