Nomes comuns:
Consolda-menor; brunela; prunela; erva-férrea; erva-das-fridas
Prunella vulgaris. Fonte: Wikiwel |
Prunella vulgaris |
Tendo-se tornado uma panaceia quase universal, em medicina ocidental
esta erva era principalmente usada externamente para tratar lesões menores como
feridas, queimaduras, contusões e ulceras da boca, dores de garganta,
inflamação dos olhos e sangramentos, enquanto na medicina chinesa, era usada sobretudo para tratar queixas do foro hepático, atuando como
estimulante do fígado e da vesicula biliar. Estudos recentes demonstram e
confirmam a ação do ácido rosmarinico presente na composição quimica da planta, na redução de radicais livres ao nível
das células hepáticas, preservando a integridade estrutural e funcional do
figado.
Todas as partes da planta são medicinais e são usadas
principalmente pela sua ação analgésica, antissética, adstringente,
antibiótica, antiespasmódica, anti-inflamatória, antitumural, cicatrizante,
carminativa, depurativa, diurética, hemostática, febrífuga, hipotensiva,
sedativa, vermífuga, vulneraria e tónica. Entretanto, estudos recentes
referentes ao uso da planta no tratamento de herpes, cancro, sida, problemas de
alergias e diabetes, parecem prometedores. Assim, muitos dos benefícios lendários
desta planta parecem estar a ser cientificamente suportados.
Os constituintes químicos principais incluem taninos, ácido
betulinico, acido canfórico, delfinidina, hiperoside, ácido oleanólico, ácido
rosmarinico, ácido mirístico, ácido ursolico, ácido laurico, manganês, beta-sitosterol e
lupeol.
Prunella vulgaris |
Prunella vulgaris - Caule subterrâneo, raízes e gemas em fase de abrolhamento |
A parte subterrânea desta planta caracteriza-se pela existência
de um estreito rizoma, ou seja um ligeiro engrossamento de caules subterrâneos cuja
missão é fazer reserva de nutrientes. Estes rizomas formam raízes finas que não
só fixam a planta ao solo como também servem para absorver água e sais minerais
entre outros compostos necessários ao desenvolvimento da planta. Estes rizomas
têm a faculdade de se expandir, crescendo paralelamente em relação ao solo,
produzindo, a determinados espaços, nós com gemas. A partir destas gemas surgem
novas raízes e folhas, dando origem a novas plantas. Os caules aéreos têm seção
quadrangular e a sua cor é avermelhada, apresentando alguns pelos dispersos que
vão desaparecendo à medida que a planta envelhece.
Prunella vulgaris - caules de secção quadrangular com folhas opostas |
Prunella vulgaris - folhas |
De notar que durante a época de floração o eixo floral da inflorescência continua a crescer pelo que novos anéis de flores vão sendo acrescentados. No entanto, as flores, cálices e brácteas vão diminuindo de tamanho da base para o ápice da inflorescência, pelo que o diâmetro da “espiga” é menor no ápice do que na base.
Flores de Prunella vulgaris - Foto (detalhe) de Michael Gasperl (Migas) Fonte Wikimedia Commons |
Prunella vulgaris- detalhes da flor Foto de Jim Conrad. Fonte Wikimedia Commons |
Nesta ilustração podemos observar a morfologia particular dos estames que na foto acima é pouco percetivel. Cada um dos filetes se divide em dois braços, um deles com antera e o outro sem antera e com forma pontiaguda. Fonte Illustrations of the British Flora 1924 |
Embora sendo atraída por múltiplos insetos devido ao néctar que produz,
esta planta parece estar adaptada para ser fertilizada por abelhas, sendo estes
os únicos insetos capazes de chegar ao néctar que está reservado no fundo da
corola. O anel de pelos espessos que se encontra na garganta do tubo da corola impede
a entrada a outro tipo de insetos mas permite a entrada dos longos probóscides
das abelhas que assim conseguem sugar o precioso alimento, enquanto poisam no lábio
inferior da flor. Ao fazê-lo as abelhas entram em contacto com o pólen das
anteras posicionadas debaixo do lábio superior da flor.
