quarta-feira, 8 de maio de 2013

Muscari comosum (L.) Miller

Nomes comuns:
Jacinto-das-searas; jacinto-de-tapete;
jacinto-paniculato; cebolinha-de-flor-azul
Muscari comosum é uma planta bolbosa, assim designada porque se propaga de forma vegetativa através de um bolbo. O bolbo é um órgão subterrâneo em cuja estrutura se encontram já diferenciadas caules, folhas e flores e que além de dar origem à nova planta também lhe fornece nutrientes, alimentando-a, se necessário, durante os primeiros tempos de vida. Estas reservas permitem, por exemplo, que as bolbosas de floração invernal se antecipem e completem o seu ciclo de vida antes do desenvolvimento das plantas que surgem em massa com a chegada dos primeiros calores da primavera, beneficiando assim de mais espaço e luz do sol.
O bolbo do Muscari comosum é semelhante a uma cebola, de forma ovoide, com casca acastanhada e finas raízes adventícias, de cor branca. Geralmente encontra-se enterrado a uma profundidade considerável o que lhe permite resistir a grandes amplitudes térmicas e até suportar alguma seca.
Esquema de um bolbo de Muscari comosum cortado ao meio
Este bolbo é formado por um grande número de folhas grossas e carnudas dispostas em camadas perfeitamente sobrepostas as quais estão inseridas, na sua parte inferior, num prato ou disco basal. Se o cortarmos ao meio, podemos observar no seu interior, na parte central do bolbo, as peças de uma flor rudimentar as quais se desenvolverão posteriormente. As folhas exteriores do bolbo do Muscari comosum são secas e acastanhadas formando uma túnica de proteção em volta do bolbo. Com o engrossamento do bolbo e a respetiva maturidade formam-se bolbos mais pequenos na sua base, os chamados bolbilhos, que podem ser separados da mãe e replantados para formar novas plantas.
Chegado o final do inverno o bolbo do Muscari comosum começa a desenvolver-se, surgindo em primeiro lugar de 3 a 7 longas folhas basais, lineares, de cor verde pálido, de textura frouxa e juntas pela bainha.
As flores surgem posteriormente, durante o início da primavera, dispostas sobre um longo escapo ereto e formando um cacho de forma cónica, formado por pequenas flores pediceladas e bem apertadas; a distância entre as flores individuais vai alargando a medida que estas amadurecem, o que acontece de forma progressiva.
As cores das flores variam do azul pálido ao azul escuro, passando pelo azul violeta.
As flores individuais são compostas por 6 tépalas (conjunto de corola e cálice) fundidas, ficando com forma esférica ou obovoide e com a abertura denteada.
As flores terminais são estéreis e na antese, período de expansão das flores, estas assumem o aspeto de um vistoso penacho, com pedicelos compridos e carnudos. As flores restantes, mais modestas, são férteis.
O androceu (conjunto órgãos de reprodução masculinos) é formado por 6 estames e o gineceu (conjunto dos órgãos femininos) por um ovário súpero, do qual emerge o estilo.
Os frutos são capsulas ovais, com um pequeno entalhe no meio do ápice e 3 valvas angulosas que albergam no seu interior 2 sementes escuras e brilhantes.
Distribuição em Portugal
Fonte: Jardim Botânico UTAD
O Muscari comosum desenvolve-se rapidamente. No nosso país pode encontrar-se em floração/frutificação entre março e junho, dependendo da região (se entretanto não forem comidos pelas ovelhas e cabras). Tanto cresce ao sol como em situações de meia sombra, podendo ser utilizado com sucesso em vasos, nos jardins, dando uma bela pequena flor de corte.
Podemos encontra-lo em campos abertos e de vegetação baixa, searas, prados, clareiras dos bosques e ate em dunas do litoral.
Como espécie espontânea é originária da Europa central, região do mediterrânico, Península Ibérica e Macaronésia (Canárias, Madeira e Açores).
Em certos países do mediterrâneo oriental, nomeadamente  Grécia e Itália, estes bolbos são tradicionalmente consumidos quer cozinhados ou preparados em conserva.
Até há pouco tempo o Muscari comosum estava incluído na família das Liliaceae mas após revisão segundo novas normas vigentes foi reclassificado, tendo sido incluído numa família mais pequena, a família das Hyacinthaceae. Miguel Porto, no site do Herbário da Universidade de Coimbra explica-nos a situação:
“Tradicionalmente, esta família (Liliaceae) incluía uma miríade de espécies que, nas revisões mais recentes, já foram distribuídas por cerca de 30 famílias diferentes, pertencentes até a ordens diferentes! Isto significa somente que o que antes se chamava de “liliáceas” era um grupo bastante heterogéneo e artificial de plantas que, por serem todas morfologicamente semelhantes, foram incluídas na mesma família – mas à medida que se foram realizando estudos mais aprofundados, nomeadamente moleculares, percebeu-se que essa família era afinal uma mistura de coisas muito diferentes, com histórias evolutivas próprias. Como é natural, o problema está longe de ser solucionado.”

