O alívio da chuva, abundante e prolongada, coincidiu com a
chegada deste outono. O que significou transtorno para muitos foi novo alento
para as plantas que a custo resistiram a um verão totalmente seco, permitindo
também que as espécies próprias desta estação possam florescer e produzir frutos
e sementes, atempadamente. As temperaturas continuam muito agradáveis e os
insetos polinizadores que ainda permanecem em atividade aproveitam para se
abastecer, antes da chegada dos frios.
A Acis autumnalis é
uma das poucas espécies que florescem no outono. Embora de pequeníssimo tamanho
e de aspeto delicado, quase frágil, é no entanto bastante resistente. Não se
incomoda muito com o vento, gosta do tempo seco do verão e até suporta algum
frio. Também não parece ter dificuldades em reproduzir-se pois é capaz de
formar colonias que cobrem vastas áreas, propiciando um espetáculo inolvidável
de pequenas “lampadinhas” brancas baloiçando ao menor sopro.
As flores, em
forma de campainha, são de cor branca e parecem brilhar ao sol, dando a ideia
de estarem salpicadas de pequenos cristais. A época de floração
inicia-se no final do verão e prolonga-se para lá de outubro.
Geralmente cresce
associada a outra espécie de tamanho semelhante e que também floresce no mesmo
período, a Scilla autumnalis, de cor azul.
Podemos encontrar a Acis
autumnalis em locais não sombreados como as clareiras de matos xerofílicos
(secos, tipicamente mediterrânicos), montados, pinhais, em terrenos rochosos e
até arenosos. Não tem preferência pelo tipo de solo mas desenvolve-se melhor em
terrenos ácidos.
Distribuição em Portugal - Flora digital de Portugal/UTAD |
A Acis autumnalis é
nativa da Península Ibérica mas pode ser encontrada também na Sardenha e na Sicília
assim como em Marrocos e na Argélia, sendo considerada um endemismo da região
Mediterrânica ocidental.
A Acis autumnalis cresce
a partir de um pequeníssimo bolbo, de forma ovoide. Primeiro surgem os escapos
florais os quais são lisos, muito delgados embora sólidos, de cor avermelhada,
geralmente não excedendo os 15/20 cm de altura. Cada bolbo pode produzir 2 a 4
escapos.
As folhas, todas elas basais, só surgem durante ou depois da floração
e mantêm-se até à primavera, após o que desaparecem para que o bolbo entre em
período de merecido descanso. As folhas, mais curtas que o escapo, são fininhas, maciças
e semicilíndricas.
As flores, de hábito pendente,
podem ser solitárias ou reunirem-se em inflorescências de 2 ou 3 flores. Logo
abaixo do pedúnculo arqueado que sustenta a flor existe uma bráctea grande e
membranosa, inteira ou com o ápice dividido em duas pontas.
Rodeando os órgãos
sexuais da flor, sépalas e pétalas reúnem-se, indiferenciadas, em 6 tépalas
denticuladas, de cor branca, rosadas na base.
As flores estão providas de órgãos
reprodutores femininos e masculinos. Os 6 estames têm filetes curtos e grandes anteras
amarelas.
Os frutos de Acis
autumnalis são capsulas globosas e as sementes nelas contidas são negras e
brilhantes.
A Acis autumnalis pode
ser confundida com uma espécie muito semelhante, a Acis trichophylla (syn. Leucojum
trychophyllum), podendo ambas as espécies coincidir nos seus habitats. É no
entanto muito fácil distingui-las pois a Acis
trichophylla floresce na primavera e A. autumnalis floresce no outono; A. trichophylla
tem as tépalas mais compridas que a A.
autumnalis; a bráctea de A.
trichophylla está dividida em dois segmentos desde a base ao contrário de A. autumnalis que é inteira ou apenas
dividida na ponta; a capsula das sementes é alongada na A. trichophylla e globosa na A.
autumnalis.
Acis
autumnalis pertence a um dos géneros da família Amaryllidaceae, tendo sofrido algumas alterações que tornam o seu
percurso taxonómico bastante confuso. Em 1807 esta espécie foi classificada no
recém-criado género Acis mas em 1880
foi transferida para o género Leucojum.
No entanto, em 2004 estudos genéticos e morfológicos determinaram que as
espécies antes incluídas no género Acis
deveriam sair de Leucojum e regressar
ao Acis. Receando nova reviravolta
muitos autores continuam a usar a classificação anterior.
Fotos: Serra do Calvo/Lourinhã
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