Corriola; Corriola-campestre; Corriola-mansa; Erva-garriola; Estende-braços; Engatateira; Garriola; Trepa-trepa; Verdeselha; Verdezelha; Verdisela; Verdiselha
Convolvulus arvensis é uma pequena
perene da família Convolvulaceae e do
género Convolvulus, o qual inclui
muitas espécies consideradas daninhas e de grande poder invasivo. Apesar disso,
algumas espécies deste género são cultivadas em jardins quer como trepadeiras
quer como cobertura de solo, tirando partido do seu rápido crescimento e das
cores vibrantes das suas grandes flores de aspeto delicado. Porém, tal não é o
caso da Convolvulus arvensis que, embora
de pequena envergadura e de aspeto delicado e inofensivo, é uma espécie
altamente invasora.
Jardim de Rocha Fonte: Jardins du Gué |
Pessoalmente e
apesar da sua comprovada má fama, considero que esta planta, ainda assim, pode
ser utilizada com sucesso em certos tipos de jardins, sobretudo em jardins de
rocha (dos quais sou fã), desde que haja o cuidado de a confinar ao espaço que
lhe tenha sido destinado. Afinal é uma planta bem bonita e resistente e só
poderá fazer mal se estiver no lugar errado, tal como acontece com tantas
outras espécies.
Conforme o próprio nome indica, a
Convolvulus arvensis é uma espécie
essencialmente campestre (do latim arvense =
que cresce em terra de cultivo); é nativa da Eurásia mas encontra-se
disseminada por quase todo o mundo, tendo-se adaptado com sucesso a vários
tipos de habitats, nomeadamente em zonas temperadas e nos trópicos. Distribuição em Portugal Fonte: Flora Digital de Portugal |
Em Portugal
é frequente em quase todo o território, constância essa que é confirmada pela
quantidade de nomes vernáculos pela qual é conhecida no nosso país.
A Convolvulus arvensis floresce de
abril a outubro, quer em campos incultos, beira de caminhos, pomares ou
terrenos cultivados, manifestando natural preferência por terrenos
repetidamente remexidos, onde melhor se propaga. È uma espécie indicadora de
terrenos com riqueza de nutrientes de nível médio, não suportando solos muito
fertilizados.
A Convolvulus arvensis produz uma
cobertura de solo que pode ser muito densa, reproduzindo-se por sementes ou
através do seu profundo e extensivo sistema radicular. Os seus rizomas,
engrossados com reservas de carbohidratos e proteínas, podem atingir mais de 2
m de comprimento e as raízes mais de 7 m. Inicialmente, a raiz principal, que
desponta do rizoma, enterra-se profundamente no solo; simultaneamente formam-se
raízes laterais que são superficiais mas que por sua vez começam a crescer para
baixo quando chegam perto dos 100 cm de comprimento; das raízes laterais podem
surgir rebentos que darão origem a series sucessivas de novas plantas e
respetivos sistemas radiculares.
Cada pedaço do
extenso rizoma tem a possibilidade de criar raízes pelo que, numa tentativa de
remover a planta de forma definitiva não basta arranca-la pois é praticamente
impossível recolher todos os pedaços do sistema radicular, muito espalhado e
profundamente enterrado. A própria maquinaria utilizada para lavrar os terrenos
infestados ajuda a disseminar os pedaços de rizoma.
A Convolvulus arvensis não só priva as
culturas de uma boa parte da água e nutrientes disponíveis, como ao crescer se enrola
nas plantas cultivadas procurando suporte, envolvendo-as e muitas vezes, abafando-as
por completo. Tendo em consideração a sua distribuição
cosmopolita, rápido crescimento e abundancia de colonias, o impacto na economia
de certos países é bastante desastroso, como é o caso dos Estados Unidos da
América e do Canadá, pelo que a Convolvulus
arvensis não só foi colocada no top 10 das piores plantas daninhas (Holm et
al., 1977) como foi também considerada uma das plantas mais problemáticas para
a agricultura.
Curiosamente existe
muita informação sobre os malefícios da Convolvulus
arvensis na agricultura, principalmente nas plantações de cereais, mas
pouco se sabe sobre o impacto desta espécie em pastagens e sobretudo em áreas
naturais.
A Convolvulus arvensis é uma planta
herbácea, glabra ou com indumento de pelos densos e fracos. Os caules,
profusamente ramificados, são finos e longos, chegando a atingir 2 m ou mais, de
comprimento; são volúveis (enrolando-se em hélice sobre um suporte) ou
rastejantes, conforme a situação se lhe apresente.
As folhas, inteiras
e de pecíolo alongado, são alternas embora cresçam em posições desiguais ao
longo do caule; apresentam formato oblongo ou ovado-oblongo, umas vezes em
forma de coração estilizado invertido, outras vezes em forma de seta.
De notar que a Convolvulus arvensis
é uma espécie muito variável na morfologia e tamanho das folhas, assim como na
cor da corola das flores e no maior ou menor desenvolvimento do indumento.
Estas variações são, presumivelmente, resultado da influência de fatores
ambientais, nomeadamente as condições de maior ou menor secura ou localizações sujeitas a pisoteio.
As flores nascem solitárias ou em grupos de 2 ou 3, na axila das
folhas, encimando pedúnculos angulosos e nos quais se podem ver um par de bracteolas
lineares.
A corola, afunilada, é formada por 5 pétalas unidas de cor
branca ou rosa-pálido, por vezes com uma faixas mais escuras entre as pétalas.O cálice é composto por 5 sépalas densamente peludas, oblongas e separadas, de consistência coriácea e margens membranosas, sendo persistentes na frutificação.
Cada flor está provida de órgãos reprodutores femininos e
masculinos funcionais. Os 5 estames, brancos e de tamanho desigual, estão
ligados à base da corola e apresentam anteras também brancas e providas de
papilas. O pistilo é
composto por 2 estigmas lineares. É na base do tubo formado pela fusão das
pétalas que se forma o néctar com que a Convolvulus
arvensis premeia os numerosos polinizadores, sobretudo abelhas, vespas e
borboletas que a visitam. A produção de néctar representa um esforço
suplementar em termos de gasto de energia por parte da planta mas este
incentivo aos insetos tem como objetivo leva-los a viajarem de flor em flor
para conseguirem mais alimento, o que favorece a polinização cruzada. Sem o
constante vai-e-vem dos insetos carregando o pólen de uma flor para a outra
existiriam mais riscos de haver autopolinização, considerando que as flores se
apresentam em grupos extensos.
Fruto e sementes Fonte - Federal Noxious Weed of U.S.A. |
Após a maturação as sementes tornam-se impermeáveis
e são muito persistentes podendo permanecer em dormência durante várias décadas
(50 anos ou mais, se estiverem profundamente enterradas no solo). Geralmente as
sementes caiem no solo perto da planta-mãe mas também podem ser arrastadas pela
água ou serem comidas pelas aves que assim as transportam para outros locais;
as sementes podem passar pelo processo digestivo das aves sem sofrerem grande prejuízo
nas suas capacidades germinativas.
Enfim, podemos dizer que a Convolvulus
arvensis é uma lutadora e será uma sobrevivente pois aparentemente calculou
todas as opções e tomou todas as medidas possíveis no que toca ao sucesso da reprodução e
sobrevivência da espécie. Espécie prevenida…
Convolvulus arvensis L. subsp. crispatus Franco
Fotos: Serra do Calvo / Lourinhã