Nomes comuns:
Salgueirinha; erva-carapau; salicária; salgueirinha-roxa
Salgueirinha; erva-carapau; salicária; salgueirinha-roxa
Lythrum salicaria é uma interessante espécie nativa da Europa,
Ásia e norte de África que em Portugal se distribui um pouco por todo o
território. É uma espécie anfíbia, que vive em lugares permanentemente húmidos
ou encharcados não muito profundos como a beira dos rios, riachos, lagos e
tanques. É capaz de suportar alguma salinidade pelo que também é possível
encontrá-la em zonas pantanosas e nos estuários dos rios.
Lythrum salicaria é uma espécie perene cujos caules herbáceos
formam um arbusto denso com 150 ou 200 cm de altura. O sistema radicular é superficial
e é formado por um emaranhado de rizomas grossos e carnudos que se transformam
numa grande coroa lenhosa, a qual serve de reservatório de nutrientes e também ajuda na propagação da planta, dando origem a novos rebentos.
Os caules,
de cor avermelhada, são eretos, de aspeto robusto mas ocos e de seção angular,
podendo apresentar 4, 5 ou 6 lados; são ramificados na parte superior, geralmente
cobertos de pelos densos e curtos. Os caules emurchecidos persistem na planta
durante vários anos, caindo lentamente com o rodar do tempo mas a planta produz
novos caules todas as primaveras. Uma planta bem estabelecida pode
ter entre 30 a 50 caules.
As folhas apresentam morfologia variada no tamanho, forma e indumento; quase não têm
pecíolo e geralmente dispõem-se nos caules de forma oposta (mais raramente de
forma alternada), aos pares ou em grupos de 3 ou 4; são lineares ou lanceoladas,
com a base fendida em forma de coração e ápice agudo; as margens são inteiras.
Nas hastes florais as folhas estão reduzidas a brácteas lineares com a base
esbranquiçada e a ponta avermelhada.
Lythrum salicaria é uma espécie muito polimorfa, apresentando grande
variabilidade em certas características morfológicas especialmente no tipo de
indumento que a cobre e na forma e tamanho das folhas. Este polimorfismo levou
a que se tenham descrito multiplas subespécies e variedades. Contudo, na opinião
de muitas entidades cientificas (ex: Flora Iberica), estas subdivisões são de escasso valor. Assim, Lythrum salicaria
é reconhecida cientificamente como uma única espécie, com variantes
localizadas.
As pequenas flores, com 10 a 20 mm de diâmetro, agrupam-se em redor
de um eixo, formando espigas compridas e densas com cerca de 40 cm de
comprimento e cujo ápice termina numa flor.
Cada flor, provida de um pedicelo
curto, está aninhada entre duas pequenas brácteas caducas. As 6 pétalas, de cor
rosa forte, são relativamente estreitas e nem sempre são iguais (as inferiores podem ser ligeiramente mais largas ou mais estreitas que as superiores) e formam um tubo afunilado ou
cilíndrico densamente peludo, com nervuras bem marcadas, de cor purpura.
Foto de Gary Fewless 2002 Herbarium - Cofrin Center of BiodiversityUniversity of Wisconsin - Green Bay |
Na
base da flor está o cálice, de cor avermelhada e constituído por 6 sépalas triangulares
cuja missão é proteger os órgãos reprodutores do botão floral.
Envolvendo as sépalas e proporcionando
uma proteção adicional estão os segmentos do epicálice, largos na base e
terminando em ponta fina e aguda, os quais são bastante mais compridos que as
sépalas, mas mais estreitos.
Fonte da foto: www.aphotoflora.com/index.html |
Dos 12 estames presentes na Lythrum salicaria, pelo menos 6 são
longos, ficando salientes do tubo da corola e têm anteras violetas com pólen
azul. Os restantes são mais curtos e produzem pólen amarelo.
