sábado, 6 de junho de 2015

Melilotus indicus (L.) All.

Nomes comuns:
Anafe-menor; coroa-de-rei;  meliloto-da-índia;
trevo-de-cheiro; trevo-de-namorado; meliloto

Melilotus indicus é uma planta aparentada com os trevos, nativa da região mediterrânica, norte de África, Ásia temperada (Península arábica, Médio Oriente, Cáucaso, Ásia central e China) e Ásia tropical (Índia, Nepal e Paquistão). 
No que diz respeito a Portugal, é nativa de Portugal continental e Madeira e naturalizada nos Açores.
Mapa de distribuição em Portugal continental
Fonte: Flora Digital de Portugal-Jardim Botânico da UTAD
Foi introduzida no norte da Europa e logo se espalhou por quase todas as regiões do mundo de clima temperado quente. Embora prefira substratos alcalinos com boa drenagem, dá-se bem em quase todos os tipos de solo, conseguindo mesmo conviver com alguma salinidade. 
É uma espécie pioneira, arvense ou ruderal que ocorre em jardins, beira das estradas e caminhos, estrumeiras, locais perturbados, dunas marítimas, campos cultivados e habitats ripários (margens de cursos de água). 
Apesar de naturalizada, a sua condição de espécie exótica tem-lhe facilitado o desenvolvimento de hábitos invasores em alguns locais, rapidamente formando densas colónias que abafam as espécies autóctones. No entanto, é também muito útil em várias vertentes: é uma planta muito melífera, uma das preferidas das abelhas; as suas raízes profundas penetram nos solos favorecendo o arejamento dos mesmos, além de que têm a capacidade de fixar o nitrogénio atmosférico transformando-o em nutrientes. Esta planta tem ainda a vantagem de crescer bem em solos moderadamente salinos, onde outras espécies forrageiras não proliferam. 
Melilotus indicus é cultivada como fonte de alimento para o gado, sendo uma espécie apropriada às características climáticas de certos locais, resultando economicamente rentável. Apesar do agradável aroma que liberta, o seu sabor é algo amargo pelo que não é muito apreciada. Por essa razão é geralmente cultivada em mistura com cevada, aveia, centeio ou ervilhaca, não devendo ser colhida antes da floração para minimizar os efeitos do aparecimento de bolor a que é propensa durante o armazenamento. De qualquer modo, Melilotus indicus apresenta um certo grau de toxicidade pelo que se for usada em excesso na alimentação do gado poderá causar problemas de saúde, tais como falta de apetite, distensão abdominal, letargia, paralisia e contaminação do leite. A substância culpada é um metabólito secundário, a cumarina. No entanto, já existem híbridos com baixa concentração deste componente químico. 
O ciclo de vida de Melilotus indicus é geralmente anual mas em alguns casos é bienal, dependendo das condições ambientais. Dos mesmos fatores depende o crescimento da planta cuja altura pode ir dos 10 aos 50 cm.
Os caules, ramificados e algo angulosos, são delgados, eretos ou ascendentes, glabros ou esparsamente pubescentes, sobretudo os mais jovens.
As folhas são alternas e compostas por 3 folíolos de forma oblonga ou obovada, com margens serradas. 
Na base do pecíolo existem duas estípulas, ou seja, dois pequenos apêndices foliares de margem membranosa, alongados e estreitos. Nem todas as plantas possuem estípulas e a sua função primitiva permanece algo obscura. Contudo, tanto a sua presença como a sua ausência são, muitas vezes, um fator fundamental para a identificação das espécies. Veja mais AQUI
De notar que os folíolos que compõem as folhas de Melilotus indicus apresentam nastias, ou seja, movimentos que ocorrem em resposta a estímulos ambientais, nomeadamente a luz do sol ou a sua falta. Durante o dia, em resposta à luz solar, os folíolos ficam bem distendidos (fotonastia) para captar o máximo de luz e à noite fecham-se sobre si mesmos (nictinastia) diminuindo a superfície exposta. Estes movimentos resultam da alteração rápida na turgidez das células que se encontram na base dos pecíolos e dos peciólulos, em estruturas mais espessas denominadas pulvinos. O estímulo sobre as células dos pulvinos provoca a libertação dos iões de potássio com a consequente perda de água nas células vizinhas devido ao decréscimo da capacidade de osmose. Desta forma os pulvinos contraem-se e esta reação, ao propagar-se rapidamente, faz com que todas as folhas se dobrem. As folhas abrem-se através do processo inverso. As alterações na turgidez das células são determinadas por agentes químicos cujo equilíbrio controla a contração ou expansão dos pulvinos, num processo ainda não completamente entendido e que tem sido objeto de vários estudos. Esta é uma das características das espécies da família Fabaceae (Leguminosae) a que pertence Melilotus indicus.
As folhas frescas são comestíveis depois de cozinhadas mas quando secas podem ser tóxicas devido à presença da cumarina, substancia química que dá às plantas secas a fragância - que muitos apreciam – do feno acabado de cortar.
As folhas são também repelentes de insetos. Em tempos, quando ainda se usavam colchões de palha, as folhas eram usadas para repelir os percevejos.

