domingo, 8 de maio de 2011

Ophrys apifera Hudson

Orquídea Erva-abelha


Foi no ano passado que descobri este exemplar solitário de Ophrys apifera, de nome vulgar erva-abelha, na zona costeira da Lourinhã, aninhada “algures” entre o Caniçal e a Areia Branca. Felizmente, este ano nasceram dois novos exemplares embora, curiosamente, a planta do ano passado não tenha brotado. Parece ser uma espécie muito rara na região, a necessitar de proteção.

A Ophrys apifera é uma orquídea terrestre do género europeu Ophrys, típica de climas temperados e amplamente distribuída desde o Mediterrâneo até ao Reino Unido, Alemanha e Cáucaso.
Distribuição em Portugal - Flora Digital de Portugal
UTAD
Em Portugal pode encontrar-se em algumas regiões do nordeste, no litoral oeste, e no sul do território, sendo relativamente vulgar em terrenos calcários e incultos sobretudo em campos abertos, com vegetação rasteira. É uma espécie com estatuto de protegida porque embora seja robusta e vigorosa não floresce com regularidade e as colónias podem ter muitas plantas num ano, mas falhar nos seguintes.
A Ophrys apifera tem 2 tubérculos subterrâneos globosos e pequenos que servem como reserva de nutrientes. Após a floração, quando a Ophrys apifera perde a parte aérea e entra em repouso vegetativo, um dos tubérculos já está mirrado porque alimentou a planta durante a floração. Logo que chegam as chuvas de outono, começa a formar-se um novo tubérculo, o qual ficará maduro na primavera seguinte e servirá para alimentar a nova planta. Nem todos os anos há floração o que leva a crer que o novo tubérculo pode, por vezes, necessitar de mais tempo para se desenvolver.
A planta atinge cerca de 30 cm de altura. As primeiras folhas formam uma roseta basal que vai crescendo lentamente durante o outono e inverno, murchando quando crescem os escapos florais e as flores desabrocham. As folhas do caule aparecem mais tarde e são de menor tamanho. São de cor verde-clara e têm formato oval a lanceolado.
A planta floresce de março a julho.
Os escapos florais apresentam várias flores muito vistosas e únicas pela sua beleza invulgar, gradação de cores e formas excepcionais. Estas têm 3 sépalas semelhantes a pétalas cor-de-rosa ou brancas e de formato oval, com 2 pétalas superiores mais pequenas, esverdeadas, geralmente estreitas e arredondadas na extremidade.
Por baixo, existe uma tépala maior que as restantes, chamada labelo, que parece um lábio arredondado, castanho e peludo, com uma marca mais clara em forma de U ou W. O labelo constitui a estrutura de maior tamanho da flor e também a mais chamativa, fazendo lembrar o abdómen de uma abelha fêmea e que se destina a atrair abelhas macho para que polinizem a flor. Aliás, não só a planta se parece com uma abelha como também, por vezes, exala um odor semelhante.
A Ophrys apifera é polinizada por um inseto especifico , uma abelha cujo nome cientifico é Eucera nigrilabris pelo que, dependendo dele,  a flor precisa de uma  estratégia especial para o atrair. Ao imitar a forma e o odor de uma abelha consegue levá-lo a pensar que está a acasalar com uma fêmea da sua própria espécie. Normalmente isto acontece com insetos machos ainda inexperientes os quais saiem dos casulos antes das fêmeas e se precipitam para acasalar levando assim os grãos de pólen de uma flor para a outra. Só depois do ato consumado é que dão pelo engano, ficando a ganhar em experiência. 
Ao contrário da maioria das flores de outras plantas que utilizam ofertas de néctar aos agentes polinizadores para atraí-los, as orquídeas, sendo plantas tão económicas e vivendo de parcos recursos, desenvolveram esta técnica de atração que não inclui prémios em forma de alimento. A forma como a Ophrys apifera consegue que sejam estes os únicos insetos a carregarem o seu pólen é muito astuciosa pois estruturalmente apenas os agentes polinizadores corretos se ajustam ao mecanismo da flor, isto é, os outros visitantes não podem chegar ao pólen. O pólen está concentrado num único polinário e tem de ser removido por completo de uma só vez, o que dá à flor uma única oportunidade de ser polinizada. Para não haver enganos que prejudiquem a flor, o labelo está de tal forma bem estruturado que obriga o agente polinizador a colocar-se na posição correta para que as polínias aderentes a ele se encaixem na posição certa no estigma da flor.
É muito provável que os machos enganados não voltem ou que ignorem as outras flores da mesma espécie pelo que só 10% da população de Ophrys apifera chega a ser polinizada. No entanto esta percentagem deveria ser suficiente para manter a população de Ophrys apifera, tendo em conta que cada flor fertilizada produz milhares de sementes.
Os frutos da Ophrys apifera são cápsulas que contêm entre 10.000 a 15.000 sementes. Estas são muito pequenas, quase sem nutrientes e formadas por agrupamentos com poucas células, as quais somente germinam na presença de certos fungos microscópicos. Para tal, estabelece-se uma associação simbiótica, denominada micorrizica, entre o fungo, o solo e a semente, que permite a germinação inicial da planta e se mantém para toda a vida. O fungo ganha a sua fonte de açúcares a partir da planta e esta obtém água e sais minerais do solo através do fungo.
Esta simbiose não acontece apenas com as orquídeas pois mais de 70% das plantas vasculares são micorrizadas (Angiospérmicas – plantas que produzem flores e cujas sementes se formam em frutos fechados, e Gimnospérmicas – plantas em que as sementes se formam em cones nus, por exemplo os pinheiros), assim como muitos Pteridófitos (fetos) e alguns Briófitos (musgos). Os fungos micorrízicos pertencem ao reino Fungi .
Em situações de stress e competição, em que os nutrientes do solo são limitados, as plantas são, por norma, micorrizadas estabelecendo-se uma associação simbiótica entre fungo e raízes ou outro órgão subterrâneo.

