Nomes comuns:
Albafor; junça;
junça-de-cheiro; junça-longa; junça-ordinária
Cyperus longus |
Cyperus longus |
É uma espécie docemente
fragrante e a sua folhagem e flores estilizadas dão-lhe um aspeto algo exótico pelo
que há quem utilize esta planta em lagos ou charcos de jardim onde fazem um
belo efeito. Ora, veja AQUI.
Caso não se disponha
de muito espaço, convém colocar os rizomas de Cyperus longus dentro de um cesto para evitar que se
expanda demasiado pois pode tornar-se vigorosa, densa e invasiva. A profundidade
aconselhada para fixar os rizomas vai dos 0 aos 30 cm. O crescimento denso de Cyperus longus encoraja, de forma excelente,
a fauna selvagem ao proporcionar alimento e local de nidificação a espécies
próprias de locais húmidos, mamíferos, anfíbios e insetos. Além do mais,
contribuem para a purificação e oxigenação das águas e para o controle da
erosão em zonas ribeirinhas.
Espiguetas de Cyperus longus antes da expansão das flores. Nesta fase os órgãos das flores estão inteiramente cobertas pela gluma. |
De forma geral Cyperus longus distribui-se pelo centro
e sul da Europa, norte de África, Ásia e África tropical.
Cyperus longus é uma espécie
rizomatosa, isto é, cresce e multiplica-se vegetativamente a partir de um caule
subterrâneo que se assemelha a uma raiz mas que na realidade é um rizoma
engrossado, com 5 a 10 mm de diâmetro; por debaixo do rizoma formam-se as
raízes e na parte superior existem gemas de renovo - ou seja, rebentos que dão
origem a novos caules - as quais estão protegidas por folhas modificadas que são
de cor castanha por não terem clorofila. Ao contrário de outras espécies, o
rizoma de Cyperus longus não forma tubérculos
(semelhantes a batatinhas) na extremidade das raízes.
Os caules são do tipo colmo sendo constituídos por porções (entrenós) limitadas por nós; são rígidos, eretos e solitários podendo alcançar mais de 1,5 m de altura, embora se encontrem exemplares com caules bastante mais curtos. São sólidos no interior e de secção triangular.
Cada colmo que desponta do rizoma tem 3 folhas as quais alternam entre 3 pontos diferentes, perto da base.
Rizoma e colmos de Cyperus longus. Nesta foto estão bem identificadas as escamas castanhas que protegem as gemas e também a inserção alternada das 3 folhas em redor de cada colmo. Fonte: Herbari Virtual del Mediterrani Occidental |
As folhas não têm pecíolo e no ponto de inserção apresentam uma bainha que envolve por completo a
haste, crescendo com ela até certo ponto, dando-lhe consistência e formando o que se chama uma bainha fechada. As folhas são longas, embora bastante mais curtas que o
caule e são planas, com nervação paralela; as margens do limbo da folha são rígidas, ásperas e
cortantes devido ao elevado conteúdo em sílica existente nas células.
Cyperus longus. As flores estão na fase de expansão. Notam-se os estames e os braços estigmáticos que ficam a descoberto nesta fase. |
Cyperus longus. Inflorescência e brácteas envolventes. |
Cyperus longus A- Espigueta B- Parte da inflorescência em que se reunem as espiguetas C- Flor da espigueta: bráctea e órgãos reprodutores (estames, ovário, estilete e estigma) |
Os frutos de Cyperus longus são
frutos secos indeiscentes, de cor escura, obovoides e trígonos, dentro dos
quais existe uma única semente. Quando se completa a maturação as espiguetas
desintegram-se e os frutos dispersam-se, podendo viajar a longas distâncias
quer através da água, do vento, quer nas patinhas de aves migradoras. Contudo
parecem ser poucas as novas plantas geradas pela germinação das sementes. Na
maioria dos casos Cyperus longus reproduz-se
vegetativamente, através de pedaços do rizoma que se desprendem, muitas vezes
desenterrados pelos animais que os comem e transportados por eles ou pela
corrente de água, até encalhar noutro lugar. Qualquer pedaço de rizoma que
tenha pelo menos uma gema dá origem a uma nova planta.
