terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Nigella damascena L.

Nomes comuns:
Nigela-dos-jardins; cabelos-de-vénus; dama-de-verde;
damas-do-bosque; barba-de-velho


Nigella damascena é uma fascinante espécie anual que cresce de forma espontânea em campos cultivados, searas e pomares, terrenos baldios e beira dos caminhos, em solos pedregosos ou remexidos.
A sua folhagem é plumosa e algo etérea, embora resistente; a estrutura floral é delicada na aparência mas, bastante complexa e algo dramática. Por estas razões Nigella damascena é muito apreciada em jardins, sendo muitas vezes cultivada com fins ornamentais.




Foi muito popular durante o século XIX e parte do século XX sobretudo nas “cottages” inglesas e seus jardins rústicos. Depois, caiu em desuso perante o surgimento de plantas exóticas de cores mais vistosas. Porém, volta a estar na moda por direito próprio. As Nigella damascena são ótimas para preencher lacunas entre as perenes dos canteiros durante o verão, especialmente vistosas se semeadas em grupos, formando massas de flores azuis envolvidas em vaporosas folhas verdes. Também funcionam bem em vasos e cestos suspensos, além de que são excelentes flores de corte para colocar em jarras ou para fazer ramos e bouquets. Também depois de secas, tanto as flores como os frutos, fazem lindos arranjos.

Fonte: Martha Stewart Weddings
Bouquet de noiva com Nigella damascena, Anemona sp. e Muacari sp.
Fonte: Martha Stewart weddings
Exemplos de arranjos singelos, entre eles Nigella damascena
Nigella damascena é uma espécie com ampla distribuição mediterrânica sendo nativa de:
Europa:
- sudoeste europeu: Portugal continental (na Madeira é uma espécie introduzida e não existe nos Açores), Espanha, França;
- sudeste europeu: Albania, Bosnia e Herzegovina, Bulgaria, Croacia, Grecia, Italia, Malta, Montenegro, Servia e Eslovenia;
- leste europeu: Ucrânia;
África:
- Ilhas Canarias, Argelia, Libia, Marrocos e Tunisia;
Ásia temperada:
- Azerbeijao, Ciscascausia (Federação Russa), Chipre, Irão, Iraque, Turquia e Síria.
Mapa de distribuição de Nigella damascena em Portugal continental. Fonte Naturdata
A cor amarela mostra as regiões onde a espécie foi observada em estado selvagem mas sem que tenha havido reconfirmação.
A cor verde significa que  a espécie foi validada internamente. Veja mais AQUI sobre como interpretar o mapa.
Nigella damascena pertence ao género Nigella cujo nome deriva do latim e se refere à cor negra das sementes.
Flores de Nigella damascena em botão
O epíteto damascena que designa a espécie refere-se a Damasco, na Síria, muito provavelmente o seu centro de diversidade. Foi assim denominada pelo naturalista e botânico suíço Conrad Gesner em 1561. Contudo, a espécie só foi publicada por Lineu, em 1753, tendo sido por ele atribuída ao género Nigella.
Nigella é o mais pequeno género na família Ranunculaceae e inclui 14 espécies, todas anuais e que se distribuem desde a região mediterrânica até à Asia temperada. Além da Nigella damascena, o género inclui outras espécies importantes como Nigella sativa (inexistente em Portugal no seu estado espontâneo), cultivada em várias partes do mundo e renomada pelas suas propriedades aromáticas e medicinais.
Desenho esquemático/comparativo  de Nigella sativa (à esquerda) e Nigella damascena (à direita)
Fonte: Wikipedia
Autor: Franz Eugen Köhler
As sementes de N. sativa são conhecidas pelo nome comum de cominho preto embora nada tenham a ver com o nosso conhecido cominho
Cuminum cyminum que é da família das umbelíferas. As sementes de N.sativa ganharam popularidade e consequente interesse comercial. Além de utilizadas em culinária como condimento são estimadas como antioxidantes, anti-hipertensivas, analgésicas, anti-inflamatórias, anti-histamínicas, carminativas e antibacterianas.
Há quem use as sementes de N.damascena em culinária apesar do seu teor aromático ser menos intenso mas, segundo algumas fontes, o seu uso é pouco recomendável uma vez que, em doses excessivas, podem ser tóxicas.
Caule e folhas
Os caules de Nigella damascena são eretos ou ascendentes, angulosos, simples ou escassamente ramificados desde a base. A altura da planta varia entre os 10 e os 70 cm.
As longas folhas estão divididas em segmentos muito estreitos, quase lineares.
As flores, com 2 a 3 cm de diâmetro, são hermafroditas. Geralmente, são de cor azul-clara ou brancas e aparecem solitárias no extremo dos caules, aninhando-se num invólucro verde e rendilhado constituído por 5 brácteas, maiores do que a flor.
Parte de baixo da flor mostrando o ninho de brácteas
Estas brácteas apresentam-se muito afastadas umas das outras (quase em ângulos de 90º) e estão divididas em segmentos longos, estreitos e pontiagudos, assemelhando-se às folhas.
As flores de Nigella damascena partilham uma serie de características com outros membros do seu género no entanto, apresentam uma particularidade muito interessante que é a rara coexistência, nas populações naturais, de dois tipos morfológicos que resultam num dimorfismo da composição do perianto.
O perianto é o conjunto das peças florais que rodeiam os órgãos sexuais da flor, nomeadamente as pétalas (que formam a corola) e as sépalas (que constituem o cálice). Por vezes pétalas e sépalas são mais ou menos semelhantes pelo que são designadas indiferentemente por tépalas. As tépalas semelhantes a sépalas são sepalóides e as que são semelhantes a pétalas são petalóides.
O dimorfismo floral desta espécie regista as seguintes duas formas de arquitetura floral em indivíduos diferentes:
Forma de flores simples:
Morfo de flores simples
Adaptado de Wikipedia 
Tem um perianto diferenciado em que as sépalas do cálice e as pétalas que constituem a corola são peças bem distintas. O perianto é formado por 5 sépalas azuladas petalóides e 5 a 10 pétalas de tamanho reduzido e de cor mais escura transformadas em bolsa de néctar, com dois lábios sendo o inferior bilobulado.
Forma de flores dobradas:
Morfo de flores dobradas
Nesta variante o perianto é indiferenciado, ou seja, todas as peças florais são mais ou menos semelhantes. Não existem pétalas nectaríferas mas sim um grande número de órgãos petalóides semelhantes a sépalas situados entre as sépalas petalóides no exterior e os vários estames no interior. 
Ou seja, a ausência de pétalas é colmatada por órgãos sepaliformes, observando-se um gradiente contínuo de formas que se traduz na produção de formas intermediárias bizarras, na transição entre o perianto e os estames.

