Helminthotheca comosa (Boiss.) Holub = Picris spinifera Franco
Nomes
comuns:
Raspa-saias-espinhosa;
repassage
O meu post anterior foi dedicado à espécie Heminthotheca echioides , tendo sido
feita uma breve introdução à sua nova taxonomia. Pois bem, a espécie que
apresento hoje, mais conhecida por Picris
spinifera, encontra-se na mesma situação ou seja, foi também transferida de
Picris para o género Helminthotheca.
Nota:
as outras duas espécies relacionadas, endémicas da Península Ibérica e que
ocorrem em Portugal, não sofreram alteração de género , mantendo-se em Picris.
Refiro-me a Picris hieracioides subsp. longifolia (Boiss. & Reut.) P.D.Sell
(norte de Portugal) e a Picris willkommii Nyman (Algarve).
Helminthotheca
comosa é uma planta herbácea e de aspeto espinhoso, autóctone do sul e oeste da
Península Ibérica, com grande incidência em Portugal. Cresce em solos pedregosos
e ressequidos, mais frequentemente em clareiras de matos ou bosques de espécies
tipicamente mediterrânicas.
É
uma espécie bienal ou perene de vida curta que seca no verão para ressurgir na
primavera seguinte, as primeiras folhas formando uma roseta rente ao solo.
Os caules que surgem desta roseta podem ir dos 30 aos 90 cm de altura e são eretos, ramificados na metade superior, com acúleos cobertos de um indumento formado por pelos minúsculos e espinhosos (os acúleos diferem dos espinhos porque ao contrario destes não estão ligados ao caule por feixes vasculares, sendo por isso mais fáceis de destacar).
Os
caules praticamente só têm folhas no terço inferior. As folhas basais têm
pecíolos curtos e as caulinares, bastante mais pequenas, são sesseis e
frequentemente avermelhadas. Na generalidade as folhas apresentam acúleos
inchados na base e alguns pelos rígidos.
Sendo
esta uma espécie da família Asteraceae
as flores estão agrupadas em capítulos, o tipo de inflorescência
característico desta família.
Nesta
espécie todas as pequenas flores são liguladas, de cor amarelo dourado e são
flores hermafroditas, apresentando órgãos femininos e masculinos férteis. Os
estames estão escondidos pelas “pétalas” mas entre elas veem-se os braços
estigmáticos também de cor amarela.
As
peças florais estão protegidas por um invólucro formado por 3 camadas de
brácteas, as exteriores ovadas, obtusas e arredondadas na base.
As
brácteas médias e as interiores são mais longas e estreitas e estão providas de
pontas agudas e rígidas que excedem claramente as extremidades. Este invólucro
de brácteas é distintivo do género Helminthotheca, no qual esta espécie foi
agora incluída.
Helminthotheca
comosa floresce e frutifica de maio a junho. Os frutos são cípselas e consistem
num pequeno fruto com uma única semente.
Estes
frutos têm formato estreito e cilíndrico, são de cor acastanhada e estão
providos de papilho numa das extremidades.
O
papilho ou papus é um tufo de pelos brancos, sedosos e compridos que ajudam as
cípselas a flutuar como se fossem pequenos para-quedas pilosos, auxiliando na
dispersão dos frutos pelo vento e servindo como defesa contra a herbivoria.
Embora
algo semelhante, a Heminthotheca comosa diferencia-se facilmente da espécie
tratada no post anterior (Heminthotheca echioides), pois é obviamente mais
espinhosa. No que diz respeito às flores, a morfologia das brácteas das duas
espécies é diferente, assim como a cor dos braços estigmáticos situados à
superfície das “pétalas”.
Amaral
Franco (1921-2009), conceituado botânico e sistemático português, descobriu que
esta espécie apresentava algumas variações morfológicas que justificavam a
separação em duas subespécies, classificação que foi aceite pelas autoridades
competentes (1975):
Picris
spinifera subsp. spinifera – endemismo Ibérico, existente em Portugal nas
regiões centro e sul.
Picris
spinifera subsp. algarbiensis – endemismo português do Algarve.
Agora
que esta espécie passou do género Picris para o género Helminthotheca tentei
encontrar os nomes científicos atualizados referentes às duas subespécies acima
mencionadas. Contudo as principais bases de dados (IPNI, The Plant List,
Euro+Med PlantBase) apenas dão um único resultado válido para uma subsespécie.
AQUI e AQUI , The Plant List e Euro+Med Plantbase atestam que Helminthotheca
comosa (Boiss.) Holub é o novo nome aceite para a espécie e que Helminthotheca
comosa subsp. lusitanica (Schltdl.) P.Silva & Escudeiro é o nome da
subespécie. Entretanto fico na dúvida se este nome se refere à subsespecie
spinifera ou à subsp. algarbiensis.
As
populações de Helminthotheca comosa apresentam um grande polimorfismo sobretudo
na quantidade de acúleos e pelos que cobrem caules e folhas, no tamanho do
invólucro e na morfologia, tamanho e pilosidade das brácteas externas do capítulo.
Também os frutos maduros apresentam variações especialmente no que diz respeito
ao comprimento do pico (filamento que liga a parte da semente ao papilho).
Ao
longo dos tempos, esta espécie suscitou grande interesse por parte de vários botânicos que a estudaram de forma isolada e por vezes baseados em critérios
diferentes. Segundo os métodos tradicionais a classificação de uma espécie era
feita apenas através da simples comparação de determinado conjunto de
características com outras espécies semelhantes, estando sujeita à
interpretação do pesquisador. Tendo em conta a deficiente comunicação
disponível na época (situação que a internet veio, recentemente, facilitar
enormemente) podemos compreender que classificações diferentes tenham sido
propostas e aceites, tendo vindo posteriormente a descobrir-se que se tratava
da mesma espécie. Contudo, segundo as regras existentes, as espécies e
subespécies podem ter apenas um nome válido dentro de um género específico, o
ultimo a ser aprovado (salvo algumas exceções previstas). Os nomes anteriores
continuam para sempre ligados às espécies em causa, mas passam para a categoria
de sinónimos.
Fotos:
Arribas do Caniçal/Lourinhã