O tempo de floração
desta planta parece ser bastante alargado. Os manuais da especialidade informam
que a floração acontece durante o verão, nomeadamente de abril a setembro ou
outubro, contudo algumas das fotos aqui inseridas foram registadas bastante
mais cedo, em dezembro. Afinal, as plantas não ligam ao calendário e
aproveitam-se das condições favoráveis.
O rizoma de Cyperus longus é comestível, tendo sido
bastante apreciado pelas antigas populações rurais nos tempos em que a escassez
de recursos os obrigava a procurar alimento entre as ervas do campo. Este
rizoma exala uma fragrância muito agradável semelhante ao das violetas pelo que
o seu óleo essencial tem utilização em perfumaria.
Os caules também são aproveitados
para entretecer esteiras, cestos e assentos de cadeiras em palhinha.
Cyperus longus pertence à família Cyperaceae (a qual inclui cerca de 4500
espécies) e inclui-se no género Cyperus,
um dos 122 géneros em que esta família está organizada.
A maior importância da
família Cyperaceae reside no facto de
as suas espécies constituírem a base da vegetação natural de pântanos e zonas
ribeirinhas onde os seus rizomas densamente emaranhados contribuem para o
controle da erosão e purificação da água. Nas zonas pantanosas fornecem abrigo
e alimento a aves, anfíbios, insetos e outros animais de vida aquática pelo que as consequências
da destruição destes habitats podem ter consequências desastrosas.
Os
géneros mais representativos desta família em Portugal são Carex com 43 espécies e Cyperus
com 10. As Cyperus são especialmente
apreciadas em jardinagem devido às suas formas arquitetónicas, permitindo um
certo efeito dramático, criativo e vibrante, dando uma ambiente exótico aos
locais mais húmidos do jardim. Uma das mais apreciadas é a Cyperus papirus.
Cyperus papirus em Kew Gardens/Londres. Foto de Adrien Pingstone/Wikipedia. Os caules de Cyperus papirus podem atingir os 6 m de altura proporcionando um grande efeito ornamental. Esta é uma espécie tropical natural do continente africano e a sua fama remonta à Antiguidade Egípcia. Estas plantas cresciam de forma abundante no delta do rio Nilo e era a partir da medula retirada dos seus colmos que os egípcios fabricavam o papiro, uma das primeiras formas de papel. |
Dentro do género Cyperus podemos assinalar algumas
espécies invasoras, como é o caso de Cyperus
rotundus que vive nos mesmos habitats de Cyperus longus e com a qual é muitas vezes confundida. Cyperus rotundus é uma
das piores espécies invasoras em todo o mundo afetando economicamente
culturas como a cana-de-açúcar, milho, algodão, feijão. Esta autêntica praga
desenvolve-se rapidamente competindo agressivamente com outras espécies em regiões temperadas, subtropicais e mesmo áridas, beneficiando das suas capacidades de
adaptação a condições adversas. Cyperus
rotundus diferencia-se de Cyperus
longus por ter as espiguetas mais compridas e largas, alem de que o rizoma
produz tubérculos globosos na extremidade das raízes, os quais dão origem a
novas plantas e produzem substâncias químicas que inibem a germinação ou
desenvolvimento de outras espécies.
Comparação entre sistema radicular de Cyperus longus, à esquerda e Cyperus rotundus e Cyperus esculentus à direita Fonte: University of California Agriculture & natural resources |
As graminóides:
Cyperaceae, Poaceae e Juncaceae
Cyperaceae, Poaceae e Juncaceae
O termo "graminóide" tem por base a família das gramíneas, cientificamente designadas Poaceae (ou Gramineae). Esta é uma das maiores famílias
entre as angiospérmicas (plantas com flor). A sua importância
económico/ecológica é enorme. São fundamentais na vida humana e encontram-se nos maiores variados habitats, desde os
exemplares de maior envergadura até à mais humilde relva do jardim. Contudo,
existem espécies que, pertencendo a outras famílias apresentam, à primeira
vista, semelhanças com as gramíneas a ponto de poderem ser confundidas. São elas a família Cyperaceae (junças) e a família Juncaceae
(juncos).
Para maior facilidade os botânicos englobaram
estas 3 famílias num grupo a que chamaram “graminóides”.
Sob o ponto de vista taxonómico as graminóides são monocotiledóneas, caracterizando-se pelas suas longas folhas de forma linear e de venação paralela.