Ambas as formas são complementadas por várias series de estames que constituem os órgãos masculinos da flor.
O gineceu é formado por 5 carpelos unidos em toda a sua extensão, apresentando estiletes eretos, longos e engrossados, os quais são persistentes na maturação.
Depois de fecundados os óvulos, o ovário incha e forma uma cápsula insuflada muito lisa e globosa, com 5 compartimentos separados, os quais contêm numerosas sementes achatadas e negras.
Fruto maduro e sementes de Nigella Damascena
Fonte Wikipedia

Fruto e sementes de Nigella damascena
Fonte Wikipedia
Na maturação os frutos estão anichados no invólucro de brácteas, tal como a flor. A sua forma capsular coroada pelos estiletes é algo intrigante e bizarra pelo que são excelentes para incluir em arranjos de flores, secas ou não. 
Antes da completa maturação a superfície externa dos frutos pode apresentar listas longitudinais de cor purpura. Depois de secos tomam a cor da palha, ficam com uma textura semelhante à do pergaminho e é nessa altura que se rompem, geralmente pelo atrito com o vento, deixando sair as sementes
Para secar estes frutos colhem-se com os respetivos caules enquanto as características estrias avermelhadas ainda estão visíveis e penduram-se, com as cápsulas viradas para baixo, num lugar escuro, seco e arejado. Para as flores o método é semelhante mas, para que conservem a cor, precisam ser penduradas num armário ou forno com uma atmosfera morna.
Ramo de frutos secos de Nigella damascena
Embora seja uma planta anual, uma vez semeada num determinado local a Nigella damascena volta todos os anos pois ressemeia-se e germina com facilidade nos anos seguintes. Para manter as populações controladas nos canteiros basta repicar no local e descartar as plântulas de que não necessitamos.

A existência das duas formas florais de Nigella damascena é conhecida desde os primórdios do século XVII e, desde então, foi descrita em muitas publicações (Lineu 1753; Hoffman 1875; Blaringhem 1910).
Hendrik Jannes Toxopéus (1927) estudou a espécie sob o ponto de vista genético e chegou à conclusão que este dimorfismo floral é controlado por um gene específico e que a forma simples é a dominante, sendo a forma dobrada recessiva. A prevalência da forma simples e dos seus carateres florais partilhados com o resto dos membros do seu género sugerem fortemente ser essa a forma ancestral.
Uma vez que as diferenças morfológicas existentes entre as duas formas de Nigella damascena estão diretamente relacionadas com os caracteres especificamente desenvolvidos para atrair os polinizadores (a presença ou ausência de pétalas nectaríferas e o número de órgãos atrativos), é inevitável que o comportamento dos insetos e a forma de reprodução das flores seja por elas influenciado. De facto, estudos recentes comprovaram que as flores com forma floral simples são muito visitadas por insetos, os quais são atraídos pelo néctar existente nas pequenas pétalas, sendo a fecundação feita a partir de polinização cruzada. Em contrapartida, as flores da forma floral dobrada são praticamente ignoradas pelos insetos, sobretudo os coletores de néctar, como é o caso das abelhas, que de alguma forma parecem ter conhecimento, à distância, que dali não levam nada e não vale a pena o incómodo. Neste caso a fecundação realiza-se através de autopolinização.  
No caso de populações mistas em que convivem plantas de ambos os morfos, as flores simples podem ser polinizadas pelo pólen de flores dobradas e vice-versa. Ainda assim, ambas as formas estão capacitadas para, na ausência de insetos, se reproduzirem através de autopolinização pois nesta espécie não existem mecanismos de autoincompatibilidade.

Fotos: Serra do Calvo/Lourinhã



segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Em defesa da biodiversidade – Parte 3

As plantas exóticas invasoras

A Oxalis pes-caprae forma densos tapetes verdes pontilhados de flores amarelas que florescem no final do inverno. O efeito é de grande beleza mas é uma grande invasora, provocando sérios prejuízos na agricultura. Foi trazida para Portugal e região mediterrânica no século XVIII. Saiba mais AQUI.

