sábado, 9 de dezembro de 2017

Ornithopus compressus L.

Nomes comuns:
Serradela; serradelas; serradela-amarela; serradela-estreita-serrim; 
serrim; serradela-brava;  trevo-pé-de-pássaro; 
senradela-amarela; senradela-brava

Ornithopus compressus é uma leguminosa, nativa da bacia mediterrânica. É geralmente cultivada como espécie forrageira de inverno, podendo ser uma fonte de alimento de grande importância no desenvolvimento e reprodução de animais ruminantes (ovelhas, cabras e gado bovino), devido ao seu alto teor de proteínas.
Contudo, esta espécie também cresce de forma espontânea um pouco por todo o nosso país, sendo autóctone em Portugal continental e Madeira e introduzida nos Açores.
Como espécie ruderal ocorre nas margens dos caminhos, pinhais, terrenos cultivados ou incultos, matos e matagais, sobretudo em solos siliciosos mas não demasiado ácidos.
Esta é uma herbácea de ciclo de vida anual. Embora cresça vegetativamente durante o inverno e floresça durante a primavera as raízes são profundas, na procura da humidade de que a planta precisa para melhor se desenvolver, não vá a chuva ser escassa. Planta prevenida...
Os caules são ramificados e pubescentes podendo ir dos 5 aos 50 cm de comprimento na fase adulta; podem ser eretos, prostrados ou parcialmente prostrados, mas com a extremidade ascendente.
As folhas são compostas, dividindo-se num número variável de pares de folíolos, com um único folíolo terminal. 
Os folíolos são ovados ou elípticos, geralmente terminando numa ponta curta, aguda e rígida e estão densamente cobertos de pelos longos e macios. 
As estípulas existem apenas na base das folhas inferiores; são muito pequenas, com menos de 1 mm, triangulares e com o ápice geralmente purpúreo.
As flores são amarelas e agrupam-se em inflorescências que se formam no ápice de longos caules axilares. 
Abaixo das inflorescências surge uma bráctea foliácea de cor verde, com 7 a 9 folíolos e cujo comprimento, de forma geral, ultrapassa o das flores. O número de flores por inflorescência é variável, entre 1 a 5. 
As pequenas flores estão rodeadas por pequenas bractéolas, dentadas, com o ápice de cor ocre.
As sépalas que constituem o cálice estão cobertas de pelos longos e macios e formam um tubo, estando unidas até cerca de metade do seu comprimento, terminando em 5 dentes desiguais.
A corola é constituída por 5 pétalas de cor amarela. Estas são desiguais e dispõem-se de forma muito característica e altamente especializada em atrair os insetos polinizadores: a pétala maior chamada estandarte está situada em posição superior e é, pelo seu tamanho e forma o ponto de atração para os polinizadores; as duas pétalas laterais denominadas asas funcionam como pista de aterragem; e as duas inferiores, unidas apenas no ápice, formam a chamada quilha.
A flor possui órgãos de reprodução femininos e masculinos. Nesta espécie os estames são diadelfos, situação em que um deles é livre e os demais estão soldados entre si. Os estames estão encobertos pelas pétalas que formam a quilha. Quando os insetos pousam nas asas, a quilha baixa e o contacto destes com os estames e o estigma é inevitável. Quando vão embora, os insetos levam o pólen libertado pelas anteras colado ao corpo, ao mesmo tempo que terão deixado no estigma os grãos de pólen recolhidos noutras flores da mesma espécie.
Os frutos são vagens pubescentes, fortemente curvadas na parte superior, dando a ideia de uma foice, com uma espécie de bico na extremidade. Estas vagens são articuladas pois são formadas por segmentos e a vagem mostra-se levemente contraídas entre eles. Ou seja, na maturação as vagens dividem-se em porções indeiscentes, separando-se pelas articulações, cada uma delas com uma semente dura, de cor amarelada ou acastanhada, de forma oblonga e achatada.
As sementes são duras pelo que não germinam no segundo ano, apenas contribuindo para enriquecer o banco de sementes no solo. No terceiro ano as sementes germinam com as chuvas de outono, crescem durante o inverno e a primavera, ainda que o seu desenvolvimento invernal esteja muito dependente da humidade e da temperatura. A floração e a frutificação têm lugar durante a primavera seguinte, após o que as plantas secam durante o verão, voltando as populações de Ornithopus compressus a regenerar-se no outono seguinte a partir do banco de sementes. É assim que esta espécie orienta o seu ciclo de vida, por forma a escapar à seca estival.
Ornithopus compressus pertence ao género Ornithopus. Este termo deriva do grego e significa “pé-de-pássaro”, referindo-se à forma como se posicionam as vagens, assemelhando-se o seu conjunto aos dedos das patas de uma ave. O termo que designa a espécie compressus deriva do latim e significa apertado/comprimido e refere-se à forma comprimida da vagem.~
As cerca de 6 espécies do género Ornithopus incluem-se na família Fabaceae=Leguminosae e subfamília Faboideae=Papilionoideae, a qual tem uma enorme importância económica a nível mundial, pois inclui espécies fundamentais na alimentação humana, tais como, a soja, o feijão, o amendoim, o grão-de-bico, o tremoço, as ervilhas ou as favas, apenas para mencionar algumas.
Na generalidade, são plantas de hábitos variados podendo ser herbáceas, trepadeiras, arbustos e árvores. Muitas espécies são também utilizadas como ornamentais, outras têm grande valor comercial ou industrial devido aos produtos que delas podem ser extraídos, nomeadamente o tanino, substância usada na indústria do couro, já para não falar dos corantes, tinturas, colas, vernizes etc.

