A Iris foetidissima é conhecida em Portugal pelo nome popular de
Lírio fedorento, designação esta que demonstra a confusão que por vezes se faz
entre iris e lírios.
As iris, pertencentes ao género com o mesmo nome, fazem
parte da família das Iridaceae ao passo que os lírios
são do género Lilium e se incluem na
família das Liliaceae.
As flores do lirio e da iris são muito diferentes |
Embora haja
alguma semelhança no tipo de folhas (lineares e estreitas), existem diferenças
fundamentais, sendo a estrutura das flores a mais notória.
A Iris foetidissima distribui-se
pelo sudoeste europeu, região mediterrânica ocidental, incluindo o Norte de
Africa e territórios da Macaronesia, excepto Cabo verde. É relativamente
frequente em algumas regiões de Portugal, mostrando preferência por habitats
ensolarados, com solos húmidos mas bem drenados e ricos em nutrientes. Contudo
desde que bem estabelecida suporta bem alguma seca, e grandes variações de
temperatura assim como o ar marítimo, crescendo alegremente em condições de
sombra e seca onde outras espécies de iris não se desenvolveriam.
Podemos encontra-la
na orla dos bosques, falésias marítimas, margens de ribeiras, muitas vezes ao
abrigo de silvas, madressilvas e outros arbustos e ainda debaixo de arvores, em
olivais e montados.
A Iris foetidissima é uma
espécie perene que cresce a partir de um rizoma, ou seja, um caule subterrâneo no
qual a planta armazena nutrientes e que é provido de raízes grossas e carnudas
e outras finas e de cor amarelada. O rizoma cresce na posição horizontal e ao
longo do seu corpo levemente cilíndrico desenvolvem-se gemas que permitem a
propagação vegetativa da planta.
Para conseguir novas plantas a partir do
rizoma basta cortar-lhe um pedaço que contenha duas ou três gemas, sem contudo
estragar as raízes ou as folhas. Esta operação deve ser feita entre os meses de
setembro e dezembro. Antes de plantar devem aparar-se as longas folhas,
dando-lhes a forma de leque. Ao colocar o rizoma no covacho, devem espalhar-se
as raízes por baixo da zona onde estão as folhas e deve deixar-se a parte
superior do rizoma exposta ao ar mas compactando o solo à volta das raízes. Veja mais detalhes aqui e aqui.
Os rizomas da Iris foetidissima
são tóxicos se ingeridos pelo que são pouco utilizados na fitoterapia moderna.
Contudo, no passado eram utilizados sobretudo no tratamento de afeções cutâneas
provocadas por fungos.
As folhas, numerosas e de um verde lustroso, são longas, estreitas, com textura rija e emergem do rizoma, formando uma roseta basal.
Dizem os entendidos que as folhas desta espécie, quando esmagadas, exalam
um cheiro "nauseabundo" a carne grelhada e foi nessa conformidade que foi
apelidada de foetidissima. Contudo
parece-me um batismo muito infeliz, por injusto. E não bastou ser fétida, teve
que ser foetidissima, no superlativo!
Pois aqui estou eu, em tempo de crise, em defesa desta espécie e do bife
grelhado. Embora seja um prato apreciado pela maioria das populações, até consigo
entender que haja quem não goste do cheiro de carne grelhada mas convenhamos
que dificilmente se lhe poderá chamar fétido. Aliás as minhas
próprias tentativas para induzir as folhas a exalar algum odor mais repugnante,
foram em vão. O cheiro libertado, embora um pouco acre, é suave e não é de todo
desagradável.
A floração dá-se durante a primavera, principalmente durante o mês de maio e é muito fugaz.
As flores são muito delicadas mas quase
insignificantes se as compararmos com outras espécies de iris. Estas surgem
solitárias ou em grupos de 2 ou 3, no topo de um escape floral relativamente
curto. Na realidade, as flores abrem muito em baixo, ficando quase escondidas dentro das
folhas; as cores são muito suaves, em tons amarelo pálido, cinzento e alfazema.
As flores são características do género Iris, com 3 segmentos interiores
e 3 segmentos exteriores; os interiores são pétalas e os exteriores são sépalas.
