Nome Comum:
Orelha-de-rato;
cerástio-enovelado
Cerastium glomeratum é uma das numerosas espécies de flores brancas que fazem parte de Cerastium L., género quase cosmopolita
com cerca de 100 espécies, algumas perenes, outras anuais, mais abundantes em
zonas temperadas e frias, sendo a Eurásia o seu principal centro de
diversidade. Cerastium fontanum e Cerastium glomeratum são as espécies
mais comuns a nível global porquanto a maioria das espécies deste género tem
distribuição restrita.
Muitas das espécies do género Cerastium são usadas por alguns tipos de borboletas que aí depositam os seus ovos, servindo
posteriormente de alimento às larvas. Entre os vertebrados, algumas
pequenas aves comem as sementes, enquanto os coelhos bravos petiscam as folhas.
Aparentemente também as galinhas caseiras adoram esta herbácea, pelo menos as
galinhas anglo-saxónicas, a constatar pelo nome popular que em inglês se dá ao género
Cerastium: “chickweeds”, ou seja ervas-das-galinhas.
No que diz respeito a este cantinho de Portugal e outros por onde tenho andado,
não encontrei nenhum indício de que se colha esta erva (ou qualquer outra, já
agora) para alimentar galinhas, o que não quer dizer que não aconteça noutros
locais. O que é mesmo certo, é que já são poucas as pessoas da aldeia que
reconhecem as ervas que crescem pelos caminhos ou incomodam a sua plantação de
couves.
As galinhas adoram comer Cerastium (ervas-das-galinhas) Fonte http://www.eatthatweed.com/chickens-love-chickweed/ |
(Se este assunto lhe interessa, veja também AQUI).
Segundo o portal Flora-on, são 6 as
espécies deste género que se encontram presentes em Portugal. Veja AQUI.
Todas estas espécies apresentam
flores de pequeno tamanho, de aspeto modesto e discreto, quando isoladas. Mas,
em conjunto, formam alegres tapetes rasteiros ou franjas altas
e espevitadas. A espécie mais comum no nosso país é a Cerastium glomeratum, planta grácil e com flores de uma brancura
imaculada. Contudo não nos deixemos enganar pelo seu pretenso aspeto angelical
pois é uma infestante bastante rápida e eficaz. No jardim é fácil de erradicar,
bastando para tal arrancá-la à mão antes que produza frutos e sementes. Mais
difícil é controlá-la nos terrenos cultivados de grande extensão pois é
resistente aos produtos químicos, infelizmente tão utilizados hoje em dia; por
outro lado, a ação de sachar a terra com enxadas ou lavrar mecanicamente só ajuda a
espalhar as sementes.
Mapa actual de distribuição de Cerastium glomeratum em Portugal continental
Fonte: Flora-on
Dados disponibilizados por J.Lourenço, J.D.Almeida, F.Clamote, P.V.Araújo, M.Porto, A.J.Pereira, A.Silva, P.Silveira, et al. (2015).
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Embora a exata
procedência de Cerastium glomeratum permaneça algo obscura, presume-se que seja de origem euroasiática
mas é conhecida em quase todos os continentes como espécie introduzida e
naturalizada. Em Portugal é autóctone do continente e arquipélago da Madeira e
naturalizada nos Açores.
Cresce em muitos tipos
de habitats quer naturais, quer antropizados, desde o nível do mar até 2000m de
altitude: dunas, campos cultivados ou incultos, jardins, margens de caminhos,
de preferência em áreas de solos perturbados e enriquecidos em nutrientes,
demonstrando a sua natureza ruderal. O tipo de solo é-lhe indiferente mas
precisa de alguma humidade e prefere exposição sombreada embora também cresça
em pleno sol.
Cerastium glomeratum é uma planta anual de um tom de verde-claro e revestida de numerosos
pelos compridos, densos e flexíveis que podem ser glandulares ou não.
Os pelos
glandulares residem essencialmente na parte superior da planta o que a torna algo
pegajosa ao toque. A riqueza em nutrientes, a humidade do solo e o grau de
exposição solar são três elementos que em conjunto ou cada um por si só,
determinam o tamanho que as plantas de Cerastium
glomeratum podem atingir na idade adulta. Algumas permanecem rasteiras com
pouco mais de 5 cm, outras podem chegar aos 40 ou 45 cm de altura. Os caules,
ramificados, são eretos ou ascendentes.
As folhas dispõem-se
ao longo dos caules, a espaços regulares e em pares opostos. São folhas
inteiras e simples, de forma oval ou elíptica com cerca de 2 ou 3 cm de
comprimento. Não têm pecíolo e ambas as páginas estão cobertas de pelos.
A característica
distintiva desta espécie é a forma como as flores se aglomeram em cimeiras
compactas ou seja, em cachos densos, os quais se repetem sucessivamente. É um
tipo de ramificação em que cada ápice se bifurca originando dois pedúnculos
situados à mesma altura, de tal forma que os eixos florais se sucedem. Os
pedicelos são do mesmo comprimento ou mais curtos que as sépalas.
