segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Lavatera cretica L. = Malva multiflora

Nomes comuns:
Lavatera; Lavatera-silvestre; Lavátera-silvestre; Lavátra; Lavátra-silvestre; Malva; Malva-alta; Malva-bastarda
A Lavatera cretica é uma planta herbácea que ocorre na Macaronésia (Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde), Europa ocidental, Mediterrâneo, Sibéria, Ásia central, Califórnia e Austrália; pertence à família das Malvaceae  a qual inclui cerca de 2300 espécies, dividas em 252 géneros.


A Lavatera cretica, conforme o seu nome cientifico indica, faz parte do género Lavatera que inclui cerca de 25 espécies de plantas. Este género pode facilmente ser confundido com o género Malva, também da mesma família e que é originario das regiões temperadas de Africa, Ásia e Europa. As espécies dos géneros Malva e Lavatera não só crescem frequentemente nos mesmos habitats como têm folhagem e floração muito parecidas.


Há no entanto alguns detalhes que nos ajudam a confirmar a diferença entre eles, sendo o mais evidente  a morfologia do epicálice cujas brácteas (que se formam na base da flor) são livres no género Malva e fundidas no género Lavatera.

As espécies Lavatera são muito importantes para o equilíbrio ecológico uma vez que são alimento para as larvas de algumas espécies de borboletas sendo que algumas se alimentam exclusivamente destas plantas.

A Lavatera cretica é uma planta anual, por vezes bianual, herbácea, formando arbustos pouco densos com altura, que pode variar entre os 40 e os 150 cm.


Podemos encontrá-la na beira dos caminhos, campos abandonados ou de cultivo, lixeiras, nas dunas e rochedos perto do mar. Esta espécie mostra preferência por terrenos bem azotados, pelo que é uma planta indicadora de solos com riqueza de nutrientes.

A Lavatera cretica assume por vezes o estatuto de planta invasora embora em certos locais tenha vindo a sentir-se o efeito contrario, como por exemplo no Reino Unido onde se tornou demasiado vulneravel a algumas pragas. 

 A Lavatera cretica, tal como muitas espécies da familia da Malvaceae, pode ser atacada por  alguns insetos predadores, nomeadamente afidios serradores de folhas e gorgulhos, fungos (Puccinia malvacearum ) e virus.

 O caule principal da Lavatera cretica é robusto, simples ou ramificado, ereto ou de tendência ascendente. Os caules estão esparsamente cobertos de pelos estrelados assim como as restantes partes da planta; são verdes mas ao longo do envelhecimento da planta vao ficando de cor acastanhada.

Os longos peciolos que ligam as folhas ao caule  estão cobertos de pelos iguais aos dos caules mas mais proeminentes.
As folhas estao dispostas alternadamente, colocando-se uma em cada nó; são simples, com contorno quase circular, recortadas em 5 ou 7 lobulos pouco profundos e arredondados.
Ambas as paginas das folhas tem pelos sendo que a folha anterior apresenta um indumento de pêlos fracos e densos e a superior pêlos espessos, curtos, enrolados sobre si próprios, cobrindo uniformemente toda a superfície.

Ambos os lados da base do peciolo das folhas apresentam apêndices, chamados estipulas, similares a folhas rudimentares e que nesta espécie são encurvadas, triangulares e cobertas de pelos relativamente longos.
As folhas jovens e as mais velhas são mais pequenas que as restantes e também são mais recortadas.
As flores são pequenas e dispõem-se em cachos na axila das folhas e consistem de:
·        um epicálice de 3 segmentos soldados na base (conjunto de bractéolas situadas na base do cálice e que formam um invólucro independente, assemelhando-se a um segundo cálice),
·       um cálice de 5 sépalas,
·        corola com 5 pétalas e
·        orgãos reprodutores funcionais masculino (androceu) e feminino (gineceu).

O pedicelo das flores tem cerca de 1 cm de comprimento e está coberto de pelos curtos.
As pétalas são de cor lilás, com veios mais escuros.
Os estames, muito numerosos, apresentam os filamentos unidos  formando um único tubo. 
A Lavatera cretica floresce e frutifica de abril a julho.



O fruto é um esquizocarpo ou seja é um fruto múltiplo, composto por 9 mericarpos semelhantes a gomos dispostos em circulo, cada um correspondente a uma semente e que resultam de um ovário com vários carpelos reunidos em volta de um carpóforo, que os sustenta. O carpóforo é um prolongamento do eixo floral.
Ao chegarem à maturidade os mericarpos componentes separam-se inteiramente, sendo disseminados pelo vento.

Fotos - Arribas da Praia do Caniçal / Lourinhã


Atualização:
em 06-07-2014:
A família Malvaveae constitui uma das grandes famílias botânicas. Após recentes estudos filogenéticos passou a englobar outras famílias, como a Sterculiaceae, Bombacaceae e Tiliaceae, (segundo classificação da APG). Assim, atualmente, abarca mais de 4225 espécies, agrupadas em cerca de 243 géneros.

A classificação científica tem as suas raízes no sistema de Lineu (1707-1776) que agrupou as espécies de acordo com as suas características morfológicas em classes, ordens, famílias e géneros. Desde então, estes agrupamentos foram alterados múltiplas vezes, como comprovam as listagens, por vezes extensas, de sinónimos atribuídos a cada espécie. 
Nota: 
Uma vez aceites pelo ICNB - Código Internacional de Nomenclatura Botânica - os nomes científicos mantêm-se como sinónimos, exceto em caso dos isónimos (no caso de nomes iguais propostos independentemente para a mesma espécie, em alturas diferentes e por autores diferentes, apenas o primeiro tem estatuto de nomenclatura). 

