Misopates calycinum é mais
uma pequena herbácea da família Plantaginaceae e do género Misopates. É muito
semelhante à espécie Misopates orontium
(veja AQUI), no entanto é muito fácil distingui-las uma vez que as flores são rosa
na Misopates orontium e brancas na Misopates calycinum. Acresce ainda o
facto de as flores de Misopates calycinum
estarem providas de sépalas que não excedem o tamanho da corola, ao passo que na
Misopates orontium a excedem largamente. A
Misopates calycinum é também, das duas espécies, a menos peluda, quase
glabra.
Distribuição assinalada em Portugal por FLORA-ON |
O habitat de ambas as espécies é praticamente o
mesmo embora a Misopates calycinum seja mais difícil de encontrar. Na generalidade esta
espécie cresce em bermas de caminhos, campos de cultivo em pousio ou
abandonados, em taludes e nos terrenos remexidos em geral, por serem mais nitrificados.
Prefere os solos com algum teor calcário e gosta de um pouco de humidade.
Distribui-se pelo sul da Europa (Portugal e Espanha), bacia do mediterrâneo e
norte de África.
A Misopates
calycinum é uma espécie de ciclo de vida anual que pode chegar aos 80 cm de
altura, glabra (sem pelos) na parte inferior e com alguns pelos na inflorescência.
O caule principal é ereto, geralmente simples, podendo no entanto apresentar-se
ramificado.
As folhas, todas caulinares e de pecíolo curto, são inteiras, lineares,
de forma elíptica ou lanceolada, com o ápice aguçado e com margens ligeiramente
enroladas para baixo.
As brácteas, alternadas, são semelhantes a folhas, mas de
menor dimensão.
As flores, com simetria bilateral, nascem
solitárias ou em grupos de 6 a 12 na axila das brácteas, formando cachos pouco
densos.
O cálice é formado por 5 sépalas com pelos menos densos e mais
compridos que na espécie Misopates
orontium. As sépalas são estreitas e profundamente divididas e com tamanhos
desiguais, sendo ligeiramente mais curtas que as pétalas.
As cinco pétalas que constituem a corola são
brancas com alguns veios arroxeados e estão unidas na base, formando um tubo cilíndrico
e longo que se abre para o exterior por dois lábios: o superior com 2 lóbulos
correspondentes a 2 pétalas fundidas e o inferior com 3 lóbulos correspondentes
a igual número de pétalas fundidas. Os órgãos reprodutivos femininos e
masculinos encontram-se no interior da flor, estigma, estilete e ovário e 4
estames com as respetivas anteras.
O fruto é uma capsula ovoide mais curta que o
cálice, com alguns pelos, corcunda na base e formada por dois lóculos. As
numerosas sementes acastanhadas saem do lóculo inferior através de dois
orifícios.
Floresce de maio a setembro.
A polinização é
feita por insetos. No entanto, e à semelhança do que acontece com a Misopates orontium, esta é uma espécie
com clara tendência para a autofertilização a qual se dá no início da floração
quando, devido a atraso de um dia ou dois no desenvolvimento pleno das pétalas,
os sacos de pólen abrem enquanto a flor ainda está fechada.
Misopates ou Antirrhinum ?
Durante seculos as espécies do atual
género Misopates estiveram integradas
no género Antirrhinum (Besler 1613; Tournefort
1700; Linné 1753; Miller 1768; Chavannes 1833). Contudo, Misopates foi promovido a género por direito próprio, em 1840,
por Rafinesque. Esta revisão foi de certo modo ignorada por alguns
especialistas, uma vez que ainda hoje continuam a incluir as espécies Misopates no género Antirrhinum (classificação original de Lineu). Contudo parecem
inegáveis as diferenças físicas e morfológicas entre os dois géneros,
nomeadamente no tamanho das flores, muito maiores no Antirrhinum e no tamanho das sépalas (iguais ou maiores que a
corola, no Misopates e bastante mais
curtas no Antirrhinum); as folhas são
mais estreitas no Misopates e as
sementes também diferem na sua forma; além disso a tendência para a autofertilização
registada no Misopates não se estende
ao Antirrhinum que apenas faz
polinização cruzada. Esperemos que haja consenso, a breve prazo!
Fotos: Serra do Calvo/Lourinhã