"O grande responsável pela situação de desequilíbrio ambiental que se vive no planeta é o Homem. É o único animal existente à face da Terra capaz de destruir o que a natureza levou milhões de anos a construir"





quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

É NATAL....


No meu jardim predominam as espécies autóctones. No entanto não dispenso uma ou outra espécie adaptada que pelas suas características me dão muito prazer. É o caso deste lindo Hibiscus que invariavelmente me presenteia com uma profusa floração que se estende do verão até à primavera seguinte. É este o meu presente para todos os que amavelmente acompanham este blog e me mimam com os seus comentários.
Desejo a todos muita alegria na época festiva que se aproxima e que o Futuro permita a realização dos sonhos que alimentam a nossa Esperança.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Solanum nigrum L.

Nomes comuns:

Erva-das-bugalhinhas; erva-do-bicho; erva-dos-bugalhos; erva-moira; erva-moira-da-baga-preta; erva-moira-mortal; erva-moira-negra; erva-moira-sem-pelos; erva-moura; erva-nociva; erva-noiva; erva-santa; fona-de-porca; solano; tomateiro-bravo; tomateiro-do-diabo

A um inverno frio e de escassas chuvas seguiu-se um verão quente e completamente seco. Como consequência, muitas plantas surpreendidas com uma tal estiagem, não tiveram como se desenvolver por completo; digamos que entraram em “modo de espera”, aguardando por condições mais favoráveis, previsivelmente na próxima primavera. Mas felizmente o outono chegou cedo, muito chuvoso, ansioso por colmatar as deficiências causadas pela ausência de água. Às chuvas regulares e intensas aliaram-se as suaves temperaturas que por norma se registam nesta região e se prolongam até bastante tarde na estação, criando-se assim condições para que algumas plantas, como por exemplo indivíduos da espécie Solanum  nigrum, ainda fossem a tempo de produzir flores, frutos e sementes antes da chegada dos frios de janeiro.
A Solanum nigrum pertence à família Solanaceae e ao género Solanum. Esta família botânica é um grupo bastante alargado com cerca de 2000 espécies organizadas em quase 100 géneros, sendo que mais de metade pertence ao género Solanum. Solanaceae agrupa espécies de grande importância económica, não só plantas ornamentais (as populares petúnias!!!) mas também várias espécies comestíveis e essenciais na alimentação humana nomeadamente as pimentas e os pimentões, a dispendiosa frutinha physalis, e ainda, (incluídas no género Solanum) as beringelas, o tomate, e a indispensável batata.
Também a planta do tabaco se inclui na família Solanaceae assim como varias espécies sobejamente conhecidas pelos seus componentes tóxicos ou alucinogénios como a Datura a Mandragora, e a Atropa belladonna, entre outras.
A maioria das espécies do género Solanum são originárias da América do Sul. No entanto, das cerca de 1500 espécies que fazem parte deste género, 15 espécies são nativas da flora europeia. A Solanum nigrum é nativa da Eurásia tendo sido introduzida noutras partes do globo, estendendo-se, hoje em dia, também pelo continente americano, Africa do Sul e Austrália. Tão bem se tem dado por terras alheias que é considerada uma das ervas infestantes mais cosmopolitas. Em Portugal pode encontrar-se praticamente em todo o território.
É uma infestante das culturas de verão preferindo os terrenos ricos em azoto, húmidos e algo sombreados. Facilmente aparece no nosso jardim ou quintal e também em depósitos de entulhos, campos incultos ou cultivados, pomares, beiras de caminhos ou terrenos baldios.
A Solanum nigrum é uma planta geralmente anual que raramente excede os 60 cm de altura. É herbácea, por vezes lenhosa na base e provida de alguns pelos glandulosos. No seu todo a Solanum nigrum é algo semelhante à rama da batateira, sua congénere, embora as flores sejam mais pequenas.
Os caules, ocos, decumbentes ou eretos, são suficientemente ramificados para formar um pequeno arbusto.
As folhas, dispostas alternadamente nos caules, são pecioladas, inteiras, ovadas e com margens ligeiramente recortadas ou dentadas. De notar que a forma, cor e tamanho das folhas podem variar de acordo com os fatores ambientais, tal como a composição do solo e as condições de humidade.
As inflorescências são formadas por 5 a 10 flores, frouxas, solitárias, com pedúnculos eretos mas pendentes que encurvam fortemente na frutificação; a corola tem 5 pétalas de forma ligeiramente ovada e de cor branca; o cálice campanulado é formado por 5 sépalas, persistentes na frutificação; os 5 estames, de filamentos curtos e unidos na parte inferior, são iguais e têm grandes anteras amarelas. As flores são hermafroditas ou melhor dizendo, estão providas de órgãos reprodutores femininos e masculinos.
Os frutos são bagas semelhantes a pequenos tomates, inicialmente de cor verde e que se tornam negros e lustrosos quando maduros; as numerosas pequenas sementes que se encontram no seu interior são elipsoides e achatadas.
Existem muitas plantas com características semelhantes que podem ser confundidas com a Solanum nigrum e só assim se justifica a variedade incrível de nomes populares e sinonímias associados a esta espécie. A fim de impôr “ordem na casa” foi criado o Solanum nigrum complex que inclui espécies Solanum distintas embora morfologicamente semelhantes ou seja, formas intermediárias de hibridização e cuja classificação causa controvérsia entre os taxonomistas.
Quase todas as espécies Solanum são toxicas e a Solanum nigrum não é exceção; na realidade tem fama de ser muito toxica devido às elevadas concentrações de alcaloides como a solanina, solamargina e solasodina os quais que são produzidos pela planta, supostamente como defesa contra os predadores (fungos e insetos). Estes alcaloides concentram-se especialmente nas partes verdes da planta a qual, segundo certas correntes de opinião, é muito nociva para humanos e gado, chegando a ser fatal quando ingerida. No entanto, a Solanum nigrum é cultivada como legume em varias regiões de Africa e da América do Norte onde as folhas jovens e rebentos são ingeridos em sopas e guisados, sempre bem cozidas, sendo incluídas também em pratos tradicionais na Etiópia, Gana, África do sul e Indonésia. Até na Europa, nomeadamente Creta, Grécia e Turquia as folhas jovens são usadas em saladas de legumes, depois de cozidas. Os frutos, consumidos maduros (a concentração dos alcaloides é muito maior nos frutos verdes), são muitas vezes utilizados para fazer doce e para decorar tartes e bolos.
Estudos recentes comprovam que a planta não é potencialmente venenosa, havendo graus variáveis de toxicidade dependendo das características do solo e do clima onde vive cada planta.
Em todo o caso, tendo em consideração que esta espécie pode ser confundida com outras, há que ter cuidado e consumi-la moderadamente e apenas quando houver reconhecimento absoluto. Recomenda-se especial cuidado em não a confundir com a Atropa belladonna, espécie da mesma família e que é uma das plantas mais tóxicas encontradas no hemisfério ocidental. 
  
