quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Erigeron karvinskianus DC.

Nomes comuns: 
Vitadínia-das-floristas, intrometidos, floricos, margaridas, teresinhas, margacinha

Erigeron karwinskianus
O tema de hoje vem na sequência do “post” anterior no qual foi feita referência ao género Erigeron e à sua estreita relação familiar com o género Conyza. Conforme então mencionado, varias espécies foram transferidas de Erigeron para Conyza. Apesar de terem mantido os nomes científicos anteriores como sinónimos, tais alterações implicaram um acentuado emagrecimento no género Erigeron, sobretudo no que diz respeito às espécies que ocorrem em Portugal. De facto, o género Erigeron é, agora, muito pouco representado no nosso território, limitando-se a uma rara espécie nativa Erigeron acris e a uma exótica, a belíssima mas proscrita Erigeron karvinskianus.
Erigeron karwinskianus
Esta espécie exótica é nativa do México, Honduras, El Salvador e Guatemala onde ocorre em regiões montanhosas desde os 900 até aos 3500 metros de altitude. No seu habitat natural ela cresce principalmente nas encostas íngremes, penhascos ou fendas de rochas, abundante tanto em florestas húmidas e cerradas como em terreno descoberto. Contudo, esta é uma espécie generalista, isto é, tolera uma vasta gama de condições ambientais e edáficas o que ajudou à sua proliferação.
Erigeron karwinskianus
Hoje em dia encontra-se amplamente naturalizada nas regiões de clima subtropical e temperado de todo o mundo, crescendo em qualquer lugar onde o vento deposite as suas pequenas sementes, nomeadamente em muros, rachas do solo, entre as pedras da calçada, bosques, charnecas, beira dos caminhos, margens dos cursos de água e dunas.
Erigeron karwinskianus

Especialmente apreciada pelas suas qualidades decorativas foi introduzida na América do norte e do sul, China, Índia, Europa, África e Oceânia, largamente comercializada como planta ornamental de exterior, proporcionando grandes proventos a cultivadores e viveiristas. Escapando dos jardins graças às suas numerosas e leves sementes, depressa se aclimatou em liberdade, tornando-se invasiva em territórios fora do seu habitat nativo, reproduzindo-se e espalhando-se rapidamente, formando tapetes densos e abafando as plantas autótones. 
Erigeron karwinskianus
O problema maior tem-se registado em ilhas oceânicas onde o índice de endemismos é mais elevado. Entre os casos mais conhecidos contam-se as ilhas tropicais dos oceanos Índico (ex: Ilhas de Reunião) e Pacífico (ex: Hawaii), e também na Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. É por essa razão que faz parte da lista negra de espécies de maior risco invasor nessas regiões. 
Erigeron karwinskianus
Embora demonstre um comportamento menos agressivo na Europa, sobretudo nos países mais frios do norte (ex Suécia)  é, ainda assim, considerada uma espécie com potencial comportamento invasor em vários países, como a Espanha, a Itália, Reino Unido, França, Alemanha e Holanda, entre outros. Apesar disso, Erigeron karvinskianus é uma planta muito apreciada e por isso continua a ser cultivada e a gerar importantes receitas no comércio das plantas ornamentais. Em muitos países a planta é comercializada sem restrições e as suas sementes  publicitadas e disponibilizadas através da internet.
Erigeron karwinskianus
Alguns países (embora poucos) colocaram esta espécie na sua lista negra, como é o caso de Portugal, publicando leis que proíbem a introdução da espécie, o seu cultivo e o comércio (anexo I do Decreto-Lei n° 565/99, de 21 dezembro). Devo dizer que não me foi possível conseguir dados estatísticos que me permitam saber qual o grau de invasão desta planta em Portugal continental. Quanto às ilhas, regista-se uma tendência invasora sobretudo nos Açores, o que já de si é muito preocupante. Assim, tudo me leva a crer que a proibição do comércio e cultivo é uma acertada medida, considerando os riscos inerentes e tomando como exemplo dezenas de outras espécies invasoras que a pouco e pouco vão invadindo os nossos espaços naturais. É que, por muito belo que seja o efeito que proporciona a um canteiro, uma espécie exótica acarreta muitos perigos, podendo causar a extinção de espécies nativas que são importantes para o equilíbrio ambiental. Pode ler mais AQUI sobre as plantas invasoras.

