"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





terça-feira, 19 de dezembro de 2017

LOURINHÃ - capital dos dinossauros




Vem aí o Dino Parque (abertura no inicio do próximo ano):


"A Lourinhã é uma das regiões mais ricas em fósseis de dinossauros da Europa, tendo-se encontrado mais de uma dezena de espécies únicas do mundo. As arribas do Jurássico Superior preservaram centenas de achados com 150 milhões de anos que agora estão expostos no Dino Parque.

Algumas destas espécies estão representadas nos modelos do nosso Parque como o Lourinhasaurus alenquerensis, Lourinhanosaurus antunesi, Torvosaurus gurneyi, Allosaurus europaeus e o Ceratosaurus.

Foi em 1993 na praia de Paimogo que foi descoberto um ninho com mais de 100 ovos de Lourinhanosaurus ainda com os seus embriões, foi a partir desta data que a Lourinhã ficou conhecida com a Capital dos Dinossauros". Veja mais AQUI.

Eis alguma fotos do que já se pode entrever do novo parque situado numa zona de arvoredo com 10 hectares e onde os visitantes poderão percorrer quatro percursos diferentes, correspondentes a diferentes períodos: Cretáceo, Jurássico, Triássico e Paleozóico. São mais de uma centena os modelos de dinossauros que foram já montados e instalados nesses percursos. 










"Os visitantes terão também a oportunidade de assistir à preparação de fósseis por paleontólogos no laboratório, visitar o museu [onde fósseis de dinossauros vão estar expostos] e um pavilhão com várias atividades para crianças, desde descobertas, pesquisas, escavações de fósseis ou pinturas de dinossauros".

Visite o site do Parque em www.dinoparque.pt

(fotos de Ana Nascimento - dezembro 2017)

sábado, 9 de dezembro de 2017

Ornithopus compressus L.

Nomes comuns:
Serradela; serradelas; serradela-amarela; serradela-estreita-serrim; 
serrim; serradela-brava;  trevo-pé-de-pássaro; 
senradela-amarela; senradela-brava

