"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Em defesa da biodiversidade - Parte 1

Sobre a biodiversidade:

Habitat = conceito que define o espaço físico em que vive uma determinada espécie, onde encontra as condições determinantes para a sua sobrevivência.
Ecossistema = formado por comunidades de seres vivos (flora, fauna, micróbios e outros pequenos organismos) que interagem entre si e com os fatores do meio ambiente (luz solar, chuva, água, ar, solo).
Bioma = Conjunto de ecossistemas.
Relações bióticas = relações de cooperação ou competição que se estabelecem entre os seres vivos de uma comunidade.

“A biodiversidade assume um papel crucial para a espécie humana, uma vez que aproximadamente 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos” (MAOT, 2000, 2001).
“O desaparecimento ou empobrecimento de ecossistemas acarreta a extinção de outras espécies que deles dependem, originando um ciclo de destruição” (Carapeto 1998).


O conceito de biodiversidade tem a ver com a variedade de organismos e seres vivos que habitam o globo terrestre (como um todo ou numa região particular) e as relações que existem entre eles e o meio ambiente. Estas relações podem ser muito complexas. Encontrei AQUI uma definição que me parece suficientemente elucidativa e tomo a liberdade de a reproduzir “Os seres vivos agem indiretamente sobre os outros, atuando no ambiente físico-químico que os envolve. As relações bióticas desenvolvidas em equilíbrio natural, sem a intervenção humana, permitem que numa comunidade alguns seres de cada espécie sobrevivam, cresçam e se reproduzam, para assim garantirem a continuidade da sua espécie. Mesmo as relações desfavoráveis são essenciais, pois têm como objetivo manter ou restabelecer o equilíbrio das populações nos ecossistemas. É claro que o Homem constitui a exceção. Além de voluntariamente infringir as leis da natureza, pode alterá-las por diversos motivos, nomeadamente económicos”. Fonte
E também AQUI, “As populações da mesma espécie e de espécies diferentes interagem entre si formando comunidades; essas comunidades interagem com o ambiente formando ecossistemas, que interagem entre si formando paisagens, que formam os biomas. Desertos, florestas, oceanos, são tipos de biomas. Cada um deles possui vários tipos de ecossistemas, os quais possuem espécies únicas. Quando um ecossistema é ameaçado todas as suas espécies também são ameaçadas”. Fonte
Estrago nas dunas da Areia Branca provocado pela descarga de toneladas de terra barrenta provenientes de um desaterro destinado à construção de um condomínio nas proximidades. Antes, os trilhos que desciam a encosta eram todos de areia e absorviam bem as águas da chuva, mesmo em dias de tempestade. Agora, mal chove formam-se impetuosos rios de lama que arrastam toda a areia que podem, escalavrando a encosta barbaramente, levando a lama até à praia.
Calcula-se que uma duna pode demorar 50 anos a recuperar de uma só passagem de mota ou jipe. Imagine-se, pois, o tempo que demorará esta encosta a escoar a terra barrenta, a preencher os espaços com areia e finalmente a repor a vegetação que lhe pertence.
Infelizmente, fruto das mais variadas atividades humanas, tem-se registado, nas últimas décadas, uma rápida destruição dos ecossistemas, associada a uma crescente extinção de espécies. A principal causa desta galopante perda de biodiversidade, tem a ver com a destruição ou alteração dos habitats. Para tal, contribuem, entre outros fatores, a expansão urbana e de lazer, a extração desenfreada de recursos naturais - em que se inclui o abate de árvores indiscriminado - os fogos e a construção de barragens e parques eólicos. Outra das formas de degradação dos habitats naturais prende-se com a introdução de espécies exóticas muitas das quais se tornam invasoras. Conforme o nome indica, as espécies exóticas invasoras são levadas do seu ambiente natural e introduzidas noutros habitats onde, livres dos seus naturais inimigos, se reproduzem livremente em grandes quantidades, vindo a ocupar vastas áreas e ameaçando a sobrevivência das espécies nativas que nelas habitam.