 AQUI foram feitas referências às plantas exóticas, assim designadas por não serem nativas do habitat onde se encontram, tendo sido transportadas para fora da sua área natural de forma intencional ou acidental.  O transporte de espécies para regiões diferentes, resultante de ação humana, remonta ao tempo das migrações dos povos na Antiguidade, tendo sido realizada de forma lenta e gradual. Porém, nos últimos três séculos este processo foi acelerado, a ponto de se tornar alarmante. Sem dúvida que muitas das plantas já introduzidas têm interesse económico como espécies ornamentais, agrícolas ou florestais mas, é preciso não esquecer que muitas trouxeram graves problemas ambientais e económicos que só se revelaram posteriormente.
Eichhornia crassipes é uma planta aquática originaria da Bacia do Amazonas. Foi introduzida em Portugal com intuitos ornamentais mas tornou-se invasora, formando densos "tapetes" à superfície da água reduzindo a luz e o oxigénio. Pode encontrar-se em lagoas, braços de barragens, troços de rios e ribeiros.
Foto de H.Zell - Wikimedia Commons
Em Portugal prosperam plantas exóticas originárias do todo o Mundo, seja de climas temperados, subtropicais ou tropicais graças ao nosso clima ameno e acolhedor. As famílias mais representadas são as Poaceae (família das gramíneas), as Asteraceae (família dos malmequeres), Fabaceae (família das leguminosas) e as Polygonaceae.


Acacia longifolia. Foto de Josh Jackson/ Wikimedia Commons
As exóticas espécies do género Acacia, conhecidas vulgarmente por mimosas, são um grave problema biológico e económico do nosso país. São originárias do sudoeste da Austrália e África do Sul e foram importadas com fins ornamentais e para estabilização de areias, taludes e encostas. Expandiram-se de forma avassaladora invadindo as zonas costeiras e margens de rios, afetando o crescimento de outras plantas através da alteração da disponibilidade de azoto no solo em seu proveito, em detrimento de outras espécies. Tem elevada capacidade de produção de sementes as quais permanecem viáveis por várias décadas e cuja germinação é estimulada pelos fogos. A sua erradicação é muito difícil e onerosa pois as suas raízes formam enormes touças debaixo da terra que, não só o fogo não consegue destruir, como rebenta de novo se os ramos forem destruídos. Uma das espécies mais agressivas é a Acacia longifolia e os métodos de controlo até agora utilizados foram ineficazes pelo que, finalmente, foi autorizada a libertação de um agente de controlo natural (inseto) para conter a dispersão desta espécie.
Saiba mais AQUI.
De modo geral, as espécies exóticas causam impactos no equilíbrio das plantas nativas pois apresentam vantagens competitivas, no pressuposto de que as populações introduzidas são menos afetadas por inimigos naturais, do que eram no seu habitat natural. Apesar disso, muitas são as espécies exóticas que subsistem ao longo dos anos de forma equilibrada, de tal forma que certos autores defendem que, do ponto de vista estritamente biológico, as plantas exóticas não são um problema e que devem ser vistas como parte integrante dos sistemas naturais. Outras espécies, em contrapartida, revelam um comportamento invasor logo após a sua introdução num novo território, multiplicando-se de forma descontrolada. Há ainda as espécies que, estando aparentemente controladas, de repente se tornam invasoras. Tal acontece quando o equilíbrio ecologicamente precário em que vivem se quebra, devido a uma súbita alteração nas condições ecológicas. São diversos os fatores que estimulam o rápido aumento da sua distribuição, desencadeando essa invasão biológica, entre elas a ocorrência de catástrofes naturais, alterações climáticas, os incêndios e a consequente abertura de clareiras.

A cana-comum, Arundo donax, é uma gramínea rizomatosa oriunda do leste europeu e Ásia temperada e tropical. Em Portugal distribui-se por todo o território, sendo muito comum perto de linhas de água e outras zonas húmidas. É muito utilizada pelos agricultores para delimitar as zonas agrícolas, protegendo-as do vento, especialmente nas áreas costeiras. É muito difícil de erradicar pois qualquer pequeno rizoma dá origem a novas plantas.

Um dos maiores problemas das plantas exóticas é que só se toma consciência da sua invasibilidade quando já estão estabelecidas e o mal está feito. Este é um problema que se regista a nível mundial e em Portugal não somos exceção. A lista negra de espécies exóticas invasoras referenciadas no nosso país é bastante extensa e as consequências da sua presença são irreversíveis pois uma vez instaladas são praticamente impossíveis de erradicar, sendo a sua contenção dispendiosa e presumivelmente ineficaz. Muitas destas espécies foram introduzidas no país em épocas passadas em que se desconheciam as implicações inerentes; destinavam-se à utilização das madeiras, estabilização de taludes, fixação das areias ou com fins ornamentais. É de salientar que muitas invasoras vieram sem ser convidadas, tendo as suas sementes sido transportadas por acidente, dada a facilidade crescente das viagens e transportes internacionais. Contudo, a importação indiscriminada de plantas exóticas - especialmente com fins ornamentais - continua até hoje, sendo que muitas delas rapidamente se instalam na natureza e reproduzem sem controlo.
Ailanthus altissima, árvore de grande porte e vulgarmente conhecida por espanta-lobos ou árvore-do-céu, foi introduzida em Portugal no século XVIII a partir da China, de onde é oriunda. Pode encontrar-se em espaços urbanos e nas margens das estradas e é uma vigorosa invasora devido ao seu crescimento extremamente rápido e grande produção de sementes que, arrastadas pelo vento, germinam facilmente e em todos os tipos de solo.