SOBRE AS ORQUÍDEAS…

Todas as orquídeas pertencem à família das Orchidaceae, provavelmente a maior entre todas as famílias botânicas e que se divide em cerca de 750 géneros com mais de 25.000 espécies, correspondendo a cerca de 8% de todas as plantas com sementes. A quantidade de espécies reconhecidas é quatro vezes maior que a soma do número de mamíferos e o dobro das espécies de aves.
Geralmente associamos as orquídeas às selvas verdejantes dos climas tropicais e com razão, uma vez que a maioria das orquídeas vive nas áreas tropicais. No entanto, as orquídeas estão espalhadas pelo mundo inteiro e existem em todos os continentes, exceto a Antártida.
As orquídeas dos climas tropicais são epífitas, isto é, vivem agarradas aos troncos das árvores, não como parasitas, mas apenas procurando um apoio mais perto da luz que lhes permita fazer a fotossíntese. Esta é uma das adaptações das orquídeas ao meio envolvente uma vez que a competição com espécies arbóreas é muito forte nas florestas tropicais onde a vegetação é muito exuberante e pouca claridade penetra até ao nível do solo.
As espécies epífitas apresentam robustas raízes aéreas, cilíndricas, geralmente recobertas por espessa superfície esponjosa e porosa denominada velame, tecido altamente especializado na absorção de água ou humidade do ar.
Assim, as orquídeas epífitas alimentam-se pelas raízes, absorvendo água e sais minerais através dos materiais em decomposição que se enredam no velame tais como detritos vegetais, poeiras transportadas pelo vento e insetos mortos.
Em regiões de clima temperado, as orquídeas são basicamente plantas terrestres, com raízes subterrâneas bem desenvolvidas, às vezes com a formação de tubérculos equipando-as para resistirem ao frio e à neve, ou à seca prolongada e ao fogo.
Nestas áreas de clima sazonal, as plantas normalmente passam por um estágio de dormência, em que, muitas vezes, a sua parte aérea seca, para evitar danos à sua fisiologia devido à seca ou ao frio.
As raízes das espécies terrestres normalmente encontram-se espessadas em pequenas ou grandes estruturas parecidas com tubérculos esféricos que servem de reserva de nutrientes e água. Ocasionalmente estes tubérculos separam-se da planta principal originando novas plantas.
Também há algumas espécies terrestres, nas regiões tropicais. A grande quantidade de matéria orgânica disponível no solo da floresta favorece o surgimento de algumas poucas espécies saprófitas, ou seja, orquídeas desprovidas de clorofila que obtêm toda a matéria orgânica de que precisam do material em decomposição em seu redor. Tanto quanto me lembro, foram estas orquídeas saprófitas, de cor esverdeada e de formato intrigante, as primeiras do género a serem comercializadas. Hoje em dia encontram-se à venda no comércio da especialidade, orquídeas com flores muito vistosas que são o resultado de cruzamentos, entre várias espécies, feitos em laboratório, podendo obter-se uma combinação quase infinita de novas formas e cores.