Ornithopus compressus é uma leguminosa, nativa da bacia mediterrânica. É geralmente cultivada como espécie forrageira de inverno, podendo ser uma fonte de alimento de grande importância no desenvolvimento e reprodução de animais ruminantes (ovelhas, cabras e gado bovino), devido ao seu alto teor de proteínas.
Contudo, esta espécie também cresce de forma espontânea um pouco por todo o nosso país, sendo autóctone em Portugal continental e Madeira e introduzida nos Açores.
Como espécie ruderal ocorre nas margens dos caminhos, pinhais, terrenos cultivados ou incultos, matos e matagais, sobretudo em solos siliciosos mas não demasiado ácidos.
Esta é uma herbácea de ciclo de vida anual. Embora cresça vegetativamente durante o inverno e floresça durante a primavera as raízes são profundas, na procura da humidade de que a planta precisa para melhor se desenvolver, não vá a chuva ser escassa. Planta prevenida...
Os caules são ramificados e pubescentes podendo ir dos 5 aos 50 cm de comprimento na fase adulta; podem ser eretos, prostrados ou parcialmente prostrados, mas com a extremidade ascendente.
As folhas são compostas, dividindo-se num número variável de pares de folíolos, com um único folíolo terminal. 
Os folíolos são ovados ou elípticos, geralmente terminando numa ponta curta, aguda e rígida e estão densamente cobertos de pelos longos e macios. 
As estípulas existem apenas na base das folhas inferiores; são muito pequenas, com menos de 1 mm, triangulares e com o ápice geralmente purpúreo.
As flores são amarelas e agrupam-se em inflorescências que se formam no ápice de longos caules axilares. 
Abaixo das inflorescências surge uma bráctea foliácea de cor verde, com 7 a 9 folíolos e cujo comprimento, de forma geral, ultrapassa o das flores. O número de flores por inflorescência é variável, entre 1 a 5. 
As pequenas flores estão rodeadas por pequenas bractéolas, dentadas, com o ápice de cor ocre.
As sépalas que constituem o cálice estão cobertas de pelos longos e macios e formam um tubo, estando unidas até cerca de metade do seu comprimento, terminando em 5 dentes desiguais.
A corola é constituída por 5 pétalas de cor amarela. Estas são desiguais e dispõem-se de forma muito característica e altamente especializada em atrair os insetos polinizadores: a pétala maior chamada estandarte está situada em posição superior e é, pelo seu tamanho e forma o ponto de atração para os polinizadores; as duas pétalas laterais denominadas asas funcionam como pista de aterragem; e as duas inferiores, unidas apenas no ápice, formam a chamada quilha.
A flor possui órgãos de reprodução femininos e masculinos. Nesta espécie os estames são diadelfos, situação em que um deles é livre e os demais estão soldados entre si. Os estames estão encobertos pelas pétalas que formam a quilha. Quando os insetos pousam nas asas, a quilha baixa e o contacto destes com os estames e o estigma é inevitável. Quando vão embora, os insetos levam o pólen libertado pelas anteras colado ao corpo, ao mesmo tempo que terão deixado no estigma os grãos de pólen recolhidos noutras flores da mesma espécie.
Os frutos são vagens pubescentes, fortemente curvadas na parte superior, dando a ideia de uma foice, com uma espécie de bico na extremidade. Estas vagens são articuladas pois são formadas por segmentos e a vagem mostra-se levemente contraídas entre eles. Ou seja, na maturação as vagens dividem-se em porções indeiscentes, separando-se pelas articulações, cada uma delas com uma semente dura, de cor amarelada ou acastanhada, de forma oblonga e achatada.
As sementes são duras pelo que não germinam no segundo ano, apenas contribuindo para enriquecer o banco de sementes no solo. No terceiro ano as sementes germinam com as chuvas de outono, crescem durante o inverno e a primavera, ainda que o seu desenvolvimento invernal esteja muito dependente da humidade e da temperatura. A floração e a frutificação têm lugar durante a primavera seguinte, após o que as plantas secam durante o verão, voltando as populações de Ornithopus compressus a regenerar-se no outono seguinte a partir do banco de sementes. É assim que esta espécie orienta o seu ciclo de vida, por forma a escapar à seca estival.
Ornithopus compressus pertence ao género Ornithopus. Este termo deriva do grego e significa “pé-de-pássaro”, referindo-se à forma como se posicionam as vagens, assemelhando-se o seu conjunto aos dedos das patas de uma ave. O termo que designa a espécie compressus deriva do latim e significa apertado/comprimido e refere-se à forma comprimida da vagem.~
As cerca de 6 espécies do género Ornithopus incluem-se na família Fabaceae=Leguminosae e subfamília Faboideae=Papilionoideae, a qual tem uma enorme importância económica a nível mundial, pois inclui espécies fundamentais na alimentação humana, tais como, a soja, o feijão, o amendoim, o grão-de-bico, o tremoço, as ervilhas ou as favas, apenas para mencionar algumas.
Na generalidade, são plantas de hábitos variados podendo ser herbáceas, trepadeiras, arbustos e árvores. Muitas espécies são também utilizadas como ornamentais, outras têm grande valor comercial ou industrial devido aos produtos que delas podem ser extraídos, nomeadamente o tanino, substância usada na indústria do couro, já para não falar dos corantes, tinturas, colas, vernizes etc.