Nesta espécie coexistem, na mesma planta, 3 tipos de flores os quais diferem no comprimento dos estiletes (longos, médios e
curtos). Cada tipo de flor só pode ser polinizada por um dos
outros tipos de flor (nunca por uma flor do mesmo tipo), assegurando uma polinização cruzada. Este comportamento, tecnicamente designado por heterostilia, será descrito com alguns detalhes, mais adiante.
Esta espécie floresce e frutifica de junho a setembro.
Fonte da foto www.okokchina.com
|
Fonte da foto wiki.bugwood.org/Archive:Loosestrife/Lythrum_salicaria |
As flores de Lythrum salicaria são polinizadas por insetos de língua
comprida, incluindo abelhas e borboletas que procuram o néctar
mas são também visitadas por outros que chegam em busca de alimento, alguns deles predadores naturais da espécie. No seu habitat nativo, são estes os
principais predadores que mantêm esta espécie controlada e dentro dos limites:
@wikipedia
Galerucella
calmariensis é um besouro cujos adultos se alimentam das folhas produzindo buracos redondos característicos. As suas
larvas, além de roerem os botões florais, também se alimentam da epiderme das
folhas.. |
@wikipedia
Hylobius transversovittatus é um gorgulho que
passa a noite a alimentar-se das folhas e rebentos florais. As larvas, assim
que saem dos ovos dirigem-se para as raízes da planta onde permanecem, alimentando-se continuamente, durante
cerca de um ano. Os danos que provocam nas raízes prejudicam o normal crescimento
da planta e a formação de sementes. Em casos extremos a planta pode morrer. |
Images
by Eric Coombs, Oregon Department of Agriculture.
Nanophyes marmoratus deposita um único ovo em cada flor. A larva que dele emerge come os ovários
e a flor fica incapaz de gerar sementes. |
@
wikipedia
As lagartas da traça Ectropis
crepuscularia
alimentam-se das folhas da Lythrum salicaria |
Lythrum
salicaria foi
introduzida nos Estados Unidos e Canadá no início do século XIX, talvez acidentalmente ou por razões medicinais e económicas (os apicultores
consideraram-na um bom investimento por ser muito melífera).
Em alguns estados dos EUA a Lythrum salicaria coloniza
extensas áreas
|
O certo é, que liberta
dos seus inimigos naturais se tornou numa invasora com comportamento
particularmente agressivo, degradando os ecossistemas naturais ao cobrir
extensas áreas, suplantando a vegetação nativa e obstruindo os cursos de água. Presentemente é uma espécie proibida em alguns estados americanos embora noutros continue a ser
comercializada pois é muito apreciada como planta ornamental. É uma espécie
muito difícil de erradicar não só porque é muito prolifera mas também porque
qualquer pequeno pedaço de rizoma dará inevitavelmente origem a uma nova
planta. Esta espécie tem resistido estoicamente às múltiplas tentativas de
extinção através de tratamentos químicos. Numa nova fase estão a ser levadas a
cabo tentativas para controlar a expansão da espécie através da introdução dos
insetos acima mencionados e que são os seus inimigos naturais.
Lythrum salicaria é uma planta do género Lythrum e pertence à família das Lythraceae a qual é constituída por ervas quase sempre herbáceas, que se distribuem por 32 géneros e cerca de 600 espécies; algumas delas são cultivadas como ornamentais como por exemplo plantas dos géneros Lythrum, Cuphea e Lagerstroemia. Outras espécies desta família são conhecidas desde a Antiguidade, como é o caso da Lawsonia inermis da qual se extraía a hena, tinta utilizada para fazer pinturas no corpo, pintar o cabelo, as unhas, peles de animais, tecidos de lã e seda. Durante a época do império romano as matronas usavam a hena para pintar os cabelos e as unhas, tal como o tinham feito Cleópatra e Nefertiti, no Antigo Egito.
Em medicina tradicional a Lythrum salicaria é sobejamente conhecida pelas suas propriedades adstringentes e cicatrizantes, sendo usada no tratamento de diarreias, hemorragias e feridas em geral.
