"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





terça-feira, 19 de julho de 2011

Os Cardos

Generalidades sobre os cardos

Ao fundo, o Forte de Paimogo. Ainda as Echium plantagineum estavam em floração e já os Cirsium vulgare se desenvolviam com exuberância, em segundo plano.

A estrada costeira que liga a Praia da Areia Branca à Praia do Caniçal mais uma vez mudou de visual, neste verão que vai fresco e ventoso. Os Echium plantagineum, que até há poucas semanas enchiam todos os espaços com a exuberância das suas refrescantes flores azuis, já entraram em merecido repouso.

Os Scolymus hispanicus, com vista para o Forte de Paimogo.
Chegou agora a época dos quase sempre mal-amados cardos, os quais a pouco e pouco vão conquistando alguns, poucos mas bons, apreciadores. É verdade que os espinhos existentes na sua estrutura não contribuem em nada para os tornar simpáticos mas uma vez ultrapassado o impulso que nos leva a querer ver através da ponta dos dedos, acabamos forçosamente por ser atraidos pela  elegância das suas formas e pelas cores brilhantes das suas flores.
Cirsium vulgare - inflorescência
E quem sabe se em breve não os veremos a ocupar lugares de destaque nos nossos jardins, rivalizando com os catos, que por sinal também podem ser bem espinhosos.

Scolymus hispanicus - inflorescência
Aliás, algumas espécies de cardos poderão ser uma opção bem original, agora que os jardins mediterrânicos estão a tornar-se cada vez mais populares, utilizando plantas autóctones, mais resistentes e adequadas ao nosso clima e com menores exigências no que diz respeito ao consumo de água.

Carlina corymbosa - inflorecência
“Cardo” é o nome vulgar que damos às várias espécies que se caracterizam fundamentalmente pela presença de espinhos nas folhas, no caule e nas brácteas das inflorescências e ainda pelas numerosas flores reunidas em capítulos densos. A maioria das espécies designadas por cardos pertence à família botânica das Asteraceae/Compositae, sendo os géneros Carduus e Cirsium os mais representativos. No entanto, existem espécies que pertencem à família das Apiaceae/Umbeliferae e outras à família das Dipsacaceae.


Cynara humilis
Os chamados cardos são nativos das regiões temperadas da Europa e Ásia, especialmente da região do mediterrâneo e Ásia menor, algumas da Austrália e África tropical. São poucas as espécies nativas do continente americano. Podem ser plantas anuais, bienais ou perenes. A maior parte das espécies têm folhas e caules ou invólucro de brácteas espinhudos, mas há algumas exceções.

Cirsium vulgare
 Os “cardos” do género Cirsium são plantas herbáceas, perenes ou bianuais, da família das Asteraceae/Compositae. São muito parecidos com os cardos propriamente ditos, do género Carduus, com os quais são frequentemente confundidos, pois têm mais semelhanças que diferenças. Basicamente, os Cirsium distinguem-se pelo seu fruto que é uma cipsela encimada por um papilho de pelos ramificados e plumosos em vez de papilho com pelos simples.
De resto, têm caules quase sempre ramificados, com folhas lanceoladas e brilhantes, marginadas de espinhos agudos. As flores tubulares são muito compridas e estão agrupadas em capítulos densos (sem lígulas), com escamas ou tufos de pelo entre as flores e bracteas espinhosas.

Carduus tenuiflorus
As espécies do género Carduus incluem-se também na família das Asteraceae/Compositae. São plantas herbáceas anuais ou perenes com caule e folhas espinhosas bastante divididas.
As flores dispõem-se em capítulos medianos, mais ou menos globosos e com invólucro de brácteas geralmente dispostas em varias filas.
Os frutos são cipselas dispostas em várias séries, com um tamanho que pode variar entre os 3 e 10 milímetros, sem pelos e com papilho.
Os Carduus gostam dos solos perturbados, remexidos e fofos, de preferência alguma vala com entulho, terrenos esses que têm excesso de nitrogénio/azoto. Quando ao fim de uns anos as terras se tornam compactas os Carduus deixam de ter as condições ideais para uma existência feliz assistindo-se, não raro, à extinção da colónia num lugar para aparecerem noutro, passado algum tempo.
As lagartas de algumas espécies de Leptidoptera (borboletas) alimentam-se das folhas dos Carduus como por exemplo as Myelois circumvoluta e Coleophora therinella.

Também as aves granívoras se alimentam das sementes dos Carduus sendo os pintassilgos especiais apreciadores.
   
Os géneros Centaurea, Carlina, Galactites, Cynara, Eryngium e Scolymus são igualmente interessantes. Os meus próximos 9 posts serão dedicados à descrição de outras tantas espécies dos géneros acima referidos, e que se podem encontrar ao longo da faixa litoral que vai do Areal Sul até Paimogo. De notar que a espécie Centaurea sphaerocephala, do género Centaurea, já foi descrita no post publicado no dia 6 de junho de 2011 (ver aqui).







Muitas espécies de "cardos" são comestíveis e até são cultivadas para o efeito, como é o caso da alcachofra, do género Cynara. São plantas ricas em fibras e sais minerais. As folhas podem ser consumidas em sopas ou saladas. Nas espécies cultivadas comem-se os rebentos antes de abrirem as flores. As folhas das espécies silvestres são utilizadas em medicina natural para combater as doenças do fígado e das perturbações da digestão.
As flores de várias espécies de cardos possuem enzimas coagulantes, pelo que têm sido utilizadas no fabrico de queijos.

Curiosamente o cardo é a flor nacional da Escócia e é também o emblema da Ordem do Cardo, uma das três Ordens de Cavalaria mais importantes do Reino Unido, equiparada à Ordem da Jarreteira. O mote da Ordem do Cardo é, apropriadamente, Nemo me impune lacessit, ou seja "Ninguém me provoca impunemente".

A insígnia dum cavaleiro da Ordem do Cardo-selvagem. Fonte: Wikipedia
Fotos - Areal Sul/Caniçal - Lourinhã


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