Uma característica muito importante das leguminosas em geral, e das espécies da subfamília Papilionoideae/Faboideae em particular, é o facto de serem capazes de converter o azoto/nitrogénio atmosférico (nutriente muito importante mas escasso no solo, embora presente em quase 80% da atmosfera terrestre) em moléculas proteicas, as quais são aproveitadas para o seu próprio desenvolvimento e o das plantas em seu redor. Isto acontece devido a uma relação simbiótica com bactérias dos géneros Bradyrhizobium e Rhizobium que se fixam nas raízes das leguminosas, através de nodosidades visíveis a olho nu. Em contrapartida, as bactérias recebem das plantas os açúcares produzidos durante a fotossíntese. Esta simbiose permite não só a sobrevivência das referidas bactérias mas também que espécies de leguminosas possam desenvolver-se sem problemas em solos pobres em azoto e matéria orgânica.
A quantidade de azoto fixado por estas bactérias que com elas vivem associadas (bactérias rizobianas) depende, entre outros fatores, da espécie de leguminosa e das condições do solo.
Raízes de uma leguminosa com nódulos fixadores de azoto
Fonte MORNING EARTH
Em solos em que estas bactérias não estejam disponíveis podem as mesmas ser adquiridas, sendo possível inocular não só as sementes mas também os solos. Podem adquirir-se bactérias fixadoras de estirpes selecionadas e adequadas a cada tipo de leguminosa. O uso específico destes inoculantes rizobianos é muito recomendável, registando-se economias relevantes no custo da produção agrícola, ao mesmo tempo que é bom para o ambiente. Ou seja, possibilita um aumento significativo na rentabilidade das sementeiras e por outro lado, permite uma significativa redução no uso de adubos azotados.
Na mesma ordem de ideias, há quem prefira utilizar os chamados “adubos verdes” para enriquecer o solo, em detrimento de produtos químicos. Isto consiste em cultivar espécies de crescimento rápido da família das leguminosas, as quais são colhidas e logo enterradas no mesmo local antes de florescerem e criarem sementes. Esta prática promove o enriquecimento do solo com azoto e outros nutrientes, além de melhorar a estrutura dos terrenos, protegendo-os da seca e limitando o desenvolvimento das ervas daninhas.

Fotos: Serra do Calvo/Lourinhã



quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Xanthium spinosum L.

Nomes comuns:
Pica-três, bardana-espinhosa, arzola, gatinho


Quando voltamos de um passeio de verão pelo campo, são grandes as hipóteses de trazermos para casa a tarefa incomoda de arrancar pequenas sementes e folhas que se agarraram tenazmente às meias e aos atacadores dos sapatos de ténis. 
Ganchos, espinhos ou outros "apetrechos" permitem que pequenas sementes se agarrem a tudo o que passa perto. São intencionais e fazem parte das estratégias de que se socorrem certas espécies para se fazerem transportar à boleia para longe da planta-mãe, conseguindo assim iniciar novas colónias. Nesta perspetiva uma das plantas mais irritantes é Xanthium spinosum, uma sobrevivente por excelência que, a pouco e pouco, vem conquistando lugar privilegiado no mundo.


Xanthium spinosum é muito fácil de identificar. 
É uma planta anual, robusta e de tamanho médio, podendo atingir os 90 cm de altura. Os seus caules são eretos ou ligeiramente curvados, rígidos e muito ramificados. 

A seta assinala os espinhos tripartidos que nascem na axila das folhas
Os caules são de cor verde-claro, com um indumento de pelos fracos e densos. Quando jovens os caules são herbáceos tornando-se, depois, algo lenhosos. De forma característica, os caules projetam longos espinhos tripartidos de cor amarelada que nascem nos nós da axila das folhas.


As folhas dispõem-se de forma alternada e ligam-se ao caule através de pecíolos curtos ou são quase sésseis. As folhas são relativamente estreitas, com forma lanceolada ou elíptica e são profundamente recortadas; as inferiores são muito irregulares com cinco lóbulos, sendo o lóbulo médio muito maior que os restantes; as folhas superiores são bastante mais alongadas dado que os lóbulos medianos podem ser insignificantes ou ausentes. 