Eis algumas das características que potenciam o poder invasivo das plantas exóticas:
- crescimento rápido e boa adaptação a diferentes condições ambientais;
- elevada capacidade reprodutora, produzindo muitas sementes as quais são viáveis por longos períodos de tempo e cuja germinação pode ser estimulada pelos fogos;
- boa capacidade de dispersão e colonização, ajudadas pelo facto de estarem livres dos inimigos naturais que as controlavam no seu local de origem;
- aptidão para reprodução vegetativa através de estolhos ou rizomas;
- maior capacidade competitiva que as espécies nativas pelos recursos disponíveis.

Os impactos das invasoras refletem-se de forma negativa no meio ambiente, afetando plantas autóctones, fauna, solo e recursos hídricos, através de:
- alteração das cadeias alimentares;
- uniformização dos ecossistemas devido à extinção de espécies autóctones, desequilíbrio dos ecossistemas e diminuição da biodiversidade;
- diminuição da disponibilidade de água no caso de plantas mais exigentes no seu consumo;
- alteração dos regimes de fogo;
- alteração da disponibilidade de nutrientes com a alteração dos ciclos do carbono e do azoto e do pH do solo. 

A Cortaderia selloana, vulgarmente chamada penachos ou erva-das-pampas, veio da América do sul. É uma gramínea de grande porte, rizomatosa e que é muito apreciada pelos seus penachos brancos. Tem crescimento vigoroso e as suas densas rosetas basais abafam o coberto vegetal autóctone. Nem sequer servem de alimento ou abrigo à fauna pois as suas folhas tem margens serrilhadas e cortantes. Os penachos produzem elevada quantidade de sementes as quais se espalham com o vento e germinam com grande eficácia. Nos últimos anos todos temos sido testemunhas da crescente expansão desta planta e a este ritmo receio bem que não fique palmo de terra por colonizar. A zona de Torres Vedras tem sido especialmente afetada mas não se veem medidas que ponham travão a esta expansão, antes pelo contrário, a expansão continua e todos os meses vemos novos exemplares. Esta planta forma rapidamente uma enorme touça que é resistente ao corte, ao fogo e aos químicos. 

Em Portugal o assunto em causa é regulado pelo Decreto-Lei n.º 565/99 o qual pretende condicionar a introdução na Natureza de espécies de fauna e flora não indígenas, com excepção das destinadas à exploração agrícola e onde se pode ler:
É proibida a disseminação ou libertação na Natureza de espécimes de espécies não indígenas, ainda que sem vontade deliberada de provocar uma introdução na Natureza, como forma de prevenir o estabelecimento acidental de populações selvagens” e também “A introdução de espécies não indígenas na Natureza pode originar situações de predação ou competição com espécies nativas, a transmissão de agentes patogénicos ou de parasitas e afetar seriamente a diversidade biológica, as atividades económicas ou a saúde pública, com prejuízos irreversíveis e de difícil contabilização.”
Nos anexos I, II e III este decreto lista, respetivamente, as espécies de fauna e flora introduzidas em Portugal (com destaque para as invasoras), as espécies arbóreas com interesse e as espécies não indígenas de fauna e flora que comportam risco ecológico reconhecido.
Contudo, a maior dificuldade em fazer cumprir a legislação reside no desconhecimento das populações que, inconscientes das consequências dos seus atos, contribuem para a proliferação das invasoras. Para se poderem adotar legislações mais restritivas, será necessário informar o público em geral acerca das possíveis consequências de uma introdução indesejada. Há um grande “desconhecimento acerca dos riscos associados à introdução de espécies não indígenas e a educação é uma importante estratégia de prevenção, uma vez que a participação do público é crucial para controlar e prevenir as invasões biológicas”. Muitos nunca ouviram falar de plantas invasoras nem fazem a mínima ideia do problema que podem criar ao plantar no seu jardim uma planta exótica ou, quando cansados dela, a despejam num monte de entulho. Assim, há que apostar na prevenção através da educação e informação do público pois cada um de nós pode e deve dar o seu contributo através de comportamentos responsáveis.
Em estudos realizados por Colton & Alpert  em 1998, verificou-se que, “mesmo em cidadãos com elevado nível de formação académica, apenas uma minoria apoia a aplicação de um esforço considerável para controlar as plantas invasoras”.
Carpobrotus edulis, o vulgarmente denominado chorão, é uma bela planta rastejante originária da África do Sul. Foi introduzida em Portugal para fixar os areais costeiros mas provou ser uma péssima ideia pois o seu desenvolvimento vigoroso resulta em vastos tapetes que abafam e mata as plantas nativas, substituindo-se a elas. Saiba mais AQUI.

