"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Eryngium maritimum L

Cardo-marítimo


Eryngium maritimum é uma espécie nativa do continente europeu. É relativamente abundante nas zonas costeiras de Portugal, vivendo na primeira linha dos sistemas dunares, onde as areias são mais instáveis. Pode, no entanto, ser também observada em locais mais recuados, onde as areias estão mais estabilizadas.

Esta planta, com características semelhantes aos cardos (ver aqui), desenvolveu inúmeras adaptações às condições agrestes do seu habitat, em que a proximidade do mar origina amplitudes térmicas que vão do sol escaldante ao frio cortante, luminosidade excessiva, ventos fortes carregados de partículas de sal, escassez de nutrientes e reduzida disponibilidade de água.

Nesta conformidade, o profundo e forte sistema radicular do Erygium maritimum permite-lhe sobreviver soterrado na areia enquanto as suas folhas espinhosas e coriáceas, cobertas por uma camada cerosa, evitam as perdas de água.
O Eryngium maritimum é uma planta herbácea, perene, de aspeto robusto mas relativamente baixa, desenvolvendo-se a partir de uma roseta basal. Os caules, estriados e por vezes com algumas manchas avermelhadas, são ascendentes e ramificados. As folhas, de margens denteado-espinhosas como as do azevinho, estão cobertas por uma cobertura cerosa que lhe dá a característica cor verde-água ou cinzento-azulado e as protege da desidratação e dos efeitos erosivos da areia.

As folhas basais, em forma de leque, têm pecíolo enquanto as caulinares são sésseis (sem pecíolo) e envolvem parcialmente o caule. As nervuras das folhas são bastante nítidas e têm cor esbranquiçada, tal como as margens.


As flores, de cor azul-vivo, são minúsculas e encontram-se agrupadas em capítulos, formando cabeças florais compactas e globosas, muito atrativas para as abelhas e outros insetos.


Cada pequena flor.  que constitui uma cabeça floral, é rodeada por um cálice composto por 5 sépalas estreitas e eretas, maiores que as pétalas.

As cabeças florais estão rodeadas de brácteas largas e espinhosas que se assemelham às folhas.



 Eryngium maritimum floresce e frutifica de maio a setembro. Os frutos são escamosos, oblongos e estão providos de pelos em forma de gancho.

O Eryngium maritimum pertence à família botânica das Umbeliferae/ Apiaceae e ao género Eryngyum o qual inclui cerca de 230 espécies, nativas de prados ou áreas rochosas e costeiras. Muitas das espécies são usadas como plantas ornamentais em jardins, tirando partido da sua folhagem e inflorescências, de cores muito decorativas. É de notar que as plantas deste género não apresentam as inflorescências carateristicas da família das Umbeliferae/ Apiaceae (ver aqui). Isto é, em vez de inflorescências do tipo umbela, semelhantes a um guarda-chuva, as espécies Eryngium apresentam as flores reunidas em capítulos oblongos ou semi-esféricos.
Muitas espécies do género Eryngium são comestíveis além de que, pelas suas reconhecidas propriedades medicinais, têm sido utilizadas desde tempos imemoriais como diurético e anti-inflamatório. Em qualquer dos casos devem ser consumidas com muita precaução e em doses moderadas pois algumas espécies são tóxicas.
Especificamente, o Eryngium maritimum é utilizado na composição de cremes e tratamento de rejuvenescimento da pele o que pode vir a ter como consequência um aumento na procura e recolha de exemplares desta espécie. A planta pode ser cultivada mas parece que perde qualidades, daí a preferência pelas espécies silvestres.
Em alguns países europeus, nomeadamente Reino Unido, Escócia, Espanha e Alemanha esta espécie passou a ter o estatuto de espécie protegida pois já se nota um preocupante enfraquecimento das colónias em certas zonas costeiras e por vezes o seu total desaparecimento. Outra das razões para que tal aconteça prende-se com o facto de as plantas crescerem relativamente perto do mar, justamente no lugar que muitos banhistas preferem para tomar banhos de sol e consequentemente poderem ser danificadas pelas máquinas que limpam as areias das praias. Nesta competição por um pedaço de areia, temo que o Eryngium maritimum não saia a ganhar...