A página superior das folhas é de cor verde-escuro brilhante, com pelos fracos e ralos, mais densos nas nervuras proeminentes e de cor clara; as páginas inferiores apresentam cor esbranquiçada devido à cobertura de pelos curtos e densos, enrolados sobre si próprios.
Este é o capitulo que podemos observar em muitas das espécies da família Asteraceae
mas não é o caso de Xanthium spinosum, como veremos no texto.

Esta espécie está incluída na família Asteraceae/Compositae, no entanto, as flores e os frutos são muito diferentes da generalidade das espécies deste grupo. A maior diferença reside no facto de Xanthium spinosum produzir capítulos de flores unissexuais ao contrário dos habituais capítulos de flores bissexuais.
A principal característica das Asteraceae são os capítulos, em que as flores minúsculas estão inseridas num recetáculo em forma de disco e separadas por pequeníssimas brácteas, estando este conjunto envolvido por um invólucro formado por uma camada de brácteas maiores.
Ao contrário do que acontece na maioria das espécies da família Asteraceae (em que as flores masculinas e flores femininas se agrupam-se num mesmo capítulo), em Xanthium spinosum os capítulos são constituídos por flores do mesmo sexo, ou seja, existem capítulos com flores masculinas +  capítulos com flores femininas, mas ambos os tipos coexistindo numa mesma planta (planta monóica). 
Em Xanthium spinosum as flores masculinas também são diferentes das femininas

Ora vejamos:
A seta assinala as flores masculinas
- Os capítulos masculinos podem ser numerosos e agrupam-se no ápice dos caules ou na axila das folhas superiores. São globosos, com recetáculo cilíndrico e com invólucro ligeiramente cónico devido à forma lanceolada das brácteas que o formam.
Cada capítulo masculino tem flores mais ou menos numerosas, as quais são pequeninas e inconspícuas, de cor variável branco-amarelado ao amarelo-esverdeado. As corolas são tubulares e translucidas, com 5 lóbulos. Os estames são 5, com os filetes unidos, mas com as anteras livres.
A seta assinala as flores masculinas e a estrela indica as flores femininas
- Os capítulos femininos crescem na axila das folhas superiores mas abaixo dos masculinos com as flores femininas prontinhas para receber a chuva de pólen que há-de vir de cima, trazida pela brisa. 
Os capítulos femininos são solitários ou pouco numerosos e cada capítulo tem apenas 2 flores. Estas encontram-se encerradas dentro de uma estrutura ovóide formada pelas brácteas involucrais que são coreáceas e cobertas de espinhos em forma de gancho. Internamente, o capítulo divide-se em dois lóculos, cada um deles com uma flor feminina sem pétalas. A fertilização realiza-se através dos estiletes que estão ligados ao ovário e se apresentam salientes através das aberturas que existem em cada uma das extremidades do invólucro. O pólen dispersa-se com a ajuda do vento.
Após a fecundação os capítulos femininos transformam-se em frutos rígidos e espinhosos, inicialmente de cor verde e depois amarelo-acastanhado, com duas sementes no seu interior. A planta só se reproduz por semente.


Os espinhos dos frutos terminam em gancho e aderem ao pelo dos animais e à nossa roupa. Só com muita dificuldade são retirados, o que lhes permite “viajar” longas distancias e germinar longe da planta-mãe, assim iniciando novas colónias. 
Há quem diga que o suíço George de Mestral se inspirou na morfologia dos espinhos destes frutos para inventar o Velcro, em meados do século passado. As sementes também podem dispersar-se através da infestação do pasto ou outros grãos. Flutuam perfeitamente, dispersando-se também ao viajarem nos cursos de água ou nos regatos  formados pela água das chuvas.
As duas sementes que se encontram no interior dos frutos apresentam períodos de dormência diferentes. A semente de baixo pode germinar logo na estação seguinte, mas a outra só germinará passados 2 ou 3 anos permanecendo viável durante cerca de 8 anos.
A planta floresce e frutifica de julho a novembro, geralmente produzindo sementes durante 2 a 3 meses. Em media, cada planta produz cerca de 150 sementes. 