Traduzido em termos
técnicos dir-se-á que a inflorescência de Cerastium
glomeratum é na realidade um dicásio (cimeira bípara) mas que aparece como
uma cimeira multiflora muito contraída, também denominada glomérulo - de onde
deriva o epiteto glomeratum que
identifica a espécie.
Na base dos pedúnculos
florais existem duas brácteas herbáceas e foliáceas.
As flores tem
pedicelos que são mais curtos que as sépalas ou do mesmo comprimento (5 mm ou
menos), os quais estão cobertos de pelos glandulares.
A corola, com diâmetro
de 5 a 8 mm, é formada por 5 pétalas iguais, livres e cuja extremidade
apresenta um entalhe no ápice. As flores raramente abrem por completo, por
vezes nem chegam a abrir ou faltam algumas pétalas. Embora possam ser
fecundadas por insetos estas flores estão vocacionadas para a autopolinização,
caraterística assumida das plantas ruderais e que agiliza o processo de formação
de sementes. Apesar disso estas pequeníssimas flores estão apetrechadas com
nectários onde armazenam o delicioso e nutritivo néctar destinado a atrair
insetos, especialmente abelhas, moscas e traças ou pequenas borboletas, o que
acaba por ser um desperdício de energia (alguns géneros mais evoluídos dentro
da família a que pertence Cerastium
L. – Caryophyllaceae – já
desenvolveram dispositivos que impedem o acesso aos nectários).
O cálice é constituído
por 5 sépalas livres e lanceoladas, de cor verde as quais são mais curtas que
as pétalas. As sépalas desta espécie têm margens membranosas e os pelos que as
cobrem, na sua maioria glandulares, têm a particularidade de serem longos e
compridos, ultrapassando o ápice das mesmas. As sépalas são persistentes,
mantendo-se durante a frutificação.
As flores estão
providas de órgãos reprodutores masculinos e femininos funcionais. Os estames
são 10, com filetes esbranquiçados e anteras de cor amarelo-pálido. O ovário
tem 5 carpelos e os correspondentes 5 estiletes de cor branca os quais são visíveis, juntinhos no centro da flor, entre os estames.
O período de floração
prolonga-se desde o fim do inverno até meados do verão e cada planta completa o
seu ciclo de vida em 3 ou 4 semanas.
O fruto de Cerastium glomeratum é uma pequena cápsula
alongada, de consistência algo semelhante a papel fino e mais comprida que as
sépalas - mas com pouco mais de 1 cm de comprimento - que resulta da fusão dos
5 carpelos.
Fonte: CalPhotos
Photographer: Jean Pawek
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Dentro desta cápsula formam-se minúsculas sementes de cor castanha
ou alaranjada, as quais são libertadas pela parte superior. A abertura
apresenta 10 pequenos dentes (múltiplos do número dos carpelos), os quais podem
ser eretos ou ligeiramente curvados para fora.
O formato tubular e
ligeiramente curvo desta cápsula está na origem do nome que designa o género: Cerastium deriva do grego “Kerastes” que
uns dizem que se traduz por corno e outros por trombeta.
Cerastium glomeratum pode ser facilmente confundida com outras espécies do mesmo género,
nomeadamente com Cerastium fontanum,
espécie perene, mas com flores maiores embora menos compactadas. Mas a
principal diferença reside na morfologia das sépalas que em Cerastium glomeratum estão revestidas de
pelos bastante mais compridos e que ultrapassam o ápice; os pelos das sépalas
de Cerastium fontanum são
definitivamente mais curtos. Veja fotos de Cerastium
fontanum AQUI.
Cerastium glomeratum pode ser também confundida com Stellaria
media, do género irmão Stellaria,
ambos da família Caryophyllaceae.
Contudo, não é difícil diferenciá-las se tomarmos em consideração os seguintes
pontos principais: enquanto as folhas de Stellaria
media têm peciolos, as de Cerastium
glomeratum são sésseis; a forma das folhas é diferente entre estas duas
espécies; as pétalas de Stellaria media
são bipartidas e as de Cerastium
glomeratum só são fendidas até um terço do seu comprimento; Stellaria media tem 3 estiletes e Cerastium glomeratum tem 5. Veja fotos
de Stellaria media AQUI.
A família Caryophyllaceae, à qual pertencem todas as espécies
acima referenciadas, inclui 86 géneros, com mais de 2200 espécies, que ocorrem
praticamente no mundo inteiro mas com maior incidência em regiões temperadas e
quentes do Hemisfério norte. Embora muitas espécies sejam de pequeníssimas
dimensões, anuais e infestantes das culturas, outras têm interesse económico pois
são cultivadas como ornamentais, sendo as mais conhecidas os cravos (Dianthus
L.) e a Gypsophila L.
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