A Solanum nigrum é utilizada em fitoterapia desde a Antiguidade reconhecendo-se-lhe propriedades como sudorífero, analgésico, sedativo e narcótico, entre outras.
FACTOS sobre outras espécies Solanum:
A batata - Solanum tuberosum
A planta da batata também produz componentes tóxicos que fazem parte da defesa natural da planta. Estes alcaloides encontram-se debaixo da pele do tubérculo mas sendo as batatas adequadamente armazenadas, a concentração dos mesmos mantem-se baixa, não afetando o ser humano. No entanto, por vezes encontram-se batatas com a pele esverdeada, situação indicadora do aumento da concentração dos alcaloides e nesse caso a ingestão do tubérculo pode provocar envenenamento.
O tomate – Solanum lycopersicum
Outra espécie do género Solanum, o tomate, hoje em dia largamente consumido no mundo inteiro, com benefícios indiscutíveis para a saúde humana, já foi alvo de preconceitos, tendo sido considerado venenoso. A verdade é que esta espécie também contém o alcaloide toxico, a solanina, que está presente nos tomates verdes. Não sendo verdadeiramente prejudicial ingerir o fruto ainda verde (a não ser para quem tenha predisposição para artrite, reumatismo ou gota ou outras contraindicações), é contudo mais saudável consumi-lo maduro.

 Fotos: Serra do Calvo / Lourinhã