Problemáticas são também certas espécies ornamentais que são deitadas no lixo e que desta forma se podem assilvestrar. Esta foto é do fruto e sementes de uma Datura stramonium, planta muito bonita mas venenosa, oriunda da América do sul tropical. Estas sementes poderão permanecer viáveis durante mais de 40 anos, dando origem a novas plantas logo que surjam as condições ideias para germinar. Encontrei a planta já em frutificação meio enterrada num monte de entulho que os vizinhos do fim da rua resolveram descartar após as obras lá de casa. Para além de invasora, as sementes produzidas são muito abundantes altamente venenosas, podendo ser letais se ingeridas. Ainda há bem poucos meses surgiu uma noticia nos meios de comunicação social portugueses sobre uma criança que comeu as sementes e foi hospitalizada, embora eu não tenha tido conhecimento do desfecho. Veja mais fotos da planta AQUI.
Hydrangea macrophylla, vulgarmente conhecida por hortênsia ou novelos, é uma espécie invasora nativa da China e do Japão. Foi introduzida como planta ornamental em todas as regiões temperadas e subtropicais do mundo, sendo uma das espécies mais cultivadas em jardins e da qual existem múltiplos cultivares. Em Portugal continental é muito popular em jardins mas raramente se encontra estabelecida em estado silvestre. Em contrapartida, tornou-se num ícone turístico nos arquipélagos dos Açores e Madeira onde foi plantada ao longo das estradas, tendo-se naturalizado. Aos poucos foi invadindo as linhas de água, as turfeiras e as florestas naturais. Devido à sua constante expansão está a ser uma ameaça à sobrevivência das espécies nativas.  
As espécies aqui mencionadas são apenas alguns exemplos de invasoras que podem ser vistas em muitos jardins públicos ou privados. O tópico "invasoras" também não fica aqui esgotado. Este é um assunto algo extenso e sobretudo muito complicado. Do que não há dúvida é que devemos apostar na prevenção pois resolver os problemas que nos colocam as invasoras é quase impossível e fica caro. Para tal, é preciso esclarecer devidamente as populações. Por outro lado, na impossibilidade de prever o grau de invasibilidade das plantas exóticas, devemos investir mais nas plantas autóctones, usando-as para repovoar as áreas degradadas antes que sejam ocupadas por espécies problemáticas.

NOTA:
No âmbito deste blogue foi dado enfoque à flora exótica mas, é de notar que há organismos invasores em todos os grupos de seres vivos, desde a fauna aos microrganismos (vírus e bactérias).


domingo, 1 de novembro de 2015

Em defesa da biodiversidade – Parte 2

Arribas de Paimogo - Lourinhã
No “post" anterior demos especial destaque às plantas autóctones (nativas) e realçámos a sua importância na preservação dos habitats, ecossistemas e da biodiversidade.
Nunca é de mais reforçar que, de modo geral, as espécies exóticas, ao competirem com as espécies nativas, causam impactos no equilíbrio dos habitats e ecossistemas, reduzindo a biodiversidade. É, sobretudo, quando se tornam invasoras que põem em causa o equilíbrio natural do ambiente, ao aumentarem as suas populações de forma descontrolada, competindo agressivamente com as espécies nativas, por espaço, água e nutrientes. Quando tal acontece elas representam uma das maiores ameaças à biodiversidade, causando danos que se refletem na economia e bem-estar de todos, uma vez que aproximadamente 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos dependem dos recursos biológicos.

As alterações climáticas e ambientais que se registam na Terra estão relacionadas com a diminuição da biodiversidade. Se por um lado todos apreciamos a natureza e gostamos de ver plantas e animais no seu estado selvagem, também devemos ter em conta as consequências económicas. 
A exploração desenfreada de recursos naturais e a introdução de plantas exóticas levam à diminuição ou desaparecimento de espécies nativas prejudicando atividades comerciais como a pesca (todos temos presentes as recentes restrições à pesca da sardinha, já para não falar do bacalhau e de outras espécies) ou à produção de medicamentos. 
Se se mantiver o atual ritmo de extinção das espécies, a Humanidade perde um medicamento importante em cada dois anos… Só nos Estados Unidos, por exemplo, 56 por cento dos 150 mais importantes medicamentos, com um valor económico de cerca de 80 mil milhões de euros, são fruto de descobertas feitas na natureza e não no laboratório” . In Jornal Publico.
Graças aos produtos naturais, incluindo as toxinas extraídas de animais, de bactérias, de fungos ou de plantas, os cientistas puderam compreender fenómenos complexos relacionados à biologia celular e molecular e à eletrofisiologia, permitindo que enzimas, recetores, canais iónicos e outras estruturas biológicas fossem identificados, isolados e clonados. Isso possibilitou à indústria farmacêutica desenhar drogas dotadas de maior seletividade e também mais eficazes contra várias patologias de maior complexidade. Além disso, os produtos naturais são usados como matéria-prima na síntese de moléculas complexas de interesse farmacológico. Atualmente, as maiores indústrias farmacêuticas mundiais possuem programas de pesquisa na área de produtos naturais”(João B. Calixto).

As inevitáveis plantas exóticas:
A verdade é que nem todas as espécies exóticas se tornam invasoras, como atestam tantas espécies vegetais que foram sendo trazidas de terras distantes, ao longo de milhares de anos, e que fazem parte da nossa dieta alimentar. 
No seu ensaio sobre a história da alimentação “Viagem dos Sabores”, Rui Rocha comenta "Um certo purismo cultural europeu leva a criticar o hamburger e a cola, como sinais de uma (indesejada) invasão americana. Mas o português que come a sua sardinha em cima da broa, acompanhada das consabidas batatas cozidas e da salada de tomate e pimentos, enquanto verbera as novas modas alimentares, testemunha, distraído, uma outra invasão americana, que nem quinhentos anos tem: aquela que lhe trouxe o milho para a broa, a batata, o tomate e o pimento. De autóctone, afinal, só a sardinha, o azeite e o vinho."
Na realidade, o intercâmbio de plantas entre as várias partes do globo faz parte da história da humanidade e realiza-se desde os tempos da pré-história, tendo tido o seu ponto alto com os descobrimentos, altura em que se trocaram inúmeras espécies de plantas.