As flores são muito pequenas mas numerosas e reúnem-se em elegantes cachos, densos e alongados. Cada pequena flor liga-se a um eixo central por meio de pedicelos curtos. As flores viram-se para baixo após a ântese (período de expansão da flor). 
O cálice, penugento e de cor verde-pálido, forma um tubo campanulado que termina em 5 dentes triangulares, tão compridos quanto o tubo. O comprimento total do cálice corresponde a cerca de metade do comprimento da corola.
A corola, de cor amarela, é formada por cinco pétalas, uma maior e mais comprida e situada na parte superior (o estandarte), duas laterais (as asas) e duas situadas na parte inferior e que estão parcialmente unidas (a quilha). 
Esquema de uma flor papilionácea
Este é um tipo de flor a que se chama papilionácea por ser semelhante a uma borboleta e que é característico de algumas espécies da família a que pertence a Melilotus indicus. As flores são perfeitas, assim classificadas porque dispõem de órgãos reprodutores masculinos e femininos. O androceu é formado por 10 estames com anteras de cor amarela ou alaranjada. Um dos estames é livre mas os restantes nove estão soldados, formando um tubo através do qual passa o estilete que surge a partir do ovário e que é persistente na maturação do fruto. O estigma é diminuto e de cor esverdeada.
Debaixo do ovário existe um recetáculo onde se forma o néctar, o qual é posto à disposição dos polinizadores entre os estames. Apesar deste incentivo aos insetos polinizadores Melilotus indicus geralmente recorre à autopolinização. Contudo é uma planta muito procurada pelas abelhas e com importância económica na produção de mel.
O fruto é uma vagem arredondada e de cor esverdeada que na maturação continua parcialmente envolvida pelo cálice que entretanto se torna rosado. 
Frutos de Melilotus indicus em amadurecimento (pormenor)
Fonte: Wikimedia Commons 
Autor: Forest & Kim Starr
O fruto tem forma ovóide ou quase globosa e a sua superfície apresenta-se ornamentada com vários sulcos que formam um desenho bastante intrincado. No seu interior existe 1 única semente, raramente 2.
Inicialmente as sementes são macias mas acabam por perder a humidade, tornando-se castanhas e duras, temporariamente impermeáveis. Podem manter-se viáveis no solo durante 11 a 50 anos, embora tenham sido encontradas sementes viáveis com 183 anos em San Fernando, no México. As plantas Melilotus indicus produzem uma media de 14,000 sementes por individuo, havendo no entanto plantas grandes que chegam a produzir de 200,000 a 350,000.
Quando maduros os frutos caiem no chão e as sementes acabam por se libertar, dispersando-se por ação do vento ou por animais, muitas vezes sendo ingeridas por pequenas aves.

