"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





quarta-feira, 24 de junho de 2015

Verbascum virgatum Stokes

Nomes comuns:
Verbasco, verbasco-das-varas; 
barbasco; blatária-grande; blatária-maior

Verbascum virgatum é uma planta herbácea bienal. O seu ciclo evolutivo demora 2 anos a completar-se. No primeiro ano as sementes germinam, estabelecem raízes e surgem as primeiras folhas em forma de roseta. 
Os caules aparecem no segundo ano, logo seguidos de flores e frutos. O ciclo fica completo quando as sementes voltam à terra, ansiosas por recomeçar.
Os caules são geralmente solitários e simples, por vezes ramificados, podendo atingir 1 ou 1,5 m de altura; são eretos e sólidos com uma consistência algo coriácea, de seção redonda ou um pouco angulosa; a superfície é relativamente glabra na parte inferior da planta mas na parte superior, sobretudo ao nível das inflorescências, está coberta de pelos glandulares curtos, simples, bifurcados ou trifurcados.

As folhas basais são inteiras, oblongo-lanceoladas, onduladas, de consistência grossa e enrugada e com ápice agudo; as margens são recortadas de forma mais ou menos irregular e vão-se estreitando em direção ao eixo, formando um pecíolo curto. 
As folhas caulinares são semelhantes, mas dispõem-se ao longo do caule de forma alternada helicoidal; não só não têm pecíolo, como quase abraçam o caule, por vezes prolongando-se ao longo dele. Ambas as páginas das folhas são finamente pubescentes.
As flores, com 3 ou 4 cm de diâmetro, são amarelas e formam espigas compridas e pouco densas. As flores podem nascer isoladas ou em grupos de 3 a 5.
Em qualquer dos casos existem brácteas, semelhantes a pequenas folhas, na base dos pedúnculos florais. Os pedicelos, mais curtos que o cálice, são acrescentes ou seja, continuam a crescer mesmo depois da fecundação e engrossam ligeiramente durante a frutificação; estão cobertos de pelos gandulares, tal como acontece com as brácteas e com as sépalas que formam o cálice.
A corola é formada por 5 pétalas amarelas, peludas na face inferior, ligeiramente desiguais e que se dispõem em forma de taça; são soldadas na base e a extremidade é arredondada.
O cálice é constituído por 5 sépalas triangulares, soldadas na base mas mais curtas que as pétalas e persistentes no fruto.
As flores são perfeitas pois estão providas de órgãos reprodutores masculinos e femininos funcionais. 
O androceu apresenta 5 estames dimorfos ou seja, dois maiores e com as anteras inseridas obliquamente e os restantes três mais curtos e com as anteras inseridas de forma transversal; todos os filamentos estaminais estão cobertos por pelos longos e densos de cor violeta e branca. 
As anteras, de cor laranja, são glabras e em forma de rim. 
O gineceu consta de um ovário com pelos glandulares e um estilete longo, encimado por um estigma arredondado.
As flores são polinizadas por insetos e a planta floresce e frutifica de abril a agosto.
Frutos imaturos
Os frutos são cápsulas quase globosas, um pouco maiores que o cálice. 
As sementes que se encontram dentro dos frutos são numerosas, muito pequenas e leves, sendo facilmente dispersas pelo vento. Servem de alimento a pequenas aves e outros pequenos vertebrados.

Verbascum virgatum é uma espécie nativa do oeste europeu, nomeadamente Península Ibérica, norte de Itália, França e sudoeste de Inglaterra. Foi introduzida e naturalizou-se na África do Sul, América do norte e América do Sul e ainda na Australásia.
Mapa de distribuição em Portugal continental
Fonte: Flora Digital de Portugal/Jardim Botânico - UTAD
No que diz respeito ao nosso país, é autóctone de Portugal continental e Madeira e foi introduzida nos Açores.
Podemos encontrar esta espécie em matos, terrenos cultivados, várzeas, beira dos caminhos, locais de solo remexido, baldios, lixeiras, dunas costeiras de solo perturbado com exposição abrigada do vento. Cresce em quase todos os tipos de solo e aguenta alguma seca mas prefere locais nitrificados e húmidos. Ressemeia-se com facilidade e coloniza facilmente habitats abertos mas não sobrevive a muita concorrência, pelo que não é considerada uma ameaça à atividade agrícola.
Verbascum virgatum pertence ao género Verbascum o qual inclui cerca de 360 espécies (e muitos híbridos) das quais, segundo o portal Flora-on,  9 estão presentes em Portugal. Veja AQUI
O nome genérico Verbascum deriva do vocábulo latino “Barbascum” que significa barba, numa clara referência à penugem que cobre as plantas, ainda que algumas espécies sejam bem mais peludas que outras.
O epíteto específico virgatum deriva também do latim, “virga” que significa vara, referindo-se à estrutura dos caules da planta.
As Verbascum virgatum são plantas muito vistosas e apreciadas pelos amantes da jardinagem. São valorizadas pelas belas flores, folhagem atrativa e elegância do porte, alto e estreito. Acresce o facto de permanecerem em flor por longos períodos de tempo, mesmo em solos secos. Outra vantagem é a baixa manutenção de que necessitam.
Existem disponíveis no mercado da horticultura, sobretudo em países apreciadores da jardinagem e onde as vendas de flores têm grande representatividade, cultivares para todos os gostos: com caules mais curtos, flores maiores e de cores mais variadas.
Nota: 
As cultivares resultam do “melhoramento” de uma determinada planta dando-lhe características que a tornam mais apetecida e em consequência mais vendável. Desta forma uma planta torna-se diferente de todas as outras no que diz respeito a resistência a doenças, a cor ou porte sem que no entanto tenha sido geneticamente modificada, muitas vezes recorrendo à hibridação. Para que uma nova cultivar possa ser registada, o que é obrigatório para poder ser comercializada, tem de manter características iguais em todas as plantas da mesma cultivar durante um espaço de tempo necessariamente longo.
Hibrido Verbascum ´Sugar Plum´
Fonte- fine Gardening
Em Dry Gardens of England pode aceder a fotos de jardins, muitos deles exibindo espécies de Verbascum.