Um facto indiscutível é que todas as plantas são autóctones de algum habitat específico na Terra ou seja, o lugar onde ocorrem espontaneamente e fizeram a sua evolução de forma natural durante milhares de anos. Porém, as que são transportadas para fora da sua área natural, por ação do homem - de forma intencional ou acidental - são denominadas alóctones, introduzidas, exóticas, não-nativas, não-indígenas ou alienígenas (do inglês “alien”). 
A introdução de plantas exóticas ocorre de forma consciente ou acidental. De forma geral são introduzidas propositadamente com fins agrícolas, industriais ou ornamentais, mas as sementes também podem viajar acidentalmente misturadas com mercadorias ou outras sementes.
As plantas exóticas dividem-se em várias categorias. De forma muito simplificada, temos:
a)       Plantas não-naturalizadas:
Muitas das espécies exóticas não chegam a naturalizar-se. Isto é, muitas das plantas que são levadas do seu habitat natural e são introduzidas num ecossistema diferente não se adaptam às condições existentes e como tal, não se reproduzem sem ajuda humana e têm de ser substituídas ou acabam por desaparecer.
b)       Plantas naturalizadas ou estabelecidas:
São as plantas que, quando introduzidas em habitats diferentes encontram as condições adequadas à sua sobrevivência. Neste caso, após um espaço de tempo mais ou menos longo de aclimatação, as plantas adaptam-se; não só sobrevivem, como dão flor e fruto, conseguindo reproduzir-se sem ajuda do Homem e comportando-se como nativas, em suma, naturalizando-se. Podem ser espécies restringidas ao cultivo ou, se “escapadas” e vivendo em estado selvagem (assilvestradas), são denominadas subespontâneas (para as distinguir das nativas, as quais são designadas por espontâneas). Espécies “escapadas” são aquelas que, tendo sido introduzidas com fins agrícolas ou ornamentais conseguem “escapar” dos campos de cultivo ou dos jardins; as suas sementes são levadas pelo vento, pelas aves ou agarram-se aos nossos sapatos e acabam por se expandir para fora do espaço em que estavam restringidas).
As subespontâneas formam populações consistentes, de forma autossuficiente, reproduzindo-se e difundindo-se, de forma equilibrada e em harmonia com a comunidade nativa. Mas, quando este equilíbrio se perde, é geralmente a planta exótica naturalizada que tem a ganhar, tornando agressivamente dominante ou seja, invasora.
As espécies naturalizadas distinguem-se entre arqueótipos e neófitos:
- Os arqueófitos são as espécies que foram introduzidas em tempos muito recuados, desde a pré-história até à época dos descobrimentos, tendo-se convencionado como limite o ano de 1500. Muitas delas foram introduzidas em tempos tão recuados que são consideradas autóctones.
- Os neófitos são as espécies introduzidas a partir do ano 1500.
c)       Plantas invasoras:
São plantas introduzidas e naturalizadas que, devido a certos fatores de desequilíbrio ecológico, se reproduzem em grandes quantidades, vindo a ocupar vastas áreas e ameaçando a sobrevivência das espécies nativas que nelas habitam.


O impacto das plantas exóticas na dieta alimentar:
A agricultura teve o seu início há cerca de 10 ou 12 mil anos na região denominada Crescente Fértil, que se situa entre os rios Tigre, Eufrates e Nilo, mas só chegou à Península Ibérica há cerca de 4 mil anos. Era uma agricultura ainda pouco desenvolvida e baseada principalmente no cultivo dos cereais.
Antes das migrações que trouxeram os primeiros povos à Península Ibérica os recursos da região eram pouco diversificados e pobres, sendo a dieta alimentar das comunidades primitivas à base de farinha de bolota e de algumas gramíneas de grãos pequenos, complementada com frutos silvestres, raízes, cogumelos, tubérculos e raízes.
Avena fatua (aveia-doida), gramínea de grãos pequenos usada na alimentação dos povos primitivos da Península Ibérica
Fonte Wikipedia / Foto de Eggmoon
Entretanto, muitas foram as espécies vegetais alimentares originárias do oriente (a maior parte das plantas alimentares cultivadas na Europa são de origem asiática) que foram trazidas pelos povos colonizadores que sucessivamente se estabeleceram na Península Ibérica desde a Antiguidade, mais propriamente a partir da Idade do Ferro (1100 a.C.). 
Os Iberos, vindos do norte África, foram os primeiros a chegar à Península Ibérica. De incursões anteriores ao Egito, trouxeram sementes de cereais e leguminosas resistentes aos verões quentes e secos, nomeadamente o milho-painço, milho-miúdo e o grão-de-bico.
Seguiram-se os Celtas, vindos do norte e leste europeu. Foram eles que introduziram na Península Ibérica as couves e outras crucíferas.
Os Fenícios vieram do Mediterrâneo e é-lhes atribuída a introdução de certas castas de videira diferentes das já aqui existentes, assim como a oliveira “melhorada” (já existia na Península a oliveira-brava, também popularmente designada por zambujeiro).
Também os gregos habitaram as regiões litorais da Península, tendo introduzido aqui muitas espécies vegetais mediterrânicas como a amendoeira, a figueira e o marmeleiro.
Os cartagineses contribuíram, introduzindo o alho, a cebola e o aipo.
Os romanos não só desenvolveram a agricultura de subsistência mas também o cultivo intensivo dos cereais em geral e do trigo em particular, com o objetivo de os exportar para Roma. Durante a sua ocupação também se registou um grande desenvolvimento da cultura da vinha e da elaboração do vinho, assim como do cultivo de árvores de fruto, macieiras, pereiras, cerejeiras, ginjeiras, pessegueiros, citrinos e ameixieiras. Foram introduzidas espécies alimentares tais como o feijão-frade, diversos tipos de cucurbitáceas (abóbora-menina, abóbora-porqueira), o melão, o pepino, a cenoura, o rabanete, a salsa, o coentro, a segurelha, a manjerona, os cominhos, o açafrão, o espargo, o alho-francês, as alfaces, a acelga e a alcachofra.
Deve-se igualmente aos Romanos a expansão do cultivo de árvores como o plátano, o castanheiro e a nogueira e assim como de espécies arbustivas decorativas como a murta, o buxo, o teixo e o loureiro (espécies autóctones mas pouco valorizadas pelas populações da época).
Os Árabes chegaram mais tarde e a eles devemos, para além de novas técnicas de rega, a introdução do trigo-rijo que ainda hoje é cultivado e é a base de muitas massas alimentícias disponíveis no mercado, do arroz, da beringela, a abóbora-chila e a melancia. Também desenvolveram a fruticultura e introduziram o salgueiro-chorão e a olaia.
Não se sabe exatamente quando chegaram os citrinos ao continente europeu, mas é quase certo que são originários da China. Pensa-se que romanos e árabes já os conheciam mas parece que não eram muito populares, até que no século XV ficaram conhecidas as qualidades antiescorbúticas do limão. 
Foram os portugueses que trouxeram da China variedades melhoradas de laranjas mais doces e que difundiram o seu cultivo. Parece ser essa a razão pela qual o nome Portugal é sinónimo de laranja em vários países e idiomas (Pourtegalié em Nice, Portugaletto no Piemonte, Portukale na Albânia, Portogales na Grécia, Portoghal no Kurdistão) (Amaral, 1977).

