Nomes comuns:
Bugalhó; Ranúnculo-de-pontas; Botões-de-ouro
Ranunculus
muricatus é uma planta silvestre cientificamente designada por terófito, o
que quer dizer que tem um ciclo de vida anual pois nasce a partir de uma
semente, floresce e frutifica, tudo no espaço de alguns meses.
É nativa do sul
da Europa, oeste asiático e norte de África mas foi introduzida noutros
continentes, estando agora naturalizada em regiões de clima suave e temperado
da América do norte e Austrália. É frequente em quase todo o nosso país, sendo
uma espécie espontânea em Portugal Continental e Madeira e introduzida
nos Açores. É uma espécie característica de terrenos húmidos ou mesmo
encharcados pelo que podemos procura-la nas margens dos rios e ribeiras, em
lameiros, locais pantanosos e na generalidade dos locais húmidos, cultivados ou
de pousio.
Floresce no final do inverno e início da primavera, formando colónias, por vezes extensas. Quando germinam nos pastos podem tornar-se
perigosas para o gado pois são toxicas podendo provocar doenças irreversíveis e
até a morte. Contudo esta planta tem um sabor amargo, o que é uma espécie de
aviso, pelo que o gado a evita sempre que tem outras plantas para comer.
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A raiz é fasciculada |
Os caules ramificam-se de forma
desordenada a partir de uma roseta de folhas rentes ao solo; podem
apresentar habito prostrado ou ascendente, neste caso desenvolvendo uma pequena
extensão no sentido horizontal e só depois assumindo posição vertical; são de cor verde podendo apresentar alguns pelos esparsos e são cilíndricos,
vigorosos e de aspeto rígido apesar de serem ocos; dividem-se em segmentos
alongados muitas vezes desprovidos de folhas e com raízes adventícias.
As folhas são semicirculares ou em
forma de rim mas dividem-se em três segmentos, os quais apresentam margens com
recortes irregulares arredondados e convexos; as folhas caulinares são mais
profundamente divididas e mais pequenas do que as folhas basais; geralmente têm
longos pecíolos, os quais as ligam aos caules; dispõem-se de forma alternada
nos caules.
As flores, com diâmetro entre 1 e 2 cm, são solitárias e colocam-se no topo dos caules.
Possuem cinco pétalas de forma obovada ou
elíptica, amarelas e de aspeto encerado e excecionalmente lustroso. Isto
deve-se a uma camada de células refletoras existentes por baixo das células superficiais
das pétalas. Esta parece ser uma estratégia para tornar as pequenas flores mais
visíveis e atraentes para os insetos.
Cada pétala está provida de uma pequeníssima bolsa situada na
sua base que funciona como reservatório de néctar o qual é produzido com o
intuito de atrair os insetos polinizadores. Abelhas, vespas e moscas são agentes
indispensáveis para que se concretize a polinização cruzada: cada inseto que
pousa no centro da flor para se alimentar leva no seu corpo o pólen que será
depositado numa outra flor, pelo mesmo processo.
Por baixo das pétalas, coloca-se o cálice, formado por cinco
sépalas cuja função primordial é a proteção do botão floral, cobrindo-o
enquanto este está em desenvolvimento. As sépalas são verdes, algo peludas e abrem ao mesmo tempo que as pétalas, ficando o seu ápice curvado para baixo,
num ângulo superior a 90º. Nesta espécie as sépalas caem, uma vez terminada a
sua função.
No centro da flor encontramos os órgãos reprodutivos, rodeados
pelas pétalas: bem no centro os pistilos verdes e à sua volta um anel de
estames amarelos. Os estames (órgãos masculinos) e os pistilos ou carpelos
(órgãos femininos) são muito numerosos e bem visíveis. Cada um dos estames é
formado por um filamento coroado pela antera, pequeno saco onde está depositado
o pólen. Cada pistilo é constituído por uma estrutura basal dilatada (ovário) e
uma outra alongada (estilo) cujo ápice (estigma) é coberto por uma substancia
pegajosa ao qual aderem os grãos de pólen; o estigma recolhe o pólen, o qual é
conduzido através do estilo até ao ovário. Por sua vez o ovário tem como tarefa
o desenvolvimento e maturação do fruto, após a fecundação dos óvulos.
Os pistilos/carpelos do Ranunculus
muricatus transformam-se em fruto sem mudar de forma ou aparência, apenas
aumentando de tamanho. Assim, os pequenos frutos, tecnicamente designados por
aquénios, permanecem apertados uns contra os outros formando um fruto esférico
e espinhoso. Estes aquénios são achatados e têm pontas rígidas e
curvas, aguçadas e compridas. Cada um deles comporta uma semente grudada à sua
parede. São estes espinhos que dão o nome à espécie pois muricatus significa “com espinhos”.
Enquanto fresca, esta planta é tóxica também para nós humanos mas
perde alguma da sua toxicidade quando é seca ou sujeita a cozedura. Em medicina
popular tem fama de ter propriedades febrífugas e diuréticas. Utiliza-se sob a
forma de infusões. Há que ter cuidado com manipulação de plantas frescas pois o
seu suco causa bolhas na pele.