De notar que Erigeron karvinskianus não é invasora nas regiões de onde é nativa (Mexico, Honduras, El Salvador e Guatemala) vegetando em perfeito equilíbrio com os ecossistemas naturais e onde os seus inimigos naturais a mantêm dentro dos limites saudáveis.
Mapa de distribuição de Erigeron karwinskianus na Península Ibérica a que correspondem 114 registos.
 Fonte Sistema Anthos
Erigeron karvinskianus é uma planta perene mas de vida relativamente curta. As raízes são fibrosas do tipo rizomatoso. O seu porte é baixo e forma moitas alargadas e densas devido aos emaranhamento dos caules. 
Os caules são numerosos, ramificados, finos e prostrados ou ascendentes, com alguns pelos esparsos, não ultrapassando os 40 ou 50 cm de comprimento. Apesar do seu aspeto frágil são resistentes e com a idade tornam-se sublenhosos na base.
Erigeron karwinskianus
As folhas soltam uma suave fragrância quando esmagadas. São pequenas e ligeiramente pubescentes. As primeiras folhas formam uma roseta basal, são recortadas formando 3 lóbulos e morrem logo que surgem os primeiros caules. As folhas caulinares apresentam forma obovada ou elíptica, com margem inteira ou com algum dente terminal. O pecíolo é curto ou inexistente.
Erigeron karwinskianus
As flores reúnem-se em capítulos bem pequeninos, com menos de 1 cm de diâmetro, os quais se inserem na extremidade de compridos e finos pedúnculos. Os capítulos são do tipo radiado, semelhantes a malmequeres. 

Apesar de ter capítulos de um tamanho bastante mais pequeno que a maioria das espécies do tipo malmequer, Erigeron karwinskianus é, ainda assim, muitas vezes confundida com outras espécies da mesma família, como por exemplo Bellis sylvestris, uma espécie autóctone cujas inflorescências e folhas são maiores e de floração menos exuberante.
Erigeron karwinskianus
As flores centrais têm cor amarela, forma tubular e estão equipadas com órgãos reprodutores masculinos e femininos; as flores periféricas são femininas e estão providas de hemilígulas (lígulas mais estreitas) de cor branca, que após a ântese e respetiva polinização se vão tornando progressivamente rosadas, uma informação útil para os insetos que assim ficam avisados que as flores já estão fecundadas, já nada tendo para lhes oferecer. 
Erigeron karwinskianus
As brácteas que formam o invólucro são linear-lanceoladas, de cor verde, manchadas de castanho e com margens membranosas. 
Erigeron karvinskianus floresce praticamente durante o ano inteiro mas com maior abundância de fevereiro a novembro. 
Erigeron karwinskianus

Nesta foto vemos os frutos em processo de formação.
Após a fecundação as
pétalas deixaram de ser necessárias e caíram.


Erigeron karwinskianus
Nesta foto pode ver-se o disco que serviu de receptáculo às flores e segurou os frutos até à maturação. Alguns  frutos (denominados cipselas) ainda estão agarrados ao disco,  notando-se os pelos compridos que constituem o papilho. Também se notam os restos das brácteas involucrais que nesta espécie permanecem até à maturação.

Nesta foto pode ver-se o disco que serviu de receptáculo às flores e segurou os frutos até à maturação. Alguns  frutos (denominados cipselas) ainda estão agarrados ao disco,  notando-se os pelos compridos que constituem o papilho. Também se notam os restos das brácteas involucrais que nesta espécie permanecem até à maturação.
Os frutos são cipselas, com papilho de pelos compridos e acastanhados muito pequenos e facilmente levados pela brisa.