Na natureza, a maioria das orquídeas apresenta flores de formato intrigante mas pequeno tamanho e folhagens pouco atrativas, as quais embora sem valor comercial são muito apelativas para os apreciadores das orquídeas. Como nenhuma outra família de plantas, as orquídeas têm despertado o interesse de colecionadores que se juntam em associações orquidófilas, presentes em grande parte das cidades por todo o mundo. Estas sociedades geralmente apresentam palestras frequentes e exposições de orquídeas periódicas, contribuindo muito para a difusão do interesse por estas plantas e induzindo os cultivadores profissionais a reproduzir espécies que poucos julgariam ter algum valor ornamental, contribuindo para diminuir a pressão sobre a recolha das plantas ainda presentes na natureza. Através de métodos de cruzamento entre espécies têm sido criados, em laboratório, exemplares híbridos que redem milhões nos mercado das flores ornamentais, orquídeas essas que apresentam melhor folhagem e mais resistente, flores maiores e mais coloridas e um tempo de floração muitisso alargado. 
Existe a opinião generalizada de que as orquídeas são muito difíceis de cultivar e requerem condições que só as estufas podem proporcionar, mas tal não é verdade. As orquídeas são plantas robustas e vigorosas que facilmente podem ser cultivadas por um amador desde que lhes sejam dadas as condições adequadas em termos de substrato, luz, temperatura e humidade.

Em Portugal ocorrem naturalmente 55 espécies de orquídeas, das quais duas são endémicas, ou seja, ocorrem somente no nosso País. Encontram-se distribuídas pelo Algarve (Barrocal), Estremadura (Serra da Arrábida, Estremadura Norte), Ribatejo e zona Centro-Oeste. Crescem principalmente em terrenos secos, calcários, que partilham com outras espécies, arbustivas.
Infelizmente, tal como acontece com muitas outras espécies, as orquídeas portuguesas têm sido afetadas entre outras situações pela poluição ambiental, notando-se um decréscimo gradual dos exemplares em várias áreas. Também de notar que a criação de áreas protegidas no nosso país tem sido feita essencialmente para a proteção de espécies de fauna, apesar de certas espécies vegetais endémicas ou não, estarem em verdadeiro perigo de extinção. Em alguns casos, existem orquídeas abrangidas por áreas protegidas, mas nunca são o principal objeto das iniciativas de conservação.

Fotos - Perímetro Areia Branca/Caniçal- Lourinhã



3 comentários:

  1. Engraçado como as flores arranjam os métodos mais estranhos, mas eficazes, para espalhar as suas sementes. Umas "disfarçam-se" de comida, outras apelam ao bichinho sexual dos incetos. Vale tudo na guerra da sobrevivência!

    Muito boa a descrição sobre estas orquídeas lindissimas!

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  2. Bom dia por acaso encontrei e tenho na minha horta o que penso ser uma orquídea Portuguesa e tem precisamente o tronco igual a esta .

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    1. apocalitico,
      Agora só resta esperar que floresça para confirmar. Se ela não florescer este ano, não desista pois há razoes para que tal aconteça, podendo não estar reunidas ainda as condições ideais. Porem, mais ano menos ano, vai florescer. Não se pode apressar a natureza.

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