No que diz respeito às espécies silvestres, uma vez estabelecidas e encontrando-se confortáveis, ressemeiam-se com facilidade. Havendo outras espécies do mesmo género nas proximidades a hibridação é muito frequente. E se por um lado as variações morfológicas que daí advêm complicam a delimitação das espécies, também é certo que se podem conseguir exemplares inesperados, certamente uma mais-valia para os amantes da jardinagem.

As espécies do género Verbascum têm uma longa história na medicina tradicional em quase todas as partes do mundo. Têm sido usadas durante séculos no tratamento de uma ampla variedade de doenças nomeadamente distúrbios respiratórios em geral, hemorróidas, dor reumática, situações inflamatórias da pele, feridas, infeções fúngicas e diarreia  e ainda como emoliente, diurético, expetorante e mucolítico. Para além das propriedades anti-inflamatórias são também conhecidas as suas propriedades antivirais, antimicrobianas, antimalária, antioxidantes, anticancerígenas, citotóxicas, imunomoduladoras, antiulcerogênicas, antihepatotoxicas, antihiperlipidémicas, etc. Enfim, poucas plantas terão assim tantas aplicações medicinais. 

Estes atributos devem-se aos metabólitos secundários, ou seja compostos químicos produzidos pelas plantas dos quais ainda só foram isolados saponinas, alcaloides, flavonoides, glicosídeos iridoides e feniletanoides. Apesar de todas as aplicações o conhecimento dos metabólitos acumulados em diferentes espécies de Verbascum é ainda limitado pelo que têm sido objeto de variados estudos e pesquisas na área da indústria farmacêutica.

Os tratamentos são feitos à base das flores e folhas por meio de extratos (ex.: maceração), decocção ou infusão, tendo o cuidado de filtrar bem os líquidos devido aos pelos existentes quer nas flores quer nas folhas e que são irritantes quando ingeridos.
Alertamos para o facto de que entre estes compostos químicos produzidos por algumas Verbascum sp está presente a cumarina (anticoagulante) e também a rotenona (inseticida e piscicida). Como sempre, qualquer tratamento deve ser acompanhado de aconselhamento de um ervanário credenciado pois há sempre a possibilidade de surgirem contra-indicações.

A espécie mais usada em medicina popular é Verbascum thapsus, espécie também presente em Portugal e nesta região. Veja AQUI.

Verbascum é o maior género da família Scrophulariaceae, a qual foi recentemente reorganizada, tendo perdido muito dos seus membros. Numerosos estudos de filogenia (relação evolutiva entre as espécies) com dados moleculares demonstraram que determinados géneros não tinham afinidade genética com a família Scrophulariaceae, pelo que foram transferidos para outras famílias, principalmente Plantaginaceae e Orobanchaceae. Tradicionalmente esta família agrupava 5000 espécies divididas em 275 géneros. Consideravelmente emagrecida após o reajuste, a família Scrophulariaceae tem agora 65 géneros que totalizam aproximadamente 1700 espécies, com distribuição mundial. A importância económica desta família reside principalmente na indústria de plantas ornamentais, de que apresento alguns exemplos:
Híbrido Diascia ´Coral Belle´. Photo by Kenpei
Fonte: Wikimedia Commons
Buddleja davidii
Photo by abbamouse. Fonte Wikimedia Commons
Híbrido de Nemesia 'Sunsatia Banana'
Photo by Stan Shebs. Fonte Wikimedia Commons
O nome Scrophuriaceae teve origem no género-tipo desta família, o género Scrophularia, que por sua vez deriva do termo em latim “scrofula” = escrófula, uma infeção nos gânglios linfáticos (a nível mandibular e cervical) que no passado era tratada com medicamentos feitos a partir de plantas deste género.

Fotos de Verbascum virgatum
Lugar da Areia Branca/Lourinhã (a cerca de 200 metros da praia).


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