O género Erigeron a que pertence a espécie Erigeron karvinskianus, é um dos muitos que compõem a família das Asteraceae, também denominada Compositae, vulgo compostas, nome que, como já sabemos, refere a forma composta como se organizam as inflorescências características da família. É um género bastante cosmopolita mas predomina nas regiões temperadas. Erigeron inclui atualmente cerca de 200 espécies das quais cerca de metade são nativas do América do norte. Segundo alguns autores, o seu centro de diversidade primário e de origem evolucionária encontra-se na faixa ocidental da América do norte e México enquanto os centros de diversidade da América do sul, Cáucaso, Alpes, Himalaias e Ásia oriental são considerados secundários. Taxonomicamente é um género muito difícil, situação partilhada por quase todos os géneros desta família que é tão complicada, devido à sua enorme riqueza e diversidade.

A primeira amostra de Erigeron karvinskianus trazida para a Europa (entre 1827 e 1832) foi recolhida no México. Esta espécie foi inicialmente descrita pelo botânico francês Augustin P. de Candolle (DC) em 1836 e o nome especifico homenageia o naturalista e coletor de plantas alemão W. Friedrich von Karwinsky. Desde então, muitos sinónimos foram atribuídos a esta espécie como por exemplo Erigeron mucronatus, o qual é ainda muitas vezes usado.
Os primeiros registos de naturalização de Erigeron karvinskianus em França datam de 1856, mas depressa alastrou a outros países europeus. Por volta de 1878 já estava em Portugal. Foi registada no norte da Itália em 1900, na Suíça em 1920 e nas ilhas do Canal da Mancha em 1925. Os primeiros registos da sua presença na Austrália datam de 1908 e em 1911 estava no Hawaii. Na Nova Zelândia e Japão os registos são mais recentes, respetivamente de 1940 e 1949.

Erigeron acris subespécie acris

Além da espécie exótica Erigeron Karvinskianus existe em Portugal mais uma espécie do género, a Erigeron acris a qual goza de um estatuto diferente, pois é uma espécie nativa europeia e que se pode encontrar desde o mediterrâneo até aos países nórdicos. Esta é uma espécie muito variável, do que resulta divisão da espécie em diversas subespécies, com descrições e características nem sempre consistentes nas diversas floras europeias.

Erigeron acris subsp acris.
Foto de Kristian Peters . Fonte Wikimedia commons.
Erigeron acris subespécie acris é autóctone em Portugal continental (inexistente nas ilhas) mas parece ser rara, havendo poucos registos da sua existência. Vulgarmente, é conhecida como erva-dos-coelhos ou erva-dos-velhos. 

Erigeron acris subsp acris.
Foto de Kristian Peters. Fonte Wikimedia Commons.
É uma planta bienal, rasteira (dos 10 aos 40 cm de altura), de caules eretos e ramificados, densamente peludos, assim como as folhas. Nas inflorescências as flores da periferia apresentam lígulas estreitas de cor branca ou rosa, as flores interiores são amareladas e tubulares. Cresce principalmente em terrenos arenosos, ou nas rachas dos terrenos rochosos.
Erigeron acris subsp acris. 
Foto de Matti Virtala. Fonte Wikimedia Commons.

Fotos de Erigeron karwinskianus: Serra do Calvo/Lourinhã





1 comentário:

  1. Plantei-a no meu jardim e nem sabia que era uma "invasora"! Mas pelo menos até agora ainda não se espalhou. Além mesmo que se espalhasse pelos campos á volta não iria substituir nada de jeito porque as plantas autóctones que há por ali é tudo plantas mijonas, tipo grama, silvas e assim... infelizmente em muitos sitios a diversidade de plantas é demasiado pinderica e a maioria talvez sejam exóticas e sem interesse nenhum. Exatamente as mesmas plantas que se podem encontrar em qualquer parte de Portugal.

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