Tápsia, Turbit-da-terra
Thapsia villosa é uma planta
elegante e vistosa. Bastante comum na região mediterrânica ocidental pode ser
encontrada no sul de França, Península Ibérica e norte de África. Coloniza
bosques, matagais, taludes, orlas dos campos de cultivo e beira dos caminhos. É
característica de solos pobres em nitrogénio e cresce em terrenos expostos ao
sol; embora seja indicadora de secura moderada a verdade é que se desenvolve
com maior exuberância em solos com um razoável teor de humidade; prefere os
solos ácidos mas não desdenha os solos alcalinos.
Thapsia villosa é uma
espécie perene cujas partes aéreas secam e morrem após a frutificação, para
rebrotar na estação seguinte.
O caule praticamente sem folhas (geralmente
reduzidas às bainhas), é ereto, robusto e finamente estriado, chegando a
atingir quase 2 metros de altura sempre que se reúnam as condições ideais.
O caule é
muito engrossado na base emergindo a partir de uma raiz grossa e alongada, de
cor esbranquiçada, a qual se encontra profundamente enterrada no solo. Da raiz
brotam também duas ou três grandes folhas, de cor verde escuro que formam uma
roseta basal. Estas folhas estão cobertas de pelos em ambas as paginas, tal
como sugere o nome da espécie (villosa).
As folhas
têm contorno triangular e o limbo é tão profundamente recortado em segmentos de
forma oblonga, que estes ficam apenas ligados pela nervura central.
Os
segmentos, que podem ser simples ou subdividirem-se 2 ou mesmo 3 vezes, têm
margens com pequenos recortes com a ponta curta e aguda mas sem ser rígida;
quase sempre as margens dos segmentos são revolutas, ou seja, estão reviradas
para a página inferior da folha. A nervura central de cada folha (ráquis), está
densamente coberta de pelos sendo a pagina superior de cor verde enquanto a
pagina inferior é de um tom acinzentado ou glauco (azulado).
As bainhas
das folhas basais são largas e bem desenvolvidas, mostrando o seu interior
esbranquiçado, por vezes com laivos de purpura.
As flores,
muito pequenas, são monoclínicas (=hermafroditas) pois possuem órgãos
reprodutores femininos (gineceu) e masculinos (androceu), ambos funcionais; do
androceu constam 5 estames e o gineceu apresenta estigma com dois estilos. O
cálice é constituído por 5 sépalas incipientes e as corolas, com simetria
radial, são formadas por igual número de pétalas, de um amarelo intenso.
As flores
reúnem-se em inflorescências do tipo umbela em que os pedicelos das várias
flores (denominados raios) são longos e aproximadamente do mesmo tamanho; como estão
todos inseridos no mesmo ponto do pedúnculo, formam uma estrutura hemisférica
semelhante a um chapéu de chuva aberto. De notar que as inflorescências da
Thapsia villosa são compostas por pequenas umbelas (umbélulas) que se reúnem
para formar umbelas maiores. Graças a esta estratégia, o impacto visual das
pequenas flores perante os insetos polinizadores fica muito potenciado.
Geralmente a
umbela que floresce na extremidade do caule principal é a maior. Por vezes as
umbelas que crescem em ramificações laterais do caule podem gerar apenas flores
masculinas, as quais, caso tal aconteça, são estéreis e secam prematuramente. Na Thapsia villosa as
umbelas raramente apresentam brácteas e as umbélulas também poucas vezes têm
bractéolas. O número dos raios é muito variável podendo ir de 6 a 29 por cada
umbela.
A Thapsia villosa floresce a partir de
março, sendo visitada por numerosos tipos de insetos atraídos pelas suas
grandes inflorescências de cor amarelo brilhante. Em meados de junho já está em
plena frutificação, caracteristicamente muito mais cedo que outras espécies da
mesma família as quais continuam em flor até muito mais tarde.
Os frutos,
maduros em agosto, tomam a forma oblonga sendo formados por duas partes
perfeitamente ligadas entre si e que se separam na maturação; cada uma delas
está provida de expansões laterais membranosas que ajudam na dispersão pelo
vento.
A Thapsia villosa é altamente variável na sua morfologia. Registam-se duas variedades, a T. villosa var. villosa e a T. villosa var. dissecta. A diferença entre as duas variedades está basicamente no tamanho dos segmentos das folhas que, na variedade T.villosa dissecta são mais estreitos e também mais subdivididos. No entanto registam-se formas intermedias pelo que distinguir as duas variedades pode ser bastante complicado.
Thapsia villosa é uma espécie do género Thapsia o qual se inclui na família Apiaceae também denominada Umbelliferae. Esta é uma importante família botânica que engloba entre 2500 a 3700 espécies divididas entre 300 a 450 géneros, alguns deles de classificação duvidosa e seguramente sujeitos a revisão. É uma família de grande importância económica cujas espécies estão amplamente difundidas por todo o mundo com especial destaque para as regiões temperadas do hemisfério norte. Os óleos essenciais libertados por muitas das suas espécies têm especial interesse na medicina. Contudo a grande importância desta família vem do facto de incluir muitas espécies agrícolas, muitas das quais utilizamos na nossa dieta do dia a dia, nomeadamente a salsa Petroselinum crispum, a cenoura Daucus carota, o aipo Apium graveolens, o anis Pimpinella anisum, o endro Anethum graveolens, o funcho Foeniculum vulgare, os coentros Coriandrum sativum e os cominhos Cuminum cyminum, entre tantas outras. Ao mesmo tempo inclui plantas muito venenosas como sejam a cicuta Conium maculatum e o embude Oenanthe crocata.
A Thapsia villosa é uma espécie muito
toxica, o que não impediu, em tempos idos, a sua utilização em medicina tradicional,
aproveitando as suas propriedades e efeitos muito violentos como purgante e
emético, através do ingestão do exsudado da raiz. Na realidade não se sabe
muito sobre as propriedades terapêuticas desta planta mas parece que a sua raiz
foi muito comercializada beneficiando do facto de ser confundida com a raiz da Ipomoea turpethum, espécie endémica da
Índia e que era muito apreciada pelos seus suaves efeitos laxantes. O nome
comum da Ipomea turpethum era "turbit",
nome pelo qual a Thapsia villosa também ficou conhecida em Portugal.
Entretanto a
Thapsia villosa var. villosa está a ser objeto, juntamente
com outras espécies do mesmo género, de pesquisa e investigação medica pois,
devido as suas características, poderá ser vir a ser útil no tratamento de
doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer e Parkinson.