domingo, 2 de setembro de 2012

Iris foetidissima L.

A Iris foetidissima é conhecida em Portugal pelo nome popular de Lírio fedorento, designação esta que demonstra a confusão que por vezes se faz entre iris e lírios.

As iris, pertencentes ao género com o mesmo nome, fazem parte da família das Iridaceae ao passo que os lírios são do género Lilium e se incluem na família das Liliaceae.
As flores do lirio e da iris são muito diferentes
Embora haja alguma semelhança no tipo de folhas (lineares e estreitas), existem diferenças fundamentais, sendo a estrutura das flores a mais notória.
A Iris foetidissima distribui-se pelo sudoeste europeu, região mediterrânica ocidental, incluindo o Norte de Africa e territórios da Macaronesia, excepto Cabo verde. É relativamente frequente em algumas regiões de Portugal, mostrando preferência por habitats ensolarados, com solos húmidos mas bem drenados e ricos em nutrientes. Contudo desde que bem estabelecida suporta bem alguma seca, e grandes variações de temperatura assim como o ar marítimo, crescendo alegremente em condições de sombra e seca onde outras espécies de iris não se desenvolveriam.
Podemos encontra-la na orla dos bosques, falésias marítimas, margens de ribeiras, muitas vezes ao abrigo de silvas, madressilvas e outros arbustos e ainda debaixo de arvores, em olivais e montados.
Iris foetidissima é uma espécie perene que cresce a partir de um rizoma, ou seja, um caule subterrâneo no qual a planta armazena nutrientes e que é provido de raízes grossas e carnudas e outras finas e de cor amarelada. O rizoma cresce na posição horizontal e ao longo do seu corpo levemente cilíndrico desenvolvem-se gemas que permitem a propagação vegetativa da planta.
Para conseguir novas plantas a partir do rizoma basta cortar-lhe um pedaço que contenha duas ou três gemas, sem contudo estragar as raízes ou as folhas. Esta operação deve ser feita entre os meses de setembro e dezembro. Antes de plantar devem aparar-se as longas folhas, dando-lhes a forma de leque. Ao colocar o rizoma no covacho, devem espalhar-se as raízes por baixo da zona onde estão as folhas e deve deixar-se a parte superior do rizoma exposta ao ar mas compactando o solo à volta das raízes. Veja mais detalhes aqui e aqui.
Os rizomas da Iris foetidissima são tóxicos se ingeridos pelo que são pouco utilizados na fitoterapia moderna. Contudo, no passado eram utilizados sobretudo no tratamento de afeções cutâneas provocadas por fungos.
As folhas, numerosas e de um verde lustroso, são longas, estreitas, com textura rija e emergem do rizoma, formando uma roseta basal.  
As únicas folhas caulinares são as que acompanham os escapes florais e essas são curtas e opostas, transformando-se gradualmente em brácteas.
Dizem os entendidos que as folhas desta espécie, quando esmagadas, exalam um cheiro "nauseabundo" a carne grelhada e foi nessa conformidade que foi apelidada de foetidissima. Contudo parece-me um batismo muito infeliz, por injusto. E não bastou ser fétida, teve que ser foetidissima, no superlativo! Pois aqui estou eu, em tempo de crise, em defesa desta espécie e do bife grelhado. Embora seja um prato apreciado pela maioria das populações, até consigo entender que haja quem não goste do cheiro de carne grelhada mas convenhamos que dificilmente se lhe poderá chamar fétido. Aliás as minhas próprias tentativas para induzir as folhas a exalar algum odor mais repugnante, foram em vão. O cheiro libertado, embora um pouco acre, é suave e não é de todo desagradável.
As folhas da Iris foetidissima formam um tufo muito apreciado em jardins, conservando a sua cor e a bela estrutura durante o ano inteiro.
A floração dá-se durante a primavera, principalmente durante o mês de maio e é muito fugaz.
As flores são muito delicadas mas quase insignificantes se as compararmos com outras espécies de iris. Estas surgem solitárias ou em grupos de 2 ou 3, no topo de um escape floral relativamente curto. Na realidade, as flores abrem muito em baixo, ficando quase escondidas dentro das folhas; as cores são muito suaves, em tons amarelo pálido, cinzento e alfazema.
As flores são características do género Iris, com 3 segmentos interiores e 3 segmentos exteriores; os interiores são pétalas e os exteriores são sépalas.
As flores, de simetria bilateral, possuem órgãos reprodutores femininos e masculinos, ambos funcionais. Os estames são 3.
As flores são polinizadas principalmente por abelhas e moscas entre outros insetos ocasionais, como borboletas e traças.
Polinizadas as flores e acabado o seu curto tempo de vida, os ovários incham e transformam-se em frutos os quais são a principal atração desta espécie. Começam por ser capsulas de cor verde divididas em 3 lóculos, no seu interior.
Quando as sementes estão maduras, as capsulas rompem-se e revelam as lindas e decorativas sementes vermelhas ou alaranjadas, as quais se mantêm na planta durante todo o outono e que são muitas vezes aproveitadas para fazer arranjos florais.
A cor vibrante e o enganador aspeto carnudo do tegumento que envolve por completo cada semente destina-se a encorajar a dispersão por animais. Acontece que as aves debicam as sementes contando com um bom almoço mas geralmente depressa percebem que têm pouco alimento e logo as largam no solo. Mas, o objetivo da planta foi alcançado.
Estas sementes podem dar origem a novas plantas, cada semente levando cerca de ano e meio para germinar, seguidos de 2 a 3 anos até florescer.
O género Iris é incrivelmente diversificado. Algumas espécies são tolerantes à seca enquanto que outras necessitam de um lago ou de um ribeiro para poderem florescer. O nome vem do grego e está relacionado com o arco-iris referindo-se à variedade de cores disponibilizado por estas espécies.
As cores e tamanho das flores variam de forma espetacular. Este género está amplamente distribuído por todas as regiões temperadas do hemisfério norte abrangendo de 260 a 300 espécies e ainda numerosas cultivares. As cultivares resultam do melhoramento de uma certa variedade de planta que a torne diferente de todas as outras no que diz respeito a resistência a doenças, a cor ou porte sem que no entanto tenha sido geneticamente modificada. Para que uma nova cultivar possa ser registada tem de manter características iguais em todas as plantas da mesma cultivar durante um espaço de tempo necessariamente longo. Dada a sua espetacularidade são plantas muito usadas em jardins e outros fins ornamentais. No entanto existem muitas espécies que se podem encontrar crescendo de forma espontânea. 
Dentro do género Iris e segundo o portal da Flora-on, podemos encontrar em Portugal 8 espécies silvestres sendo que 3 delas são endemismos ibéricos:
Iris boissieri
Iris subbiflora
Iris Taitii
Existe ainda uma outra espécie que é um endemismo português:
Iris Xiphium var. lusitânica