Em Portugal, o Eryngium maritimum continua a ser uma espécie relativamente abundante, não se encontrando ameaçada, pelo que não usufrui de qualquer estatuto de conservação. Apesar disso esta espécie deve ser valorizada e protegida tendo em conta a sua importância na estabilização das dunas frontais ao mar.

Fotos: Praia da Areia Branca - Areal Sul/Lourinhã



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SOBREVIVÊNCIA - Adaptação das plantas ao meio litoral


Para a estabilidade das dunas e das arribas, é indispensável a manutenção da vegetação que as protege da erosão eólica e hídrica.
A proximidade do mar sujeita as plantas a amplitudes térmicas que vão do sol escaldante ao frio cortante, luminosidade excessiva, ventos fortes carregados de partículas de sal,  escassez de nutrientes e reduzida disponibilidade de água.


Para sobreviver em meio tão adverso, as plantas dos meios litorais sofreram modificações morfológicas, anatómicas e fisiológicas pois, tal como nos ensina a natureza, o individuo mais forte é aquele que melhor se sabe adaptar ao meio em que está inserido.

Modificações adaptativas das plantas - Alguns exemplos:

Para evitar a perda excessiva de água:

Malcolmia littorea:
Reduziu o tamanho das folhas para evitar perdas de água.

Sedum sediforme:
Só abre os estomas à noite (estomas são pequenas aberturas ou poros localizados na epiderme da maioria dos órgãos aéreos das plantas, através dos quais se fazem as trocas gasosas) e tem caules e folhas suculentos com reservas de água.

Crucianella maritima:
As folhas têm disposição imbricada, para menor exposição ao sol e aos ventos.

Eryngium maritimum:
As folhas estão cobertas de uma camada cerosa que as impermeabiliza, limitando as perdas de água.

Medicago marina:
As folhas estão revestidas por denso tomento (indumento de pelos espessos, curtos, enrolados sobre si próprios, cobrindo uniformemente a superfície)

Juniperus phoenicea:
As folhas são de tamanho reduzido e estão revestidas por uma forte cutícula formada por cutina; as raízes são profundas para captar a água em profundidade.


Resistência à salinidade:

Crithmum maritimum:
Desenvolvimento de suculência: a planta armazena água, para satisfação das necessidades metabólicas e para manter a turgescência dos tecidos.

Frankenia laevis:
Tolerância de certas plantas ao sal está relacionada com a presença de pêlos glandulosos nas epidermes das folhas onde a concentração de sal é muito mais elevada do que no interior da folha. Atriplex, Limonium, Frankenia – necessitam de sais, são halófitos obrigatórios. Halófitos são plantas próprias de solos fisiologicamente secos, devido à grande concentração de sais, incluindo cloreto de sódio.



Limonium ferulaceum:
Capacidade de acumulação, em certas partes da planta, de grandes quantidades de sais provenientes do seu metabolismo que depois eliminam juntamente com os órgãos que os armazenavam como as folhas de algumas espécies de Limonium ou para compartimentos próprios no interior das células.

Resistência à instabilidade do habitat:

  • Soterramento: a planta dispõe de um sistema de rizomas entrecruzados que retêm as areias e que por crescerem em direcção à superfície permitem o despontar de sob as areias, além de que a sua grande facilidade de regeneração e crescimento facilita o alastramento. Um profundo sistema radicular evita o desenterramento pela erosão.
  • Ciclo de vida curto: evita o período do ano de maior instabilidade.
  • Resistência aos ventos, com colmos flexíveis (gramíneas) ou tomando hábito amoitado ou almofadado.
  • Possuir forma prostrada ou em forma de bola, para resistir aos fortes ventos.
  • Crescimento lento: minimização do uso de recursos.
  • Presença de micorrizas nas raízes Simbiose entre o micélio de alguns fungos e as raízes de muitas plantas, como por exemplo as orquídeas.
Fotos: Arribas do Caniçal e Areal sul-Areia Branca/Lourinhã