Esta é uma espécie largamente distribuída pela maioria dos países temperados ou subtropicais do mundo inteiro. Prospera com vigor e grande poder invasivo em locais onde o solo foi perturbado, tal como a beira dos caminhos, pastagens, terrenos baldios e zonas costeiras. É muito resistente à seca, apesar disso, é muito frequente também em terrenos periodicamente alagados e margens de cursos de agua, diques e barragens.
Provou adaptar-se de forma notável numa grande variedade de climas e outras condições ambientais com exceção de climas de frio ou calor extremo. De forma geral, nas regiões tropicais só ocorre em altitude, onde as temperaturas são mais amenas. Aparentemente não apresenta requisitos especiais no que diz respeito ao tipo de solo. A ampla distribuição de Xantium spinosum pode ser atribuída, pelo menos em parte, à sua capacidade de adaptação a uma variada gama de condições climáticas e edáficas.


Xanthium spinosum ocorre na maioria dos países do mundo quer no hemisfério norte quer no hemisfério sul,
entre as latitudes 50ºN e 43ºS, segundo algumas fontes.
Fonte do mapa: Wikimedia commons
Encontra-se mais abundantemente distribuída na Europa, região mediterrânica, Austrália, algumas regiões costeiras de África, na América do Sul e Estados Unidos.
Mapa da distribuição de Xanthium spinosum em Portugal continental
Fonte: Flora Digital de Portugal - UTAD.

Esta planta é nativa da América do Sul, provavelmente do Chile, embora outros países desse grande continente reclamem a honra (Bolívia, Equador, Peru, Uruguai e Argentina). Xanthium spinosum espalhou-se pelo resto do mundo, tendo-se naturalizado de forma bastante rápida e adquirindo hábitos invasores.
As exatas origens de Xanthium spinosum permanecem algo confusas e os seus limites obscuros. Inicialmente, foi considerada nativa da Europa mas, atualmente, parece ser ponto assente que esta planta é nativa da América do Sul, introduzida e naturalizada nos restantes locais onde ocorre.
Os dados sobre a data do início da sua introdução noutros continentes e a forma como tal se passou são muito limitados. Segundo alguns autores esta planta terá chegado à Europa através de Portugal. Aliás, a espécie-tipo (espécimen de herbário sob a forma de planta seca e que serviu originalmente para lhe dar o nome) é de Portugal. 
Pius Font i Quer, botânico, farmacêutico e químico espanhol, na sua obra "Plantas medicinales: el Dioscórides renovado" (1962) refere que no século XVII esta planta era denominada Xanthium lusitanicum spinosum, numa clara alusão ao território português. Foi assim chamada por Leonard Plukenet, botânico inglês na sua obra "Almagestum botanicum" (1696), e também pelo botânico francês Magnol em "Hortus regius Monspeliensis" (1697).
Com base no ensaio "Géographie Botanique" publicado em 1820 pelo botânico suíço De Candolle, Font Quer refere que a planta mencionada por Magnol teria sido obtida a partir de sementes levadas para França por Tournefort (botânico francês 1656-1708), as quais lhe teriam sido dadas por um jardineiro português.
Em consequência, na sua primeira edição de "Species plantarum" (1753) Lineu refere a Lusitania como o habitat desta planta.

O termo Xanthium deriva do grego xanthos (=amarelo) numa referência ao corante amarelo que pode ser retirado dos frutos.
Spinosum vem do latim e refere-se aos caules espinhosos.