A floração de Prunella vulgaris ocorre durante a primavera e o
verão.
O género Prunella a que pertence esta planta inclui 8 espécies nativas do hemisfério norte, das quais 3 estão presentes em território português.
Para além de Prunella vulgaris, acima descrita e que está presente tanto no
continente como nas ilhas, existem mais duas espécies nativas e presentes
apenas no território continental nomeadamente Prunella grandiflora, que difere
de P.vulgaris por ter folhas e flores maiores e Prunella laciniata que tem
flores brancas.
Este género pertence à família Lamiaceae = Labiatae, comumente
conhecida como família das mentas que inclui mais de 3000 espécies distribuídas
por uns 200 géneros, dos quais 29 estão presentes em Portugal. É considerada
uma das famílias mais evoluídas entre as dicotiledóneas.
Nota:
As angiospermas dividem-se em dois grandes grupos,
monocotiledóneas e dicotiledóneas, assim denominadas, entre outras diferenças, consoante
o embrião da semente contenha, respetivamente um ou dois cotilédones. Assim sendo,
quando uma semente germina as primeiras “folhas” que aparecem são os cotilédones,
um no caso de planta monocotiledónea ou dois no caso de dicotiledóneas. Na
realidade, os cotilédones são folhas modificadas que servem de reserva alimentar que ajudam a
planta a subsistir durante a fase de germinação, geralmente caindo quando surgem as primeiras folhas verdadeiras.
Os membros desta família
são espécies arbustivas ou herbáceas e, caso único entre as famílias botânicas,
têm a particularidade de todas elas serem aromáticas e apresentarem propriedades
medicinais. Ou seja, muitas outras famílias incluem algumas espécies aromáticas
e/ou medicinais mas no caso da família das mentas todas as espécies incluem
essas características. São especialmente abundantes na região Mediterrânica e
uma parte da Ásia de onde são originárias, mas gradualmente foram sendo
introduzidas noutras regiões do globo, encontrando-se, hoje em dia, amplamente
distribuídas. Entre os exemplares mais conhecidos desta família podemos nomear
as hortelãs, as alfazemas, os orégãos, os tomilhos, as salvias, os rosmaninhos,
os alecrins e os manjericões, entre muitas outras.
A importância económica das Lamiaceae/Labiatae é, como se
calcula, enorme. À parte o uso caseiro e artesanal, as diversas industrias têm
tirado bom partido das qualidades ornamentais, aromáticas e medicinais destas
espécies. Assim, são vendidas nos viveiros e utilizadas em paisagismo; depois
de secas e devidamente empacotadas são vendidas nos supermercados como
condimentos ou chás; através de processos sofisticados são retirados os óleos essenciais
os quais são utilizados em aromaterapia e na indústria cosmética e farmacêutica.
Apesar de serem cultivadas em muitos lugares do mundo de clima
temperado é na região mediterrânica que estas espécies se sentem em casa e onde
medram com mais vigor e concentram os melhores aromas. São espécies que gostam
de habitats livres, em encostas de solos tantas vezes pedregosos, vivendo entre
outras plantas de baixo porte, que não lhes encobrem o pleno sol e tal como
elas estão adaptadas à secura dos verões e às chuvas invernais e primaveris tão
características do clima mediterrânico. De forma geral, florescem no verão,
altura em que se faz a colheita. Curiosamente, a colheita deve ser realizada ao
fim da manhã, momento em que apresentam maior quantidade de óleos essenciais.
A família Lamiaceae/Labiatae é uma das maiores famílias de
plantas melíferas. A floração é geralmente abundante e as flores, generosas,
não regateiam o néctar, parecendo haver tanto mais deste suco açucarado quanto
mais visitantes houver. Aliás, parece haver uma especial relação entre estas
flores e as abelhas. A morfologia das corolas, que apresentam um lábio superior
e um inferior diferenciados, aparenta ser especialmente adaptada ao corpo
destes insetos.
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