"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Centro da flor com

Nome Comum: Gerânio-peludo

Geranium rotundifolium é o tema de hoje. Assim se encerra o ciclo Geranium no qual foram incluídas algumas espécies pertencentes ao referido género e que, até à data, observei pessoalmente nesta região.
Geranium rotundifolium partilha com as suas congéneres a frescura verde-musgosa das folhas, o recato das flores rosadas e a determinação em adaptar-se ao meio ambiente e até expandir-se. Apesar de partilharem os mesmos espaços e recursos, não rivalizam nem se enfrentam, antes se entrelaçam docemente numa quase promiscuidade. Contudo, no seu jeito manso cada uma destas espécies consegue imprimir a sua personalidade própria, destacando-se das demais.
Na aparente uniformidade característica de Geranium descobrem-se algumas dissemelhanças merecedoras de algo mais do que aquilo que foi dito no texto introdutório AQUI e foram elas que me levaram a dar atenção individualizada a cada uma destas espécies, perfeitamente merecida, embora necessariamente repetitiva em alguns aspetos.  
Geranium rotundifolium é nativa do norte de África e sul da Europa, sobretudo da região mediterrânica, tendo sido introduzida noutras partes do mundo onde está naturalizada. Nos últimos anos tem-se registado alguma expansão para norte da Europa, estando mais abundante em locais onde era extremamente rara e aparecendo esporadicamente em países setentrionais onde nunca antes tinha sido vista. São os seus atributos ecológicos e fisiológicos, aliás partilhados por outras espécies do mesmo género e já antes mencionados, que lhe permitem adaptar-se com tal sucesso a ambientes humanizados.
No nosso país está presente como espécie nativa em Portugal continental e arquipélago da Madeira e naturalizada no arquipélago dos Açores. Os seus habitats naturais são locais sombreados nas orlas dos bosques, pinhais e dunas. Aparece ainda na beira dos caminhos, orla dos campos cultivados ou de pousio, fendas dos muros e outros locais de perfil ruderal mas com boa humidade edáfica.
Geranium rotundifolium reproduz-se por semente e tem apenas um ciclo vegetativo, ou seja, é uma espécie anual. Germina logo que chegam as primeiras chuvas de outono e floresce e frutifica, espalhando novas sementes, a partir de março. De todas as espécies Geranium que crescem espontaneamente em Portugal, Geranium rotundifolium é a que tem uma floração mais prolongada, podendo ainda nesta altura do ano, nos fins de dezembro, ver-se alguns indivíduos com flores e frutos.
Com 10 a 40 cm de comprimento, os caules são tenros e verdes ou com coloração avermelhada. São eretos ou ascendentes e estão cobertos de pelos suaves compridos não glandulíferos e também por pelos glandulíferos curtos, situação que se repete em todas as partes da planta.
As primeiras folhas formam uma roseta. Conforme se desenvolvem os caules, as novas folhas dispõem-se neles de forma oposta. Quase todas as folhas apresentam longos pecíolos. O limbo foliar, com 5 ou mais nervuras, é arredondado, peludo e está dividido em 7 a 9 lóbulos pouco pronunciados, os recortes não excedendo metade da aba da folha; ambas as faces estão cobertas com pelos geralmente não glandulosos.
As folhas desta planta são muito arredondadas se as compararmos com outras do mesmo género. O termo rotundifolium que dá nome à espécie reflete essa característica e deriva do latim: rotundus = redonda e folius= folha.
As flores, de tamanho diminuto nascem aos pares no topo de um pedúnculo comum que se subdivide. As 5 pétalas, de cor rosa ou lilás são iguais, inteiras, livres e direitas na extremidade. 
As 5 sépalas que envolvem o botão floral e que formam o cálice são livres, mais curtas que as pétalas e de forma ovalada, terminando numa ponta curta, aguda e rígida. São de cor verde, com estrias mais escuras e densamente cobertas de pelos glandulíferos e não glandulíferos.
Centro da flor em que se veem as anteras amarelas e os braços estigmáticos de cor purpura
As flores são completas, ou seja, dispõem de órgãos reprodutores masculinos e femininos. No androceu existem 10 estames férteis cujos filetes estão cobertos de pelos finos na metade inferior e que se dilatam progressivamente em direção à base, onde se encontram os nectários. As anteras amarelas produzem pólen da mesma cor.
O pistilo tem um ovário formado por 5 carpelos encimado pelos correspondentes 5 estiletes e estigmas de cor purpura ou rosa escuro.
O fruto de Geranium rotundifolium é um esquizocarpo formado por 5 mericarpos independentes, unidos por fibras denominadas aristas a uma coluna alongada (em forma de bico de ave), a qual é formada pelo conjunto do estilete e estigma que se alongaram e continuaram a crescer até à maturação completa.
A dispersão das sementes das espécies do género Geranium é feita por explosão  violenta, como já vimos AQUI, AQUI  e AQUI. Tal acontece devido às propriedades higroscópicas das aristas. À medida que vão ficando desidratadas e distorcidas as aristas acumulam tensão semelhante à de um elástico esticado, de modo que, chegado o momento da rutura, se dobram repentinamente, catapultando as sementes a considerável distância da planta-mãe. 
Fonte Flora-on
Foto de João D. Almeida
Como vimos, as sementes das espécies Geranium desprendem-se de baixo para cima e quando a coluna se curva, por vezes arrasta consigo tiras da epiderme da coluna as quais ficam encaracoladas ou fazendo arco, ficando o mericarpo agarrado na extremidade quando as sementes são ejetadas para fora dele.


À primeira vista Geranium rotundifolium pode ser confundido com Geranium molle. Ambas as espécies se distinguem por vários fatores mas o principal é a morfologia das flores cujas pétalas têm margens inteiras em G. rotundifolium e entalhadas em G. molle.
Quadro comparativo entre as flores de Geranium molle - à esquerda e Geranium rotundifolium à direita
Fonte: Flora-on
Foto de Geranium molle - Ana Julia Pereira
Foto de Geranium rotundifolium -  Patricia Pinto Silva

Já constatamos que, do ponto de vista terapêutico popular, as espécies Geranium são muito apreciadas e Geranium rotundifolium não é exceção. Esta planta é usada pelas suas propriedades adstringentes e analgésicas.

Fotos de Geranium rotundifolium: Serra do Calvo - Lourinhã.


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