As plantas autóctones:
Nem todas as espécies exóticas são invasoras. Na realidade, grande parte das plantas ornamentais cultivadas nos grandes centros europeus produtores de flores não é nativa dessas regiões, o que faz sentido apenas se considerarmos que o objetivo é o sucesso comercial com base na exportação. Estes grandes centros distribuidores escolhem as plantas pelo seu potencial valor comercial, independentemente da região de onde são oriundas. Estas plantas são multiplicadas e hibridizadas, acabando, ironicamente, por serem importadas pelo seu país de origem onde são incorporadas no comércio florístico e rapidamente aceites como novidades. É o que acontece com diversas espécies nativas do nosso país, tantas vezes por nós menosprezadas mas que são muito apreciadas em países com grande tradição na jardinagem, como é o caso do Reino Unido. O ser humano, tendo em conta a sua natureza, tende a ser atraído pelo que é diferente e a deixar-se fascinar pela aparente raridade do que lhe é desconhecido, esquecendo-se que o verdadeiro tesouro poderá estar em “casa”.
Rosmaninho (Lavandula stoechas) em maio
Felizmente, os amantes da jardinagem em Portugal começam a aperceber-se do grande potencial ornamental e económico das nossas espécies e estão cada vez mais a utilizá-las nos jardins privados. Aliás, a tendência do moderno paisagismo passa pela substituição das espécies exóticas por espécies autóctones também nos espaços verdes públicos. Neste caso, as boas ideias estão a surgir, assim as autarquias e outras entidades responsáveis as ponham em prática e corrijam o desleixo decorrente em tantos espaços de lazer.
As espécies autóctones são espécies nativas de determinada região, ou seja, ocorrem dentro da área que ocupam e onde evoluíram de forma natural, sem que tenha havido introdução artificial direta ou indireta. O uso de plantas autóctones, nomeadamente árvores, arbustos, herbáceas ou gramíneas tem muitas vantagens. Para além de fomentarem o equilíbrio ecológico, reforçam as identidades regionais, criando fatores característicos e uma identidade própria, em harmonia com a paisagem. São de fácil manutenção e como estão adaptadas ao clima e às condições do solo, são mais resistentes a pragas e doenças, além de requerem menos regas que as plantas exóticas, permitindo grande poupança em água, recurso cada vez mais escasso. Muitas delas são aromáticas ou medicinais e todas, em maior ou menor grau, atraem borboletas e outros insetos, os quais são indispensáveis para que as plantas gerem frutos e sementes.
Assim, aqui lhe deixamos a sugestão: abrilhante os vasos da sua varanda, o seu quintal, o seu jardim ou um cantinho na sua horta com plantas autóctones do nosso país. Ao mesmo tempo que contribui para a biodiversidade e o equilíbrio ecológico usufrua da harmonia e beleza que as flores transmitem, sem esquecer que muitas são aromáticas e/ou comestíveis.  
Cebolinho (Allium schoenoprasum) e alecrim (Rosmarinus officinalis)
Relembro que se inicia agora a época do ano ideal para fazer as sementeiras. E como conseguir as sementes? Para lhe dar uma ajuda na escolha das espécies do seu agrado, o projeto Sementes de Portugal - especializado em sementes de espécies autóctones - já divulgou o seu catálogo detalhado e atualizado, em que se disponibilizam sementes de 309 espécies entre árvores, arbustos, trepadeiras, herbáceas, gramíneas e bolbosas. Consulte o blog em http://sementesdeportugal.blogspot.pt/ e o catálogo em https://drive.google.com/file/d/0B9sKCKBDDsItOVZscEtTeXRmX1k/view?usp=sharing

“As espécies autóctones estão mais adaptadas às condições edafo-climáticas do território, sendo mais resistentes a pragas, doenças e a períodos longos de estio e chuvas intensas, em comparação com as espécies introduzidas”.
(Confragi, 2006)
“Esperamos que todos saibam reconhecer o valor das florestas naturais de Portugal para que as futuras gerações ainda as possam conhecer e usufruir delas” (Quercus, 2004).

