"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





quarta-feira, 29 de maio de 2013

Rosa sempervirens L.

Nome vulgar: Roseira-brava

Rosa sempervirens é uma espécie nativa da Europa mediterrânica e do norte de África e que ocorre em zonas de clima temperado. Em Portugal é frequente nas regiões mais próximas do litoral.
Embora cresça bem em qualquer tipo de solo, mostra no entanto, preferência pelos terrenos húmidos, profundos e frescos e com elevada percentagem de azoto. Pode encontrar-se na margem de riachos e ribeiras, bermas dos caminhos e orla dos matagais. Gosta de se entrelaçar em árvores, procurando apoio e alivio na sombra. É uma espécie muito vigorosa cujos ramos podem formar matagais muito densos e espinhosos ao ponto de, à primeira vista, poderem ser confundidos com silvados, com os quais, alias, por vezes se entrelaçam.
Rosa sempervirens é um arbusto vigoroso, de caules compridos, trepadores ou rastejantes, podendo chegar aos 6 metros de comprimento ou mais; são verdes ou avermelhados, não têm revestimento de pelos e estão providos de acúleos curvos em forma de foice e cujo ápice está virado para trás ou seja, para o caule onde estão inseridos.
Os acúleos não são espinhos: também são rígidos e aguçados mas enquanto que os espinhos estão ligados aos caules por feixes vasculares, os acúleos são uma estrutura independente sendo, por isso, facilmente destacáveis dos caules. Assim, ao contrário do que diz o ditado popular não há rosa com espinhos…
Nesta espécie as folhas são persistentes, coriáceas e muito brilhantes; dispõem-se de forma alternada nos ramos; são compostas por 2 ou 3 pares de folíolos, sem pelos. Os folíolos têm forma ovada ou lanceolada e terminam em ponta aguda e mais estreita que a restante parte do limbo, sendo as margens finamente dentadas.
Inflorescência corimbiforme de Rosa sempervirens
As flores, docemente perfumadas, são solitárias ou agrupadas em inflorescências corimbiformes,  inserindo-se no mesmo eixo a alturas diferentes mas abrindo ao mesmo nível. São hermafroditas pois estão equipadas com órgãos reprodutores femininos e masculinos funcionais.
O androceu inclui numerosos estames dispostos de forma circular.
No centro da flor o gineceu é composto por vários carpelos os quais estão encerrados dentro de um recetáculo de forma cónica, mais ou menos tapado por um disco no qual há um orifício por onde saem os estiletes.
Nesta espécie, os estiletes (tubos estreitos e ocos que ligam o estigma ao ovário) estão cobertos de pelos fracos e densos e estão ligados entre si, formando uma coluna em cuja parte superior estão os estigmas.
As bases das pétalas, sépalas e estames inserem-se neste recetáculo o qual aloja nectários na sua superfície interior tornando-se num pequeno reservatório de néctar que atrai uma variedade imensa de insetos polinizadores.
A corola, com 3 a 5 cm de diâmetro, é composta por 5 pétalas brancas com um ligeiro entalhe na extremidade.
As 5 sépalas, caducas, são ovadas mas estreitam-se perto da extremidade terminando em bico e encurvando-se em direção à base da flor quando as pétalas murcham; têm glândulas na face exterior e nas margens e caiem antes que o fruto amadureça.

Rosa sempervirens floresce e frutifica de maio a julho ou agosto. O fruto, de forma ovoide, é carnudo e torna-se vermelho na maturação, sendo resultante da fusão do recetáculo com a parte inferior do cálice, corola e ovário. Estes frutos, popularmente conhecidos por escaramujos, são alimento precioso para aves e mamíferos os quais são também agentes dispersores das sementes.
A Rosa sempervirens pertence à família das Rosaceae que inclui cerca de 3000 a 3500 espécies organizadas em cerca de 115 géneros, os quais se distribuem por todas as regiões do mundo, sendo mais frequentes nas regiões temperadas e subtropicais do hemisfério norte.
A família botânica Rosaceae é uma das mais importantes do ponto de vista económico pelo facto de incluírem muitas plantas cultivadas não só pelos seus frutos comestíveis (ex: morangueiro, marmeleiro, macieira, ameixeiras, cerejeiras, pessegueiro, damasqueiros, amendoeiras etc.), mas também pelo seu valor ornamental. Das plantas desta família que são cultivadas pelas suas flores, as rosas são as mais conhecidas.