Uma característica muito importante das leguminosas em geral, e das espécies da subfamília Papilionoideae/Faboideae em particular, é o facto de serem capazes de converter o azoto/nitrogénio atmosférico (nutriente muito importante mas escasso no solo, embora presente em quase 80% da atmosfera terrestre) em moléculas proteicas, as quais são aproveitadas para o seu próprio desenvolvimento e o das plantas em seu redor. Isto acontece devido a uma relação simbiótica com bactérias dos géneros Bradyrhizobium e Rhizobium que se fixam nas raízes das leguminosas, através de nodosidades visíveis a olho nu. Em contrapartida, as bactérias recebem das plantas os açúcares produzidos durante a fotossíntese. Esta simbiose permite não só a sobrevivência das referidas bactérias mas também que espécies de leguminosas possam desenvolver-se sem problemas em solos pobres em azoto e matéria orgânica.
A quantidade de azoto fixado por estas bactérias que com elas vivem associadas (bactérias rizobianas) depende, entre outros fatores, da espécie de leguminosa e das condições do solo.
Raízes de uma leguminosa com nódulos fixadores de azoto
Fonte MORNING EARTH
Em solos em que estas bactérias não estejam disponíveis podem as mesmas ser adquiridas, sendo possível inocular não só as sementes mas também os solos. Podem adquirir-se bactérias fixadoras de estirpes selecionadas e adequadas a cada tipo de leguminosa. O uso específico destes inoculantes rizobianos é muito recomendável, registando-se economias relevantes no custo da produção agrícola, ao mesmo tempo que é bom para o ambiente. Ou seja, possibilita um aumento significativo na rentabilidade das sementeiras e por outro lado, permite uma significativa redução no uso de adubos azotados.
Na mesma ordem de ideias, há quem prefira utilizar os chamados “adubos verdes” para enriquecer o solo, em detrimento de produtos químicos. Isto consiste em cultivar espécies de crescimento rápido da família das leguminosas, as quais são colhidas e logo enterradas no mesmo local antes de florescerem e criarem sementes. Esta prática promove o enriquecimento do solo com azoto e outros nutrientes, além de melhorar a estrutura dos terrenos, protegendo-os da seca e limitando o desenvolvimento das ervas daninhas.

Fotos: Serra do Calvo/Lourinhã



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