Esta espécie está classificada como altamente invasora na maioria das áreas onde foi introduzida. Produz sementes de forma muito prolífica, com altas taxas de germinação e sobrevivência, provocando prejuízos avultados nas safras agrícolas sobretudo da soja e algodão; ao agarrarem-se tenazmente ao pelo das ovelhas as sementes contaminam a lã, afetando as industrias de têxteis. Além do mais, é uma ameaça à fauna e flora nativas devido à sua adaptabilidade a uma ampla gama de habitats. A erradicação através de herbicidas tem-se mostrado ineficaz pelo que poderão ser equacionados meios biológicos.
As sementes, e as folhas na sua fase emergente, são muito tóxicas para o gado e animais domésticos, principalmente porcos e cavalos. Contudo, a não ser que os animais sejam obrigados a pastar onde esta planta exista em abundância, não é grande motivo de preocupação pois as folhas não agradam ao paladar dos animais e as sementes, encerradas num invólucro rígido e cheio de picos, também não são apelativas. A toxicidade das folhas desvanece-se à medida que se desenvolvem e aumentam de tamanho, embora o mesmo não aconteça com a secagem.

Xanthium spinosum já foi muito usada em medicina caseira, sobretudo pelos índios da América do Sul, por presumíveis efeitos benéficos contra alguns tipos de cancro, diabetes e cardiopatias. 
Entretanto, foram efetuados estudos e experiências “in vivo”  e “in vitro” sobre as diferentes atividades farmacológicas e fitoquímicas desta planta, os quais demonstraram propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, antiartríticas, antiangiogénese e antivírus. São, no entanto, necessárias mais experiências para explorar o potencial terapêutico em termos de utilidade clínica.

Xanthium spinosum pertence ao género Xanthium, assim denominado pelo botânico francês Tournefort (1656-1708),  cujo trabalho foi aperfeiçoado por Lineu. Lineu aproveitou o nome genérico Xanthium em "Species Plantarum" (1753) no qual incluiu duas espécies, Xanthium spinosum e Xanthium strumarium. Desde então algumas 30 espécies foram descritas e incluídas neste género. Ora, dá-se o caso de Xanthium strumarium - que cresce um pouco por todo o mundo e também em Portugal - ser uma planta extremamente variável em termos de hábito, forma e tamanho dos frutos e reação a fatores do meio ambiente. Assim, as numerosas espécies apresentadas como espécies diferentes poderão, segundo alguns botânicos, não passar de variantes de Xanthium strumarium.

Fotos: Serra do Calvo/Lourinhã


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Polygonum aviculare L.

Nomes comuns:
Centonódia, erva-da-ferradeira, erva-da-muda, corriola-bastarda, 
erva-dos-passarinhos, erva-da-saúde, erva-das-galinhas, 
língua-de-perdiz, persicária-sempre-noiva, 
sanguinária, sanguinha, sempre-noiva-dos-modernos.


Polygonum aviculare é a terceira espécie do género Polygonum (familia Polygonaceae) que encontrei nesta região, juntando-se a outras duas já aqui referenciadas, nomeadamente Polygonum maritimum e Polygonum lapathifolium.
Polygonum aviculare é uma espécie nativa da Europa ou Eurásia. No entanto, hoje em dia é uma das plantas mais disseminadas no planeta. Esta distribuição generalizada é atribuída a várias características da planta, nomeadamente o elevado polimorfismo genético, grande plasticidade fenotípica, produção prolífica de sementes, múltiplos meios de dispersão de sementes, formação de um banco de sementes persistente e alelopatia (estratégia que consiste na produção de substancias químicas que impedem a emergência ou sobrevivência de outras plantas nas proximidades).


Polygonum aviculare é uma planta anual cujo período de floração vai de março a novembro, dependendo da localização. É, principalmente, uma infestante das culturas de primavera e um dos problemas mais sérios na grande variedade de culturas dos climas temperados, sendo uma das poucas ervas que são igualmente abundantes entre as culturas cerealíferas e as culturas de folhas larga, nomeadamente os legumes. É muito frequente em hortas, especialmente em climas mediterrânicos, também em pastagens e viveiros. Prefere os solos nitrogenados e algo húmidos mas também ocorre em espaços urbanos, nas rachas dos pavimentos, em solos pobres e compactados onde outras plantas encontram dificuldades em sobreviver. 