O género Rosa inclui mais de 100 espécies e ainda milhares de variedades, híbridos e cultivares sendo que Rosa sempervirens é uma das 15 roseiras silvestres cuja ocorrência é assinalada em Portugal pela Flora-on.
Este é um género que apresenta grandes dificuldades na identificação das espécies. Do seu sistema de reprodução resulta numa grande plasticidade morfológica, existindo múltiplas variedades e subespécies o que dificulta o seu reconhecimento e caraterização. Em colonias de uma determinada espécie é possível encontrarem-se indivíduos que mostram polimorfismos indicadores de prováveis hibridações com espécies próximas, as quais resultam de falhas do mecanismo de isolamento reprodutivo. Essas hibridações podem advir de um cruzamento simples de gametas (células sexuais) masculinos com femininos; ou podem ser hibridações introgressivas, nas quais ocorre uma infiltração de genes de uma espécie para a outra devido a cruzamentos específicos e sucessivos. A complexidade taxonómica do género Rosa também se deve, em parte à poliploidia e à apoximia.
A maioria dos híbridos das rosas silvestres não têm valor taxonómico pois são indivíduos cuja morfologia é ambígua sendo por isso impossível, senão imprudente, tentar carateriza-los. Muitos deles florescem e frutificam pouco ou esporadicamente.

Generalidades:
Os numerosos cultivares de Rosa que se usam em jardinagem procedem de hibridizações muito diversas feitas a partir de rosas silvestres nomeadamente Rosa moschata, Rosa gallica, Rosa damascena, Rosa wichuraiana, Rosa californica e Rosa rugosa. As rosas silvestres existem há mais de 12 ou 15 milhões de anos e são as flores cultivadas mais antigas em todo o mundo, provavelmente trabalhadas desde há cerca de 4500 anos. Ao longo da história as rosas têm sido submetidas a uma seleção intensa no sentido de conseguir novas variedades mais atrativas, com flores maiores e novas cores. Contudo as rosas não têm apenas valor ornamental pois são também utilizadas na culinária, além de libertarem óleos e essências utilizados na perfumaria e cosmética (não esquecendo a famosa água de rosas), faltando ainda mencionar as suas qualidades fitoterápicas.

As rosas estão entre as flores mais populares, havendo em vários países do mundo jardins especializados em exibir exclusivamente espécies e variedades de rosas, os chamados rosarium.
As roseiras dividem-se em três grupos:
- As espécies silvestres, que crescem espontâneas na natureza.
- As rosas antigas, variedades que existiam até 1867, ano em que foi criado o primeiro hibrido de rosa-chá “La France”.
São pouco conhecidas do grande público pois a oferta de novos cultivares é tão grande que entretanto estas espécies deram lugar a outras e ficaram fora de moda. Aos poucos vão ressurgindo, sobretudo através de colecionadores. São espécies muito robustas e resistentes, não requerem tantos cuidados e têm menos problemas com pragas e doenças.


- As rosas modernas, variedades posteriores a 1867

Este é o grupo mais popular nos dias que correm e o que oferece maior número de variedades. Mais de 95% das roseiras comercializadas pertencem a este grupo.
Ouvi falar de algumas variedades de origem portuguesa mas ao que parece estão completamente, ou quase, esquecidas. A variedade Bela Portuguesa ou “Belle Portugaise” (flores gigantes, de cor rosa) criada pelo botânico Francês Henri Cayeux, responsável pelo Jardim Botânico de Lisboa no final do séc. XIX não existe à venda no nosso país, podendo, no entanto ser importada de viveiros ingleses. Doutras variedades como Lusitânia, Estrela de Portugal e Palmira Feijão restaram os nomes para a posteridade.
Muita gente já ouviu falar das rosas de Santa Teresinha (trepadeira com rosinhas de cor rosa, minúsculas mas bem formadas e perfeitas, segundo lembro dos meus tempos da escola primaria) mas essas também não se conseguem encontrar à venda.

Fotos: Serra do Calvo/Lourinhã


4 comentários:

  1. Excelente, Fernanda. Muito se aprende consigo. Obrigado por mais esta lição.

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  2. Olá Fernanda,
    Este ano, não sei porquê, tenho visto muito esta planta... ela está por todo o lado! O facto de não saber identificá-la era um pouco desanimador... mas graças à sua partilha agora já sei :) Obrigada!

    Um abraço

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    1. Ola, Faroleco
      Tambem fiquei surpreendida com a quantidade de individuos que podemos observar este ano. Ha 2 anos que trago a especie em observacao por isso mais surpreendida fiquei. Penso que terao estado reunidas as condicoes ideais para o seu desenvolvimento. Fico curiosa sobre a floracao do'proximo ano...
      Um abraco

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