Chegada a Idade Média, as diversas plantas alimentares introduzidas que tinham logrado adaptar-se às diferentes regiões e climas do nosso país, estavam confortavelmente naturalizadas e em equilíbrio ecológico. Contudo, a base da alimentação dos povos continuavam a ser as farinhas obtidas a partir dos cereais (cevada, centeio, aveia, milho e trigo) os quais ocupavam a maior parte das áreas cultivadas. Apesar disso o reino não conseguia produzir cereais suficientes pelo que havia grande descontentamento e protestos das populações. A procura de novos territórios que suprissem as necessidades de cereais foi um dos fatores que conduziram às campanhas do norte de África e posteriormente aos descobrimentos. 
Canas-do-açúcar (Saccharum  officinarum) prontas para a safra.
Fonte Wikiedia. Foto de Mariordo  
Encontrar novos territórios onde cultivar a cana-de-açúcar foi também um objetivo importante pois naquela época o açúcar era um produto muitíssimo raro e valioso na Europa e que poderia ajudar a financiar as viagens marítimas para chegar às rotas da seda e das especiarias.
Durante as viagens exploratórias que levariam à descoberta do caminho marítimo para a Índia os portugueses, que tinham levado sementes e propágulos, foram deixando plantações de trigo e outras espécies alimentares existentes no reino (vinha, frutas e legumes) nos territórios que iam conquistando ao longo da costa de África e também na Madeira e Açores. Esta era não só uma forma de tentar incrementar a produção de alimentos mas também de criar pontos que servissem de apoio em viagens futuras. Foi assim que muitas espécies originárias da Ásia foram introduzidas em África, vindas da Europa. Contudo, nem todas as espécies sujeitas a este intercâmbio tiveram o sucesso esperado, devido, sobretudo, às diferenças climáticas.
A descoberta da via marítima para a índia era o grande objetivo, na tentativa de monopolizar o comércio das especiarias através da redução dos custos nas trocas comerciais. Mas foi a chegada à América central e ao Brasil que revolucionou a Europa. As espécies do oriente já não eram novidade para as gentes da Europa mas as espécies do Novo Mundo eram raridades que aparentavam grande plasticidade ecológica e prometiam grandes proventos. Muitas sementes e propágulos foram trazidos para a Europa, para experimentar aqui o seu cultivo ou simplesmente para testemunhar a descoberta das novas terras. Entre a Europa e o Novo Mundo estabeleceram-se muitos contactos durante os quais se trocaram múltiplas espécies: espécies americanas foram introduzidas na Europa, na África e na Ásia e espécies de origem africana foram levadas para a América, já para não falar das plantas que inicialmente foram levadas da Europa para a América. Contudo, no âmbito deste intercâmbio, é de notar que a contribuição africana foi muito pobre em comparação com a riqueza oferecida pelo continente americano.
Foi enorme o número de plantas americanas que foram introduzidas não só em Portugal e restante Europa mas que também foram levadas para a Ásia e África, nomeadamente tomate, batata, batata-doce, amendoim, maracujá, anona, caju, papaia, ananás, milho-americano (de grão mais grosso do que o europeu e em consequência mais produtivo), tabaco, baunilha, girassol, malaguetas e pimentos doces, entre outras.
A mandioca, também de origem americana, adaptou-se e foi muitíssimo bem aceite pelas populações africanas, ao contrário do que aconteceu na Ásia.
O cacau, a partir do qual se confeciona o tão apreciado chocolate é também originário do continente americano (vales dos rios Orinoco e Amazonas). Era uma das plantas americanas mais valiosas e até servia de moeda de troca.
Da Índia vieram as afamadas especiarias orientais as quais, não só foram introduzidas nos territórios europeus do reino, mas também no Brasil e em África: gengibre, canela, pimentas, cardamomo, noz-moscada, cravinho, mostarda, entre outras
Do oriente veio também o chá que se tornou muito apreciado em todo o mundo. Para tal muito contribuiu D. Catarina de Bragança, filha do nosso D. João IV, que casou com Carlos II de Inglaterra, onde institui o ritual do chá das 5.
O café, cuja planta é originária da Península Arábica, foi durante muitos anos exclusivo dos árabes e segredo bem guardado, tendo-se generalizado o seu cultivo apenas no século XVIII, apesar dos esforços dos europeus para conseguir as plantinhas.