Em Portugal continental, onde é autóctone, ocorre em quase todo o território sendo mais rara no Alentejo. Também é nativa no arquipélago da Madeira, mas é exótica nos Açores.


Tal como as outras espécies do seu género os caules herbáceos são formados por nós e entrenós. Os caules desta espécie não têm pelos e são geralmente decumbentes, ou seja, desenvolvem-se sobre o solo apenas com a extremidade ascendente. Estes caules são bastante longos, podendo atingir cerca de 1 metro de comprimento, por vezes formando grandes tapetes. 


Os caules apresentam estrias longitudinais e ramificam-se quer na base quer nos nós que entram em contacto com o solo.  Também esta espécie apresenta duas estipulas membranosas que estão unidas e enroladas em torno dos caules nos nós, no ponto onde se inserem as folhas, escondendo o curto pecíolo e formando uma estrutura cilíndrica denominada ócrea. 

Ócrea

A ócrea de Polygonum aviculare é transparente, por vezes de aparência esbranquiçada e os dois segmentos que a constituem são longos, estreitos e pontiagudos.


As folhas inserem-se de forma alternada mas variam em tamanho e forma na mesma planta, podendo ser lanceoladas ou elípticas com ápice agudo ou arredondado. São de cor verde ou verde-acinzentado ou glaucas, inteiras e glabras.


As flores são muito pequenas e nascem na axila das folhas, estando muitas vezes parcialmente envolvidas pela ócrea. Tanto podem ser solitárias como crescerem em grupos pouco numerosos de 2 a 8 flores. Estas inflorescências podem distribuir-se equitativamente ao longo dos caules ou ser mais numerosas na parte superior dos mesmos.


O perianto de cada flor é constituído por 5 lóbulos em que sépalas e pétalas são indistintas sendo, por isso, denominados tépalas. As tépalas têm forma oblonga e são verdes com margens brancas ou rosadas e estão parcialmente unidas pela base, formando um tubo que encerra os órgãos reprodutores, masculinos e femininos.
A maioria das fontes sugere que esta espécie se reproduz por autofecundação. Contudo, a presença de flores abertas indica que também pode ocorrer a polinização cruzada. Existem registos de visitas a estas flores por mais de 36 tipos de insetos que se alimentam do néctar. Tendo em conta o hábito prostrado de muitos dos caules e a consequente existência de flores ao nível do solo, os insetos que visitam esta planta tanto podem ser voadores como terrestres.

Numa mesma planta existem flores cleistogâmicas (flores fechadas, de autofecundação obrigatória) e flores casmogâmicas (flores abertas em que predomina a polinização cruzada). No que diz respeito às flores casmogâmicas, apenas uma flor abre de cada vez em cada uma das inflorescências. A ântese ocorre de manha cedo e cada flor permanece aberta durante um período variável que vai de 1 a 4 dias, fechando definitivamente ao fim do dia. Estes dois tipos de flores partilham características comuns. 

O ovário tem 3 estiletes muito curtos que terminam em estigmas com a ponta arredondada. O ovário posiciona-se sobre um pequeno pedúnculo (ginóforo) compreendido entre o androceu e o gineceu, de forma que os estigmas alcançam o mesmo nível dos estames do círculo interior.

Os estames organizam-se em dois verticilos (5 num circulo interior e 3 num circulo exterior) e o seu número total varia entre 5 e 8 porque ocasionalmente o verticilo exterior não existe. Os 5 estames interiores têm filetes engrossados com bases achatadas e são mais compridos que os 3 estames exteriores os quais tem filetes filiformes. De notar que o numero de estames pode alterar-se durante o período vegetativo. 