Muitas dessas alterações foram feitas após conhecimento da Teoria da Evolução de Charles Darwin (1809-1882), com base no seu princípio da ascendência comum. Contudo, em face dos meios disponíveis na época, muitas alterações basearam-se apenas em critérios morfológicos, o que originou muitos erros. A descoberta do ADN e a possibilidade de conferir as semelhanças e diferenças entre espécies através de análise do genoma levou a uma autêntica revolução na sistemática botânica, com profundas revisões da classificação de múltiplas espécies, algumas já feitas, muitas ainda por fazer. Este vai ser um processo muito trabalhoso e demorado uma vez que o Reino Plantae é um dos maiores grupos de seres vivos na Terra, com cerca de 400.000 espécies conhecidas. Este parece ser o caminho certo pois o objetivo dos taxonomistas é estabelecer a relação natural entre os grupos de plantas tendo por base a sua evolução. Contudo as relações evolutivas entre as espécies estão sujeitas a descobertas continuas e há opiniões diferentes sobre a forma como devem ser agrupadas e nomeadas.

As espécies do género Lavatera podem facilmente ser confundidas com as espécies do género Malva. As espécies destes dois géneros, incluídos na família Malvaceae, são nativas da região mediterrânica ocidental e maior parte da Eurásia, tendo sido introduzidas na Austrália e América do Norte.  Assim, as espécies destes dois géneros não só crescem frequentemente nos mesmos habitats como têm folhagem e floração muito parecidas. São arbustos, pequenas árvores e herbáceas anuais, bianuais e perenes.
Indiferentes a classificações científicas, as espécies Lavatera e Malva partilham o mesmo nome popular que lhes é atribuído por vários povos (Ex: malvas em português e espanhol, “mallows”, em inglês e “mauves” em francês) o que, aliás, se justifica porque estão estreitamente relacionadas.
Segundo o conceito tradicional, um detalhe tem sido usado para diferenciar os géneros Lavatera e Malva, detalhe esse que tem a ver com a morfologia do epicálice cujas brácteas (que se formam na base da flor) são supostamente livres no género Malva e fundidas no género Lavatera. Esta é a versão tradicional e que vigora desde a época de Lineu (1707-1776), no entanto, este argumento tem sido contestado desde sempre por muitos autores. Na realidade, o grau de fusão das brácteas é muito variável de espécie para espécie em ambos os géneros, muitas vezes diferindo entre as populações da mesma espécie, pelo que muitos autores continuam a achar que a morfologia do epicálice não é um argumento satisfatório para a diferenciação entre Malva e Lavatera.

As análises moleculares conduzidas por Martin Forbes Ray (1995) e Fuertes-Aguilar et al.(2002) confirmaram que esta divisão é artificial uma vez que muitas espécies colocadas no género Lavatera estão mais próximas de Malva sylvestris (a espécie tipo do género Malva), do que outras espécies desse mesmo género e provou também que os frutos são fatores essenciais a considerar.
(espécie tipo – “Para evitar ambiguidade e permitir resolver eventuais conflitos de identificação, cada nome botânico é ligado a uma espécie tipo, quase sempre uma planta herborizada e arquivada num herbário de referência. Esses exemplares tipo têm um valor excepcional para a ciência, sendo disponibilizados pelos herbários seus detentores para análise e comparação sempre que surjam dúvidas ou haja necessidade de rever o taxon respectivo. Muitos desses exemplares têm hoje a sua imagem disponível na Internet” @Wikipedia).

Nesta conformidade as espécies destes dois géneros, juntamente com os géneros Alcea e Althaea, foram divididas em dois grupos, independentemente dos géneros em que tinham sido antes colocadas (exceção feita a Lavatera phoenicea, endémica das Canarias):
- Grupo de fruto Lavateroide, assim chamado porque o tipo de fruto em causa se encontra na Lavatera trimestris, a espécie tipo do seu género. Neste grupo estão incluídas as espécies cujos frutos apresentam mericarpos parcialmente fundidos, os quais permanecem aderentes ao carpóforo mas se abrem para libertar as sementes, quando maduras.
- Grupo de fruto Malvoide, que tem como espécie tipo a Malva sylvestris. Neste caso os frutos possuem esquizocarpos com mericarpos de arestas marcadas e paredes espessas que não libertam a semente mas que se destacam do carpóforo quer separadamente, quer no seu conjunto, sem deixar resíduos.
De notar que os frutos malvoide e lavateroide são, contudo, encontrados tanto em espécies do género Malva como do género Lavatera, independentemente da sua classificação genérica.
Em consequência, as espécies incluídas no grupo Malvoide, nomeadamente a espécie Lavatera cretica, foram transferidas para o genero Malva. Apesar de tudo permaneçam duvidas pelo facto de algumas espécies apresentarem frutos com morfologia intermédia.

Muitas espécies do grupo Lavateroide continuam sem alteração pois além de formarem um grupo mais heterogéneo, não foram ainda analisadas sob o ponto de vista genético. Contudo, uma vez que não parece praticável subdividir o grupo Lavateroide em muitos géneros, há botânicos que propõem incluir todas as espécies num único género, Malva. A desvantagem desta transferência seria o facto de Malva L. se transformar num género morfologicamente muito diversificado e de difícil identificação. Por outro lado as vantagens de tal classificação prevalecem claramente uma vez que todas as espécies reunidas no género Malva passariam a representar um grupo monofilético único, contendo todas as espécies descendentes do seu ancestral comum.

Muitos outros fatores estão em causa para além do acima exposto mas uma coisa é certa, os taxonomistas não vão ter vida fácil para desenredar esta “meada”, que acresce a tantas e tantas outras situações intrincadas. Resta-nos desejar e esperar que haja mais cientistas interessados e meios que tornem possível a tomada de medidas acertadas.

Fotos: Areia Branca/Lourinhã


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