O género botânico Ranunculus:
Ranunculus
muricatus pertence ao género Ranunculus
o qual engloba cerca de 250 espécies. Segundo a Sociedade Portuguesa de Botânica através do portal Flora-on, 34 dessas espécies silvestres crescem de forma espontânea
em Portugal. Veja AQUI.
Os ranúnculos silvestres têm pequenas flores delicadas e muito
vistosas, amarelas ou brancas com o centro amarelo. Os ingleses optaram por
lhe darem o nome comum de buttercup
(copo-de-manteiga) e nos países anglo-saxónicos as crianças ainda seguem o jogo
ancestral de, em dias de sol, colocar as flores amarelas dos ranúnculos debaixo
do queixo do parceiro e aí observarem o seu reflexo.
O extraordinário brilho que apresentam as flores amarelas dos ranúnculos
tem sido alvo de estudos desde há mais de um século. Os cientistas demonstraram
que a cor refletida é amarela devido à absorção das cores na região azul-verde
do espetro devido ao pigmento carotenoide existente nas pétalas. À medida que a
luz azul-verde é absorvida, a luz nas outras regiões espetrais (neste caso, em
primeiro lugar o amarelo) é refletida. Por outro lado também se sabe que a camada
epidérmica das pétalas é composta por células muito planas e uma almofada de ar, proporcionando uma reflexão intensa semelhante à de um espelho.
Também foi comprovado que os ranúnculos amarelos refletem uma
quantidade significativa de luz ultravioleta. Como muitos polinizadores têm
olhos sensíveis ao UV esta situação proporciona-lhes uma visão única sobre
estas flores. Muitos fatores influenciam a relação entre as flores e os polinizadores
como por exemplo o odor e a temperatura mas o aspeto visual das flores é um dos
fatores mais importantes. Por isso elas investem no aspeto atraente das suas pétalas desenvolvendo cores vibrantes e guias de néctar (linhas em cor mais clara ou
mais escura existentes em certas flores que indicam aos insetos o caminho para o centro da
flor onde se localizam o néctar e os órgãos reprodutivos). O próprio brilho é
uma pista adicional pois pode imitar gotas de néctar nas pétalas, tornando a
flor mais apetecível.
O nome do género Ranunculus
deriva do latim, da contração da palavra “rana”(rã) com “ulus”(pequena), numa
manifesta alusão ao gosto pela humidade característico destas plantas. Ranunculus distribui-se por todo o mundo
mas principalmente em zonas húmidas no hemisfério norte de clima temperado.
Os ranúnculos silvestres podem perfeitamente ser cultivados como ornamentais, o mesmo acontecendo com qualquer planta de crescimento espontâneo, as chamadas ervas daninhas. Na realidade se se gostar de uma planta e a levarmos para o jardim ela deixa de ser daninha pois está no lugar certo. Do mesmo modo, uma planta-cultivar comprada no viveiro pode tornar-se inconveniente. É tudo uma questão de gosto pessoal e algumas experiências. Na realidade um jardim é um conjunto de seres vivos aos quais devemos dispensar respeito dando-lhes atenção e cuidados. Um jardim bonito nunca é um acaso, é sempre o resultado de muito amor e trabalho mas quanta satisfação nos traz !!!
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Ranunculus asiaticus - ornamentais |
Existem alguns cultivares ornamentais os quais apresentam flores
de bom tamanho, dobradas (com varias filas de pétalas), em varias tonalidades
de roxo, vermelho, rosa, laranja, amarelo e branco. São perenes, criadas a
partir de um rizoma geralmente à venda no comércio especializado, em meados de setembro. Podem ser
cultivados em canteiros ou vasos e florescem no início da primavera.
A família botânica
Ranunculaceae:
Ranunculus é um dos 50 géneros incluídos na
família Ranunculaceae, englobando cerca de 2000 espécies.
Esta família carateriza-se pela sua
simplicidade do ponto de vista evolutivo pois as espécies nela incluídas
mantiveram as suas características ancestrais. As flores das plantas desta
família apresentam numerosos estames e pistilos os quais ainda estão implantados em
espiral no recetaculo e as flores são simples, isto é, todas as partes florais
são independentes umas das outras: pétalas, sépalas e os numerosos estames e
pistilos estão separados uns dos outros. Plantas mais evoluídas, incluídas
noutras famílias, há muito que reduziram o número de peças florais, algumas
delas apresentando-se fundidas.
As espécies desta família distribuem-se pelo mundo inteiro especialmente pelas zonas
temperadas e também nos trópicos, em zonas de maior altitude. Algumas espécies são cultivadas como ornamentais, como é o caso das Aconitum, Aquilegia, Caltha, Clematis,
Delphinium, Helleborus e Nigella,
entre outras. Na generalidade são plantas com concentrações apreciáveis de alcaloides
tóxicos, sendo que as plantas do género Aconitum
são consideradas as mais venenosas da Europa.
Seguem-se algumas fotos exemplificativas dos géneros atrás mencionados:
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Planta aquática, no meu jardim. Foto de Flores do Areal. |
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Planta trepadeira, no meu jardim. Foto de Flores do Areal |
Fotos de Ranunculus muricatus: Serra do Calvo e Caniçal /
Lourinhã