Ainda sobre as Iris:
As Iris já eram plantadas na Asia, em jardins, há mais de 2000 anos. Existem dois grupos: as anãs que crescem a partir de bolbos (as únicas que se dão bem em vasos e dentro de casa) e as mais altas, as Iris de jardim, o grupo mais conhecido, cujas espécies crescem a partir de rizomas, florescendo nos mais variados e espetaculares matizes. As mais largamente cultivadas têm sépalas com barbas mas também existem espécies sem barbas e outras com flores semelhantes a orquídeas, com cristas nas sépalas. Há ainda as iris aquáticas.


A Iris germanica é, entre as espécies do género Iris  com barbas nas sépalas, a que mais contribuiu para a formação dos populares hibridos atuais
Foto de Christian 75

A Iris squalens é outra das espécies com barbas.
Foto de BerndH

A Iris sibirica é uma espécie sem barbas.
Tanto pode ser cultivada numa bordura de canteiro como à volta de um lago de jardim pois aprecia o solo húmido.
Foto de Derek Ramsey
A Iris japonica apresenta sépalas com crista em vez de barbas.
Foto de Nagano pref. Japan

A Iris pseudacorus é frequente nos nossos rios e pauis. Pode adaptar-se às condições de bordadura mas a sua verdadeira beleza revela-se quando plantada nos lagos. Hoje em dia esta planta está a ser utilizada para purificar águas poluidas pois as suas raizes consomem os poluentes geralmente resultantes dos excessos quimicos na agricultura, sem prejuizo aparente para a planta.
Foto de Stahlkocher

Infelizmente, como acontece cada vez mais frequentemente, tanto no reino vegetal como no reino animal,a lamentar o facto de algumas espécies de Iris estarem em perigo de extinção, quer pela degradação do seu habitat, quer devido ao excesso de recolha de exemplares para comercialização.


Fotos de Iris foetidissima - Praia do Caniçal / Lourinhã



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