Esta espécie está incluída no género Melilotus cujas espécies apresentam, por vezes, características morfológicas muito semelhantes. De facto, Melilotus indicus pode facilmente ser confundida com outras espécies do mesmo género e que vivem nos mesmos habitats, especialmente com Melilotus officinalis mas também com Melilotus  sulcatus. Na generalidade as flores deste género são amarelas com exceção de Melilotus albus que tem flores brancas. Existem pequenas diferenças na densidade das inflorescências ou no tamanho das flores mas a melhor forma de distinguir as espécies é através da observação dos frutos maduros.
Esquemas dos frutos maduros, da esquerda para a direita: M. indicus, M. Officinalis, M.sulcatus
Fonte: Flora Iberica
Inicialmente Melilotus indicus foi incluída no grande género Trifolium por Linnaeus em 1753 (Species plantarum) mas foi posteriormente transferida para o género Melilotus pelo botânico italiano Carlo Allioni (Flora Pedemontana 1: 308. 1785)
O nome do género Melilotus vem do grego e quer dizer literalmente “planta leguminosa com mel” referindo-se ao facto de as suas espécies serem muito melíferas – “meli”= mel + “lotos” = planta leguminosa (Munz, Flora So. Calif. 464). O nome da espécie indicus vem do também do grego “indikos” e refere-se à Índia (Jaeger 127)- país onde sempre foi muito cultivada como forrageira.
Este género inclui 21 espécies largamente distribuídas e das quais 10 estão presentes em Portugal continental como autóctones. A maioria destas espécies também estão presentes nos arquipélagos de Açores e Madeira, algumas tendo sido introduzidas, outras sendo nativas (pode conferir os detalhes específicos em Flora-on). 
Melilotus indicus é uma leguminosa, pertencendo à família Fabaceae também denominada Leguminosae, uma das maiores famílias de plantas de flor, incluindo mais de 18,000 espécies agrupadas em cerca de 463 géneros, distribuídas praticamente pelo mundo inteiro. É grande a sua importância económica pois inclui espécies fundamentais na alimentação humana como sejam a soja, o feijão, o amendoim, o grão-de-bico, o tremoço, as ervilhas ou as favas, apenas para mencionar algumas.
Na generalidade, são plantas de hábitos variados podendo ser herbáceas, trepadeiras, arbustos ou árvores. Muitas espécies são também utilizadas como ornamentais, outras têm grande valor comercial ou industrial devido aos produtos que delas podem ser extraídos, nomeadamente o tanino, substância usada na indústria do couro, já para não falar dos corantes, tinturas, colas, vernizes etc.
Uma das características desta família é a faculdade de converter o nitrogénio atmosférico (azoto) em moléculas proteicas as quais são aproveitadas pela própria planta para seu desenvolvimento e o das plantas em seu redor. Isto acontece devido a uma relação simbiótica com bactérias Rhizobium que se fixam nas raízes das leguminosas através de nodosidades, visíveis a olho nu. Em contrapartida, as bactérias recebem das plantas os açúcares produzidos durante a fotossíntese. Esta simbiose permite não só a sobrevivência das referidas bactérias mas também que certas espécies possam desenvolver-se sem problemas em solos pobres em azoto e matéria orgânica.
Tirando partido desta capacidade Melilotus indicus é também usada como adubo verde, processo que consiste  em cultivar leguminosas de crescimento rápido, as quais são cortadas e enterradas no mesmo local antes de florescerem e criarem sementes. Esta prática promove o enriquecimento do solo com azoto e outros nutrientes, além de melhorar a estrutura dos terrenos, protegendo-os da seca e limitando o desenvolvimento das ervas daninhas.

Usos medicinais:
Todas as plantas sintetizam químicos variados, nomeadamente os chamados metabólitos secundários, muitos deles responsáveis por propriedades terapêuticas (veja mais AQUI ).
Melilotus indicus contém cumarina, que é um anticoagulante. A planta também é usada como emoliente, adstringente, laxante e narcótica. 
Entretanto aqui deixamos, mais uma vez, um conselho: qualquer tratamento que leve ao consumo interno das plantas deve ser precedido de aconselhamento apropriado, 

Fotos de Melilotus indicus: Caniçal/Lourinhã.


3 comentários:

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