As flores autopolinizam-se quando os estames internos se curvam sobre os estigmas. Os restantes estames alternam com os segmentos do perianto e dobram-se para fora garantindo assim a polinização cruzada se qualquer inseto visitar a flor. 
Estas flores podem ser consideradas protândricas (quando as anteras ficam maduras e libertam o pólen antes de os estigmas se tornarem recetivos) embora normalmente ocorra um curto período em que as fases férteis masculinas e femininas se sobrepõem. Quando as tépalas se fecham e os estames são forçados a entrar em contacto com os estigmas, regista-se um lapso de tempo em que as flores ainda não polinizadas têm uma segunda oportunidade, ocorrendo então a autopolinização. 

Os nectários habitualmente bem desenvolvidos noutras espécies de Polygonum não existem em Polygonum aviculare, mas regista-se a presença de néctar o que leva a crer que o mesmo poderá ser segregado pelas células da base dos filetes estaminais.

Sementes de Polygonum aviculare. Foto de RASBAK (pormenor)
Fonte Wikimedia Commons
As sementes são aquénios que se desenvolvem envolvidos pelas tépalas que formam o perianto e nele permanecem inclusos ou ligeiramente exsertos na maturação. Têm cor castanha mais ou menos escura e são triangulares, com as faces concavas.
Uma só planta de Polygonum aviculare pode produzir entre 125 a 6400 sementes dependendo da disponibilidade de recursos e o nível de competição com outras espécies. Estas sementes são muito resistentes, quer ao pisoteio, quer aos ácidos digestivos dos animais que as ingerem e também são impermeáveis à ação da água. A dispersão é feita por aves, mamíferos e também pela água. Podem ainda ser levadas para outros locais pela maquinaria agrícola.
Estes aquénios entram em dormência com o calor. Assim, necessitam de ser submetidos ao frio do inverno para poderem germinar, sendo que as temperaturas baixas quebram a dormência ao passo que as temperaturas altas do verão a reforçam.
As plantas começam a produzir sementes cerca de dois meses após a germinação.

Polygonum aviculare é definida como uma espécie altamente polimórfica. Existem consideráveis variações genéticas nos seus hábitos de crescimento, floração, número de sementes e tempo de vida. Devido à sua extensa plasticidade fenotípica diferentes variedades têm sido descritas e consideradas como espécies separadas. Assim, tem sido sujeita a diversas classificações taxonómicas ao longo dos anos. Algumas autoridades consideram a divisão de Polygonum aviculare em varias subespécies, enquanto outras a identificam como uma única espécie, embora muito polimórfica. De forma geral, as subespécies descritas são muito difíceis de diferenciar. As diferenças  relacionam-se com a forma das folhas (mais estreitas ou mais largas), a constância no tamanho das folhas (mesmo tamanho ou tornando-se mais pequenas à medida que se aproximam do topo dos caules), o comprimento relativo das tépalas e a forma do seu ápice (encapuzado ou plano).

O nome específico aviculare vem do latim aviculus, diminutivo de avis (= uma ave), referindo-se ao facto destas sementes servirem de alimento a muitos dos nossos pequenos pássaros.


Polygonum aviculare é, desde há muito, utilizada como planta medicinal. Na literatura especializada foi classificada como "analgésico, antipiretico, antisséptico, adstringente, colagogo (com ação sobre a vesícula biliar), emoliente, diurético, emético, expectorante, hemostático, laxante, tónico, vasoconstritor, vermífugo e vulnerario". A erva tem efeitos benéficos contra problemas cardiovasculares, infecções (Tunon et al., 1995) e deficiências de imunidade (Plachcinska et al., 1984; Stajner et al., 1997). Consequentemente, a erva é um dos ingredientes usados em suplementos comercializados para tratar doenças relacionadas. Contém produtos químicos antimicrobianos gerais (Cowan 1999), glicosídeos, flavonóides, mucopolissacarídeos (Wren 1992; Kim et al. 1994; Vysochina 1999; Smolarz, 2002).
Fotos: Zambujeira e Serra do Calvo/Lourinhã