Para o Brasil os portugueses levaram praticamente todas as espécies hortícolas ou frutícolas cultivadas em Portugal incluindo o arroz, as bananas, a cana-de-açúcar e os citrinos.
Todos estes intercâmbios provocaram profundos impactos na economia, nos hábitos alimentares e nas técnicas agrícolas a nível global, já para não falar do equilíbrio dos ecossistemas.

Os jardins botânicos de espécies exóticas:
Depois da época dos descobrimentos surgiu na Europa um forte e renovado interesse sobre o mundo da botânica. Foi grande a euforia e o fascínio perante a exuberância das florestas tropicais e a beleza e raridade das espécies encontradas, não só no continente americano mas também na África do sul, China, Japão e Austrália. Nos séculos XVIII e XIX as potências coloniais europeias impulsionaram enormemente as suas viagens de exploração em que uma multidão de naturalistas e biólogos procuraram espécies exóticas e as trouxeram para a Europa. Elaboraram-se coleções de plantas exóticas reunidas em herbários e as classes mais privilegiadas colecionavam plantas vivas nos seus jardins privados. O próprio Lineu dedicou grandes esforços a promover expedições que tiveram como objetivo a recolha de plantas exóticas e o desenvolvimento de técnicas de aclimatação.
Camellia japonica

Brincos-de-princesa (Fuchsia sp.)

Agapanthus africanus

Estrelícia (Strelizia reginae
Foi a partir dessa altura que numerosas espécies ornamentais foram introduzidas no nosso país, nomeadamente fetos arbóreos, cycas, araucárias, camélias, buganvílias, glicínias, begónias, hortênsias, antúrios, jarros, estrelícias, açucenas, sardinheiras, agaves e tantas outras. 
Jacaranda mimosifolia em flor
Fonte Wikipedia 
Algumas espécies arbóreas foram plantadas nas ruas de Lisboa sendo as mais conhecidas o Jacarandá - cuja floração é absolutamente espetacular e incontornável no mês de junho, no centro da cidade – a tipuana, a paineira, a grevilea e a palmeira-das-Canárias (hoje em dia dizimadas às centenas por um escravelho que veio do norte de África).
Palmeira-das-Canárias (Phoenix canariensis)
Fonte: Jardim Botânico Tropical de Belém
Da necessidade de recolher e aclimatar as espécies ornamentais exóticas vivas para conhecimento científico, foram criados jardins botânicos por toda a Europa. O Jardim Botânico da Ajuda foi o primeiro jardim botânico português, plantado durante o reinado de D. José. Seguiram-se outros, nomeadamente a Tapada das Necessidades, o Jardim Botânico de Lisboa, o Jardim da Estrela e o Jardim tropical de Belém, particularmente ricos em espécies tropicais. No mesmo âmbito foram criados o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e o Jardim Botânico do Porto.
Magnolia grandiflora
Fonte Wikipedia - Foto de Davethemage

Atestando a suavidade do clima do litoral português muitas são as espécies arbóreas que tendo sido adquiridas para os jardins botânicos foram também plantadas nas nossas cidades. De algumas espécies só restam uns quantos exemplares que se podem ver aqui e ali; outras são mais comuns e quase nos passam despercebidas na lufa-lufa do quotidiano, mas ainda assim, fazendo parte integrante da nossa vida. Alguns exemplos: acácia-do-japão (Styphnolobium japonicum), Magnolia grandiflora, cipreste-comum (Cupressus sempervirens), Tipuana tipu, bôrdo (Acer negundo), castanheiro-da-Índia (Aesculus hippocastanum), tília-argentea (Tilia tomentosa), espinheiro-da-virgínia (Gleditsia triacanthus), Jacarandá (Jacaranda mimosifolia), palmeira-das-canárias (Phoenix canariensis) e outras mais.

Infelizmente, muitas espécies que foram introduzidas no pressuposto de que trariam vantagens (madeira, reflorestação, prevenção da erosão dos solos, ornamentais), demonstraram comportamentos invasores que estão a causar tremendos prejuízos. Embalados pela ingenuidade, cupidez ou falta de consciência, deixamo-nos enganar pela sua beleza e pretensa utilidade. Assim aconteceu no passado e assim continua no presente pois nem todos aprendem com os erros. Como corrigir os erros do passado e preveni-los no futuro? Aqui está o mote para o "post" que se segue, AS PLANTAS EXÓTICAS INVASORAS.