Na verdade, houve recentemente nova reclassificação da responsabilidade do sistema APG, moderno sistema de taxonomia vegetal, tendo o Muscari Comosum sido incluído na família Asparagaceae ao mesmo tempo que Hyacinthaceae foi eliminada. Contudo esta solução não foi consensual havendo entidades que continuam a usar a classificação anterior. Para mais informação veja AQUI e aqui.
Sobre as plantas bolbosas: 
Bolbos, tubérculos, raízes tuberosas e rizomas são órgãos subterrâneos especializados que não só dão origem a novas plantas todos os anos, como também acumulam reservas de nutrientes permitindo às espécies sobreviver em condições desfavoráveis. Estes órgãos subterrâneos dão origem a dezenas de plantas espontâneas e ornamentais extremamente importantes do ponto de vista paisagístico e comercial e que na generalidade são designados por bolbosas.
Em viveiros e centros de jardinagem é possivel encontrar-se uma vasta gama de plantas bolbosas; algumas são replicas verdadeiras de bolbosas que vivem no estado selvagem, outras são híbridos obtidos através de polinização cruzada de variedades pertencentes à mesma espécie.
Depois de plantadas as bolbosas não dão muito trabalho e a grande variedade de tamanhos, cores e época de floração permitem a realização de uma infinidade de combinações.
As bolbosas podem plantar-se isoladas ou em grupos. Consoante a sua época de floração podemos combiná-las com outras, como por exemplo, alegrar um canteiro de vivazes cuja floração terminou ou ainda não começou ou então, integra-las na paisagem, formando manchas de cor.
A grande vantagem das bolbosas é a sua variedade, havendo espécies para todos os gostos, florindo de janeiro a dezembro, ao sol ou à sombra, baixas ou altas, de flores grandes ou pequenas, em vasos ou em plena terra.
A maioria das bolbosas que florescem na primavera semeiam-se no final do verão; elas necessitam de um período de baixas temperaturas para iniciar a rebentação (ex: Allium, Anemone, Crocus, Iris, Hyacinthus, narcissus, Tulipa, Galanthus, Scilla, Ornithoglum, Ixia, Freesia etc.
As bolbosas de verão/outono são muito friorentas pelo que, para que emitam raízes e se desenvolvam, requerem temperaturas mais ou menos elevadas e boa exposição solar. Estão neste caso as Begonia, Alstroemeria, Canna, Dalia, Gladioluss, Lilium, Agapanthus, Amaryllis entre tantas outras.
As plantas bolbosas passam, ao longo da sua vida, por várias fases. Quando a floração acaba e as folhas começam a murchar, os órgãos subterrâneos aproveitam para repor energias e engordar, ficando em estado de vida latente até à próxima estação. 

Fotos: Serra do Calvo / Lourinhã


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