segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Rubus ulmifolius Schott

Amoras-silvestres; silva; silva-brava; silvado-bravo


Não há certamente quem não conheça os arbustos espinhosos vulgarmente designados por silvas ou não se tenha deliciado com os seus saborosos frutos. Não é difícil encontrá-los pois nascem sem cerimónia, por quase todo o nosso país, desde o interior até às dunas do litoral, na beira dos caminhos ou em qualquer terreno abandonado seja ele citadino, florestal ou agrícola.
Não podemos dizer que sejam esquisitos pois conseguem desenvolver-se em qualquer tipo de solo desde que seja profundo e contenha alguma humidade. São muito difíceis de erradicar e até mesmo os herbicidas são ineficazes. São arbustos muito vigorosos que em pouco tempo podem cobrir largas extensões de terreno, transformando-o em fortalezas intransponiveis, devido ao emaranhado dos seus caules cobertos de espinhos. Quando a situação chega a tal ponto, é quase sempre indicativa de abandono e degradação ambiental.
Em compensação os frutos das silvas são deliciosos, quer comidos ali mesmo no momento da colheita, quer transformados em compotas. A colheita é a preço zero mas um bocado dolorosa pois é quase impossível escapar sem algumas picadelas… Pois não é que os frutos maiores e mais madurinhos são sempre os mais distantes? Afinal, como diz o povo, tudo tem um preço e ninguém dá nada a ninguém, nem mesmo as silvas!!!

São muitas e variadas as espécies de silvas sendo que a mais comum no nosso país é a espécie Rubus ulmifolius. A sua área de distribuição abrange a maior parte da Europa, Norte da África e Sul da Ásia. Foi ainda introduzido no continente americano e na Oceania.
O Rubus ulmifolius forma um arbusto cujos rebentos basais se transformam em caules lenhosos e robustos que assumem uma postura arqueada e são longos, embora flexíveis, podendo atingir 3 m de comprimento. A estes caules que são geralmente de curta duração e estéreis pois não produzem flores, chamamos turiões (os turiões são rebentos geralmente subterrâneos, como acontece com os espagos mas no caso das silvas são aéreos). Estes apresentam sulcos longitudinais que lhes dão aspeto anguloso, têm cor acastanhada e estão revestidos de espinhos curtos ligeiramente curvos e bastante aguçados os quais se agarram à roupa e rasgam a pele quando fazemos o movimento de recuo, para nos afastarmos deles. De forma característica, os caules férteis são produzidos a partir dos turiões, surgindo nos nós mais afastados do solo e são geralmente eretos e relativamente curtos.
O Rubus Ulmifolius frutifica em ramos com dois anos. Por essa razão quem cultiva esta espécie com intenção de comercializar os frutos, deve eliminar os turiões com dois anos, por poda, durante o repouso vegetativo, a fim de manter o vigor e índice produtivo da planta. O mesmo se passa no cultivo das framboesas as quais pertencem a este mesmo género (Rubus idaeus).

As folhas do Rubus Ulmifolius são de cor verde escuro e estão divididas em 3 a 5 folíolos palmados, com a pagina inferior esbranquiçada por estar revestida de uma camada de pelos moles.

Em Portugal o Rubus ulmifolius floresce e frutifica de maio a agosto. As flores são rosadas e reúnem-se numa inflorescência em forma de ­pirâmide. A corola é formada por 5 pétalas enrugadas e de forma oval. O cálice tem 5 sépalas e os estames são muito numerosos.

Os frutos, inicialmente vermelhos, tornam-se negros quando bem maduros e são constituídos por um agregado de pequenas drupas, carnudas e suculentas, cada uma com uma semente.  


As silvas pertencem ao género Rubus o qual está incluído na família botânica das Rosaceae (na qual se incluem as rosas).

O nome dado ao género Rubus vem do latim ruber(vermelho) e parece referir-se à cor dos frutos das espécies incluídas neste genero, quer quando maduros como acontece com as framboesas (Rubus idaeus), quer na forma imatura como é o caso das silvas. O nome da espécie Ulmifolius deriva da semelhança com as folhas do Ulmeiro (Ulmus minor).

O género Rubus é um verdadeiro quebra cabeças para os biólogos pois é terrivelmente complexo e de difícil identificação, acontecendo que centenas de subespécies têm sido descritas de forma errónea.
As maiores dificuldades na taxonomia das espécies do género Rubus prendem-se com o seu sistema de reprodução. A forma mais frequente da reprodução dos Rubus é por multiplicação vegetativa, em que não há fecundação, dando por isso origem a plantas absolutamente idênticas à planta original. A multiplicação vegetativa ou assexuada processa-se nos Rubus de duas formas distintas: por um lado, as novas plantas podem formar-se quando os longos caules tocam no solo e logo enraízam; por outro lado, acontece que as espécies Rubus têm a faculdade muito especial de produzir sementes que germinam sem terem sido fecundadas, dando origem a plantas que, portanto, não contêm genes masculinos, mas apenas informação genética da planta-mãe.

A reprodução do Rubus ulmifolius também pode processar-se de forma normal ou seja, havendo polinização e consequente fecundação, originando plantas com características morfológicas tanto do pai como da mãe.
Ocasionalmente, por acidente, as sementes fecundadas dão origem a indivíduos com caracteristicas morfológicas distintas dos seus progenitores, sem que haja uma explicação segura para o facto de, um ou mais genes, transmitirem informação errada. Estes acidentes genéticos originam mutações, indivíduos com características morfológicas próprias, podendo diferir quanto à dimensão e cor das pétalas, forma e cor dos folíolos ou número e distribuição dos espinhos nas hastes e folhas.
Quando uma destas espécies mutantes se reproduz vegetativamente pode rapidamente iniciar uma colónia de novas plantas, em tudo semelhantes a si própria. Estas variações, com existência muito localizada e sem valor taxonómico, depressa adquirem caracteres morfológicos estáveis e por vezes são confundidas com outras espécies ou catalogadas como novas espécies.

Para complicar ainda mais, algumas características morfológicas dos Rubus podem ser significativamente alteradas consoante o meio ambiente em que vivem, por exemplo ficando com os caules ou folíolos mais espessos ou mais avermelhados ou com mais ou menos espinhos, tudo dependendo da exposição solar e da humidade disponível no solo.

Embora não exista um censo das espécies de Rubus existentes na Peninsula Iberica é certo que muitas das espécies e subespecies que têm sido descritas refletem uma classificação errónea. Dentre as espécies e subspécies confirmadas a mais difundida é sem dúvida a Rubus ulmifolius.

Resta ainda mencionar que tanto as folhas como as flores e os frutos das silvas são utilizados em medicina alternativa devido às suas propriedades terapêuticas como agente adstringente, diurético e antidiabético.

Fotos - Arribas do Caniçal e Serra do Calvo


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