Sob o ponto de vista taxonómico as graminóides são monocotiledóneas, caracterizando-se pelas suas longas folhas de forma linear e de venação paralela.
[(Nota: As angiospermas (plantas de flor) subdividem-se em
monocotiledóneas (de cuja semente brota uma única folha quando germinam, como
acontece com o milho) e dicotiledóneas (de cuja semente brotam duas folhas
durante a germinação, como no feijão)].
A grande semelhança
entre estas 3 famílias monocotiledóneas reside no aspeto graminiforme, caracterizado por folhas lineares alongadas e com nervação paralela, flores de estrutura muito simplificada e caules do tipo colmo. Os colmos são eretos, ocos ou preenchidos por uma medula esponjosa; não são ramificados e são formados por porções (entrenós) ligadas umas às outras por nós que, consoante as espécies, são mais ou menos evidentes. Ao contrário da maioria das herbáceas que crescem apenas a partir de células meristemáticas existentes na parte superior dos caules ou nas gemas de ramificação, os colmos também crescem por baixo e por cima dos nós, o que lhes permite continuar a crescer quando são cortadas (como acontece com a relva).
Assim sendo, o reconhecimento e identificação das graminóides é um grande desafio. Apesar das diferenças a nível vegetativo, a melhor forma de distinguir as espécies consiste na observação das flores e dos frutos. Porém, por vezes estes órgãos são tão pequenos que o uso de uma lupa poderá facilitar o trabalho.
Aqui deixo algumas das características que permitem a identificação das famílias. No que diz respeito ao reconhecimento das espécies, as dificuldades são maiores, sendo necessária a ajuda de uma chave de identificação.
Assim sendo, o reconhecimento e identificação das graminóides é um grande desafio. Apesar das diferenças a nível vegetativo, a melhor forma de distinguir as espécies consiste na observação das flores e dos frutos. Porém, por vezes estes órgãos são tão pequenos que o uso de uma lupa poderá facilitar o trabalho.
Aqui deixo algumas das características que permitem a identificação das famílias. No que diz respeito ao reconhecimento das espécies, as dificuldades são maiores, sendo necessária a ajuda de uma chave de identificação.
Flor de Juncaceae |
Flor do género Cyperus /Cyperaceae |
Flor de Poaceae |
Também
podemos diferenciar as graminóides a partir dos colmos e da forma como se
inserem as folhas.
Nas Poaceae os colmos são cilíndricos, ocos
e os entrenós são bem visíveis. As folhas apresentam lígulas na base, são
opostas e as bainhas são abertas, envolvendo parcialmente os nós.
Nas Cyperaceae os colmos são triangulares e cada um deles tem apenas 3 folhas
que nascem perto da base da planta, alternadas em três pontos diferentes. As
folhas não são liguladas e as bainhas são fechadas, envolvendo a haste por
completo.
As Juncaceae apresentam colmos cilíndricos e sólidos
preenchidos com uma medula esponjosa. As folhas formam tufos basais e têm
bainhas fechadas.
Apesar de
partilharem características semelhantes as graminóides são, sem dúvida, um grupo
muito diversificado, estimando-se que ocupem 20% do solo da terra,
dominando tanto nos climas temperados como nos subtropicais. Encontramo-las nos
habitats mais variados desde os húmidos e pantanosos aos mais secos;
são plantas muito, muito antigas, havendo registos de plantas que datam de há
200 mil anos (a estrutura simplificada das flores mostra que sao muito evoluidas, ao
contrário do que se poderia pensar); são essenciais para alimento do gado e indispensáveis na nossa alimentação (milho, trigo, arroz etc) estando também presentes
em muitas bebidas que consumimos desde a cerveja ao whiskey; providenciam
fibras utilizadas na construção de diversos materiais e até em construção
civil; os relvados, constituídos por misturas de 6 ou mais tipos de graminóides
são utilizados em milhões de jardins e parques já para não falar dos campos de
golfe, ténis, rugby e futebol, entre outros.
A generalidade das graminóides contribui ainda para restaurar o arejamento dos solos, protegem-nos da erosão provocada pela chuva e pelos ventos e providenciam alimento e abrigo à fauna selvagem.
Fotos: Serra do Calvo e Zambujeira/Lourinhã
Fotos: Serra do Calvo e Zambujeira/Lourinhã