No meio das urzes...
As espécies autóctones portuguesas destacam-se pela sua elevada riqueza florística. Graças às condições favoráveis do nosso clima há espécies de plantas silvestres autóctones em flor, praticamente o ano inteiro. Na orla das florestas enchem de cor a beira das estradas, alegrando as nossas viagens. Até nas grandes cidades nos ajudam a acalmar o stress dos engarrafamentos, ocupando espaços esquecidos pelos jardineiros camarários. Assim, muitas são as plantas autóctones que nos ajudam a enriquecer certos momentos de tédio, se os soubermos aproveitar. E, de tal maneira são uma constante que as damos por garantidas ou, preocupados com a labuta diária, nem lhes damos apreço. Mas estão lá e no momento em que desaparecerem, certo é, que daremos pela diferença.
Murta (Myrtus communis)
Mas é nas florestas que as espécies autóctones, árvores, coberto de arbustos e subarbustos e herbáceas, assumem a sua maior densidade e enorme importância, contribuindo com matéria orgânica para a fertilidade dos solos, regulando o clima através da humidade ambiente e proporcionando abrigo e alimento à fauna (animais, insetos e micro-organismos). 
Em março florescem os tojos 
A relação que se estabelece entre fauna e flora – uns providenciando alimento, outros ajudando na dispersão de sementes e polinização - assegura a sobrevivência de ambos e contribui para manter a biodiversidade.
Ao longo da história da Terra, as sucessivas alterações climáticas foram determinantes na evolução dos ecossistemas e responsáveis pelas mudanças provocadas nas florestas portuguesas. Há 20 milhões de anos Portugal, toda a área hoje ocupada pelo Mediterrâneo e o norte de África tinham um clima subtropical húmido e apresentavam-se cobertos de florestas de lenhosas sempre-verdes, maioritariamente constituídas por espécies da família do loureiro (florestas Laurissilva). Com a chegada das glaciações e o consequente arrefecimento do clima, despoletados pela formação do Mediterrâneo, este tipo de floresta foi praticamente extinto, tendo, contudo, conseguido sobreviver em alguns locais da Macaronésia. O que resta das florestas Laurissilva assume a sua maior expressão nas terras altas da ilha da Madeira, ocupando aí uma área de cerca de 15.000 hectares e classificado pela UNESCO como Património da Humanidade.
Após as glaciações o clima voltou a aquecer e Portugal foi colonizado por espécies da família Fagaceae, ou seja carvalhos, castanheiros e outras lenhosas de folha caduca.
Tamarix africana
Infelizmente ao longo dos últimos 500 anos a maior parte das florestas de carvalhais portugueses foi sendo destruída sobretudo devido à desflorestação desenfreada na ânsia de obter mais terrenos de cultivo e também para aproveitar a madeira para a construção das naus dos descobrimentos. Muitos carvalhais foram também destruídos por incêndios e outras atividades humanas, nomeadamente pela expansão das cidades. Aos poucos e em muitos locais, os carvalhos foram sendo substituídos por pinheiros (pinus pinaster) - espécie autóctone típica do litoral - e também pela introdução de espécies exóticas.
Atualmente no território continental de Portugal predominam dois tipos de influências climáticas: atlântica e mediterrânica. De forma geral o litoral norte apresenta um tipo de “Floresta temperada caducifólia” constituída por bosques de folha caduca dominados pelo Quercus robur (carvalho-roble) e o resto do país pela “Floresta e matagal de esclerófilas mediterrânicas” formada por espécies de folha persistente como o Quercus suber (sobreiro) e Quercus rotundifolia (azinheira) e outras espécies tolerantes ao stress (nomeadamente a seca) como Arbutus unedo (medronheiro), Myrtus communis (murta), Phillyrea latifolia (aderno), Pistacia lentiscus (aroeira), Cistus  ladanifer (esteva), Cistus crispus (roselha), Cistus albidus (roselha-grande), Cistus salvifolius (sargaço), Rosmarinus officinalis (alecrim), entre muitas outras. Em climas mais rigorosos e de maior altitude aparece Prunus avium (cerejeira-brava), Taxus baccata (teixo) e Betula celtiberica (bétula).
Cistus crispus (Roselha)

Neste ponto, caro leitor, já se perguntou quantas espécies de plantas autóctones há em Portugal?
Tenho a resposta para si. Em 2010, num artigo do Jornal Público surgiu a seguinte noticia:
Botânicos apresentam lista com as 4000 espécies de plantas de Portugal:
Uma equipa de 18 botânicos trabalhou três anos para criar a primeira lista de referência das plantas de Portugal. O inventário “limpou” repetições e nomes que vão mudando com o tempo e chegou ao número total de 3995 espécies…
… A equipa, de várias universidades, definiu um conjunto de critérios e deitou mãos à obra, criando a primeira lista que tem todas as plantas vasculares - autóctones, endémicas e introduzidas - e que inclui todo o território nacional. Agora, pode dizer-se com segurança que estão listadas no Continente 3314 espécies, 1006 no Arquipélago dos Açores e 1233 na Madeira. É esta região que alberga o maior número de endemismos (espécie que não existe em mais nenhum lugar), com 157. Nos Açores esse número chega aos 78 e no Continente aos 150.
E se existem espécies “comprovadamente extintas por território” – nomeadamente três endemismos na Madeira e um nos Açores - e outras de que não se conhece o paradeiro há cem anos, também é verdade que nas últimas décadas a galeria de plantas de Portugal tem sido aumentada por espécies exóticas. De acordo com esta lista, existem 412 espécies introduzidas no Continente, 710 nos Açores e 435 na Madeira.”… ler mais 
Agora, é só fazer as contas!