Tal como a maioria das plantas de flor (angiospermas), as flores da Lythrum Salicaria possuem órgãos
de reprodução tanto masculinos (androceu) como femininos (gineceu). São as
chamadas flores hermafroditas, mais corretamente classificadas como completas
ou perfeitas porque em caso de necessidade têm os meios de se reproduzirem
sozinhas recorrendo à autopolinização ou seja, à transferência do pólen da
antera para o estigma da mesma flor.
Contudo, uma vez que a autopolinização
pode levar ao enfraquecimento na reprodutividade das sementes, certas espécies
adotaram mecanismos que funcionam como dispositivos de segurança e que variam
de espécie para espécie. Um desses mecanismos é a heterostilia, uma forma de polimorfismo que está associado a um sistema genético de auto
incompatibilidade tornando estas espécies hermafroditas incapazes de se polinizarem a si mesmas, favorecendo assim a polinização cruzada.
Existem três formas de flores heterostilas as quais são convenientemente
designadas de acordo com o comprimento dos seus pistilos ( conjunto do ovário,
estilete e estigma) os quais assumem comprimentos diferentes podendo ser
curtos, médios ou compridos, havendo uma coordenação com o comprimento dos
estames, na proporção inversa. Assim temos as
flores longistilas (pistilos longos), as medistilas (pistilos medios) e as
brevistilas (pistilos curtos).
Nas flores longistilas e medistilas, sendo os estiletes compridos e
os estames curtos, o estigma fica situado acima dos estames; nas flores
brevistilas os estiletes são curtos e os estames longos, pelo que o estigma
fica situado abaixo das anteras. Apesar
disso, as flores brevistilas não correm perigo de
autopolinização causada por uma eventual queda de pólen das anteras sobre o
estigma porque, na mesma flor, o amadurecimento desses órgãos se faz em tempos
diferentes.
Existem dois tipos de heterostilia, a distilia e a tristilia,
designações que diferenciam, respetivamente, as espécies em que coexistem dois
ou três tipos de flores com estiletes e estames de comprimento diferente e
inverso.
Um exemplo de distilia em que coexistem flores longistilas e
flores brevistilas é a Lithodora
prostrata, espécie já descrita neste blog, AQUI.
A distilia é mais comum que a tristilia,
que é muito rara e que ocorre apenas em algumas espécies das
famílias Lythraceae, Oxalidaceae e Ontenderiaceae. Lythrum junceum, espécie também já AQUI descrita e a espécie de hoje, Lythrum
salicaria, são excelentes exemplos de tristilia, talvez a forma de
reprodução mais notável existente na natureza, devido à sua eficácia. Segundo
Charles Darwin (1809-1882), que dedicou muito do seu tempo à investigação dos
dimorfismos das flores em geral e à heterostilia em particular, a coexistencia
dos três tipos de flores hermafroditas na tristilia proporciona um esquema
natural perfeito, teoricamente não havendo desperdício de pólen ou flores por fecundar. Apenas
interessado na questão reprodutiva, Darwin ficou especialmente entusiasmado com
o trimorfismo de Lythrum salicaria, tendo feito diversas experiências com esta
planta nas quais teve a ajuda dos filhos, sobrinhos e amigos. Ele já tinha concluído que as flores longistilas e brevistilas não eram apenas mais uma variável a juntar a outras mas sim uma adaptação para assegurar a polinização
cruzada. As suas experiências com Lythrum salicaria levaram-no a concluir que
uma espécie com 3 tipos de flores era mais prolifera que uma espécie com 2 tipos
de flor. Isto é, nas espécies com
tristilia cada flor pode alcançar maior grau de fertilidade pois está em
contacto com os 2 terços restantes das flores vizinhas, enquanto que no caso das espécies com distilia cada flor está em contato com apenas a outra metade.
Tenho esta no meu lago!
ResponderEliminarCumprimentos.