As flores, de simetria bilateral, possuem órgãos reprodutores femininos e
masculinos, ambos funcionais. Os estames são 3.As flores são polinizadas principalmente por abelhas e moscas entre outros insetos ocasionais, como borboletas e traças.
Polinizadas as flores e acabado o seu curto tempo de vida, os ovários
incham e transformam-se em frutos os quais são a principal atração desta
espécie. Começam por ser capsulas de cor verde divididas em 3 lóculos, no seu
interior.
Quando as sementes estão maduras, as capsulas rompem-se e revelam as
lindas e decorativas sementes vermelhas ou alaranjadas, as quais se mantêm na
planta durante todo o outono e que são muitas vezes aproveitadas para fazer
arranjos florais.
A cor vibrante e o enganador aspeto carnudo do tegumento que
envolve por completo cada semente destina-se a encorajar a
dispersão por animais. Acontece que as aves debicam as sementes contando com um
bom almoço mas geralmente depressa percebem que têm pouco alimento e logo as
largam no solo. Mas, o objetivo da planta foi alcançado.
O género
Iris é incrivelmente diversificado. Algumas espécies são tolerantes à seca
enquanto que outras necessitam de um lago ou de um ribeiro para poderem
florescer. O nome vem do grego e
está relacionado com o arco-iris referindo-se à variedade de cores
disponibilizado por estas espécies.
As cores e tamanho das flores variam
de forma espetacular. Este género está amplamente distribuído por todas as regiões temperadas do
hemisfério norte abrangendo de 260 a 300 espécies e ainda numerosas cultivares.
As cultivares resultam do melhoramento de uma certa variedade de planta que a
torne diferente de todas as outras no que diz respeito a resistência a doenças,
a cor ou porte sem que no entanto tenha sido geneticamente modificada. Para que
uma nova cultivar possa ser registada tem de manter características iguais em
todas as plantas da mesma cultivar durante um espaço de tempo necessariamente
longo. Dada a sua espetacularidade são plantas muito usadas em jardins e outros
fins ornamentais. No entanto existem muitas espécies que se podem encontrar
crescendo de forma espontânea.
Dentro do género Iris e segundo o portal da Flora-on, podemos encontrar em Portugal 8 espécies silvestres sendo
que 3 delas são endemismos ibéricos:
Iris boissieri
Iris subbiflora Iris boissieri
Iris Taitii
Existe ainda uma outra espécie que é um endemismo português:
Iris Xiphium var. lusitânica
Ainda sobre as Iris:
As Iris já eram
plantadas na Asia, em jardins, há mais de 2000 anos. Existem dois grupos: as
anãs que crescem a partir de bolbos (as únicas que se dão bem em vasos e dentro
de casa) e as mais altas, as Iris de jardim, o grupo mais conhecido, cujas espécies crescem
a partir de rizomas, florescendo nos mais variados e espetaculares matizes. As
mais largamente cultivadas têm sépalas com barbas mas também existem espécies
sem barbas e outras com flores semelhantes a orquídeas, com cristas nas sépalas.
Há ainda as iris aquáticas.
A Iris germanica é, entre as espécies do género Iris com barbas nas sépalas, a que mais contribuiu para a formação dos populares hibridos atuais Foto de Christian 75 |
A Iris squalens é outra das espécies com barbas. Foto de BerndH |
A Iris sibirica é uma espécie sem barbas. Tanto pode ser cultivada numa bordura de canteiro como à volta de um lago de jardim pois aprecia o solo húmido. Foto de Derek Ramsey |
A Iris japonica apresenta sépalas com crista em vez de barbas. Foto de Nagano pref. Japan |
A Iris pseudacorus é frequente nos nossos rios e pauis. Pode adaptar-se às condições de bordadura mas a sua verdadeira beleza revela-se quando plantada nos lagos. Hoje em dia esta planta está a ser utilizada para purificar águas poluidas pois as suas raizes consomem os poluentes geralmente resultantes dos excessos quimicos na agricultura, sem prejuizo aparente para a planta. Foto de Stahlkocher |
Infelizmente, como acontece cada vez mais frequentemente, tanto no reino
vegetal como no reino animal, há a lamentar o facto de algumas espécies de Iris estarem em perigo de extinção, quer pela degradação do
seu habitat, quer devido ao excesso de recolha de exemplares para
comercialização.
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